Eugênio Passos Schröder
Manter o solo coberto com vegetação entre os ciclos dos cultivos agrícolas é uma prática conservacionista muito recomendada, para evitar a erosão hídrica e eólica, preservar fertilidade, matéria orgânica, microfauna e características físicas dos solos. Habitualmente, o emprego desta técnica pode estar associado ao pastoreio, principalmente de bovinos e ovinos, resultando na geração de renda para o produtor rural. O método mais utilizado para semear estas áreas consta do emprego de semeadoras em linha ou a lanço, tracionadas por tratores.
Assim, após a colheita de uma cultura agrícola, e sob condições de solo drenado, estes equipamentos promovem a semeadura de uma ou várias espécies de cobertura. Muito utilizada em vários estados brasileiros, a semeadura aérea é uma tecnologia que permite distribuir com rapidez e boa uniformidade as sementes de espécies forrageiras como as braquiárias, milheto, capim-sudão, nabo forrageiro, azevém, aveia e trevos.
Vantagens da semeadura aérea
Mas o que leva o produtor rural a utilizar a aviação em substituição à semeadura terrestre, que ele realiza com o maquinário próprio da fazenda? Destacamos aqui algumas das principais vantagens. A terceirização do serviço permite que a semeadura seja realizada sem ocupar mão-de-obra da fazenda, que geralmente está sendo empregada na colheita de grãos. Esta economia de mão-de-obra é particularmente vantajosa em casos onde o agricultor é arrendatário das terras. O serviço é prestado por uma empresa externa, ficando a negociação do pagamento para ser definida entre o proprietário da terra e o arrendatário.
Rapidez é um grande diferencial competitivo da semeadura aérea, para a proteção do solo e rápida produção de matéria verde. Um avião agrícola pode semear centenas de hectares por dia, disponibilizando grandes áreas em pouco tempo de trabalho. A uniformidade da semeadura aérea é outra grande vantagem, pois a aeronave desloca-se em velocidade constante, e as sementes saem do tanque onde são carregadas de maneira muito uniforme. Assim, a população de plantas que resultarão nos diversos pontos da gleba será altamente uniforme.
Solo excessivamente molhado, com rastros dos rodados das máquinas de colheita, que limitam sobremaneira a semeadura terrestre, bem como áreas com topografia bastante acidentada, são condições que não interferem na qualidade da semeadura aérea. Portanto, evita-se o intervalo de muitos dias aguardando o solo drenar, para dar início à semeadura. Com aeronaves podemos realizar a sobressemeadura, lançando as sementes antes da colheita das lavouras de grãos. Este é um dos principais motivos do emprego de semeadura aérea de plantas de cobertura em áreas cultivadas com soja, milho, arroz, entre outras.
Nas lavouras de arroz e milho, a sobressemeadura pode ser realizada até 15 dias antes da colheita. No caso da soja, o momento ideal é o início da queda das folhas, que se depositam sobre as sementes, criando um ambiente favorável para a germinação e estabelecimento da pastagem. Desta forma, no momento da colheita da lavoura, a pastagem já está estabelecida, permitindo antecipar o pastoreio em até 30 dias. Em um sistema de recria de terneiros, por exemplo, esta antecipação pode representar um acréscimo de cerca de 72 kg/ha de carne (três terneiros/ha, com ganho médio de 0,8 kg/animal/dia), pagando com sobras a semeadura aérea.
Equipamentos para semeadura aérea
O carregamento das sementes é feito por uma abertura situada na parte superior do tanque, e a saída ocorre por gravidade, através de uma porta em sua porção inferior, de acordo com o comando do piloto durante o vôo. A maior ou menor abertura da porta inferior do tanque permite ajustar a vazão desejada, mantendo-a constante durante toda a aplicação. Para conferir agilidade à semeadura, recomenda-se fazer o carregamento de forma mecanizada. O carregamento manual dos produtos torna a operação muito morosa, além de exigir muitos trabalhadores, onerando a aplicação aérea.
O carregamento mecanizado pode ser efetuado com o auxílio de guinchos acoplados em tratores, com guindastes instalados em caminhões, ou através de sistemas com roscas carregadoras. O que realmente faz com que as sementes, que saem do tanque por uma abertura com largura inferior a um metro, sejam distribuídas em faixas largas e uniformes nas lavouras são os difusores de sólidos, dispositivos instalados sob a aeronave e para o quais se dirigem as sementes logo após saírem do tanque de produtos. Os três modelos de difusores de sólidos utilizados no Brasil em aeronaves de asas fixas são o venturi convencional (pé-de-pato), o tetraédrico e o swathmaster.
A qualidade das sementes
der germinativo, vigor e sanidade, que darão origem a plantas bem desenvolvidas. Sementes com muitas impurezas e baixo poder germinativo resultam em grande volume de produtos no tanque da aeronave, mas reduzida quantidade de sementes viáveis, o que exige maior vazão na aplicação, mais carregamentos e, conseqüentemente, resulta em menor rendimento operacional. As sementes costumam ser comercializadas em sacos, devendo o seu peso ser bem conhecido e constante, para o adequado carregamento da aeronave.
Quando mais de uma espécie de pastagem for semeada simultaneamente, há necessidade de mistura prévia das sementes nas proporções recomendadas. Sementes de leguminosas podem necessitar de inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio do ar, o que deve ser efetuado antes, e não no momento da semeadura.
Considerações finais
A semeadura aérea de plantas para cobertura requer cuidados que vão desde a instalação do equipamento, sua calibração, mistura com outros produtos, carregamento, observação na lavoura da deposição adequada e condições do vento durante a operação. Devem-se evitar os ventos de rajadas ou com velocidade muito variável.
Alterações no sentido do vento, da qualidade das sementes (mistura de lotes) e formação de grumos devido à umidade podem comprometer a boa distribuição do produto. A altura de vôo deve ser constante durante toda a aplicação. É importante o planejamento prévio da aplicação para o sucesso da operação, atentando-se para fatores como condições de conservação e distância da pista de pouso até a área a ser semeada, carregamento mecanizado, definição da dosagem a ser aplicada e programação no equipamento DGPS da largura de faixa correta a utilizar.