1 Introdução
A compactação do solo no estado de Mato Grosso tem sido constatada em lavouras e pastagens cultivadas, com distintos graus de impedimento ao desenvolvimento radicular. Em algumas dessas áreas, a severa compactação do solo tem causado fortes restrições no desenvolvimento radicular das plantas (Spera et al., 2018). Diversas são as causas a serem atribuídas para a formação de compactação e estas se devem, principalmente, a modificações de natureza química, física e biológica do solo. Essa compactação origina-se no momento em que o solo perde a cobertura vegetal original.
A utilização de equipamentos agrícolas, tendo como exemplo os arados e as grades, solucionam parcialmente o problema da compactação do solo nas camadas superficiais, porém, não soluciona aqueles, decorrentes dos impedimentos químicos que restringem o enraizamento nas camadas em que estão presentes ou ausentes, principalmente em camadas subsuperficiais, como é o caso de solos com presença de Al ou baixo teor de Ca e Mg (Spera et al., 2011). Assim, um experimento foi instalado em Sinop-MT com objetivo de se avaliar diferentes doses de gesso na melhoria das condições do ambiente edáfico do perfil cultural, de uma sequência de cultivos, que envolveram três safras de soja, e duas segundas safras de milho, rotacionadas com uma de algodão.
O experimento foi conduzido na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop-MT, onde se testou as seguintes de doses de gesso agrícola: 1. Sem uso de gesso, 2. Dose de 400 kg/ha de gesso; 3. Dose recomendada de gesso de 3.000 kg ha-1, conforme critério de Sousa et al. (1996); 4. Duas vezes a dose recomendada de gesso (6.000 kg/ha), qual é visualizado na Figura 1. Dentre as alternativas para a redução da necessidade de movimentação superficial do solo, visando rompimento de camadas compactadas destaca-se a aplicação de gesso agrícola nas áreas de lavoura. Este produto, quando aplicado nas doses corretas, fornece cálcio e enxofre, os quais, através de reações químicas, conseguem penetrar no perfil do solo, neutralizar o alumínio tóxico e fornecer Ca em camadas mais profundas do solo, favorecendo a presença de maior volume de raízes nessas camadas (Sousa et al., 1996).
A aplicação de gesso em áreas de lavouras às vezes tem auferido pequeno aumento de rendimento nas lavouras de soja, bem como na cultura do milho segunda safra, na região centro e norte mato-grossense (Fundação Rio Verde, 2003; Bortoloni, 2006), principalmente quando não há ocorrência de veranicos ou baixa precipitação pluvial durante a condução das culturas. Em momentos adversos, como a ocorrência de estiagem, pelo fato de haver melhores condições para o desenvolvimento radicular em profundidade, pode propiciar a expressão dos efeitos da gessagem.
O uso de gesso agrícola, considerando o custo desse insumo no norte de Mato Grosso, deve ser considerado na tomada de decisão, pois, aparentemente, os rendimentos obtidos com o uso do insumo pode não remunerar o custo do mesmo. Análises de solo do teor de enxofre mostraram, após 30 meses, redução no teor do elemento químico, por outro lado, o teor de cálcio praticamente não foi alterado (Tabela 1).
Resultados de experimento sobre gessagem no norte de Mato Grosso
Os resultados na primeira safra de 2011/2012, na Embrapa Agrossilivipastoril, em Sinop-MT, em experimento sobre doses de gesso no cultivo de soja não mostraram diferenças, entre os tratamentos, quanto à quantidade de massa de matéria seca (MS) e rendimento de grãos (RG), conforme Tabela 2. Os resultados referentes a gessagem indicam que não houve efeito da gessagem no cultivo da soja, logo após a aplicação, porém, a partir do cultivo de milho de segunda safra em sucessão, já se observou efeito positivo das doses de gesso aplicadas.
Na safra 2014/2015, sob as mesmas faixas, foram conduzidos cultivos de milho de segunda safra, com e sem escarificação. Durante a safra, as condições climáticas transcorreram sob condição de normalidade de chuvas, ainda que houvesse um pequeno atraso no início da estação chuvosa. Isso favoreceu a produção de valores adequados de MS e RG (Tabela 3). Já na segunda safra de 2015, o cultivo de milho de segunda safra foi conduzido em condições atípicas de precipitação pluvial. As chuvas encerram-se em meados de março, mas o excesso de chuvas, antes da estiagem, prejudicou a qualidade das espigas, afetando negativamente o rendimento da cultura nos experimentos de Sinop-MT. Na Tabela 4, pode-se observar menor rendimento de grãos de milho nessa segunda safra, em relação ao ano anterior. De acordo com resultados mostrados na Tabela 4, não mais se verificou o efeito de doses de gesso no rendimento de grãos e matéria seca da palhada de milho.
A segunda safra (safrinha) de 2016, no norte de Mato Grosso caracterizou-se por irregular pluviometria (Wruck et al., 2017). Isso favoreceu desenvolvimento vegetativo do milho, porém, com redução da produção de grãos decorrente de condições climáticas desfavoráveis durante a fase de enchimento de grãos. Assim, apesar da razoável produção de massa seca, o rendimento de grãos foi aquém da média da região (Tabela 5). Se o efeito favorável da gessagem no enraizamento da cultura ainda persistisse, o rendimento de grãos da cultura de milho poderia ter sido maior. Se tratadas somente com gesso agrícola, as camadas subsuperficiais permanecem ácidas, e essa acidez, muitas vezes age como uma barreira química à penetração das raízes.
Trabalhos destacam a importância do alumínio tóxico de camadas superficiais em afetar negativamente a produção agrícola. Esse problema é agravado em condições de deficiência hídrica e na indisponibilidade economicamente viável de insumos para a correção sub-superficial dos solos. Alguns trabalhos, de acordo com Sousa e Lobato (2004), demonstram que a correção da acidez de camadas sub-superficiais aumenta produção de grãos, no cerrado do Brasil. Porém, estudos realizados no Rio Grande Sul e em São Paulo mostram ausência de resposta da soja para a aplicação de gesso (Ernani, 1993; Caires et al., 1998; Caires et al., 1999; Caires et al., 2001; Caires et al., 2003; Neis et al., 2010).
Estes resultados podem estar atrelados ao fato de não houver a ocorrência de déficit hídrico, não existindo limitação da disponibilidade de água no solo, o que é constatado no norte de Mato Grosso e evidenciado pelos resultados das tabelas 6, 7 e 8. Portanto, a planta concentra as raízes na superfície do solo, não permitindo a expressão dos benefícios proporcionados pela aplicação do gesso em profundidade. Segundo Caires et al. (2001) o crescimento do sistema radicular da soja, na ausência de déficit hídrico, não é influenciado pela redução da saturação por Al no subsolo.
Considerações finais
A aplicação de gesso em áreas de lavouras tem auferido somente um pequeno aumento de rendimento nas lavouras de soja e de milho de segunda safra, na região centro e norte mato-grossense. O efeito da escarificação e das doses de gesso foram observados somente em algumas situações e não houve interação entre esses manejos.
Isso indica que as condições pluviais elevadas do norte de Mato Grosso, remove rapidamente o insumo aplicado, conforme fora referido em trabalho técnico realizado anteriormente no estado. O gesso agrícola é insumo imprescindível nas condições edafoclimáticas do Cerrado, entretanto, o manejo do uso da gessagem, em condições de maior pluviosidade, como no Sul do Brasil e na área de influência da Amazônica, necessitam de mais estudos.