Dimensionamento de maquinário em uma propriedade rural


Autores: David Peres da Rosa
Publicado em: 30/04/2021

Quando falamos em dimensionamento, logo vem em nossa mente: construção, dimensões, algo que parte do zero, ou de algo parcial que será ampliado. Mas na verdade, quando falamos em dimensionamento agrícola, podemos ter duas premissas:

Projetar equipamentos;
Planejar o uso de equipamentos.

O Projetar Equipamentos, que se refere a partir do zero, verificamos qual a demanda necessária para atingir objetivo da produção agrícola daquela fazenda, ou daquela operação para qual está sendo necessário um novo equipamento, já o Planejar o Uso de Equipamentos, partimos de algo pré-existente, levando ao dimensionamento do seu uso.

Este tema cada vez mais está sendo demandado naquelas fazendas ditas Empresas rurais, o qual cada vez mais buscam inovar, bem como se organizar e otimizar o processo. Infelizmente, as propriedades menores, até mesmo de médio porte, são incomuns de ter pessoas, técnicos realizando esta ação, assim como empresas especializadas nessa área.

Embora tenhamos algumas entidades públicas ou escritórios de projetos de custeio agrícola, infelizmente não utilizam de uma metodologia padrão e correta que iremos mostrar aqui, claro, que muitas vezes são condicionados à falta de organização da propriedade.

Vamos tentar abordar nessa matéria a explicação destes dois objetivos do dimensionamento agrícola.

Existem alguns métodos de planejamento de uma lavoura agrícola, onde a função de cada um é facilitar o planejamento do sistema motomecanizado.

Este método passo a passo é o mais utilizado pelos, digamos “Planejadores de mecanização agrícola”, em função de ser um método prático e retro-alimentativo, ou seja, pode ser alimentado ao longo do tempo, visto que com o passar do tempo, com o ganho de experiência do projetista, pode ser incorporado ao método como um estabelecimento da implantação de uma operação com mais precisão.

Um problema muito frequente que há no campo é o superdimensionamento, quando a máquina ou implemento agrícola está além da necessidade real da propriedade, muitas vezes fadada ao fato de que o produtor deseja realizar uma atividade em pouco tempo. Um exemplo que temos é a semeadura, momento inicial de instalação de uma cultura, aqui, se analisarmos, ao escolher uma variedade, teremos acesso ao seu zoneamento, quais os períodos que podemos realizar a sua instalação, esta por sua vez, geralmente ocorre em algumas semanas, chegando alguns locais, há meses.

Contudo, mesmo que se tenha disponível, por exemplo, 60 dias de semeadura, os produtores desejam realizar tal ação em menos de uma semana. Claro, deve ser levado cada caso em análise, não existe um padrão a ser considerado aqui, mas iremos tentar explicar nesse artigo alguns procedimentos que devem ser levados em consideração.

Vivemos uma atual conjectura em que o Agro está cada vez mais importante no Brasil. Se analisarmos a evolução do produto interno bruto (PIB) do Brasil, é uma linear crescente, salve o impacto que tivemos em 2020 com o COVID-19, o qual pode ser observado na Figura 1, uma redução do crescimento. Chegamos em 2020 a R$ 1.891.735,00, sendo que no ano de 2019, a participação do agronegócio no PIB foi de 21,4%, um volume muito expressivo.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais que são produzidos por um país, estado ou cidade durante um ano.

Esta participação do agronegócio só aumenta a pressão da cadeia produtiva, ainda mais com desafio de aumentar a produção agrícola em 70%, em face do aumento da demanda mundial por alimentos, que segundo o relatório da Organização da Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2012), no ano de 2050 chegará a 9 bilhões de pessoas.

Nesse contexto, é primordial o dimensionamento correto de qualquer implemento ou máquina na propriedade, independente do tamanho desta. Tentaremos explicar alguns procedimentos que estão envolvidos no dimensionamento: inicialmente, será explicado o dimensionamento de algo novo, e após, a situação contrária, algo já pré-existente, o gerenciamento e planejamento.

Quando iremos dimensionar algum equipamento na propriedade, necessitamos primeiramente estabelecer um cronograma de operações, vamos enumerar como:

Etapa 1

Nesse cronograma, temos que levantar todas operações que serão realizadas durante o ciclo da cultura de interesse, bem como, da próxima. Aqui devemos pecar pelo detalhismo, vamos tornar isso mais prático, através de um exemplo: uma propriedade de 100 ha, irá cultivar soja-aveia-milho, soja no ano 1, sucedida por aveia e no próximo ano, milho. A primeira ação é preparar o solo para a semeadura, visando uso de sistema plantio direto, conforme apresentado na Figura 2.

Nesse cronograma, além de levantar quais operações serão necessárias, temos que colocar prazos para cada uma. Aqui associamos com uma corrente, cada operação é um elo desta, que estão interligadas, desta forma, afetando uma operação, todos elos que estiverem para frente serão afetados, podendo trazer resultados negativos às atividades.

A colocação de prazos será como um calendário de dias, o qual teremos que cuidar muito bem esta etapa, pois irá afetar diretamente no tamanho da máquina.
Você pode perguntar, tudo isso para dimensionar uma semeadora? Popular plantadeira. A resposta é sim, pois podemos ter duas situações aqui:

SITUAÇÃO 1 – Semeadora maior do que a real exigência, o qual irá reduzir o período de semeadura, que por sua vez, irá reduzir cada operação a seguir, adiantando a colheita.

SITUAÇÃO 2 – Semeadora menor do que a real exigência, o qual irá aumentar o período de semeadura, desta forma, atrasar as próximas operações, comprometendo a colheita por proporcionar um período errado de desenvolvimento da cultura.

No estabelecimento de prazos, temos que olhar o todo, cada operação, e os fatores que as influenciam, nesse exemplo, temos que chegar ao ritmo operacional, que é a relação de área a ser trabalhada por tempo, quantos hectares por hora necessito fazer para atender aquele período destinado para aquela operação. Neste sentido, caso colocássemos a semeadura conforme exemplo apresentado na Figura 3.

Teríamos disponíveis dois períodos de 7 dias, disponíveis NÃO, e sim, PLANEJADOS! Não podemos considerar que os 14 dias estarão livres para fazer tal operação, pois teremos dias com pluviosidade, e após, dias em que o solo estará impróprio por sua umidade, dias em que não serão trabalhados em função de alguma questão trabalhista, em fim, temos que contabilizar os dias que realmente estarão disponíveis para ação.

O 2º passo é calcular o tempo total disponível para ação, levando em conta uma jornada diária a ser realizada. Considerando por exemplo, 7h, e dos 14 dias, teremos 10 dias, então o tempo total disponível será 7 h x 10 dias = 70h. Assim sendo, temos 100 ha, o ritmo operacional será como o apresentado na Fórmula 1.


Desta forma, a semeadora a ser comprada necessitará fazer a cada hora da jornada diária, 1,43 ha, considerando que deverá realizar este ritmo operacional, previamente planejado.

Etapa 2

Nessa fase iremos calcular o tamanho da máquina ou implemento agrícola, sabemos que esta deverá fazer um ritmo operacional (Ro), nesse exemplo, de 1,43 ha/h. Em cima disso, empregamos uma fórmula de dimensionamento (Fórmula 2).

Através dessa formula, iremos obter a largura de trabalho necessária para cumprir aquele ritmo operacional estimado (1,43 ha/h), e, com posse desta, calculamos nesse caso, o número de linhas, se fosse o pulverizador, saberíamos a largura da barra, ou das barras, então depende do implemento.

Etapa 3

Aqui realizamos a escolha do implemento, pois dependendo da demanda, necessitamos definir a quantidade, que envolve fatores além de técnicos, econômicos, pois podemos optar por um implemento de tamanho maior, que envolverá um operador apenas, contudo, o trator terá que ser maior, para atender a demanda de potência, ou podemos optar por dividir, pegar duas máquinas, o qual irá resultar em menor demanda de tração, porém, teremos dois operadores. Conforme é visto, essa decisão tem que ser muito bem planejada, levando em consideração o todo.

A etapa final é o dimensionamento do trator, que envolve uma série de cálculos que recomendamos acessar o nosso livro, Dimensionamento e planejamento de máquinas e implementos agrícolas (https://www.pacolivros.com.br/dimensionamento-e-planejamento-de-maquinas-e-implementos-agricolas).

Na outra situação, em que temos já os equipamentos, essa metodologia irá alocar cada máquina em cada operação numa forma planejada. Os passos são quase os mesmos de antes, contudo, com a premissa diferente.


A etapa 1, é exatamente a mesma, o que iremos alterar será etapa 2, na qual, ao calcularmos o ritmo operacional, iremos ver, se a largura que temos atualmente disponível consegue atender este ritmo, caso contrário, teremos que retroceder um passo, e aumentar o período de trabalho ou a jornada.

Exemplo anterior, tínhamos obtido 1,43 ha/h, usando a fórmula do Ro (Fórmula 2)

Iremos calcular se o ritmo operacional com a semeadora existente irá atender os 1,43ha/h. Considerando uma velocidade de semeadura adequada para uma semeadora mecânica, 4,5km/h, eficiência média de 75% (tabelado ou pode ser medido, ver no livro), e que a propriedade tem uma semeadora de 8 linhas, irá apresentar o resultado presente na Fórmula 3.

Com esse ritmo operacional (1,22 ha/h), teremos um problema: não será atendida a demanda. Nesse caso, podemos optar por duas soluções: Velocidade ou Cronograma

Se a opção for alterar a velocidade, nesse caso necessitamos acelerar a operação, para poder anteder a demanda. Se a opção for ampliar o cronograma, temos que analisar todas as operações, pois mexendo nesse, irá afetar toda a cadeia, conforme falamos aqui, é uma corrente, cada elo afeta o próximo. Na alteração da velocidade, é necessário avaliar as implicações com as perdas na operação, dano mecânico, redução da plantabilidade? Nessa situação, aumentar tanto a jornada quanto um pouco da velocidade podem ser a melhor opção.

Podemos ver que, diferente de uma receita pronta de uma comida, aqui tudo irá depender. Cada ano será um planejamento, pois estamos trabalhando com intempéries que são altamente variáveis e com pessoas, desta forma, tudo se resume ao planejamento das atividades.

Referências

FAO. Status of the World & Soil Resources. Acessed 15 jan 2018. Available: http://www.fao.org/3/a-i5199e.pdf

ANDA. Principais indicadores 2018. Accessed 15 jun 2018. Available: http://anda.org.br/wpcontent/uploads/2018/10/Principais_Indicadores_2018.pdf.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES INIDAS PARA ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA – FAO. Demanda mundial por alimentos. Disponível em: . Acesso em: 12 de abril de 2017.