Controle de buva com resistência ao herbicida 2,4-D


Autores: João Maurício Trentini Roy, Ariel Muhl, Gabriele Larissa Hoelscher, Tiago Madalosso, Ana Claudia Constantino Nogueira
Publicado em: 30/04/2021

A efetividade no manejo de plantas daninhas é fundamental para que as mesmas não provoquem interferência nas culturas de interesse econômico. A técnica de manejo mais empregada é o controle químico, com a utilização de herbicidas, normalmente de amplo espectro de ação e alta efetividade.

O objetivo do uso dos herbicidas é eliminar as espécies de plantas daninhas antes da semeadura da cultura ou na pós-emergência, além disso, dependendo do tipo da molécula, o seu uso diminui a emergência de novos fluxos de plantas daninhas em um determinado período de tempo, devido seu efeito sobre o banco de sementes do solo, interferindo diretamente na germinação e/ou estabelecimento de novas plantas.

Quando ocorre a semeadura e emergência de uma cultura, como a soja, na ausência de plantas daninhas, não há a competição interespecífica, ou seja, os recursos disponíveis no ambiente serão utilizados apenas para que a planta expresse seu potencial produtivo.

Entre os herbicidas, o glifosato é o mais utilizado para a dessecação em pré-semeadura da soja, mas devido a presença de espécies de difícil controle, outros mecanismos de ação são inseridos no manejo, como os Mimetizadores de Auxína, Inibidores de ALS, Fotossistema I, Protox, Glutamina Sintase entre outros. Com a disponibilidade de diferentes mecanismos de ação é importante adotar uma estratégia de rotação de ativos, com o objetivo de diminuir a seleção de populações de plantas daninhas com resistência aos herbicidas.

Problemas recorrentes

O emprego de uma prática de manejo isolada, como o controle químico, associado a um sistema de produção com baixa diversidade de espécies favorece a seleção de populações com resistência aos herbicidas.



Nas últimas décadas, vários relatos de populações de buva (Conyza spp.) com resistência aos herbicidas foram registrados, e todos os casos estão relacionados a sistemas de produção contendo a soja como cultura principal. O primeiro relato foi observado no ano de 2005, com a resistência de buva ao glifosato, porém, até o momento existem várias populações da planta daninha que apresentam resistência múltipla, e em alguns locais, a resistência envolve cinco diferentes mecanismos de ação.

Na região Oeste do Paraná, frequentemente é observado a presença de biótipos de buva com resistência ao herbicida 2,4-D, que apresentam sintomas de rápida necrose (Figura 1) logo após a aplicação (3 a 48 horas), semelhante a sintomas observados quando da aplicação de herbicida de contato, porém a necrose em muitos casos ocorre de forma mais rápida com a aplicação de 2,4-D.

Além da necrose, algumas populações de buva com resistência ao 2,4-D não apresentam sintomas característicos de epinastia de um herbicida auxínico. Desta forma, os efeitos da molécula na planta não ocorrem, impedido que se tenha o controle efetivo da mesma. Após 14 a 21 dias da aplicação, a planta inicia o processo de recuperação, emitindo novas folhas e retomando seu desenvolvimento.

A constatação do biótipo de buva com resistência ao 2,4-D foi realizada no ano de 2017, com a coleta de uma população da planta no município de Assis Chateaubriand – PR. Para agravar a situação, esta população apresenta resistência múltipla a cinco diferentes herbicidas (glifosato, 2,4-D, diurom, saflufenacil e paraquat), provocando maior dificuldade de manejo para os produtores.



A utilização do controle químico como única estratégia de manejo, é um dos principais fatores que favorecerem a seleção de biótipos de buva com resistência, associado a sistemas de produção com ausência de rotação de culturas, que permitem a adaptação e predominância de determinadas espécies no ambiente.

A resistência de plantas ao 2,4-D tem aumentado a dificuldade de manejo e os custos de produção, pois na maioria das áreas da região Oeste do Paraná, tem-se observado a presença deste biótipo e o controle não é satisfatório com o uso deste herbicida, resultando em escapes da planta daninha.

Para o manejo de buva com resistência múltipla, o custo de produção aumenta mais de 5 vezes (Figura 2), pois é necessário mais de uma aplicação de herbicida e associação de diferentes mecanismos de ação para o controle efetivo da planta.

Os herbicidas mais utilizados para o manejo da resistência ao 2,4-D, são produtos à base de dicamba e triclopyr, também pertencentes aos mimetizadores de auxína, que vem se apresentando como uma boa alternativa de manejo, pois mesmo pertencendo ao mesmo mecanismo de ação, não são observados sintomas de necrose rápida e os estudos realizados até o momento não demonstram resistência cruzada a estes herbicidas.

Resultados Experimentais

Devido à dificuldade de manejo de buva, o Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol (CPA Copacol), localizado no município de Cafelândia-PR, realizou um trabalho com o objetivo de encontrar alternativas de manejo de biótipos de buva com resistência ao 2,4-D.

O experimento foi realizado em plantas de buva em estádio avançado de desenvolvimento, com altura média de 20 à 25 cm, com a utilização de equipamento costal de aplicação pressurizado com CO2 e volume de calda de 200 L/ha. Os tratamentos, doses e resultados obtidos estão descritos na Tabela 1.



Na primeira avaliação (28 DAA), a aplicação sequencial com saflufenacil e glufosinato de amônio apresentaram incremento nos níveis de controle em relação aos tratamentos com utilização apenas de uma aplicação. Para os tratamentos sem aplicação sequencial, os herbicidas dicamba e triclopyr foram superiores ao tratamento com a utilização de 2,4-D. Este resultado está associado à presença de plantas de buva com rápida necrose ao 2,4-D no experimento.

Na primeira e segunda avaliação (42 DAA), os maiores controles foram obtidos nos tratamentos com a utilização de triclopyr e dicamba, seguidos de uma segunda aplicação com glufosinato de amônio ou saflufenacil. O desempenho destes tratamentos demonstra que estes herbicidas são uma alternativa para o manejo de biótipos de buva com resistência ao 2,4-D.

Os menores controles do experimento foram observados em tratamentos com a aplicação de 2,4-D, com níveis de controle abaixo de 71% na última avaliação, além disso, quando não foi utilizada a segunda aplicação do herbicida de contato, o controle foi de apenas 39% com o uso apenas de 2,4-D. É importante destacar que os níveis de controle com a aplicação isolada de dicamba e triclopyr (71 e 62%, respectivamente) não foram satisfatórios, mas demonstram uma diferença significativa de controle.

Independente do herbicida auxínico utilizado na primeira aplicação, não houve variação significativa de controle entre a aplicação sequencial de saflufenacil e glufosinato de amônio. Estes herbicidas vêm sendo utilizados para o manejo de biótipos de buva em maior frequência para a dessecação em pré-semeadura da soja, após a seleção de populações de buva com resistência a paraquat em 2016 no Oeste do Paraná.

Além disso, o herbicida paraquat não é mais utilizado na agricultura devido a seu banimento, e o uso de saflufenacil e glufosinato de amônio deve aumentar para o controle de buva em ambientes com a presença da planta daninha.



De maneira geral, o controle químico de buva em estádio de desenvolvimento avançado é realizado com duas aplicações, onde a primeira é realizada com herbicidas sistêmicos e segunda aplicação (sequencial) com o uso de herbicidas de contato, a resposta dessa prática foi observado no experimento, pois todos os tratamentos apresentaram incrementos de controle pela realização da aplicação sequencial.

Como o desempenho dos herbicidas sistêmicos (dicamba e triclopyr), e dos herbicidas de contato (glufosinato de amônio e saflufenacil) não diferiram significativamente, é fundamental a adoção de rotação destas moléculas para o controle da planta daninha, visando retardar o processo de seleção de novos biótipos de buva com resistência. Embora, seja fundamental que estes produtos estejam inseridos dentro de outros métodos de controle disponíveis para o manejo de plantas daninhas.

Diante deste cenário de resistência ao 2,4-D, dicamba e triclopyr são ferramentas importantes para o controle de buva, por apresentarem eficiência satisfatória. É importante destacar que estes dois herbicidas apresentam intervalo entre a aplicação e semeadura da soja superiores ao 2,4-D, para dicamba o intervalo mínimo é de 30 dias e triclopyr 21 dias.

A integração de estratégias de manejo é fundamental para evitar a seleção de biótipos de plantas daninhas com resistência aos herbicidas. Dentre as principais alternativas, o uso de herbicidas pré-emergentes apresenta grande contribuição para o manejo de plantas daninhas e redução da interferência com as culturas.

Além do controle químico, a adoção de práticas de manejo cultural, como a rotação de culturas, que aumentem a diversidade do sistema e produção de biomassa (palha) sobre solo, tem grande contribuição para o manejo de plantas daninhas, principalmente em espécies fotoblásticas positivas como a buva, resultando em uma maior sustentabilidade no sistema de produção.