Manejo mecânico de solos de Mato Grosso em lavouras com Sistema Plantio Direto


Autores:

Silvio Tulio Spera, Ciro Augusto de Souza Magalhães, José Eloir Denardin, Fernando Mendes Lamas, Cornélio Alberto Zolin, Edison Ulisses Ramos Junior, Flavio Dessaune Tardin

Publicado em: 30/06/2019

1. Introdução

Em muitas áreas de lavouras e pastagens cultivadas no estado de Mato Grosso tem sido constatada a presença de camadas compactadas, com distintos graus de resistência. Em algumas dessas áreas, a presença de compactação severa do solo tem causado restrições impactantes ao desenvolvimento radicular das plantas (Spera et al., 2018).

Diversas são as causas dessa compactação e se devem a modificações de natureza química, física e biológica do solo. Essa compactação tem origem a partir do momento em que o solo perde a cobertura vegetal original. Naturalmente, esses solos têm elevada permeabilidade à água e ao ar e solos com baixa densidade, o que favorece a microbiota e o desenvolvimento radicular (Denardin e Denardin, 2015).

A utilização de equipamentos agrícolas tipo arados e grades soluciona o problema da compactação do solo nas camadas superficiais. Porém, isso não ocorre quando há compactação nas camadas mais profundas. Atualmente, o equipamento que vem sendo utilizado para romper essas camadas compactadas é o escarificador de hastes (Figura 1). Esse equipamento realiza uma importante operação agrícola ainda pouco difundida no setor, mas que tem sido usada com maior frequência nas áreas agrícolas de Mato Grosso (Figura 2).

2. Resultados de experimento sobre escarificação no norte de Mato Grosso

Ensaios sobre escarificação foram conduzidos de outubro de 2011 a abril de 2016, na área experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, nas fazendas Tropeiro Velho, em Sinop-MT, e Barra, em Cláudia-MT, cujos resultados são mostrados nas Tabelas 1, 2 e 3. Pelos dados das Tabelas 1 e 2 constata-se que houve aumentos de rendimentos e de matéria seca de soja no primeiro ano e de milho em dois anos seguidos após a escarificação.

Na Tabela 3, os resultados mostram que dois anos após a escarificação não houve diferença no rendimento de grãos de soja e de outros componentes de produção. Somente os resultados de Sinop-MT indicaram algum efeito da escarificação no rendimento de grãos. Dados de resistência mecânica à penetração do solo (RP) de área de campo no qual se avaliou compactação de solo em área, escarificada ou não, de lavoura de algodão manejadas anteriormente com grade pesada em Sinop-MT mostrava evidências de severa compactação (Figura 3).

A Figura 4 ilustra o perfil da RP de parcelas com e sem escarificação na Fazenda Tropeiro Velho, em Sinop-MT, após três anos da escarificação e de cultivo com a sequência soja/milho. A RP das parcelas escarificadas já tem perfil próximo ao das parcelas não escarificadas, indicando que o efeito da escarificação não é duradouro, sendo evidente somente por três a quatro anos. Na segunda safra de 2014 ocorreu condição atípica de precipitação pluvial, na qual a estiagem se iniciou prematuramente, fato que prejudicou o rendimento da cultura do milho em Sinop-MT. Na Tabela 4, pode-se observar o menor rendimento de grãos de milho desta segunda safra, mas principalmente nos tratamentos não escarificados.

E um experimento de avaliação de métodos mecânicos de mitigação da compactação, em Sinop-MT, a partir do terceiro ano, não foi constatado diferenças no rendimento de soja em manejo com e sem escarificação. A safrinha de 2015 (Tabela 5) transcorreu em condições de menor precipitação pluvial, se forem consideradas as condições de pluviometria e evapotranspiração do norte de Mato Grosso, porém, mesmo assim não se observou nesta ocasião efeito da descompactação no rendimento da lavoura de milho. A densidade do solo e a porosidade total foram avaliadas no fim do experimento, por meio de perfil cultural e os resultados médios estão apresentados na Tabela 6.

Observa-se que após quatro anos, os valores de densidade do solo e porosidade total entre os tratamentos escarificado e não escarificados estão novamente semelhantes, ainda que ligeiramente favoráveis no manejo com escarificação. Isso indica que o efeito da escarificação é transitório e de pouca duração. A avaliação do perfil cultural do solo permite avaliar os efeitos das modificações no solo advindas de práticas de naturezas mecânicas e vegetativas efetuadas no solo.

Nas tabelas 7 e 8 estão apresentados os resultados das modificações ocorridas entre 2015 e 2018 no solo de parcelas de experimentos de manejo da cultura do algodão cultivado em sequências com soja, milho e milho consorciado com braquiária de parcelas escarificadas. Observa-se que o manejo de culturas (práticas vegetativas) propicia diferenças nos atributos físicos do solo que foi manejado com escarificação. O manejo caracterizado pelo maior aporte de massa vegetal seca e com atividade de raízes mais vigorosas (braquiária) estende os efeitos benéficos da escarificação por mais tempo (Sereia et al., 2012).

O sulco resultante da haste do escarificador (Figura 5) tende a se compactar novamente quando não há atividade radicular suficientemente intensa para que ocorra reestruturação dos agregados do solo (Nunes et al.,2014a, 2014b). As culturas com enraizamento pouco vigoroso e sensíveis a camadas compactadas, como o algodoeiro, devem ser rotacionadas em sequências que incluam espécies com sistema radicular agressivo e extenso, tal qual a braquiária (Sereia et al., 2012; Ceccon et al., 2015).

Considerações finais

A operação de escarificação pode resultar em aumento de rendimentos das culturas de soja, milho e algodão nas condições de clima e solo do estado de Mato Grosso somente até dois anos após a operação; Os efeitos da escarificação do solo podem ser ampliados se o mesmo for manejado culturalmente mediante introdução no sistema de produção de espécies com sistema radicular agressivo e extenso, tal qual a braquiária;

O efeito da escarificação é observado somente em algumas situações, pois a ocorrência de estiagem ou veranicos pode favorecer a expressão de efeitos da escarificação, fato que ocorreu somente em uma safra avaliada. Assim, a escarificação não pode ser considerada como a solução definitiva para a compactação do solo em áreas manejadas com sistema plantio direto