Avaliação da qualidade de semeadura de soja no Paraná e Mato Grosso do Sul


Autores: Ruy Casão Junior, André Luiz Johann, Hevandro Colonhese Delalibera, Audilei de Souza Ladeira , Alexandre Leôncio da Silva
Publicado em: 30/04/2019

1. Introdução

Uma semeadora de plantio direto deve promover o revolvimento mínimo do solo. As máquinas semeadoras devem cortar a palha sobre a superfície do solo, evitando assim, embuchamento nos demais componentes. Devem abrir um sulco para depositar o fertilizante na dosagem, posição e profundidade adequada. Este sulco deve ser fechado e em seguida aberto novamente para a deposição das sementes na dosagem, posição e profundidade desejada.

Após isso, ele deve ser fechado com terra, retornando, ou não, a palha anteriormente retirada da linha de semeadura sobre o sulco e finalizar com uma adequada compactação do solo lateralmente às sementes, para que essas absorvam água, e que haja transferência de calor e aeração adequada durante seu processo de germinação e emergência (CASÃO JUNIOR & CAMPOS, 2004).

Observa-se que para cumprir essas funções a semeadora deve possuir um conjunto de sistemas e componentes. Na prática existe dois tipos de semeadoras para o SPD quanto ao tipo de distribuição de sementes: as de precisão e as de fluxo contínuo. As semeadoras de precisão, popularmente denominadas de “plantadeiras” caracterizam-se por distribuir sementes espaçadas a distâncias supostamente homogêneas no sulco de semeadura.

No Brasil, estas máquinas utilizam principalmente dosadores e componentes em contato com o solo os quais impedem que estas trabalhem com espaçamentos inferiores a 40 cm. Essas máquinas trabalham com culturas de sementes graúdas como milho, soja, feijão, mucuna, algodão, mas também semeiam sementes miúdas como o sorgo, desde que, distanciadas em média a mais 4 cm entre elas no sulco ou linha de semeadura (CASÃO JUNIOR & SIQUEIRA, 2006).

Em 2007, foi realizado estudo sobre o perfil empresarial, engenharia de produto e engenharia de produção nas indústrias de máquinas voltada ao sistema plantio direto no Sul do Brasil, por Casão Junior, Araújo e Fuentes Lanillo (2008 e 2012), assim como, foram entrevistados produtores e outros agentes vinculados ao sistema de produção agrícola. O estudo procura atualizar e aprofundar as informações obtidas nos estudos anteriores, com objetivo de caracterizar os sistemas, componentes e dispositivos existentes nos equipamentos, visando à difusão de tecnologia, seja por seminários, palestras, reuniões técnicas, publicações e livros sobre o assunto.

Assim, foi diagnosticado as características de 64 modelos de máquinas em cinco indústrias, mas somente será apresentado neste artigo, o resultado da avaliação de 35 modelos de semeadoras de precisão em propriedades agrícolas, correspondendo a modelos de 13 fabricantes diferentes, estudando as variáreis de qualidade da semeadura a campo. Para realização desse trabalho, contou-se, além do patrocínio da AGRISUS e do IAPAR, também, com a contribuição das indústrias Baldan, Jumil, Kulzer & Kliemann, Marchesan/Tatu e Morgenstern.

Realizou-se uma parceria com a EMATER-PR, contando com apoio dos técnicos dos escritórios regionais e locais, assim como pesquisadores, técnicos e revendedores da Embrapa Agropecuária do Oeste, Cooperativa LAR, ambos em Dourados, revendas da John Deere e Baldan em São Gabriel do Oeste, visando identificar produtores/ máquinas para a realização das visitas e levantamento dos dados de campo relacionados a qualidade de semeadura.

2. Materiais e Métodos

Para o levantamento da qualidade de semeadura de primavera e verão em SPD, foram avaliadas 35 semeadoras de precisão em propriedades rurais nos municípios de Londrina, Ibiporã, Alvorada do Sul, Bela Vista do Paraiso, Primeiro de Maio, Sabaudia, Sarandi, Marialva, Farol, no Paraná e Dourados, Douradina, Sidrolândia, São Gabriel do Oeste, Itaporã, no Mato Grosso do Sul.

No campo, as semeadoras foram estudadas com 51 variáveis que possam caracterizar seu desempenho na implantação das culturas, assim como, suas características construtivas e as de manejo da propriedade.

As porcentagens de cobertura com palha sobre o solo antes e após a semeadura, foram obtidas com auxílio de uma corda de 15 m marcada com 100 pontos distanciados de 0,15 m um do outro. Posiciona-se a mesma sobre o terreno na diagonal das linhas de semeadura, registrando-se a quantidade de pontos que coincidiram com palha, determinando-se a porcentagem de cobertura antes e após a passagem da máquina.

A porcentagem de cobertura com palha sobre o sulco ou a porcentagem de sulcos bem aterrados, foram obtidas, também, com auxílio da mesma corda, posicionando-a sobre a linha de semeadura e registrando-se a quantidade de pontos que coincidiram com a presença de palha sobre o sulco ou sulco adequadamente aterrado. Os dados do levantamento à campo foram analisados estatisticamente de duas formas, as quais são baseadas em métodos quantitativos e qualitativos.

A primeira, visa uma análise exploratória quantitativa no conjunto de dados como um todo, permitindo uma interpretação mais genérica e unificada das informações. A segunda visa estimar, através de métodos qualitativos multivariados, a formação de grupos por similaridade entre as amostras (semeadoras), tendo como intuito agrupa-los em conjuntos que apresentem a mesma tendência de variabilidade intrínseca e, a partir desta, estudar o comportamento dos grupos, realizando estudos quantitativos dentro de cada um.

Os métodos utilizados foram a Análise por Componentes Principais (PCA – Principal Component Analysis) e a Análise Hierárquica de Agrupamento (HCA – Hierarchical Cluster Analysis). Estes dois métodos, embora matematicamente distintos, devem apresentar os mesmos resultados, para o quesito formação de grupos de amostras, caso contrário, podem haver erros de metodologia de pré-processamento e/ ou transformação dos dados entre os métodos.

3. Análise da qualidade de semeadura

3.1. Máquinas, municípios e semeadura.

Foi realizado viagem ao oeste do Paraná, na semana do dia 17 de setembro, no entanto, choveu, não sendo possível avaliar as semeadoras nessa ocasião. O mesmo problema continuou na semana seguinte, sendo que os produtores usaram uma janela de plantio nos finais de semana, dificultando para a equipe realizasse seu trabalho. Desta forma, o Oeste que normalmente antecipa a semeadura de soja, rapidamente nos finais de semana do mês de setembro implantaram quase toda a área.

No final de setembro e primeira semana de outubro iniciou-se a avaliação de máquinas no norte do Paraná, seguindo-se pela segunda e terceira semana no Mato Grosso do Sul e finalizando no norte do Paraná novamente. A figura 1, mostra como foi a precipitação semanal no estado do Paraná nos meses de setembro, outubro e novembro de 2018.

Reforça aí a grande disponibilidade de água a partir do mês de setembro até novembro, que embora dificultasse a implantação da soja em algumas regiões, como no oeste do Paraná, devido ao excesso de chuvas no mês de setembro, mas foi possível obter um bom estabelecimento da cultura na sua fase vegetativa.

3.2. Características das semeadoras adubadoras, das propriedades e das sementes.

Das 35 semeadoras adubadoras avaliadas, 7 eram da John Deere, 6 da Marchesan/Tatu, 5 da Planti Center, 4 da Valtra, 3 da Kuhn, 2 da Semeato, 2 da Baldan, 1 da Jumil, 1 da Stara/Sfil, 1 da Case, 1 da Fankhauser, 1 da Metasa e 1 da Max, conforme a tabela 1. A escolha das propriedades foi na sua maioria efetuada pelos técnicos da extensão rural, com exceção de algumas selecionadas pelas revendas da John Deere e Baldan no Mato Grosso do Sul. Das semeadoras de precisão estudadas, a média do número de linhas foi de 12,1, sendo que a maior possuía 48 linhas e a menor 5. O espaçamento variou, apresentando média de 46,6 cm. O menor espaçamento usado foi de 40 cm e o maior de 60 cm.

O tempo médio de uso do sistema plantio direto dos produtores entrevistados foi de 18,2 anos com coeficiente de variação (CV%) de 47,3%, sendo que o mais antigo usa o SPD a 40 anos e o mais recente com 3 anos. Dos 35 produtores, 37,1% afirmam que não preparam o solo 62,9% mobilizam com periodicidade média de 4,8 anos em média. Assim, o que faz com menor frequência, escarifica de 12 em 12 anos e os que o fazem com maior frequência de 2 em 2 anos. Quatro produtores afirmaram isso, com objetivo de descompactar o solo.

Quando foi perguntado aos produtores, mesmo os que não preparam o solo nas áreas principais, 17,1% responderam que escarificam o solo nas áreas de manobra e onde há compactação pelo trafego de pulverizadores, 40% mobilizam o solo somente nas beiradas das estradas, principalmente para evitar fogo e 42,8% afirmam não mobilizar o solo (Fig. 2).

A maioria desses últimos correspondem aos produtores que não mobilizam o solo, ou seja, só usam SPD. Foi perguntado aos produtores sobre as culturas utilizadas em 2016 e 2017. Dentre os que usam somente sucessão de culturas como soja/milho ou soja/trigo corresponderam a maioria, ou seja, 68,6%, 8,6% usavam algum tipo de rotação e 22,8% já usavam rotação com plantas de cobertura, predominando a braquiária ruzizienses. Esse fato, embora mostre que a adoção de plantas de cobertura não é total, principalmente no norte do Paraná, mas já há tendência de aumentar, sugerindo-se intensificar a difusão dessa prática, pois nesse estudo constatou-se além de pouco uso, a pouca quantidade de palha sobre a superfície do solo.

Mas quando foi perguntado especificamente o uso de plantas de cobertura, constatou-se que 57,1% não utilizam, priorizando a sucessão soja/milho, 8,6% usam esporadicamente e 34,3% utilizam frequentemente plantas como a braquiária, milheto, aveia, entre outras (Fig. 3).

Quanto ao manejo da vegetação, 77,1% dos produtores não efetuam essa prática, ou seja, a própria colhedora efetua essa operação, 11,4% usam a roçadora no milho e 11,4% usam rolo faca. O pouco uso de equipamentos de manejo de vegetação, está associado ao baixo uso de plantas de cobertura, resultando na baixa quantidade de palha. Das máquinas estudadas 45,7% podem ser consideradas com menos de 5 anos de uso, 17,1% com idade média 5 a 10 anos e 37,1% constituindo-se de maquinas velhas com mais de 10 anos.

Quanto a topografia do terreno em que as máquinas trabalharam, constatou-se que 31,4% áreas eram planas, 22,9% suavemente onduladas e 45,7% áreas eram onduladas. O solo trabalhado apresentou textura argilosa em 85,7% casos, 2,9% em solo franco argiloso e 11,4% em franco arenoso. Quanto a consistência do solo, 28,6% áreas estavam entre seco a friável, 22,9% com solo friável, 45,7% friável a plástico e 2,9% plástico. A palhada estava predominantemente seca, observado em 97,1% propriedades.

O manejo dessa palhada encontrava-se 45,7% propriedades não manejada, 34,3% manejadas e 20% com manejo intermediário. Como abridor de sulco para deposição do fertilizante constatou-se que 74,3% máquinas usaram haste sulcadora, 22,9% usaram discos duplo e uma semeadora usou alternadamente discos e hastes. Foi estimado a quantidade de palha sobre o solo constatando-se que em 71,4% áreas havia pouca palha, ou seja, inferior a 4 t/ha e, as 28,6% restantes com média quantidade de palha, estimando não superior a 7 t/ha.

Destaca-se que em nenhuma das propriedades estudadas observou-se grande quantidade de palha sobre a superfície do solo. Quanto ao tratamento de sementes, 88,6% produtores trataram as sementes com inseticidas, 82,9% com fungicidas, 54,3% com regulador de crescimento e 65,7% com inoculante (Fig. 4).

Desses, 56,5% realizaram a inoculação no campo e 43,5% compraram as sementes com tratamento industrial. A porcentagem média de germinação das sementes de soja foi de 96,5% (Fig. 4) com CV% de 9,2% considerado que se constatou um caso com somente 48% de germinação. No caso do vigor das sementes, a média foi de 85,9% (Fig. 4) com CV% de 17,2%, considerando que o mesmo caso citado, apresentou 15% de vigor. Essa amostra foi identificada como um lote irregular do produtor, identificado no campo, o que não refletia o restante de sua lavoura. O peso médio de 1000 sementes de soja foi de 175g com CV% de 20,6%.

3.

3 Análise dos erros de regulagem de sementes e fertilizante

Foi perguntado aos produtores qual a regulagem efetuada em suas semeadoras quanto a dosagem usada para sementes e fertilizante. Esse parâmetro foi conferido com a amostragem efetuada em três linhas num percurso de 25 m. Pode-se constatar que a dosagem de sementes e fertilizante nem sempre se aproximava do desejado.

A dosagem média desejada de sementes para as 35 máquinas foi de 13,5 sem/m linear, e que após cálculo utilizando o espaçamento da semeadora e o peso de 1000 sementes transforma-se em 50,1 kg/ha. A população média determinada de sementes (sementes/m) para 35 máquinas foram bem próximas desse valor (13,2 sem/m). No entanto, a diferença entre a população desejada com a determinada de cada máquina variou de 0,06% a 48,94%, com uma média de 11,39%. Podese constatar com isso que dos 35 produtores, 22,9% estão errando de 10% a 20% na regulagem de sementes e 17,14% erraram mais do que 20%. Foram 60% produtores que erraram menos que 10% na regulagem.

A figura 5, mostra como varia a quantidade de sementes por metro desejada pelos produtores, assim como a variação entre a desejada e determinada, caracterizando-se como um erro de regulagem. O mesmo foi observado para a regulagem de fertilizante, no qual a dosagem de fertilizante média desejada para 33 máquinas que usaram esse insumo, foi de 240,2 kg/ha. A dosagem média de fertilizante determinada para as 33 máquinas, também, ficou próximo desse valor (224 kg/ha).

No entanto, a diferença entre a dosagem desejada com a determinada de cada máquina variou de 1,4% a 71,2%, com uma média de 16,2%. Pode-se constatar com isso que dos 33 produtores, 33,3% estão errando de 10 a 20% na regulagem de sementes e 30,3% erraram mais do que 20%. Foram 36,4% produtores que erraram menos que 10% na regulagem. A figura 6 mostra que varia muito a dosagem de fertilizante desejada pelos produtores, assim como a variação entre a desejada e determinada na avaliação.

A dosagem de sementes e fertilizante analisada, mostra que foram 40% dos produtores e 63,6% deles que erraram mais do que 10% na regulagem de sementes e fertilizante respectivamente. Isso indica a necessidade de esclarecimento e capacitação dos mesmos.

3.4. Análise das variáveis que influem na emergência da soja e desempenho da máquina

Todas as 35 semeadoras estudadas foram aproveitadas para análise dos dados de seu desempenho e dos fatores que influem na emergência das plantas. O estande inicial médio obtido foi de 12,4 plântulas/m, o que resultou em 97,0% de emergência.

Destaca-se que 16 das 35 semeadoras estudadas apresentaram emergência calculada superior a 100%. Isso devido ao fato que foram coletadas três amostras de sementes durante a semeadura em 25 m e, oito contagens de estande após a emergência das plântulas, podendo assim, ocorrer erros devido a amostragem, mas foi o que pôde-se fazer nesse tipo de estudo. Não houve falta de água para a germinação das sementes, resultando em boa emergência nesse estudo, mas as máquinas semearam desde sobre solo seco a friável, até sobre o solo plástico, como já citado no item 3.2.

Observa-se que a condição mais favorável para a implantação das culturas é com o solo seco a friável e solo friável. Com mais umidade dificulta o trabalho dos rompedores de solo e com o solo seco também. Não houve nenhum indicador nesse estudo que justificasse a influência da consistência do solo na boa emergência e implantação da soja.

Mas constatou-se que os produtores mais experientes no SPD; os que usam mais plantas de cobertura na rotação de culturas; e os que menos mobilizam o solo periodicamente semearam com o solo em melhor condição de umidade, ou seja, próximo ou abaixo da friabilidade. Quem sabe pela experiência que já possuem no sentido de evitar semear com o solo próximo da plasticidade. Apesar de que 88,6% das sementes receberem algum tipo de tratamento e 65,7% tenham sido inoculadas, não houve nenhuma evidência de haver influenciado na emergência das plantas.

O mesmo não se pode dizer quanto a qualidade das sementes, pois, a porcentagem de vigor, constituída pela somatória das plântulas normais, apresentaram correlação significativa e positiva com a porcentagem de emergência (R= 0,38) e, também, as plantas consideradas anormais, correlacionaramse negativamente (R=-0,42) com a porcentagem de emergência das plantas no campo. Desta forma, as sementes, apesar de serem de boa qualidade, influíram na boa implantação da cultura, mostrando que não se deve negligenciar nos cuidados dessa variável.

Essa análise ainda é relativamente frágil, exigindo maior número de máquinas a serem avaliadas para consolidar essa tendência. Na análise do percentual de emergência das plântulas no campo, não foi observado correlação com variáveis que pudessem afetar seu bom desempenho, como a profundidade das sementes e do sulco, assim como a uniformidade dessa profundidade, a presença de sementes expostas, a cobertura com palha, sulcos bem aterrados, a velocidade da máquina, a temperatura do solo, etc..

Muito disso se justifica pelo fato de haver água disponível praticamente em todos os casos estudados, como já discutido. A porcentagem de cobertura do solo com palha foi determinada antes e após da passagem da semeadora. Havia em média 86,1% de cobertura antes e 63,3% depois. Analisando-se a porcentagem de redução de palha, observa-se que na média geral foi de 27,4%. A não existência de grande quantidade de palha nas propriedades resulta em maior impacto da porcentagem de redução de palha sobre o plantio, dada a configuração de componentes presentes em quase a totalidade das semeadoras adubadoras utilizadas no SPD.

Conforme observado por Soares (2009), a ausência de discos aterradores intensifica o efeito de redução de palha durante a operação de plantio, sendo que as rodas compactadoras em V também não são a melhor alternativa para a manutenção da cobertura vegetal após a passagem do equipamento. Logo, em situações de menor presença de palha, torna-se imperativo o emprego de componentes de acabamento de semeadura que primem pela manutenção da palha na operação de plantio. Observou-se que 87,9% das semeadoras apresentaram sulcos bem aterrados.

O valor máximo registrado foi de 99,3% e o mínimo de 70,7%. É desejável que os sulcos sejam bem aterrados, para que as sementes não fiquem expostas ou até próximas da superfície do solo. Das 35 semeadoras estudadas 77,1% apresentaram sementes expostas, mas em pequena quantidade, ou seja, a média foi de 0,74% de sementes expostas. Não houve nenhuma variável que se correlacionou com esse fator.

Pode-se dizer que as semeadoras trabalharam satisfatoriamente mesmo em condição de solo até com umidade elevada para o trabalho das máquinas. A porcentagem de sementes expostas variou de zero a 4,0%. No entanto, nesse caso específico, foi a única máquina que trabalhou com o solo na consistência plástica, conseguindo, mesmo assim 95,5% de emergência da soja. A velocidade média de trabalho foi de 6,2 km/h. A média da temperatura do solo foi de 26,80 oC e a do ambiente de 30,70 oC.

A temperatura do solo correlacionou-se com muitas variáveis, mas poucas são as que podem nos auxiliar a explicar o fenômeno. A porcentagem de cobertura com palha antes da semeadura correlacionou-se negativamente com a temperatura do solo (R= -0,38), isso concorda com outros estudos e nos estimula a perseguir a construção de palha sobre o solo nas regiões tropicais, considerando que a temperatura do solo adequada para a germinação da soja encontra-se entre 20oC a 30 oC. A profundidade média das sementes foi de 4,5 cm. Como essa profundidade foi determinada com 8 repetições, calculou-se em cada caso o CV%. Assim, o CV% médio das profundidades de sementes foi de 15,4%.

Esse valor é importante, pois mostra como as sementes variaram sua profundidade dentro do sulco de semeadura. Destaca-se que o maior CV% foi de 36,5%, e sabe-se que 95% permaneceram numa profundidade de 2,9 a 6,2 cm. Essa variável não somente é de responsabilidade das condições de trabalho e regulagens efetuada pelo produtor, mas também uma habilidade da máquina de conseguir trabalhar sobre diferentes condições de trabalho.

Constatou-se a tendência , com o uso de haste sulcadora no lugar de disco duplo, um aprofundamento das sementes (R= -0,34), ou seja, quanto mais usado foi o disco duplo no lugar das hastes, menor foi a profundidade média das sementes

O mesmo foi obtido com a profundidade do sulco, que apresentou média de 9,3 cm e CV% médio das profundidades dos sulcos de 12,6%. Destaca-se que o maior desses CV% foi de 23,2% e sabese que 95% permaneceram numa profundidade que variou de 7,2 a 11,5 cm. Constatou-se a tendência de com o uso de haste sulcadora no lugar de disco duplo um aprofundamento do sulco (R= -0,52).

Destaca-se que todos esses valores de R muito baixo, embora significativos na análise da matriz pelo método de Spearman, dizem respeito as condições possíveis e do insuficiente número de amostras em que foi feito a pesquisa e que com o aumento das máquinas à serem estudadas no futuro essas observações podem ser melhor avaliadas. Pois as informações são acumulativas.

3.5 Análise das variáveis para formação de grupos de semeadoras homogêneas

De acordo com a segunda forma de visão analítica, apresentado na metodologia, aplicando-se dois métodos multivariados de analise, com o intuito de formar grupos que se comportam de forma similar, pode-se dizer que, foi possível a divisão em 6 grupos com 61% de similaridade.

O grupo 1 se apresenta como um grupo médio, no qual apenas variáveis de baixo poder de modelamento se destacam, como espaçamento entre linhas (E.L.), peso de mil sementes (P.1k.S), e velocidade de avanço da máquina (V.A).

O grupo 2 se apresenta como produtores que realizam preparo do solo em curto espaço de tempo (2,8 anos), isto é, não fazem somente plantio direto (evidenciado pela variável s.SPD), embora sejam os mais antigos dentre o conjunto de produtores avaliados a adotarem o sistema de plantio direto (A.SPD = 22 anos).

Este se destaca por ser o grupo que menos erra nas regulagens de máquina, tanto para semente, quanto fertilizante, como também, na qualidade do aterramento sulco e na presença de sementes expostas (Erro.S, Erro.F, At.Sulc e S.E, respectivamente iguais a 5,1, 10,5, 91,3 e 0%). Outro fator relevante é que, este grupo de produtores também utiliza sementes de melhor qualidade, evidenciada pelas variáveis de vigor, porcentagem de plantas anormais, sementes mortas e germinação (Tabela 2).

O grupo 3 apresenta uma proximidade de similaridade com o grupo 2 para os fatores preparo de solo, porcentagem de sementes mortas e germinação, pois, também prepara o solo com intervalo curto de tempo, a qualidade de semente também é boa, pois não apresenta sementes mortas e em consequência 100% de germinação, além de não usar somente o plantio direto.

Porém o grupo 3 se destaca e se diferencia como produtores que mais erram na regulagem de máquina para os quesitos de dose de sementes, também evidenciado pela porcentagem de emergência, que apresentou desvio acima da população desejada, devido ao alto erro na dosagem de sementes (23,4%) e também, para o quesito de regulagens do sistema de aterramento de sulco.

Ressalvase que este grupo se apresenta como produtores relativamente experientes em sistema de plantio direto, evidenciada pela variável anos de plantio direto (A.SPD=18 anos) e possuem as menores maquinas/semeadoras (N.L=8,3 linhas).

O grupo 4 são os produtores que só usam plantio direto, isto é, não realizam nenhum preparo de solo, mesmo apresentando média de adesão ao sistema de plantio direto considerada alta em relação ao conjunto de dados (17,8 anos), o que os difere muito do grupo 2 e 3. Porem estes produtores se diferenciam por utilizarem baixa população de plantas, utilizam sementes com menor peso e curiosamente, possuem as áreas com a menor porcentagem de cobertura do solo com palha.

Estes também apresentam um erro maior que 10% na regulagem de aplicação de sementes. Embora o grupo 4 seja o grupo que semeia com a menor velocidade de avanço da máquina (V.A=5,8 km/h), apresenta a maior redução da cobertura de palha após a semeadura, indicando uma necessidade de maior atenção nas regulagens dos mecanismos de interação semeadora solo.

O grupo 5 se aproxima em similaridade ao grupo 4 devido ao fator preparo do solo, pois, ambos só fazem plantio direto, isto é, não realizam nenhum tipo de preparo do solo.

Porem estes produtores se diferenciam do grupo 4, pois, além de serem os menos experientes em sistema de plantio direto, são os produtores que aplicam mais fertilizante, apresentam os maiores erros de regulagem de máquina para a aplicação de fertilizante (Erro.F=26,9%) e também apresentam mais sementes expostas dentre o conjunto de maquinas avaliadas.

Este alto erro de aplicação de fertilizante e quantidade de sementes expostas pode ter relação com a idade da máquina, pois, este grupo de produtores possuem as máquinas mais antigas (I.Mq=12,1 anos), podendo estas estarem com deterioração do sistema de aplicação de fertilizante, por desgaste e/ou corrosão. O grupo 6 se apresenta o mais distinto dos outros grupos de produtores, sendo como principal fator de distanciamento da similaridade, o fato de estes não aplicarem fertilizante na base, no momento da semeadura, conforme apresenta a Tabela 2, no qual, os três fatores ligados a fertilizante se mostram com valor zero.

Além dos fatores ligados ao fertilizante, diversas outras variáveis se apresentam com valores máximo e mínimo em comparação com os outros grupos, como a dosagem de sementes e a quantidade de plantas por metro, os quais foram os maiores dentre os grupos. Outro fator relevante a este grupo está relacionado com a qualidade de semente, visto que estes produtores apresentam as menores porcentagens de germinação, emergência e vigor (73,5, 75,1 e 49% respectivamente) e os piores resultados com relação a plantas anormais e sementes mortas (24,5 e 26,5%), evidenciando que estes produtores utilizam sementes de baixa qualidade.

Ainda o grupo 6 é caracterizado como aqueles que possuem as máquinas maiores (média de 43,5 linhas de semeadura) e mais novas (3,5 anos). Embora estes produtores não se apresentem como os mais experientes em sistema de plantio direto, foram os que apresentam a melhor cobertura do solo por palha e a menor redução de cobertura de palha após a semeadura.

A menor redução de cobertura do solo por palha após a semeadura pode ser explicada pela ausência de sistema de deposição do fertilizante no solo (facão ou disco duplo), o que é confirmado pela variável, tipo de sulcador, no qual, as máquinas deste grupo apresentam apenas sulcador do tipo disco duplo, que promovem baixa movimentação de solo, como pode ser observado nas variáveis profundidade de sulco e profundidade de semente, que também se apresentam como os menores dentre os grupos.

Como conclusão destas análises multivariadas, pode-se dizer que produtores experientes em plantio direto estão realizando preparo do solo de forma frequente e, que há uma tendência de que o período entre uma operação e a próxima tem diminuído com o aumento do tempo de plantio direto.

Embora haja necessidade de um levantamento mais detalhado para verificar as reais causas da necessidade desta operação, o levantamento realizado mostra que estes produtores estão perdendo a habilidade em proporcionar cobertura do solo e consequentemente o aporte de matéria orgânica, fato que foi mensurado a campo através das variáveis citadas no texto que são relacionadas a cobertura do solo e quantidade e qualidade de palhada.

E, ainda, fator de extrema relevância, a ausência ou a dita pobre rotação de culturas, que é um dos pilares do sistema de plantio direto. Estes fatores ligados ao manejo, que não seguem os princípios da sustentabilidade do sistema de plantio direto, com certeza tem acarretado a perda da qualidade das áreas ao longo dos anos e, como paliativo, a operação de escarificação tem-se tornado cada vez mais comum e, também não resolve o problema da física do solo a médio e longo prazo.

Com relação as máquinas, observou-se que as mais antigas tendem a apresentar maiores problemas com relação aos erros de aplicação de fertilizante, fatores que podem estar ligados a deterioração caudadas por desgaste ou corrosão dos mecanismos que executam este processo e ainda a tecnologia aplicada (tipo de sistema de distribuição do fertilizante), o que não foi observado para o sistema de distribuição de sementes.

Este fato sugere um alerta aos produtores, para que estes fiquem mais atentos tanto com a regulagem dos mecanismos de distribuição de fertilizante, quanto seu estado de conservação e tecnologia aplicada.