Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Em 2018 ocorreu a Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, no SETREM, no município de Três de Maio/RS, contando com a participação de diversas entidades, incluindo Emater, unidades da Embrapa, Universidades e Cooperativas. A partir dessa reunião, foi organizado o livro “Indicações Técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, safras 2018/2019 e 2019/2020”, lançado em 2019. A Revista Plantio Direto organizou para essa edição um resumo das principais indicações contidas no livro, sendo que o conteúdo completo pode ser adquirido com o SETREM.
Manejo e Conservação do Solo
Plantio Direto e Sistema Plantio Direto
Nas condições de solo e clima do Brasil, fazer apenas “Plantio Direto” não é suficiente. Nos últimos anos, a erosão está ocorrendo pela falta de palha na superfície do solo, falta de semeadura em contorno e terraços. O Sistema Plantio Direto (SPD) em sua essência preconiza a rotação e consorciação de culturas, buscando diversificação, que é uma forma de aumentar a quantidade de palha e melhorar a infiltração de água no solo. É importante considerar que o intervalo entre as operações de colheita de soja e semeadura de uma cultura na sequeência deve ser sempre o menor possível, para manter o solo o mais tempo possível coberto.
Sistematização da lavoura
Sulcos e depressões no terreno concentram enxurradas, dificultam tráfego de máquinas e promovem crescimento de plantas daninhas e manchas de menor fertilidade. Por isso, indica-se eliminar os obstáculos com motoniveladoras, plainas, ou inclusive por escarificação e aração/gradagem, antes de iniciar (ou reiniciar o Sistema Plantio Direto).
Descompactação do solo
A compactação pode causar redução de produtividade, mesmo com breves estiagens. Para verificar se há compactação e qual sua magnitude, recomenda-se abrir pequenas trincheiras com 30 cm de lado e 50 cm de profundidade em vários pontos da lavoura, inclusive avaliando as raízes das plantas daquele ponto. Para rompimento de camadas compactadas, sugere-se utilizar escarificador regulado para operar logo abaixo da camada compactada.
As ponteiras das hastes devem ser menores que 8 cm de largura, e o espaçamento entre as hastes deve ter 1,20 a 1,25 vezes a profundidade de trabalho. Caso sejam de 5 cm de largura, espaçamento entre hastes deve ser igual a profundidade de trabalho. É importante sempre escarificar no sentido oposto ao declive (nunca “morro acima/morro abaixo”), e com o solo na consistência friável.
Lembre-se: A compactação vai voltar a aparecer caso não sejam adotadas estratégias para prevenila, como utilização de diferentes espécies de plantas, com diferentes tipos e profundidades de raizes e com alta produção de massa verde/seca, além de controlar e minimizar o tráfego de máquinas na propriedade.
Correção da acidez e fertilidade
Solos pouco férteis (ácidos e com baixo teor de fósforo e potássio), em que se planeja iniciar (ou reiniciar) o Sistema Plantio Direto, indica-se incorporação de calcário e fertilizante até 20 cm de profundidade.
Planejamento do sistema de diversificação de culturas
Uma sugestão/exemplo de sistema de rotação para o sul do Brasil, para três anos, que tem funcionado para várias propriedades: aveia/soja, trigo soja, ervilhaca/ milho.
Manejo de restos culturais
Independentemente de a palha ser triturada ou não, é importante que após a colheita a palhada seja distribuída em uma largura igual a da plataforma da máquina colhedora, em faixas uniformes.
Manejo da enxurrada em SPD
Terraçeamento
Na ocasião de ser construído terraços em áreas declivosas para auxiliar no controle da erosão, recomenda-se o software Terraço for Windows versão 4.1, que pode ser encontrado na página do Grupo de Pesquisa de Recursos Hídricos, da Univesidade Federal de Viçosa.
Calagem e adubação
As indicações técnicas para Calagem e Adubação do cultivo da soja são baseadas no Manual de Calagem e Adubação para os estados do RS e SC, elaborado pela CQFS-RS/SC, em 2016.
Amostragem de solo
Em áreas com teores baixos de fósforo e potássio onde será feito correção da fertilidade, buscar realizar amostragem de solo antes do cultivo de inverno. Dessa forma é possível que as doses para correção da fertilidade sejam parceladas, aplicando parte na linha de semeadura no inverno, e parte na linha de semeadura no verão.
Isso ajuda a reduzir o risco de perda de nutrientes por escoamento superficial/lixiviação, e diminui o gradiente de fertilidade que se desenvolve normalmente em Plantio Direto. Considerando áreas de Plantio Direto, sugere-se amostrar com pá-de-corte (preferencialmente) ou trado, amostrando 10 a 20 pontos em cada gleba homogênea, se possível na camada de 0 a 10 cm, e a de 10 a 20 cm, de forma estratificada.
Calagem
Em geral, o pH em água considerado bom para o cultivo da soja é de 5,5 a 6,0. Os critérios indicadores para aplicação de calcário encontram-se na tabela 1.
Cálculo da quantidade de corretivo a aplicar
A tabela 2 traz uma relação da quantidade sugerida de calcário a ser aplicado (considerando PRNT 100%) com base no índice SMP, encontrado nas análises de solo. Em solos de textura arenosa, por vezes o índice SMP pode indicar quantidades muito pequenas de corretivo, mesmo que o pH do solo encontre-se abaixo do ideal para soja. Por isso, pode ser utilizado as seguintes equações para calcular a dose, nesses casos:
Para pH 5,5: NC = -0,653 + 0,480 MO + 1,937 Al3;
Para pH 6,0: NC = -0,516 + 0,805 MO + 2,435 Al3;
Em que NC = Necessidade de calagem, em toneladas/hectare; MO é o teor de matéria orgânica, em %; e Al3 + é o teor de alumínio trocável, em cmolc/dm³.
Calagem em áreas sob Sistema Plantio Direto
Antes da implantação (ou reimplantação) do SPD, indica-se corrigir a camada de 0 a 20 cm pela incorporação de calcário. Quando anterior a implantação do sistema, na área houver campo nativo, em função dos fatores que influenciam a reação do calcário, indica-se aplicar ao menos 6 meses antes do cultivo da soja.
Quando o SPD for consolidado, indica-se fazer a calagem quando o valor do pH da camada de 0 a 10 cm for menor que 5,5; o valor V (Saturação de bases) for menor que 65% e a saturação por Alumínio (Al%) for maior do que 10%. A dose sugerida é de ¼ da dose necessária para elevar o pH a 6,0, conforme a tabela 2.
Quando na camada de 10 a 20 cm houver saturação de alumínio maior do que 30%, pode haver necessidade de reimplantação do SPD, buscando realizar incorporação do calcário. Isso deve ser apenas considerado em locais em que a produtividade da cultura está abaixo da média local, e há compactação do solo e baixa disponibilidade de fósforo no solo. Reiniciar o SPD pode agravar problemas de erosão e reduzir a quantidade de matéria orgânica do solo. Deve-se atentar para o fato de que o corretivo normalmente leva até 3 anos para reagir totalmente no solo, e por isso logo após aplicação de calcário, pode ser que as análises de solo não detectem a correção.
Efeito residual e frequência de calagem
O efeito da calagem pode durar de 3 a 5 anos, sendo necessário análise periódica para verificar se há necessidade de maior quantidade aplicada. Deve-se sempre definir as doses baseadas na cultura mais exigente no sistema de produção, desde que isso não prejudique as demais culturas.
Calcário na linha
É possível aplicação de pequenas quantidades de calcário de alta reatividade (mais fino) na linha de semeadura para culturas como a soja, quando não for possível aplicação em área total. Em solos com alta necessidade de calagem (necessário mais do que 7 toneladas/ ha para chegar a pH 6,0), recomenda-se fazer calagem parcial em área total com ¼ da dose indicada para chegar a pH 6,0, como forma de complementação.
Em solos com necessidade de calagem intermediária (ou seja, necessário menos que 7 toneladas/ha para chegar a pH 6,0), não é necessário calagem complementar em área total. Em solos corrigidos, não se recomenda a aplicação de calcário na linha. A dose de calcário a ser aplicada na linha pode variar de 200 a 300 kg/ha.
Adubação
A pesquisa até o momento não indica a aplicação de nitrogênio em soja, seja no “arranque” (no inicio do ciclo) ou em outros momentos. A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é suficiente para suprir a demanda de nitrogênio da cultura, contanto que seja feito inoculação todo ano, e o solo possua as condições de fertilidade necessárias para que as bactérias fixadoras demonstrem seu potencial. Até o momento, a indicação é de que a aplicação de nitrogênio inibe a fixação biológica. Caso a aplicação de fertilizante formulado contendo nitrogênio seja favorável financeiramente, fertilizantes com até 20 kg de nitrogênio/ha não chegam a prejudicar o desenvolvimento das bactérias fixadoras.
Inoculação de sementes de soja para cultivo em áreas novas
Em áreas de primeiro ano de cultivo, recomenda-se usar o dobro de inoculante, pois na área não haverá bactérias compatíveis com quantidade e eficiência suficiente. A utilização de inoculantes turfosos em geral oferece melhor proteção às bactérias. Caso a semente de soja não seja de qualidade comprovada, e o solo não esteja em condições adequadas para rápida germinação da semente, deve-se evitar o tratamento de sementes com micronutrientes e defensivos. Nesse caso, pode-se optar pela inoculação no sulco de semeadura.
Inoculação de sementes de soja para áreas com mais de um ano de cultivo
A pesquisa é conclusiva em todo o Brasil de que a inoculação todo ano (ou reinoculação) aumenta em até 8% o rendimento de grãos, além de manter a estabilidade da produção.
Procedimento de inoculação da semente
Alguns cuidados na inoculação: Após a inoculação das sementes, deixar secar à sombra e se-mear no mesmo dia. Nunca utilizar inoculantes fora do prazo de validade e manter o inoculante em local fresco e arejado. Semear em solo com umidade adequada. Os seguintes princípios ativos são menos prejudiciais às bactérias fixadoras: carbendazim + captam, carbendazim + tiram e carboxina + tiram (buscar sempre deixar a inoculação por último no tratamento).
Inoculação no sulco de semeadura
Para aplicação de inoculante por aspersão no sulco de semeadura, recomenda-se manter o pH da calda de aplicação entre 5,5 a 7,5, e aplicar no mínimo 50 L de calda/ha. A quantidade de inoculante deve ser proporcional a no mínimo 2,5 milhões de células/ semente.
Sementes pré-inoculadas
No caso de comprar sementes pré-inoculadas/tratadas, verificar com o fabricante qual é o tempo máximo a ser aguardado antes que o inoculante não funcione mais, além de verificar se o inoculante tem registro no Ministério da Agricultura (MAPA). De qualquer forma, recomenda-se análise em laboratório para verificar se não houve redução drástica do número de bácterias/semente.
Fósforo e potássio
Em solos com teores de fósforo e potássio classificados como “muito baixo”, “baixo” e “médio”, recomenda-se realizar adubação de correção para que os teores desses nutrientes cheguem acima dos níveis críticos para a cultura da soja. As tabelas 3 e 4 mostram como interpretar o teor dos nutrientes da analise de solo com base no teor de argila e CTC para a cultura da soja. Indica-se fazer a correção gradual (aplicar 2/3 da quantidade total no primeiro cultivo e 1/3 no segundo cultivo), a menos que o teor de nutriente seja considerado “muito baixo” e/ou o custo do fertilizante esteja favorável para realizar a correção total.
Deve-se ter cuidado para não utilizar quantidades elevadas de fertilizantes (mais do que 80 kg K2O/ha e 120 kg P2O5/ha) na linha de semeadura devido ao efeito salino ser prejudicial às sementes. O fertilizante pode ser aplicado a lanço, antes da semeadura, em cobertura (em V2 a V3), ou no cultivo anterior a soja, desde que não ocorra lixiviação. Em solos arenosos ou com CTC baixa (menor do que 7,5 cmolc/dm3), o risco por lixiviação é maior. Nas tabelas G e H constam indicações de doses de fertilizante para expectativa de rendimento de 3 toneladas/ha, além de indicação para correção gradual.
Em áreas com teor “alto”, recomenda-se apenas realizar a adubação de manutenção, que é a adubação focada na necessidade da cultura durante o ciclo, sendo recomendado 15 kg/ha de P2O5 e 25 kg/ha de K2O para cada tonelada de soja a ser produzida. Deve-se considerar a situação de cada região e cada gleba, visando fazer ajustes de doses para melhor adaptação de cada produtor. A tabela 5 mostra a quantidade de fósforo e potássio indicada para adubação de manutenção e correção gradual do solo.
Enxofre
Para soja, recomenda-se teor de enxofre de 10 mg/dm³. Caso não esteja nesse nível, indica-se aplicar 20 kg/ha de S-SO4. Atentar para o teor de enxofre que pode ser maior em camadas abaixo de 10 cm.
Micronutrientes
Em solos com pH menor que 5,5 e em lavouras com deficiência de nitrogênio no inicio do cultivo, a aplicação de molibdênio via foliar pode incrementar o rendimento de grãos. Para aplicação em semente, sugere-se 12 a 25 g/ ha, e em aplicação foliar, 25 a 50 g/ ha. O tratamento com molibdênio nas sementes pode prejudicar a FBN. Nesse caso pode-se realizar aplicação foliar nos estádios V2 a V3 (30 a 45 dias após emergência) para diminuir os riscos. Em muitas ocasiões, as plantas podem ter aspecto visual melhor após aplicação de micronutrientes, mas isso não necessariamente significa que o rendimento de grãos será maior. A aplicação de micronutrientes só é justificada quando após análise de solo e/ou foliar ser indicado teores considerados baixos.
Fertilizantes orgânicos e organominerais
Fertilizantes orgânicos e/ou organominerais podem ser utilizados desde que calculados os teores de nutrientes na matéria seca, com atenção para o teor de nitrogênio não inibir a fixa-ção biológica do nitrogênio.
Cultivares
Para verificação das cultivares registradas no Ministério da Agricultura, é possível acessar o seguinte endereço eletrônico: http:// sistemas.agricultura.gov.br/snpc/ cultivarweb. As indicações Técnicas organizadas na Reunião de Pesquisa não recomendam cultivares, considerando que cada condição regional de solo e clima pode ter comportamento diferente. Um estudo realizado na safra de 2017/2018 pela Fundação Pró-Sementes e Farsul, para cultivares no RS, pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico: http://www.fundacaoprosementes.com.br/arq/relatorio_ecr_soja_2017_2018.pdf
Manejo da cultura
Zoneamento agrícola de risco climático (ZARC) e períodos de semeadura
Recomenda-se buscar as portarias publicadas anualmente pelo MAPA no Diário Oficial da União, para ser definido com maior precisão a cultivar com ciclo mais adequado para o clima e solo da região onde está se atuando, inclusive para adesão nos programas de crédito e seguro para a produção. Sugere-se o escalonamento de cultivares de diferentes tamanhos de ciclo na mesma propriedade, para evitar riscos de adversidade climática.
Tipos de solos aptos ao cultivo
São considerados aptos para o cultivo de soja no RS e SC apenas solos do tipo 1, 2 e 3.
• Tipo 1: Teor de argila entre 10 e 15%, ou que o teor de argila seja pelo menos 50% menor do que o de areia.
• Tipo 2: Teor de argila entre 15 e 35%, onde o teor de argila seja no máximo 49% menor do que o de areia
• Tipo 3: Teor de argila maior do que 35% Não são indicados para cultivo as Áreas de Preservação Permanente (APP), nem solos com profundidade menor do que 50 cm, ou muito pedregosos (mais de 15% de calhaus e matacões/rochedos). Em solos sujeitos a alagamento, não são cobertos riscos por inundação/excesso hídrico.
Espaçamento entre fileiras, população de plantas e profundidade de semeadura
Indicações de espaçamento entre linhas e população devem ser buscadas pelos obtentores da cultivar, sendo que dentro da época recomendada de semeadura, esse espaçamento pode variar de 20 a 50 cm entre linhas. Em solos de várzea recomenda-se espaçamento de 50 cm. Na maior parte dos casos, variações de 20% a mais ou a menos de plantas por hectare não alteram o rendimento final de grãos.
Quando a semeadura for realizada no final da época indicada, sugere-se aumentar a população de plantas e reduzir o espaçamento entre fileiras para compensar o encurtamento do período vegetativo da soja. Em condições que favorecem o acamamento de plantas, sugere-se reduzir a população em 20%. A profundidade de semeadura deve ficar entre 2,5 e 5,0 cm, com profundidades menores apenas quando há adequada umidade do solo.
Cultivares de soja para áreas de várzea
Para a cultura da soja é importante que em áreas de várzea, o local possua bom sistema de drenagem, e utilize rotação de culturas. Em cultivares de soja de Grupo de Maturação Relativo (GMR) menores do que 6.4 (precoces, superprecoces e semiprecoces), a semeadura em época inadequada e em áreas de várzea que estão sujeitas a estresses hídricos pode resultar em redução drástica no rendimento de grãos.
Por isso sugere-se utilizar cultivares com GMR maiores do que 6.4 e menores que 7.4 (médios e semitardios), principalmente em áreas com primeiro cultivo de soja. Cultivares mais precoces do que 6.4 podem ser utilizadas em áreas com histórico de cultivo de soja em várzea, fertilidade do solo corrigida e com capacidade de controle da quantidade de água na área, para evitar excessos e deficiências hídricas. Ao mesmo tempo, cultivares de ciclo longo (maiores que 7.4) devem ser utilizadas com cautela pelas condições climáticas que podem afetar a colheita no outono.
Sistemas de produção de grãos
Rotação de culturas
À rotação de culturas em SPD deve ser dada atenção especial em função de doenças necrotróficas que sobrevivem nos restos culturais da soja após a colheita. Para minimizar esse tipo de problema, é importante a rotação de culturas com espécies que não sejam hospedeiras de doenças da soja. No caso de doenças como Rhizoctonia solani (causador de tombamento e morte em reboleira) e Sclerotinia sclerotiorum (causador de mofo branco), deve ser priorizada rotação com milho e sorgo.
A rotação traz inúmeros benefícios como um todo, não apenas pela questão de doenças, mas também: Melhor utilização do solo/nutrientes; mobilização de nutrientes para a superfície; aumento da matéria orgânica; controle de erosão; controle de plantas daninhas e pragas; melhor distribuição de mão-de-obra ao longo do ano e melhor aproveitamento das máquinas; diminuição de risco do produtor; além de melhorar o rendimento de grãos da soja.
Estratégias de sucessão trigo-soja
A obtenção de cultivares de soja adaptadas à semeadura em meses como outubro e setembro acaba por eliminar a possibilidade de cultivo do trigo em muitas propriedades. No entanto, estudos mostraram que a antecipação da semeadura da soja apenas aumentou o rendimento de grãos na região edafoclimática (REC) 103, da Macrorregião Sojícola 1. No entanto, esses mesmos estudos indicam que o melhor retorno econômico ainda ocorre com a sucessão trigo-soja, realizando ajustes no manejo para obter alto rendimento em ambas as culturas, adotando cultivares de soja que tenham menor prejuízo de grãos por atraso na época de semeadura. Confira sugestões de estratégias para sucessão trigo-soja na tabela 6, nas regiões do sul do Brasil.
Cultivo da soja em terras baixas
A utilização da soja na região edafoclimática 101, com predominância de terras baixas, necessita de adequado sistema de drenagem e disponibilidade hídrica, principalmente durante a fase reprodutiva da soja. A sistematização do terreno é fator importante, também. Além disso, é necessário a verificação do estado de compactação do solo, problema que não prejudica a cultura do arroz em demasia, mas afeta muito a produtividade da soja. Outro ponto importante é a utilização de cultivares com tolerância ao encharcamento, e estirpes de Bradyrhizobium efetivas para a fixação de N.
Sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA)
No RS, a integração do cultivo da soja pode acontecer com a pecuária de bovinos e ovinos, tanto em terras altas, quanto terras baixas, que são normalmente em rotação com arroz irrigado. A inserção do animal no sistema de produção tem o efeito positivo de ciclagem de nutrientes através do retorno do material na forma de esterco e urina ao solo. O rendimento da soja e a estrutura do solo (densidade e porosidade) não são afetados pelo pisoteio dos animais, desde que o pastejo seja com feito intensidade moderada.
Manejo Integrado de Plantas Daninhas
O período crítico de competição na cultura da soja ocorre dos 10 aos 50 dias após a emergência. Ou seja, durante esse período, é importante que a cultura seja mantida totalmente livre de plantas daninhas.
Medidas preventivas
A prevenção é a tática de manejo que mais dá retorno ao produtor, e por isso é importante que o mesmo esteja constantemente monitorando a lavoura, para verificação de pontos de infestação. A utilização de sementes certificadas é a primeira etapa do manejo preventivo, pois lotes de sementes contaminadas com sementes de outras espécies são o principal veiculo de plantas daninhas para a propriedade. Além do uso de sementes certificadas, recomenda-se:
• Realizar limpeza adicional das sementes;
• Limpar máquinas e implementos de uso agrícola, antes da entrada em uma área ou quando for feita mudança de área;
• Tomar cuidado na movimentação de animais de pastejo que circulam na área
• Limpar de forma sistemática: terraços, curvas de nível, linhas de cercas, beira de estradas, canais de irrigação e drenagem.
• Buscar eliminar plantas daninhas da área antes que elas produzam sementes
Método cultural
Dentro do método cultural de controle, indica-se utilizar espaçamento de 35 a 50 cm entre linhas de soja, para possibilitar o fechamento do dossel o mais rápido possível, e reduzir a população de plantas daninhas pela ausência de luz. Além disso, a rotação de culturas naturalmente permite um controle mais fácil de espécies de difícil controle, e o uso de plantas de cobertura, outras culturas e/ou forrageiras auxilia na redução da população de daninhas.
Manejo de Plantas Daninhas em semeadura direta
Em SPD, a barreira física e o efeito químico que a palhada propicia é importante no manejo de daninhas. A aveia branca, aveia preta e o azevém são espécies que notoriamente causam efeito de supressão de plantas daninhas, especialmente aveias sobre papuã (Brachiaria plantaginea) e azevém sobre guanxuma (Sida spp.). Realizando um mapeamento das espécies, quantidade e localização de plantas daninhas, é possível reduzir ou até eliminar o uso de herbicidas.
Efeitos de restos culturais no controle de plantas daninhas
A tabela 7 apresenta a supressão relativa de plantas daninhas em soja por diferentes resíduos no solo. É importante a utilização de picador e distribuidor de palha bem regulados e balanceados para distribuição uniforme de palhada no momento da colheita, na mesma largura da plataforma da máquina colhedora.
Método Físico
Capinadoras podem eliminar de 75 a 80% das plantas daninhas quando realizadas duas capinas. A primeira capina não deve ultrapassar os 20 dias após emergência da cultura, e a segunda deve ser realizada entre 25 a 35 dias.
Método químico: Herbicidas indicados
Pré-semeadura ou dessecação
Em áreas em que foi implantado cultivo de inverno antes da soja, o manejo da dessecação é mais simples do que quando a área permanece em pousio ou com pastagens. Nos últimos anos, espécies que causam problema na dessecação incluem buva, poaia branca, azevém e corriola. Isso ocorre principalmente pelo estádio avançado de crescimento que elas se encontram no momento da dessecação.
Para facilidade do manejo, é indicado controlar essas plantas antes do momento da dessecação, durante o inverno. O herbicida 2,4-D não deve ser aplicado com intervalo menor do que 10 dias antes da semeadura da soja, por trazer riscos a cultura. Assim como não é indicado aplicar esse herbicida perto de culturas sensíveis, em função do risco de deriva. A tabela 8 mostra sugestões de herbicidas e épocas para dessecação de plantas daninhas antes da soja em SPD.
Herbicidas de pré-semeadura incorporados (PSI ou PPI)
Esses herbicidas devem ser incorporados com grade niveladora de discos com profundidade de trabalho de 10 a 15 cm, para que eles possuam eficiência agronômica. Deve-se ter em mente que a utilização da grade para incorporar esse tipo de herbicida pode levar a outros problemas relacionados a movimentação do solo.
Herbicidas de pré-emergência (PRÉ)
Esses são herbicidas que devem ser aplicados antes da emergência das plantas daninhas e da cultura, sendo que o ideal para ativação desses é que ocorra chuva de 10 a 15 mm em até 48h após a aplicação.
Herbicidas de pós-emergência (PÓS)
Os herbicidas pós-emergentes são seletivos a soja, e são aplicados quando a cultura já está emergida. É importante evitar a aplicação em condições de estresse, pois as plantas daninhas não se encontram em plena atividade fisiológica, diminuindo assim a eficiência dos herbicidas. A eficiência de herbicidas em diferentes espécies pode ser encontrada no documento completo das Indicações Técnicas para soja na região sul 2019/2020.
Tecnologia de aplicação
Herbicidas de solo
Deve-se evitar aplicação de herbicidas de solo em solos secos ou com temperatura elevada. Indica-se o uso de pontas com ângulo de 80° ou 110°, com volume de calda entre 100 e 250 L/ha. A altura mínima da barra deve ser de 40 ou 50 cm acima do solo, com espaçamento entre bicos de 50 cm.
Herbicidas de folhagem
Para aplicação de herbicidas de parte aérea, considerar:
• Não aplicar com excesso ou falta de água no solo
• Aplicar apenas com umidade relativa do ar acima de 60%
• Temperatura ótima de aplicação: 15 a 25ºC
• Velocidade do vento entre 3 e 8 km/h.
• Não aplicar com ocorrência iminente de chuva, por risco de lavagem do produto.
• Usar água limpa para a calda, com pH entre 4 a 6.
• Utilizar adjuvante indicado
• Utilizar pontas do tipo jato plano, com ângulo de 110° e vazões nominais de 0,375 a 1,125 L/ min (0,1 a 0,3 galão/minuto)
• Usar volume de calda entre 50 a 200 L/ha, com maiores volumes para herbicidas de contato
Adição de adjuvantes a herbicidas de folhagem
Doses excessivas de adjuvantes na calda podem causar sintomas de fitotoxidade na cultura, além de poder reduzir a eficácia dos herbicidas.
Aplicação aérea
Indica-se para aviões do modelo Ipanema o uso de bicos hidráulicos com pontas D-8 ou D-10 e “cores” 45 ou 46, posicionados para trás com ângulo de 135º em relação ao sentido do voo, com largura da faixa de aplicação de 15 m, volume de clada de 30 a 40 L/ha e altura de voo de 2 a 3 m.
Resistência de plantas daninhas a herbicidas
A aplicação sequencial de glifosato e paraquat + diuron na dessecação é técnica eficiente para prevenir espécies tolerantes/resistentes. A dose indicada de paraquat + diuron é de 1,0 a 1,5 L/ha de produto comercial.
Utilização do glifosato em soja RR
Considerar as seguintes indicações para a utilização e manutenção do glifosato como ferramenta de controle na dessecação e em pós-emergência da cultura.
a) Melhorar a cobertura do solo, seja com palhada ou com plantas vivas ao longo do ano.
b) Dessecar com antecedência necessária, evitar dessecar muito próximo a semeadura da soja.
c) Evitar aguardar a germinação de plantas daninhas após a emergência da soja para aplicação, pois é importante que não ocorra competição entre os primeiros 10 a 50 dias da cultura.
d) Rotacionar o glifosato com outros mecanismos de ação herbicidas.
e) Ao invés de aumentar a dose da aplicação, sugere-se alterar o tipo de produto utilizado, para evitar seleção de populações resistentes.
Manejo Integrado de Doenças
Tratamento de sementes
Indicações para tratamento de sementes com fungicida: usar até no máximo 700 mL para cada 100 kg de semente; aplicar inoculante sempre após o tratamento com fungicida; a regulagem da semeadora deve ser feita com as sementes já tratadas. É indica análise fitossanitária para definir o melhor tipo de fungicida a ser usado na semente.
Tratamento químico da parte aérea
Indicações de condições ambientais para aplicação de fungicidas:
• Umidade relativa mínima de 55%
• Temperatura máxima de 30 ºC
• Velocidade do vento entre 3 e 10 km/h
• Indica-se também pontas de pulverização e pressões que produzam gotas finas (DMV entre 150 a 250 um) até média (DMV entre 250 a 350 um), com volume de calda entre 100 a 150 L/ha. Gotas maiores e plantas com área foliar elevada exigem maiores volumes de calda para cobertura.
A redução do volume usado é possível, mas implica no uso de gotas mais finas, que consequentemente requerem maior atenção às condições ambientais pelo risco de evaporação e deriva. Indica-se a utilização de pontas do tipo jato plano simples ou duplo: pontas de jato cônico vazio produzem gotas com maior penetração na cultura, mas com menor uniformidade ao longo da barra de pulverização e maior risco de deriva. No caso de aplicação por aeronave, podem ser utilizados bicos hidráulicos cônicos, leques e eletrostáticos, bem como atomizadores rotativos. Sempre busque obedecer às indicações do fabricante do produto para melhores resultados.
Oídio
Para oídio, indica-se uso de cultivares tolerantes ou resistentes. Aplicação de fungicida para oídio se justifica quando a doença atingir severidade de 20% na parte inferior das plantas (média de 20 plantas colhidas ao acaso e desprezando a bordadura). Se até o estádio de R5.5 (entre 75 e 100% do enchimento de grãos) o oídio não chegar à severidade de 20%, não se recomenda aplicar. Caso seja aplicado fungicida para oídio antes de R5.5, pode ser necessário uma segunda aplicação entre 10 até 25 dias depois, dependendo do produto usado.
Doenças foliares de fim de ciclo
A ocorrência de mancha parda e crestamento foliar (Septoria glycines e Cercospora kikuchii, respectivamente) pode ser reduzida com tratamento de sementes e rotação de espécies não suscetíveis como milho e milheto. Desequilíbrios nutricionais e baixa fertilidade podem tornar as plantas mais suscetíveis. Para essas doenças, a aplicação de fungicidas deve ser feita entre os estádios R1 até o estádio R5.3.
Ferrugem asiática
A temperatura ótima para desenvolvimento da ferrugem é entre 19 e 24°C, com período de molhamento de 6 h. Sugere-se o uso de cultivares de ciclo precoce e semeadura no início da época indicada, para reduzir o tempo que a cultura estará exposta ao fungo. Quando a doença aparecer a partir do estádio R6-R7 (mudança de coloração da vagem) não se recomenda aplicação de fungicida. Não é recomendado utilização de fungicidas triazóis isolados para controle da ferrugem, e o controle deve ser feito a partir dos primeiros sinais, ou preventivamente antes de ocorrer o fechamento do dossel da cultura (“fechamento das ruas”).
Mofo branco
Alta umidade relativa e temperaturas amenas favorecem o aparecimento do mofo branco, e a fase mais sensível é o florescimento até o início da formação das vagens. Para o controle recomenda-se uso de sementes certificadas de qualidade comprovada, tratamento de sementes, rotação de culturas com espécies não hospedeiras como milho, aveia branca ou trigo, aumentar o espaçamento entre linhas, reduzir a população ao mínimo indicado, adubação equilibrada e aplicação de fungicidas no período de maior vulnerabilidade, além de limpeza das máquinas e equipamentos para redução da disseminação.
MIP
As principais pragas consideradas “chave” na região sul para a cultura da soja são o tamanduá da soja (Sternechus subsignatus), lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), e lagartas falsa-medideira (Chrysodeixis includens e Rachiplusia nu), além de percevejos como Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros. Lagartas do gênero Spodoptera e a broca dos ponteiros (Crocidosema aporema) ocorrem com certa frequência de forma localizada. Nos últimos anos, trips e ácaros também tem sido constatados reduzindo a área foliar de lavouras de soja. Para a tomada de decisão de controle, naturalmente é recomendado o Manejo Integrado de Pragas, cuja base é o monitoramento/ vistoria da lavoura com frequência suficiente para de-terminar o padrão de crescimento das populações de insetos.
Aplicar inseticida sem a confirmação de que o inseto atingiu o nível de dano econômico pode ser considerado uma péssima técnica de gerenciamento, pois a aplicação é desnecessária, logo, aumentou o custo de produção sem motivo. Além disso, a aplicação “preventiva” de inseticidas elimina os agentes de controle biológico que já estão presentes na área e que mantem as populações de praga sob controle, permitindo a ressurgência dessas pragas ao longo do ciclo, e também pode aumentar o risco de resistência. A tabela 9 dispõe a forma de monitoramento e critérios de decisão para controle das principais pragas em soja.