Desempenho de um mecanismo para acomodação de sulco em semeadora-adubadora de soja


Autores: Roderjan Gabriel dos Santos, Alencar Junior Zanon, Eduardo Lago Tagliapietra, Darlan Scapini Balest, Kelin Pribs Bexaira, Eduardo Daniel Friedrich, Vladison Fogliato Pereira, Giovani Antonello Barcellos, Luiz Felipe Vieira Sarmento, Patric Scolari Weber, Francisco Tonetto, José Eduardo Minussi Winck, Gean Leonardo Richter, Fabricio Vendrusculo Pinto Filho, Felipe Andrade Tardetti, Nereu Augusto Streck
Publicado em: 31/08/2019

1 Introdução

O Brasil é o maior produtor de soja da América do Sul, com 114 milhões de toneladas, e o maior exportador de soja no mundo, com 68 milhões de toneladas (CONAB, 2019). A área de cultivo no país é de 35,8 milhões de hectares, sendo o Rio Grande do Sul responsável por 16% dessa área, totalizando 5,7 milhões de hectares (CONAB, 2019), destes, aproximadamente 297 mil hectares são cultivados em terras baixas (IRGA, 2018), em rotação com o arroz irrigado. Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 7,6% na área semeada com a cultura da soja (CONAB, 2019).

Sua importância em segurança alimentar e para o agronegócio brasileiro vem proporcionando cada vez mais a implementação de técnicas de cultivo, que proporciona atingir altas produtividades. No entanto, baixas produtividades podem estar relacionadas a tecnologias e manejo inadequados. Aliado a isso, a qualidade do processo de semeadura é imprescindível para o estabelecimento adequado da cultura (SILVA, 2015). Nas últimas safras, o cultivo de soja em áreas de terras baixas vem sendo consolidado, pois além de ser uma alternativa a mais de fonte de renda (SARTORI et al, 2016), auxilia no controle de plantas daninhas, utilizando herbicidas com mecanismos de ação diferentes dos utilizados no arroz (MISSIO et al, 2010), e ainda, colabora com a quebra dos ciclos de doenças e insetos-praga, além de melhorar as condições físicoquímicas do solo (THOMAS et al, 2000).

Com o passar dos anos, estudos de qualidade de semeadura e mecanismos que favorecem o crescimento e desenvolvimento da cultura da soja, foram realizados. Nesses estudos constatou-se que a cultura é responsiva a solos descompactados, para que não haja problemas no desenvolvimento de raízes, e melhorar a absorção de água e nutrientes nas camadas mais profundas do solo com o uso de hastes sulcadoras em semeadora adubadora (CARDOSO et al, 2006; HAMZA & ANDERSON, 2005; DEDORDI, 2015). Todavia, semeadoras equipadas com sulcadores necessitam aumento da força de tração (BENEZ, 2002). Outro fator importante, citado por Drescher (2011), é o espelhamento das paredes do sulco, podendo prejudicar o desenvolvimento das raízes. No processo de semeadura, é fundamental garantir a quantidade e a profundidade de sementes desejadas, assegurando uma uniforme população de plantas na lavoura.

Vizzoto (2014), avaliou o efeito dos mecanismos sulcadores e roda tapadora de sulco e, constatou que apresenta adequada profundidade de sementes e menor variação de profundidade, quando comparado somente com a haste, além disso, proporcionou uma emergência mais rápida, pela menor mobilização do solo e empolamento. Quanto à distribuição de plantas longitudinalmente na linha de semeadura, o acúmulo de plantas, considerado espaçamento duplo, pode provocar o desenvolvimento de plantas com maior altura, menos ramificações, diminuindo a produtividade individual e o diâmetro de haste, ocasionando problemas com enraizamento e, consequentemente, maior propensão ao acamamento (ENDRES, 1996).

Já os espaçamentos falhos, onde há falta de planta, além de beneficiar o aparecimento de plantas daninhas, provocam o estabelecimento de plantas de porte reduzido com caule de maior diâmetro, mais ramificadas e com maior produção individual (TOURINO et al, 2002), ambos problemas na semeadura resultam em perda do potencial produtivo nas lavouras. Frequentemente ocorrem reduções na população de plantas desejada nas lavouras, da consequência de uma taxa de germinação inadequada de sementes que são submetidas a condições inadequadas de germinação e emergência. Muitas vezes, o agricultor não percebe essa redução em virtude da capacidade de compensação dos espações vazios, através de modificações em sua morfologia e em seus componentes da produtividade (VAZQUEZ et al, 2014).

Por conseguinte, mais estudos são necessários para avaliar o comportamento de semeaduras equipadas com mecanismos que auxiliam na acomodação do sulco e deposição da semente. Sendo assim, a equipe SimulArroz conduziu um experimento na safra 2017/2018, em duas lavouras comerciais no centro do estado do Rio Grande do Sul, as quais apresentam características de solos distintas. Uma lavoura em ambientes de terras altas, com solo classificado como Argissolo Vermelho, localizado no município de São Francisco de Assis, e a outra em ambiente de terras baixas, com solo classificado como Planossolo Háplico, localizado no município de São Vicente do Sul.

Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho de um mecanismo de acomodação de sulco em semeadora-adubadora de soja, em solos de terras altas e terras baixas, visando proporcionar melhores condições de sulco para receber a semente, e consequentemente, melhores índices de emergência, distribuição de plantas, estabelecimento da população e produtividade.

2 Emergência das plântulas de soja em função do mecanismo

Na evolução da emergência de plântulas (Figura 2A) de soja em terras altas, podemos observar que a partir do décimo quinto dia após semeadura (DAS), o número de plantas foi maior nos tratamentos onde não foi utilizado o mecanismo. Isso se deve a grande quantidade de massa seca na lavoura, pois o mecanismo acabou amontoando em pequenas quantidades essa cobertura em cima na linha, dificultando o processo de semeadura e consequentemente reduziu a emergência pelo engaiolamento das sementes. A evolução da emergência em ambientes de terras baixas foi distinta de terras altas, como podemos observar na Figura 2B. Nesse ambiente o mecanismo proporcionou uma melhor emergência, mas não sendo estatisticamente significante a diferença.

Como a umidade no momento da semeadura estava adequada, o efeito do mecanismo foi minimizado, pois a haste sulcadora abriu o sulco de forma adequada. Resultados semelhantes aos encontrados por Vizzotto (2014), que avaliou uma roda tapadora como mecanismo de acomodação de sulco, entre outros tratamentos, com o objetivo de melhorar o sulco para deposição da semente, e também evidenciou um acréscimo no porcentual de emergência e no índice de velocidade de emergência.

3 Influência do mecanismo na distribuição de plantas de soja

Conforme a norma ISO 7256/1, semeadoras equipadas com discos perfurados horizontais, que foi o tipo de semeadora utilizada no trabalho, devem apresentar no mínimo 60% de espaçamentos aceitáveis. A Figura 3 mostra que não houve diferenças significativas entre os tratamentos na distribuição de plantas. Em terras altas (FIGURA 3A), o percentual de espaçamentos aceitáveis foi de 48,08% sem o mecanismo e 50,88% com o mecanismo. Em terras baixas (FIGURA 3B), os valores de espaçamentos aceitáveis foram menores, 38,27% sem o mecanismo e 41,63% com o mecanismo.

Cabe salientar que o percentual de espaçamentos aceitáveis, ficou abaixo dos resultados de haste sulcadora obtidos por Gimenez et al. (2015), que encontrou valores entre 50 a 60%. As prováveis razões que explicam a não ocorrência de diferenças significativas, foi que a umidade do solo estava adequada no momento da semeadura que favoreceu a abertura do sulco e velocidade de semeadura. Entretanto, podemos observar que com o mecanismo, ocorreu melhorias na distribuição de plantas nos dois tipos de solo.

4 Componentes de rendimento em função do mecanismo

Quanto aos componentes de rendimento (Tabela 1), produtividade, número de plantas por m², peso de mil grãos, altura final de plantas, número final nós, número de legumes por planta e número de grãos por legume, não obtiveram diferenças significativas entre os tratamentos, no mesmo ambiente de cultivo. Vizzotto (2014) e Sartori (2015) também não encontraram diferenças significativas na produtividade, entre haste e haste mais mecanismo de acomodação de sulco, em trabalhos realizados em terras baixas.

Quando a comparação é realizada entre os ambientes (terras altas x terras baixas), existe a diferença devido às características naturais de cada solo, principalmente a drenagem lenta que ocorre nas áreas de terras baixas, dificultando o estabelecimento inicial das plantas e seu posterior desenvolvimento, afetando os componentes de rendimento. Dos componentes citados anteriormente, apenas o peso de mil grãos e o número de grãos por legume foram maiores em terras baixas, devido à pequena estiagem que ocorreu na fase de florescimento e enchimento de grãos na área de terras altas.

A água, no período de floração enchimento de grãos, é um fator fundamental, pois é quando ocorre a maior demanda hídrica pela cultura, devido à maior superfície de folhas transpirando (EMBRAPA, 2009; ZANON et al., 2018). Quanto às produtividades, foram abaixo das médias do estado na safra 2017/2018, que são de aproximadamente 3000 kg/ha (CONAB, 2018), sendo que em terras baixas foi de 2448 kg/ha (IRGA, 2018). Isto ocorreu devido a uma pequena estiagem na fase de floração-enchimento de grãos em terra alta, além do grande percentual de espaçamentos falhos e duplos (Figura 3) que pode ter influenciado na redução da produtividade, principalmente em solo de terra baixa, devido ao atraso da semeadura e ao ambiente estressante, prejudicando a compensação dos espaços.

A maior produtividade foi encontrada com mecanismo em terra alta (2998,69 kg/ha), onde se obteve o maior porcentual de espaçamentos aceitáveis (50,88%), mesmo com o mecanismo causando um efeito negativo na emergência de plântulas e na população final. Uma maior altura do primeiro legume (21 cm) e da altura de plantas em R1 (45 cm) foi encontrada em ambientes de terras altas, sem o mecanismo de acomodação de sulco. Isso é explicado pelo leve aumento do número de plantas, ocasionado uma maior altura em R1, devido à competição por luz. Com a concorrência das plantas por espaço, resultou em um maior sombreamento no terço inferior das plantas, inibindo o aparecimento de legumes, resultado encontrado está de acordo com Cougo et al. (2014), que realizou um trabalho com densidade de plantas e sua relação com a altura do primeiro legume e constatou que, com o aumento do número de plantas, há a elevação da inserção do primeiro legume. Isso também explica o maior número de nós férteis com o meTabela 1.

Componentes de rendimentos nos diferentes ambientes de cultivo e mecanismos de acomodação de sulco. canismo (18 nós por planta), pois com menor número de plantas, consequentemente, mais radiação solar penetrando no dossel, estimulando o aparecimento de legumes em mais nós. Quando é realizada a comparação de altura de plantas entre terra alta e terra baixa, há diferenças significativas entre os valores, pois a cultivar, época de semeadura, suprimento de umidade, fertilidade do solo e outras condições do ambiente podem causar variações na altura de plantas (ROCHA et al., 2012). Nos ambientes de terras baixas, não houve diferenças significativas entre os tratamentos.

Portanto, concluímos que:

a) o mecanismo de acomodação de sulco não proporcionou diferenças significativas em nenhum dos tipos de solo, quanto à emergência, distribuição de plantas, estabelecimento da população e produtividade da cultura da soja;

b) no caso da emergência em terra alta, apresentou um efeito negativo devido a quantidade de matéria seca na superfície, reduzindo a população de plantas;

c) quanto à distribuição de plantas, ocorreu um leve acréscimo dos espaços aceitáveis na distribuição de plantas, mas, em ambos os solos, os números ficaram aquém do esperado; e

d) a maior produtividade ocorreu em terra alta, com mecanismo de acomodação de sulco.