Biotecnologia e o Agro


Autores:

Andréia Caverzan

Publicado em: 31/08/2019

A biotecnologia, tecnologia que gera produtos e processos de origem biológica para usos específicos, está cada vez mais impulsionando a agricultura mundial. Os benefícios da biotecnologia agrícola para a segurança alimentar e a sustentabilidade são bastantes expressivos. A contribuição global das culturas transgênicas de 1996 a 2016 atingiu 657,6 milhões de toneladas, representando cerca de 186,1 bilhões de dólares (International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications - ISAAA, Resumo executivo 2018).

No primeiro lugar em área plantada com culturas transgênicas no mundo estão os Estados Unidos com 75 mi/ha, seguido do Brasil com 50,2 mi/ha, Argentina 23,6 mi/ha, Canadá 13,1 mi/ha e Índia com 11,4 mi/ha. No cenário mundial, as culturas transgênicas que lideram a área plantada são a soja com 94,10 mi/ha (49,6%), o milho com 59,7 mi/há (31,4%), o algodão com 24,2 mi/ha (12,8%), a canola com 10,2 mi/ ha (5,4%) e outras culturas como alfafa, batata, beterraba, maça, mamão, abóbora e berinjela com 1,3 mi/ha (0,8%). O Brasil encontra-se atualmente na segunda posição com culturas transgênicas plantadas (50,2 mi/ha), e liderando a posição está a soja com 67% da área, seguida do milho com 31% e do algodão com 2%. A produção de soja no Brasil, em 10 anos, dobrou enquanto que a área plantada não alavancou na mesma proporção.

Em 2008, cerca de 59,3 milhões de toneladas foram produzidas em 20,9 milhões de hectares com média de produtividade de 2.835 kg/ha, já em 2018 foram produzidas cerca de 114,8 milhões de toneladas em 35,8 milhões de hectares com média de 3.206 kg/ha. Esse incremento na produção deve-se muito a biotecnologia. Graças a ela, dispomos da soja tolerante à herbicidas e resistente a algumas espécies de insetos, e outros produtos talvez ainda pouco conhecidos ou que encontram-se em fase de desenvolvimento. Soja transgênica que sintetiza droga anti-HIV. Sementes de soja geneticamente modificada funcionam como uma biofábrica eficiente e viável para produzir em larga escala a proteína cianovirina, utilizada no combate à AIDS. Por meio de técnicas biotecnológicas as células vegetais são geneticamente alteradas para receber genes específicos, esses passam a atuar como biorreatores para produzir a substância desejada. A utilização de fábricas biológicas para produção de moléculas, tais como a cianovirina, pode reduzir os custos de produção. Essa proteína é encontrada em algas e é capaz de impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano.

As sementes da soja geneticamente modificada desenvolvida, cultivadas sob condições controladas de contenção em casa de vegetação ou estufas, produzem uma quantidade elevada da proteína cianovirina, portanto constituem em mais um produto e um ponto positivo para a cultura da soja. (Pesquisa desenvolvida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, Universidade de Londres e Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da África do Sul). Soja que produz um óleo mais saudável para saúde humana. A maior concentração de ácido oleico (ácido graxo que possui uma maior vida útil e sem gordura trans) foi obtida em soja editada. A soja foi desenvolvida utilizando a tecnologia de edição de genes, a “Top do momento”, que constitui em modificar genes específicos, onde pode-se interromper aqueles ligados a características indesejáveis, ou então alterá-los para fazer uma mudança positiva em uma característica.

A técnica mais conhecida de edição genética é a CRISPR e vem sendo muito utilizada tanto na área agronômica quanto na humana e animal. Os genes responsáveis pelos níveis de gordura na soja foram identificados já há algum tempo, e desde então muitos estudos veem sendo desenvolvidos. Na soja editada, os pesquisadores desligaram genes que transformavam a gordura monoinsaturada em poli-insaturada (gorduras monoinsaturadas são consideradas mais saudáveis), assim essa soja possui cerca de 80% de ácido oleico, similar aos óleos de oliva, girassol e cártamo, e até 20% menos de ácidos graxos saturados em comparação com o óleo de sojas convencionais, além de sem gorduras trans.

Ainda, apresenta uma maior vida útil, quando comparado com os óleos de outras commodities, proporcionando um produto mais sustentável. A soja editada é produzida nos EUA com parceria de mais de cem produtores, e o óleo denominado “Calyno™ High Oleic Soybean Oil” está sendo vendido no mercado dos EUA desde o início de 2019. O produto que possui sabor neutro é ideal para uma ampla variedade de usos e está disponível para fabricantes de alimentos e empresas de serviços alimentícios (Calyxt, 2019). Portanto, mais um produto com alta qualidade desenvolvido com técnicas da biotecnologia.