Perguntas & Respostas: Qual a expectativa de descompactação do solo apenas com a atuação de raízes? É viável o produtor aguardar?


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 30/04/2019

Qual a expectativa de descompactação do solo apenas com a atuação de raízes? É viável o produtor aguardar?

São inúmeros estudos envolvendo esse tema, e não há um consenso nem uma recomendação oficial que seja válida para todos os casos de propriedades quanto ao problema de compactação em Plantio Direto. Em geral, antes de se partir para a intervenção mecânica (escarificação), seria importante verificar se realmente há uma camada compactada na propriedade.

Caso já se tenha verificado que há compactação, é importante verificar se não há outros fatores que estão limitando a produtividade das culturas, como fertilidade química, problemas de fitossanidade, competição de plantas daninhas, posicionamento errado de variedades, etc.

Se o produtor estiver com problemas financeiros e/ou não esteja conseguindo pagar os custos de produção da cultura de forma que “sobre” dinheiro para sua manutenção e desenvolvimento da propriedade, da família ou da empresa, e o fator principal para essa estagnação for a compactação, é recomendado realizar a escarificação ou subsolagem, mas buscando integrar essa operação com estratégias de descompactação e conservação do solo por meio de raízes e palhada.

Para identificar se o solo está compactado, e o quanto ele está compactado, existem alguns indicadores. Entre os mais pesquisados atualmente estão a densidade do solo, a densidade relativa do solo e a resistência mecânica do solo à penetração (RP). Trazemos nesse texto alguns exemplos de trabalhos que podem servir de base para tomar a decisão de movimentação do solo. Ao se utilizar a densidade do solo como indicador, é importante considerar que a densidade mais interessante para o desenvolvimento de plantas varia com alguns fatores, entre eles, a textura do solo, isso é, com o teor de argila, silte e areia daquela área. De acordo com Kiehl, em 1979, a densidade do solo deve permanecer no intervalo entre 1,1 a 1,6 g/cm³ em solos minerais.

Camargo & Alleoni, já em 1997, afirmam como crítico, em solos variando de franco-argilosos a argilosos, o valor de densidade na ordem de 1,55 g/cm³. Anos mais tarde, resultados apontaram que, em Latossolos com 62% de argila, a densidade do solo crítica é entre 1,26 e 1,29 g/cm³ (Beutler et al., 2007). Reinert et al. (2008), em um Argissolo Vermelho com 15% de argila, relataram que densidade acima de 1,85 g/cm³ comprometeu o desenvolvimento das plantas.

Já Secco et al. (2009) encontraram que densidades de 1,62 e 1,54 g/cm³, respectivamente em Latossolo Vermelho distrófico típico, com 55% de argila, e Latossolo Vermelho distroférrico típico, com 61% de argila, não reduziram a produtividade em soja. Outros estudos com Latossolo, com 17% de argila, a densidade do solo alerta, ou seja, a qual a partir daí deve-se realizar obrigatoriamente um manejo de recuperação, foi de 1,55 g/ cm³ (Guimarães et. al, 2013).

A densidade relativa do solo é outro indicador que, apesar de não haver um valor universal para todas as situações de lavoura, pode ser interessante para estimar a compactação. Beutler et al. (2005) encontraram uma densidade relativa crítica em um Latossolo Vermelho eutroférrico com 51% de argila de 0,8 a 0,84, e de 0,74 em um Latossolo Vermelho caulinítico com 27% de argila. Klein, em 2006, encontrou o valor de 0,88 como densidade relativa crítica em um Latossolo Vermelho.

A resistência à penetração é um fator bastante estudado também, mas que deve sempre ser considerado juntamente com a textura do solo e a umidade do solo no momento da amostragem. Segundo Rosolem et al. (1999), a resistência à penetração de 1,3 MPa reduz o crescimento das raízes seminais adventícias do milho à metade. Em 2007, Freddi et al. verificaram que valores de resistência à penetração variando entre 1,03 e 5,69 MPa provocaram alterações na morfologia do sistema radicular do milho, reduzindo a produtividade da cultura em 2,5 t/ha, mas não foram impeditivos ao enraizamento.

Beutler et al. (2007) encontraram que, em um Latossolo Vermelho eutroférrico com 62% de argila, a resistência à penetração crítica foi de 1,3 a 1,64 MPa. Valores próximos a 2 MPa são, de maneira geral, aceitos como impeditivos ao crescimento radicular (Blainski et al., 2008). Em 2009, Secco et al. publicaram que RP de 2,65 e 3,26 MPa, respectivamente, em Latossolo Vermelho distrófico típico, com 55% de argila, e Latossolo Vermelho distroférrico típico, com 61% de argila, não foram restritivos para a soja em condições de lavoura. Conforme sugerido por Ribeiro, em 2010, a RP em solos argilosos pode ser analisada como sem compactação (0-2 MPa), compactação tolerável (2-4 MPa), compactado (> 4,0 MPa) e muito compactado (> 6,0 MPa).

Segundo Bengough et al. (2011), a taxa de alongamento da raiz pode ser reduzida pela metade quando a RP for de 0,8 MPa em algodão, e de 2 MPa em milho. Já Moraes et al. (2014) sugerem que o limite crítico de RP em um Latossolo Vermelho distroférrico de textura muito argilosa seja de 3,5 MPa. Caso seja feita a análise física do solo, e os valores de densidade ou resistência à penetração estejam similares ou muito superiores aos citados, conforme o caso, pode-se considerar o uso de implementos para romper a camada compactada. É importante sempre calcular o custo de realizar uma operação de escarificação ou subsolagem. A viabilidade de o produtor esperar anos para descompactar o solo por meio de raízes baseia-se: quanto o produtor está conseguindo colher, e se isso é suficiente; e se o culpado da estagnação da produtividade é apenas a camada compactada do solo.

Em estudo realizado por Gonzatto et al., 2016, a implementação de um sistema de rotação de culturas Milho/Canola/Soja/Girassol/Milho/Braquiária/Soja/Canola, em um Latossolo Vermelho distroférrico com 62% de argila e com 10 anos de sucessão soja/milho, conseguiu maior redução da Resistência a penetração do que outros sistemas, atingindo valor médio aproximado de 3 MPa, no período de 4 safras de verão (oito cultivos sucessivos). Caso seja tomado a decisão de escarificação, é importante saber que o efeito positivo da escarificação pode não se duradouro.

Por exemplo, em estudo, a RP em um Latossolo Vermelho distroférrico de textura muito argilosa teve duração de 10 meses (Moraes et al., 2014). Por isso, os princípios do Sistema de Plantio Direto devem ser adotados após a operação, ou seja, é necessário fazer rotação de culturas, bem como manter o solo com cobertura vegetal viva (plantas) e morta (palhada) durante todos os dias do ano, e buscar ao máximo diversificar as espécies utilizadas, visando um efeito mais duradouro da escarificação ou subsolagem. Mais informações sobre o assunto serão publicadas nas próximas edições.

ALGUNS INDICADORES DA QUALIDADE FÍSICA DE UM SOLO

  • Densidade do solo: é a relação entre a quantidade de massa de solo e o volume que esse solo está ocupando. É medido em g/cm³ ou Mg/m³, e conforme o tipo de solo pode variar normalmente de 0,9 até 1,7 g/cm³.
  • Densidade relativa do solo: conforme explicado por Klein, 2014, é a relação entre a densidade do solo e a densidade máxima do solo, obtida pelo teste de Proctor. É um valor sem unidade, e normalmente varia entre 0,70 até 1,00 (condição de estrada).
  • Resistência mecânica à penetração: é a quantidade de pressão que deve ser feita em um solo para poder “atravessá-lo”. É uma medida de pressão, normalmente kPa ou MPa, variando normalmente entre 1,00 até 6,00 MPa.