Silvio Tulio Spera , José Eloir Denardin , Luiz Gonzaga Chitarra , Edison Ulisses Ramos Junior , Flavio Dessaune Tardin , Luciano Shiratsuchi Shozo , Marcleire Fernandes Ribeiro
1 Introdução
A compactação do solo no estado de Mato Grosso tem sido constatada em lavouras e pastagens cultivadas, com distintos graus de impedimento ao desenvolvimento radicular. Em algumas dessas áreas, a severa compactação do solo tem causado fortes restrições no desenvolvimento radicular das plantas (Spera et al., 2018). Diversas são as causas a serem atribuídas para a formação de compactação e estas se devem, principalmente, a modificações de natureza química, física e biológica do solo. Essa compactação origina-se no momento em que o solo perde a cobertura vegetal original. Os solos de Mato Grosso possuem, naturalmente, elevada permeabilidade à água e ao ar, além de serem solos com baixa densidade, característica que favorece o desenvolvimento radicular e a microbiota do solo (Denardin e Denardin, 2015).
A utilização de equipamentos agrícolas, tendo como exemplo os arados e as grades, solucionam parcialmente o problema da compactação do solo nas camadas superficiais, porém, não soluciona aqueles, decorrentes dos impedimentos químicos que restringem o enraizamento nas camadas em que estão presentes ou ausentes, principalmente em camadas subsuperficiais, como é o caso de solos com presença de Al ou baixo teor de Ca e Mg (Spera et al., 2011). Assim, um experimento foi instalado em Sinop-MT com objetivo de se avaliar diferentes doses de gesso na melhoria das condições do ambiente edáfico do perfil cultural, de uma sequência de cultivos, que envolveram três safras de soja, e duas segundas safras de milho, rotacionadas com uma de algodão.
O experimento foi conduzido na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop-MT, onde se testou as seguintes de doses de gesso agrícola: 1. Sem uso de gesso, 2. Dose de 400 kg/ha de gesso; 3. Dose recomendada de gesso de 3.000 kg ha-1, conforme critério de Sousa et al. (1996); 4. Duas vezes a dose recomendada de gesso (6.000 kg/ha), qual é visualizado na Figura 1. Dentre as alternativas para a redução da necessidade de movimentação superficial do solo, visando rompimento de camadas compactadas destaca-se a aplicação de gesso agrícola nas áreas de lavoura. Este produto, quando aplicado nas doses corretas, fornece cálcio e enxofre, os quais, através de reações químicas, conseguem penetrar no perfil do solo, neutralizar o alumínio tóxico e fornecer Ca em camadas mais profundas do solo, favorecendo a presença de maior volume de raízes nessas camadas (Sousa et al., 1996).
A aplicação de gesso em áreas de lavouras às vezes tem auferido pequeno aumento de rendimento nas lavouras de soja, bem como na cultura do milho segunda safra, na região centro e norte mato-grossense (Fundação Rio Verde, 2003; Bortoloni, 2006), principalmente quando não há ocorrência de veranicos ou baixa precipitação pluvial durante a condução das culturas. Em momentos adversos, como a ocorrência de estiagem, pelo fato de haver melhores condições para o desenvolvimento radicular em profundidade, pode propiciar a expressão dos efeitos da gessagem.
O uso de gesso agrícola, considerando o custo desse insumo no norte de Mato Grosso, deve ser considerado na tomada de decisão, pois, aparentemente, os rendimentos obtidos com o uso do insumo pode não remunerar o custo do mesmo. Análises de solo do teor de enxofre mostraram, após 30 meses, redução no teor do elemento químico, por outro lado, o teor de cálcio praticamente não foi alterado (Tabela 1). Isso indica que as condições pluviais elevadas do norte de Mato Grosso, remove rapidamente uma parte do insumo aplicado, ou seja, somente o enxofre, conforme fora observado em trabalho técnico realizado anteriormente no estado.
Resultados de experimento sobre gessagem no norte de Mato Grosso
Os resultados na primeira safra de 2011/2012, na Embrapa Agrossilivipastoril, em Sinop-MT, em experimento sobre doses de gesso no cultivo de soja não mostraram diferenças, entre os tratamentos, quanto à quantidade de massa de matéria seca (MS) e rendimento de grãos (RG), conforme Tabela 2. Os resultados referentes a gessagem indicam que não houve efeito da gessagem no cultivo da soja, logo após a aplicação, porém, a partir do cultivo de milho de segunda safra em sucessão, já se observou efeito positivo das doses de gesso aplicadas.
Na safra 2014/2015, sob as mesmas faixas, foram conduzidos cultivos de milho de segunda safra, com e sem escarificação. Durante a safra, as condições climáticas transcorreram sob condição de normalidade de chuvas, ainda que houvesse um pequeno atraso no início da estação chuvosa. Isso favoreceu a produção de valores adequados de MS e RG (Tabela 3). Já na segunda safra de 2015, o cultivo de milho de segunda safra foi conduzido em condições atípicas de precipitação pluvial. As chuvas encerram-se em meados de março, mas o excesso de chuvas, antes da estiagem, prejudicou a qualidade das espigas, afetando negativamente o rendimento da cultura nos experimentos de Sinop-MT. Na Tabela 4, pode-se observar menor rendimento de grãos de milho nessa segunda safra, em relação ao ano anterior. De acordo com resultados mostrados na Tabela 4, não mais se verificou o efeito de doses de gesso no rendimento de grãos e matéria seca da palhada de milho. O gesso, aplicado a três anos, pode ter perdido o efeito residual em razão do elevado índice pluvial da região do norte de MT, conforme sugerem Sousa et al. (1996) e Bortolini (2006).
A segunda safra (safrinha) de 2016, no norte de Mato Grosso caracterizou-se por irregular pluviometria (Wruck et al., 2017). Isso favoreceu desenvolvimento vegetativo do milho, porém, com redução da produção de grãos decorrente de condições climáticas desfavoráveis durante a fase de enchimento de grãos. Assim, apesar da razoável produção de massa seca, o rendimento de grãos foi aquém da média da região (Tabela 5). Se o efeito favorável da gessagem no enraizamento da cultura ainda persistisse, o rendimento de grãos da cultura de milho poderia ter sido maior. Se tratadas somente com gesso agrícola, as camadas subsuperficiais permanecem ácidas, e essa acidez, muitas vezes age como uma barreira química à penetração das raízes.
Trabalhos destacam a importância do alumínio tóxico de camadas superficiais em afetar negativamente a produção agrícola. Esse problema é agravado em condições de deficiência hídrica e na indisponibilidade economicamente viável de insumos para a correção sub-superficial dos solos. Alguns trabalhos, de acordo com Sousa e Lobato (2004), demonstram que a correção da acidez de camadas sub-superficiais aumenta produção de grãos, no cerrado do Brasil. Porém, estudos realizados no Rio Grande Sul e em São Paulo mostram ausência de resposta da soja para a aplicação de gesso (Ernani, 1993; Caires et al., 1998; Caires et al., 1999; Caires et al., 2001; Caires et al., 2003; Neis et al., 2010).
Estes resultados podem estar atrelados ao fato de não houver a ocorrência de déficit hídrico, não existindo limitação da disponibilidade de água no solo, o que é constatado no norte de Mato Grosso e evidenciado pelos resultados das tabelas 6, 7 e 8. Portanto, a planta concentra as raízes na superfície do solo, não permitindo a expressão dos benefícios proporcionados pela aplicação do gesso em profundidade. Segundo Caires et al. (2001) o crescimento do sistema radicular da soja, na ausência de déficit hídrico, não é influenciado pela redução da saturação por Al no subsolo.
Considerações finais
A aplicação de gesso em áreas de lavouras tem auferido somente um pequeno aumento de rendimento nas lavouras de soja e de milho de segunda safra, na região centro e norte mato-grossense. O efeito da escarificação e das doses de gesso foram observados somente em algumas situações e não houve interação entre esses manejos. A ocorrência de estiagem ou veranico pode propiciar a expressão de efeitos positivos da gessagem, fato que ocorreu em uma safra avaliada. O uso da gessagem, considerando o custo desse insumo no norte de MT deve ser considerado na tomada de decisão sobre o uso, pois, aparentemente, os rendimentos obtidos com o uso do insumo pode não remunerar o custo do mesmo. Análises de solo do teor de enxofre mostraram, após quatro anos, teor muito reduzido do elemento químico, enquanto que o teor de cálcio não foi alterado.
Isso indica que as condições pluviais elevadas do norte de Mato Grosso, remove rapidamente o insumo aplicado, conforme fora referido em trabalho técnico realizado anteriormente no estado. O gesso agrícola é insumo imprescindível nas condições edafoclimáticas do Cerrado, entretanto, o manejo do uso da gessagem, em condições de maior pluviosidade, como no Sul do Brasil e na área de influência da Amazônica, necessitam de mais estudos.