Erlei Melo Reis , Andrea Camargo Reis , Mateus Zanatta
Introdução
Na presente safra de 2018, lavouras em que a soja foi semeada, principalmente no mês de outubro, parte das sementes não germinaram e as plântulas emersas morreram resultando em população abaixo da recomendada. Em algumas lavouras área foram ressemeadas até quatro vezes. Mesmo as não ressemeadas apresentaram população de plantas desuniforme e abaixo da normal.
Esse fato com essa intensidade é raro e o reflexo foi visto em toda a região com lavouras desuniformes quanto a população de plantas. Observou-se também que, aparentemente, não houve efeito do tratamento de sementes com fungicidas em reduzir ou evitar a morte de plântulas. Portanto, há a necessidade de mais pesquisa para definir a eficácia dessa prática.
Magnitude
Estima-se que 15 a 20% da área de soja necessitou ressemeadura, ou até três vezes sem sucesso.
Período de ocorrência
A podridão de sementes e de plântulas de soja teve relação com as chuvas ocorridas no mês de outubro predispondo as plântulas à infecção pelos pseudo-fungos presentes no solo. O problema não
Fatores predisponentes
Os três fatores determinantes de doenças de plantas, são representados nos vértices de um triângulo chamado de triângulo da doença. A figura 1 ilustra a dependência e interrelação dos fatores envolvidos com o início e progresso da doença. Os três vértices da figura são representados pelo (a) hospedeiro (soja), a fonte nutricional dos fitopatógenos, o (b) patógeno, ou parasita, agente causal da doença, e o (c) ambiente. No caso de podridões de sementes e de raízes a fonte de inóculo do parasita é o solo não tendo relação com a semente.
Condições predisponentes da podridão de sementes e morte de plântulas
A - Hospedeiro
Cultivar de soja suscetível à Phytophthora.
B - Ambiente (solo)
Água da chuva saturando, ou encharcando, o solo logo após a semeadura é o principal fator determinante da doença. Para entendimento do problema ocorrido, se deve considerar a precipitação pluvial ocorrida
Em outubro, no primeiro decêndio, foi de 132 mm, no segundo 76 mm e no terceiro 112, totalizando 320 mm de chuva no mês (Figura 2). A precipitação pluvial ocorrida no mês de outubro, resultando no encharcamento do solo, pode ser o principal fator que contribuiu para a ocorrência e intensidade da podridão de sementes e morte de plântulas de soja. Quanto a temperatura nesse período a média de setembro foi de 19,4oC, de outubro 17,8oC e de novembro 20,2oC (Figura 3) mais favorável ao desenvolvimento de Pythium.
Os pseudo-fungos envolvidos, Pythium tem o máximo desenvolvimento na faixa térmica de 10 a 15oC e Phytophthora de 21 a 25oC. A ocorrência de solo encharcado, por vários dias (3 a 4) pode ser agravado pelos seguintes fatores: (a) Solos compactados (plantio-direto) – sendo saturado com pouca água; (b) Solos argilosos (maior capacidade de retenção de água); (c) Plantio-direto, que por sua natureza compacta o solo; (d) Monocultura de soja; (e) Profundidade de semeadura > 4 cm; e (d) Alta adubação de potássio antes da semeadura;
Resultado
Como consequência do solo encharcado nas áreas mais compactadas, mas suscetíveis ao encharcamento, as lavouras apresentaram população desuniforme de plantas (Figura 4). Lembra-se que a população ideal de plantas numa lavoura de soja dever ser de 25 a 35/m2. Os sintomas nas plântulas caracterizam-se por necrose úmida estrangulando o hipocótilo (Figura 5)
Etiologia
A identificação dos agentes causais é feita pelo exame dos tecidos parasitados e dos parasitas ao microscópio ótico e por isolamento dos parasitas em meio de cultura. Em lâminas de microscopia, contendo tecido necrosado dos hipocótilos, examinadas ao microscópio observa-se a presença de oósporos de pseudo-fungos da família Pythiacea (Figura 6).
A diferenciação de Pythium e Phytophthora é feita com base morfológica pelo exame do espécimen ao microscópio.
Causa
A podridão de sementes e a morte de plântulas tem como causa o parasitismo por pseudo-fungos, Reino Estramenópila, família Pythiacea, gêneros Phytophthora e Pythium. Algumas espécies de Pythium atacam tanto a soja como o milho.
Ciclo da doença causada por Pythium
O ciclo da podridão (Figura 7) de sementes e da morte de plântulas causada por Pythium, é ilustrado na Figura 6, com detalhes de todas as estruturas. Quanto ao de Phytophthora é semelhante, porém com diferenças morfológicas marcantes.
Todo o processo se desenvolve no solo. Como Pythium e Phytophthora são oomicetos aquáticos, os zoósporos esporos móveis, produzidos nos esporângios são liberados somente quando houver água líquida presente no solo. O ciclo de vida inicia com os oósporos, estruturas de dormência e de repouso presentes no solo. Nessa forma sobrevivem na entressafra na ausência de hospedeiros vivos. Os oósporos germinam produzindo esporângios que se acumulam até que ocorra encharcamento do solo e, na presença da água, produzem e liberam zoósporos.
A dependência da água líquida no solo é o principal fator ambiental predisponente da soja a esses patógenos. Os zoosporos, esporos móveis, com dois flagelos se movimentam na água apresentam quimiotropismo positivo sendo atraídos por isoflavonóides liberados pelas sementes em germinação e pelas raízes da soja.
Atingindo a superfície das raízes, fixam-se, eliminam os flagelos, encistam, germinam e penetram diretamente as raízes, liberam toxinas dando início ao processo de colonização que resulta nos sintomas. Ao findar o ciclo da soja, os parasitas sobrevivem livres no solo na forma de oósporos produzidos nos tecidos mortos. O período requerido de sobrevivência é o da entressafra de soja, ou seis meses apenas.
Pythium é um fungo com habilidade de competição saprofítica sendo por isso considerado habitante normal dos solos agrícolas. Ao contrário, P. sojae, descrito pela primeira vez em soja, nos Estados Unidos, é específico à soja. Em plantas de soja após o estádio V2, é visível uma necrose negra na base da haste característica de Phytophthora. Plantas mais velhas do que V2 tornam-se resistentes a Pythium.
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