Atributos físicos do solo em sistemas de manejo


Autores:

Jorge Wilson Cortez, Matheus Delabrio Bonato, Murilo Soares Martins, Matheus Anghinoni e Sálvio Napoleão Soares Arcoverde

Publicado em: 31/08/2019

1 Introdução

A implantação de sistemas de manejo conservacionistas, como o plantio direto e o preparo reduzido, traz benefícios à conservação dos recursos naturais, por priorizar a manutenção de resíduos vegetais na superfície e reduzir a movimentação do solo. Entre os benefícios estão a redução da erosão e o aumento da atividade biológica dos microrganismos, refletindo positivamente na qualidade do solo e na rentabilidade da atividade agrícola. O preparo do solo visa proporcionar condições favoráveis para o desenvolvimento da cultura. Se executado em condições adequadas, preserva a estrutura do solo, o que melhora as propriedades físico-hídricas fundamentais, como porosidade de aeração, disponibilidade de água às plantas, retenção de água e absorção de nutrientes (TORMENA et al., 2002), envolvidas no crescimento e desenvolvimento radicular. Métodos de preparo reduzido do solo, semeadura direta e escarificação esporádica em áreas de lavoura vêm sendo adotados em substituição aos preparos convencionais, no intuito de mitigar problemas de degradação (MUZARANA et al., 2011).

No entanto, mesmo na ausência de revolvimento do solo, podem ser diagnosticados processos de compactação associados à acomodação natural das partículas ou, de acordo com Collares et al. (2006), associados ao intenso tráfego de máquinas contribuindo para alteração da qualidade estrutural do solo. De acordo com Streck et al. (2004) o intenso número de operações mecanizadas também é responsável pela formação de camadas compactadas superficiais, especialmente quando há contínuo tráfego de máquinas em conteúdos inadequados de água no solo (STRECK et al., 2004), podendo afetar a qualidade do solo e a produção agrícola (BERGAMIN et al., 2010a; BERGAMIN et al., 2010b). O solo em condições ideais para o desenvolvimento radicular é explorado de forma homogênea pelas raízes das plantas, sendo o volume de solo explorado relativamente maior que em solos com problemas de compactação (VALADÃO et al., 2015).

Uma vez que determinados estados de compactação provocam degradação estrutural do solo, acarretando aumento nos valores de densidade do solo e resistência do solo à penetração, bem como redução da porosidade total e macroporosidade do solo (FREDDI et al., 2007; BERGAMIN et al., 2010a; BERGAMIN et al., 2010b; VALADÃO et al., 2015). Tais alterações que ocorrem na estrutura do solo, evidenciadas por modificações de sua densidade, afetam a resistência mecânica do solo à penetração, a porosidade total, a distribuição do diâmetro dos poros, a porosidade de aeração, a armazenagem e a disponibilidade de água as plantas, bem como, a dinâmica da água na superfície e no perfil do solo (KLEIN et. al., 2008).

Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de sistemas de manejos nos atributos físicos de um Latossolo Vermelho distroférrico.

2 Material e Métodos

O trabalho foi conduzido na FAECA – Fazenda Experimental de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD no município de Dourados, MS. O local situa-se em latitude de 22º14’S, longitude de 54 º59’W e altitude de 434 m. O clima é do tipo Cwa, segundo a classificação de Köppen. O solo da área é um Latossolo Vermelho distroférrico. Foi utilizado o delineamento em blocos ao acaso com quatro repetições (4 blocos). Os seis sistemas de manejo, aplicados nas parcelas foram: aração a 0,40 m com arado de aivecas, seguido de duas gradagens destorroadora-niveladoras (T1), gradagem destorroadora-niveladora (T2), plantio direto(T3), escarificador a 0,35 m uma única vez (T4), escarificado cruzado a 0,35 m mais uma gradagem destorroadora-niveladora (T5) e escarificado a 0,35 m mais gradagem destorroadora-niveladora (T6).

No preparo das parcelas dos sistemas de manejo do solo utilizou-se: escarificador de cinco hastes, com ponteira estreita de 0,08 m de largura a 0,35 m de profundidade com disco de corte de palha e rolo destorroador (tratamentos com escarificação); arado de aivecas recortadas com 0,40 m de profundidade (preparo convencional); grade destorroadora-niveladora, tipo off-set, de arrasto, com 20 discos de 0,51 m de diâmetro (20”) em cada seção, sendo na seção dianteira discos recortados e lisos na traseira, na profundidade de 0,15 m. As amostras indeformadas para avaliação de densidade, porosidade total, macroporosidade e microporosidade do solo foram coletadas utilizando anéis volumétricos que apresentam uma das bordas cortantes. As amostras de solo foram coletadas em um ponto aleatório dentro de cada parcela nas profundidades de 0-0,10, 0,10- 0,20, 0,20-0,30 m.

Em seguida as amostras de solo foram secas na estufa à temperatura de 105 - 110º C até a massa constante e obtida a densidade segundo metodologia da EMBRAPA (1997). A porosidade total determinada (Pt) foi obtida após os anéis terem sido colocados em uma bandeja com água até atingirem o ponto de saturação e sendo pesados novamente, a partir daí foi obtido à porosidade total determinada segundo Camargo et al. (1986). A microporosidade foi determinada nas amostras coletadas com o auxílio dos anéis volumétricos previamente saturadas, utilizandose mesa de tensão com 60 cm de altura de coluna de água, sendo a macroporosidade obtida pela diferença entre a porosidade total e a microporosidade. Os dados dos atributos físicos do solo foram submetidos à análise de variância e quando significativos as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

3 Resultados e Discussão

Os atributos físicos do solo foram influenciados pelos sistemas de manejo avaliados. No entanto, a macroporosidade não diferiu entre os manejos do solo, na camada de 0,0-0,10 m, bem como a porosidade do solo nas camadas de 0,0-0,10 e 0,20-0,25 m (Tabela 1). Para a densidade de solo, o sistema de manejo plantio direto obteve maiores valores na camada mais superficial (0,00-0,05 m) e na camada mais profunda avaliada (0,20-0,25 m) (Figura 1). Enquanto os sistemas com aração e gradagem e escarificado+gradagem apresentaram menores valores na camada superficial e mais profunda avaliadas. Resultados se melhantes foram obtidos em estudo realizado por Tormena et a l. (2002), no qual o plantio direto obteve maior valor de densidade, seguido por preparo reduzido e preparo convencional, na camada mais superficial. Na camada intermediaria (0,10-0,15 m), a maior densidade observada foi em escarificado cruzado (Figura 1).

Os valores de densidade estão dentro da faixa considerada adequada, pois para solos argilosos os valores de densidade estão abaixo de 1,40 Mg m-3 (REICHERT et al., 2015; REICHERT et al., 2014a, REICHERT et al., 2014b). O maior valor de densidade do solo observado em T3 – Plantio direto deve-se ao fato de que nesse sistema de manejo não há revolvimento do solo, e o trafego de máquinas em efeito cumulativo colabora para essa maior densidade e as forças naturais (umedecimento e ciclos de secagem) atuam com ineficiência. De acordo com Streck et al. (2004) o intenso número de operações mecanizadas também é responsável pela formação de camadas compactadas superficiais, especialmente quando há contínuo tráfego de máquinas em conteúdos inadequados de água no solo, podendo afetar sua qualidade.

Brady e Weil (2013) classificam os macroporos e microporos do solo como aqueles com diâmetro maior e menor do que 0,08 mm, respectivamente. Os valores médios de microporosidade do solo foram maiores no sistema plantio direto na camada mais superficial e na camada mais profunda avaliada, enquanto este resultado foi obtido para o sistema com gradagem na camada intermediária (Figura 2). Para a macroporosidade na camada mais superficial avaliada não houve diferença significativa entre os tratamentos. Já nas demais camadas 0,10-0,15 e 0,20- 0,25 m, este foi o atributo mais afetado pelos sistemas de manejo (Figura 3), concordando com as indicações de Dias Jr. e Pierce (1996). Sendo o sistema com aração e gradagem com os maiores valores de macroporosidade. Com relação à porosidade total, para a camada mais superficial e mais profunda avaliadas não houve diferença significativa (Figura 4).

Na camada intermediária (0,10-0,15 m) o tratamento com aração e gradagem foi o que obteve o maior valor de porosidade total, podendo ser relacionado com a menor densidade do solo, apresentada por este sistema de manejo (Figura 1). A porosidade total de um solo ideal para o desenvolvimento das plantas deve ser de 0,50 m3 m-3 (BRADY e WEIL, 2013), assim pode-se observar que os valores estão adequados em todos os sistemas de manejo.

O impacto das práticas de manejo e das culturas sobre a estrutura do solo pode ser quantificado por meio de diversos atributos, dentre os quais se destaca a densidade do solo, macro e microporosidade, estabilidade de agregados, resistência à penetração e infiltração da água no solo (STEFANOSKI et. al., 2013). As modificações na estrutura do solo, ocasionadas pelas práticas de manejo, influenciam a densidade, razão por que ela é frequentemente utilizada na avaliação do grau de compactação, da porosidade e de todos os parâmetros nos quais se usam medidas de volume do solo (CORRECHEL et. at., 1999).

4 Conclusão

No sistema de manejo do solo plantio direto houve maiores valores densidade e microporosidade do solo. Os maiores valores de macroporosidade e porosidade total do solo são verificados nos sistemas de manejo que utilizaram operações de mobilização por meio de aração e gradagens sucessivas.