Marcos Vinício Behnen, Marcos Paulo Ludwig, Juliano Dalcin Martins, Eduardo Girotto , Darlan de Maria Eickstedt , Liziane Rohr, Francine Simmi Zaioks
1 A cultura do milho e a qualidade da semente
O milho tem destaque no cenário mundial, por atender a diversas finalidades, segundo (Melhorança et al., 2012) o desenvolvimento da produção e do mercado do milho deve ser analisado sob a ótica das cadeias produtivas ou dos sistemas agroindustriais, sendo o milho insumo para produção de uma centena de produtos (nos Estados Unidos da América, esse número chega a milhares), porém, na cadeia produtiva de suínos e aves são consumidos aproximadamente 70% do milho produzido no mundo e entre 70 e 80% do milho produzido no Brasil.
Um dos grandes entraves em aumento de produtividade está associado ao fato dos agricultores não perceber a importância da utilização de sementes de alta qualidade fisiológica. No entanto, sementes de maior vigor apresentam maior velocidade nos processos metabólicos, produzindo plântulas com maior tamanho inicial (Munizzi et al., 2010) e proporcionam maior área foliar, maior número de folhas por planta, maior massa seca da parte aérea por planta e maior estatura (Ludwig et al., 2009). No esforço para se determinar as respostas para as principais dúvidas referentes ao desempenho das sementes, passaram a ser atribuídas exclusivamente ao “alto” ou ao “baixo vigor”. Assim, o vigor tornou-se a principal justificativa para o sucesso ou o fracasso do estabelecimento do estande em campo (Krzyzanowski et al., 1999).
2 Filocrono
A duração do ciclo da cultura está relacionada principalmente com o acumulo térmico, no entanto, existe interações da cultura com outros fatores como água, nitrogênio, fotoperíodo e híbrido utilizado, que pode provocar alterações na duração do ciclo de desenvolvimento. Entretanto (Bergamaschi & Matzenauer 2009) ainda definem que o somatório em graus dia que representa o efeito da temperatura do ar sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas tem sido a variável adequada para estimar eventos fenológicos em milho. Entre novas avaliações utilizando temperatura base de desenvolvimento da cultura associado a emissão de folhas e passagem das fases do estádio fenológico do milho, criou-se a variável filocrono, que para (Martins et al., 2012) em seu trabalho de estimativa do filocrono em milho para híbridos com diferentes ciclos de desenvolvimento vegetativo, definiu filocrono como o tempo térmico necessário para o aparecimento de folhas sucessivas na haste principal de uma planta.
O valor do filocrono em milho pode variar com a época de semeadura (Streck et al., 2009), como déficit hídrico (Soler et al., 2005) e com a grau de precocidade de híbrido utilizado (Martins et al., 2012). Variações no filocrono afetam diretamente o planejamento do manejo da cultura, pois variações de estádio fenologico dentro da população de plantas ocasionam aplicações de manejo não adequado em todas as plantas. Entretanto, não há informações sobre o filocrono em plantas originadas de sementes de diferentes níveis de vigor. Dessa forma, o presente estudo teve por objetivo determinar o filocrono, componentes do rendimento e características morfológicas do híbrido de milho com diferentes níveis de vigor.
3 Metodologia
O experimento foi conduzido durante a safra 2015 no IFRS, Câmpus Ibirubá, RS. Utilizou-se o híbrido Supremo de milho de ciclo precoce. A profundidade de semeadura foi semelhante (4 cm) para todas as sementes, assim sementes mais vigorosas apresentam maior velocidade nas atividades metabólicas assim de mesmo modo na velocidade de emergência (Munizzi et al, 2010), então para determinação das plantas originadas de sementes com maior e menor vigor, foi utilizada a metodologia semelhante à descrita por Schuch et al., (2009), o qual considera o tempo (velocidade) entre a semeadura e a emergência, plântulas que emergiam primeiro são consideradas como originadas Figura 2.
Diferença na altura das plantas (A) planta originada de semente de menor vigor, (B) planta originada de semente de maior vigor de sementes de maior vigor (quatro dias após a semeadura) e as que emergiram mais tardiamente de menor vigor (sete dias após a semeadura). Após a seleção das plantas, realizou o monitoramente com a contagem do número de folhas completamente expandidas (com o colar visível) conforme (Ritchie et al., 1993). Para determinação do filocrono foram utilizados os dados de temperatura média diária do ar, registrados na Estação Climatológica automatizada principal do 8º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Posteriormente foi realizada a colheita manual das plantas para avaliação da produtividade de grãos, componentes da produtividade e características morfológicas. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), pelo teste F a 5% de probabilidade de erro.
4 Resultados
O vigor das sementes afetou o filocrono (Tabela 2). Constatou-se um valor maior de filocrono paras as plantas originárias de sementes de menor vigor (43°C folha-1), valor 2,27 °C superior às plantas originadas de sementes de maior vigor. O resultado indica uma necessidade de soma térmica maior para as plantas originadas de sementes de menor vigor, fato que explica resultados de pesquisa que encontraram menor valor de área foliar ou matéria seca em plantas provenientes de sementes de menor qualidade fisiológica como os realizados por Dias et al. (2010) trabalhando com milho em competição com plantas daninhas, o vigor das sementes exerce efeitos diretos no crescimento inicial de plantas de milho, o que reflete na habilidade competitiva da cultura e semelhante ao trabalho realizado por e Ludwig et al., (2009) também com a cultura do milho.
Observa-se que a soma térmica total da emergência até o pendoamento apresenta diferença (Tabela 2). Intuitivamente tal resultado indica menor crescimento nas plantas provenientes de sementes de menor vigor, pois elas necessitam de maior soma térmica para a emissão de folhas e necessitam de valor semelhante de soma térmica até o pendoamento, momento onde cessa a emissão de folhas, resultado comprovado pelo número de folhas menor nas plantas originadas de sementes de menor vigor (Tabela 2). Plantas com menor número de folhas possivelmente possuam menor potencial produtivo da cultura, pois possui menor aparato fotossintético, tal afirmação é confirmada pelo resultado da produtividade de grãos.plantas-1 (Tabela 2) e produtividade em kg.ha-1 (Figura 3), os valores foram superiores nas plantas provenientes de sementes de maior vigor, superior em 17,3% para a produtividade por planta e ha-1.
Resultado explicado, pois estas plantas de maior qualidade alcançaram uma melhor estrutura produtiva até o pendoamento. Verifica-se que as plantas originadas de sementes de maior qualidade obtiveram os estádios fenológicos no período vegetativo com menor soma térmica e com menor tempo em dias (Figura 4). Dentre os componentes da produtividade somente foi verificado diferença no número de grãos.plantas-1 (Tabela 3).
Resultado que possivelmente explique a maior produtividade das plantas originadas de sementes de maior vigor. Resultado semelhante foi constatado no rendimento biológico (Tabela 4) onde plantas originadas de sementes de maior vigor obtiveram valor 17,4% superior em relação as plantas provenientes de sementes de menor vigor, possivelmente este aumento não esteja relacionado a estatura de plantas (Tabela 4) e sim com o diâmetro do colmo (Tabela 4), que apresenta incremento em 7,9% em relação as plantas originadas de sementes de menor qualidade fisiológica.
Segundo Soratto et al. (2010) o colmo funciona como estrutura de reserva, ocorrendo translocação de fotoassimilados do colmo para os grãos, proporcionando aumento de produtividade. Este resultado também pode ter favorecido a maior produtividade de plantas provenientes de sementes de maior vigor. O diâmetro do colmo também é importante, pois a redução do diâmetro do colmo pode ser responsável pelo aumento de plantas acamadas e quebradas, o que pode reduzir o rendimento de grãos, havendo diferença entre genótipos (Marcos Filho, 2007; Gross et al., 2006).
5 Conclusão
Sementes de maior vigor proporcionam incremento na produtividade, velocidade inicial de desenvolvimento, número de folhas, diâmetro do colmo e massa seca.