Arthur Inácio Saldanha Xavier, Alessandro Porporatti Arbage, Giovana Ghisleni Ribas, Alencar Junior Zanon, Nereu Augusto Streck, Michel Rocha da Silva, Ary José Duarte Junior, Ioran Guedes Rossato, Lorenzo Dalcin Meus, Vladison Fogliato, Isabela Bulegon Pilecco, Franscisco Tonetto, Anderson Haas Poersch, Jossana Ceolin Cera, Pablo Mazzuco Souza, Mara Grohs, Gionei Alves de Assis, Guilherme Foletto Pozzobon
1. Introdução
Apesar das produtividades de arroz estarem aumentando nos últimos anos, de 5,5 Mg/ha (1998- 2002) para 7,5 Mg/ha (2010-2015) (MENEZES et al., 2013) a pequena ou ausência de ganhos econômicos de muitos agricultores na atividade tem sido um fator de preocupação devido ao aumento dos custos de produção e à queda dos preços. O aumento dos custos de produção se deve ao acréscimo no valor dos fatores de produção agrícola no mercado e pelo alto custo da mão-de-obra no Brasil.
Os baixos preços ocorrem em primeiro lugar pela tendência de aproximação do preço com os custos de produção em produtos agropecuários a partir do momento em que a demanda se estabiliza, devido a estrutura de mercado predominante na agricultura (ARBAGE, 2012); em segundo lugar pela diminuição do consumo de arroz per capita, que pode ser explicado pelo aumento do poder aquisitivo dos consumidores e o surgimento de produtos substitutos próximos, e ainda há concorrência com os outros países do Mercosul, como Paraguai, Uruguai e Argentina, que produzem com custos mais baixos . Com o objetivo de aprofundar a compreensão a respeito do tema, foi feito um estudo sobre a relação entre os custos de produção e a produtividade. Afinal, os custos de produção podem, ou não, aumentar a produtividade, que é o componente mais importante da lucratividade, embora não seja o único, como veremos na sequência.
E o outro fator determinante do lucro é o custo de produção, que quanto mais baixo melhor. Os diversos investimentos essenciais para a produção agrícola, no entanto, possuem diferentes influências sobre a produtividade e, por consequência, a lucratividade. Além disso, o potencial de produtividade de cada lavoura é o fator que a priori viabiliza mais ou menos investimento, pois diz respeito à capacidade de resposta da lavoura. Chegamos, com isso, a dois aspectos a serem analisados para tomar a decisão correta sobre os investimentos a serem feitos na lavoura: a relação de cada fonte de custo com a produtividade real e o potencial da lavoura.
2. Como foi obtido o ponto de máxima eficiência econômica da lavoura de arroz irrigado no RS?
Para definir a produtividade máxima atingível, existem algumas metodologias ao redor do mundo. Atualmente, a mais utilizada é a metodologia proposta pelo Global Yield Gap Atlas (GYGA Project). Estima-se que quando a lavoura atinge entre 75% 85% do seu potencial produtivo proporciona a máxima rentabilidade (CASSMAN et al., 2003; GRASSINI et al., 2015). A partir desse nível o aumento de produtividade fica mais difícil, de modo que o investimento necessário para isso não compensa.
A Equipe FieldCrops da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com auxílio do IRGA, validaram o intervalo de 75% a 85% do potencial produtivo como produtividade economicamente sustentável; estudaram a relação entre a medida da porcentagem do potencial produtivo de uma lavoura e o desempenho econômico, e aprofundaram o conhecimento dos interessados sobre a relação entre custos de produção e produtividade em lavouras de arroz irrigado.
O domínio desse conhecimento pode ser útil para determinar metas administrativas ao produtor, desde que se consiga estimar o potencial produtivo de uma lavoura especifica para compará-la com a produtividade real. Se o resultado for muito abaixo do ponto de máxima eficiência econômica é um indicativo de que a lavoura deve receber investimentos para aumentar a produtividade, e a tendência de resposta nos lucros será positiva; e se tiver acima ou igual ao ponto de máxima eficiência econômica significa que investimentos em aumento de produtividade já não serão eficientes, de modo que os esforços devem se direcionar a aumentar a eficiência do uso dos recursos, ou seja, diminuir os custos sem reduzir a produtividade.
3. Como foi feita a coleta de dados nas lavouras de arroz irrigado na Região Central?
Foi realizado um caso de estudo em oito lavouras de arroz irrigado na Região Central do RS com escalas de produção que variaram de 20 ha até mais de 500 ha, com diferentes níveis de produtividade. Foram aplicados questionários nas propriedades rurais para determinar as informações que compuseram os custos de produção. Foram estimados os custos com insumos, maquinário e mãode-obra, que são os principais motivos para a variação nos custos de produção. Os impostos, juros de financiamento e arrendamento foram padronizados por não terem influencia alguma sobre a produtividade. Foram realizadas validações nas propriedades analisadas ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura, que consistiram em observar a lavoura a fim de caracterizá-la e identificar os principais fatores limitantes à produtividade.
O método de estimativa dos custos foi baseado no “Custo médio ponderado do arroz irrigado no RS” estimado pelo IRGA, órgão oficial de extensão rural e pesquisa em arroz irrigado no estado. O objetivo foi chegar ao custo e o lucro por hectare. Para isso, o manejo da lavoura foi dividido em etapas e, para cada etapa, foi calculado o custo por hora, e em seguida, foi feita a multiplicação das horas trabalhadas por hectare em cada lavoura. As etapas foram subdivididas em: Preparo de solo; Semeadura; Adubação de cobertura; Controle de plantas daninhas; Controle de pragas e doenças; Manejo da água; Colheita e Mão-deobra; Impostos, Juros de Financiamento e Custo da terra (Figura 1).
Os valores de máquinas e insumos utilizados foram consultados no mercado e os valores da mão-de-obra foram extraídos de cada situação. O maquinário estimado em cada lavoura era próprio de cada uma; com o seu valor novo consultado no mercado, e o valor residual, a vida útil, as horas de trabalho/ano e o consumo de combustível consultados no estudo de referência, e a velocidade de operação particularizada. Foram denominados de custos diretos os que influenciam diretamente na produtividade, são compostos pelo óleo utilizado no preparo de solo, sementes, fertilizantes e os defensivos. A produtividade é a produção por hectare, foi medida relativamente ao potencial de produtividade que foi estimado através do modelo SimulArroz, ou seja, ao invés de medirmos a produtividade em Kg/ha, foi medida em porcentagem do potencial produtivo.
A fim de estimar esse potencial, o modelo requer informações de cultivar, época de semeadura, radiação solar, temperaturas máximas e mínima do ar, concentração de gás carbônico na atmosfera e população de plantas na lavoura. Os dados meteorológicos utilizados foram da estação meteorológica mais próxima de cada lavoura estudada. As cultivares que compunham as lavouras foram IRGA 424 RI, Puitá Inta CL, Guri Inta CL, BRS 7 Taim, IRGA 426 e IRGA 417, e as datas de semeadura variaram de 07/10/2017 a 29/11/2017. O modelo SimulAttoz foi rodado para estimar o potencial de produtividade, isto é, produtividade sem influência dos fatores bióticos e sem limitação de nutrientes.
4. Quais foram os custos de produção, as produtividades e as principais práticas de manejo que influenciaram no custo?
Houve alta variabilidade de produtividade e lucro entre os produtores. As produtividades variaram de 6369 Kg/ha a 11000 Kg/ ha. Os custos tiveram amplitude de R$ 2040,00/ha entre mais alto e o mais baixo. Assim, os lucros por hectare variaram de R$ 3599,00/ ha até um prejuízo de R$ -52,00/ ha (Figura 2), com média de R$ 966,00/ha. Os resultados deste estudo (lucros) foram confirmados pelos produtores envolvidos, e dentre os motivos da diferença de lucro entre produtores, destacamse: a) há produtores com maior eficiência produtiva em relação à média da própria região; b) muitos desses produtores apresentam baixo custo de mão-de-obra por se utilizar da base familiar e a maior parte da área é irrigada por gravidade, que é mais barato que a irrigação por bombeamento. A variação dos custos diretos (com influência direta à produtividade) entre os produtores é menos expressiva que a variação das lucratividades. Isso mostra que mesmo que o impacto das diferenças de manejo seja importante para o incremento da produtividade, elas não foram expressivas em custos.
A Figura 3B apresenta os custos de dois componentes do manejo e a Figura 3A apresenta a produtividade. O produtor com maior produtividade (produtores 7) foi o que gastou menos com plantas daninhas. E o produtor que mais investiu no controle de plantas daninhas foi o menos produtivo e lucrativo (Figuras 2 e 3). Verificou-se nas visitas nas lavouras destes produtores a ocorrência de expressiva infestação por plantas daninhas, o que exigiu investimento. Mas o patamar das invasoras já serviu como um limitante da produtividade, pois não foram controladas no momento adequado.
A perda do momento certo do controle de plantas daninhas proporciona a redução de produtividade e o aumento dos custos com controle depois que a infestação aumentar. Além disso, o custo com fertilizantes dos produtores mais produtivos (produtores 7 e 8) foi acima da média, mas ainda assim houve outros produtores que gastaram ainda mais nesse fator (produtores 3 e 4), isso mostra a importância desse fator para a construção da produtividade e sugere que mesmo aplicando altas quantidades de fertilizantes o fato de existir outros problemas na lavoura impedem o aproveitamento total do fertilizante aplicado e isso reflete na menor produtividade.