Aspectos no manejo de plantas daninhas pós colheita


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 30/04/2019

Seleção natural de plantas daninhas

Na agricultura, o princípio de desequilíbrio está no cultivo de plantas, muitas vezes exóticas, em áreas extensivas. No Rio Grande do Sul, cultivam-se em torno de 5 milhões de hectares de soja, 750 mil ha de milho, e um milhão de ha de arroz, determinando o desenvolvimento de populações de pragas e de doenças que se alimentam das plantas disponíveis.

As plantas consideradas daninhas que se adaptarem às condições de cultivo de soja, milho ou arroz, desenvolverão rapidamente, competindo com a produção de grãos. Além da rotação de culturas e de herbicidas, deve-se considerar que fatores de controle natural (predadores, parasitos e patógenos) limitam a proliferação e sobrevivência de plantas daninhas. Assim, é importante identificar os fatores de controle biológico mais eficiente e criar condições favoráveis aos agentes de controle natural.

Rotação de práticas de controle

Como regra geral, pode-se afirmar que é necessário alternar práticas de controle adotando a rotação de culturas e de herbicidas, para dificultar o processo de seleção de plantas daninhas resistentes às práticas de controle adotadas na lavoura.

A seleção de espécies de plantas daninhas de difícil controle e de populações resistentes a herbicidas tende a se repetir, com os novos produtos e as novas práticas, se não forem adotadas estratégias de manejo, de dose correta e de rotação de culturas. O princípio básico de controle de plantas daninhas, de pragas e de doenças é a alternância (rotação) de culturas, de práticas (herbicidas, épocas de controle, cobertura vegetal, etc.) para evitar (retardar) o aumento da população de organismos indesejáveis

Meia dose e subdoses

A adoção da prática de doses reduzidas (subdoses) para controle de plantas daninhas apresenta a vantagem de baixar custos. Por outro lado, a estratégia de meia dose (dose letal para 50% da população) é a metodologia mais indicada para seleção rápida de populações resistentes.

Deve-se evitar doses reduzidas e misturas que permitem a sobrevivência de parte da população, ou de espécies que toleram a dose aplicada, gerando as chamadas “plantas daninhas de difícil controle”. Elas são, na realidade, a consequência da “dose problema”. Como princípio básico, devese adotar a rotação de produtos, de práticas para dificultar a seleção de populações resistentes e a manutenção de cobertura de solo adequada e permanente.

Quando usar herbicidas deve-se aplicar a dose correta e no momento com expectativa da melhor eficácia possível, sempre com base na dose necessária para matar a espécie de mais difícil controle, ocorrente na área a ser tratada

O sistema de manejo pós-colheita

Nas lavouras infestadas com plantas daninhas, principalmente aquelas de difícil controle, devese planejar estratégias para evitar dificuldades de controle na safra seguinte. Impedir a produção de sementes de plantas daninhas, controlando as que sobreviveram aos herbicidas e às práticas adotadas na lavoura. Essas plantas isoladas são as que toleraram (resistiram) ao herbicida, à dose utilizada ou a outras práticas usadas na lavoura.

As plantas produzirão sementes e se desenvolverão durante o inverno, armazenando reservas e agravando os problemas na safra seguinte. Para algumas dessas plantas daninhas não se consegue controle efetivo, apenas com a dessecação de primavera, sendo fundamental o manejo pós-colheita, no outono, fase de produção de sementes.

O manejo na pós-colheita é alternativa eficaz de controle de plantas daninhas em áreas com capim-amargoso (Digitaria insularis), capim-de Rhodes ou coqueirinho (Chloris gayana e Chloris distichophylla), trapoeraba (Comellina sp.), poaia branca (Richardia brasiliensis), mesmo azevém (Lolium multiflorum) e de outras denominadas plantas daninhas problema. O pior cenário é deixar a área em pousio, à mercê da erosão e da multiplicação de plantas daninhas. A colheita do milho ou da soja permitirá a planta daninha o aproveitamento integral da luminosidade e da fertilidade do solo.

As plantas crescerão com vigor, e produzirão grande quantidade de sementes e no caso dos capins, ocorrerá a formação de touceiras perenizadas. A dessecação com herbicidas de amplo espectro de ação causará a morte de plantas e impedirá a produção de sementes, reduzindo, ao longo do tempo, o banco de sementes no solo. A semeadura de plantas de cobertura com crescimento rápido, como o nabo forrageiro, é desejável para suprimir plantas daninhas e para estimular a atividade biológica na superfície do solo, principio básico na prática do plantio direto.

Deve-se planejar a rotação de culturas para a safra de verão seguinte com o uso de práticas culturais e herbicidas que possam cortar o ciclo natural da seleção de populações resistentes aos métodos convencionais. A alternativa de roçar ou de picar a palha, cortando as plantas daninhas, pode reduzir o potencial de produção de sementes, mas traz como problema a falta de folhas para adequada absorção de herbicidas em dessecações posteriores.

Também induz à formação de touceiras e o rebrote, permitindo a produção de sementes, resultando em problema crônico. O manejo de plantas daninhas depois da colheita apresenta as seguintes vantagens: redução ou eliminação da produção de sementes; manejo efetivo de plantas de difícil controle; evita a formação de touceiras perenizadas; melhora a eficiência da semeadura, pela ausência de touceiras de plantas; aumenta a eficiência da dessecação de primavera; elimina o risco de controle deficiente, causado pelo efeito guarda chuva de plantas perenizadas; reduz a ocorrência de pragas e de doenças, pela eliminação de hospedeiros intermediários (plantas daninhas, tigueras ou guachas), “pontes-verdes” entre duas safras; possibilita a redução nas doses de herbicidas nas dessecações subsequentes.

Como fazer o manejo pós-colheita

Sugere-se aguardar duas a três semanas depois da colheita, que permite a germinação da sementeira superficial e das plantas tigueras (aquelas voluntárias resultantes da perda de grãos na colheita), o crescimento das plantas daninhas e a brotação ou recuperação daquelas cortadas na colheita. Essa recuperação na área foliar permite absorção e eficácia de herbicidas dessecantes e sistêmicos.

Após esse intervalo após a colheita, realizar um tratamento com herbicida para eliminação total das plantas. Herbicidas que podem ser utilizados sem risco de resíduos para a cultura de cobertura ou de inverno incluem o glifosato (sistêmico) e o paraquat (dessecante).

No caso de culturas da família das brassicas e leguminosas principalmente (como nabo forrageiro e ervilhaca, por exemplo), é importante evitar a utilização de herbicidas inibidores da ALS (como imazaquin, imazetapir, clorimurom, metsulfurom, etc.), pois dependendo das condições ambientais (clima e solo), sempre há chance de danos nas culturas que virão na sequência por esses herbicidas.

Alguns herbicidas desse grupo podem causar danos também em gramíneas que virão na sequência. No caso de plantas de cobertura da família das gramíneas (aveias, centeio, milheto, etc.), herbicidas como 2,4-D tem menor ação, e com intervalo de poucos dias já seria possível a introdução da cultura de cobertura sem maiores riscos. Outra alternativa é a colheita com equipamento espalhador de palha, sem picador, para distribuir uniformemente os restos culturais, permitindo rápido reposicionamento das folhas das plantas daninhas. Um ou dois dias depois da colheita, fazer a dessecação e semear alguma cultura de crescimento rápido, como nabo-forrageiro ou milheto.

É possível também ser testado a técnica de sobressemeadura, que consiste em realizar o plantio de espécies como capim-sudão sobre a cultura da soja, no momento em que ocorre a maturação (amarelecimento da cultura, R7). Dessa forma, quando a soja for colhida, já haverá plantas na área para cobertura, impedindo o desenvolvimento de plantas daninhas pela competição.

Outra forma possível de impedir o crescimento de plantas daninhas após a colheita, seria organizar o momento da colheita para semear plantas de cobertura de crescimento rápido (como nabo forrageiro) na sequência da colheita, com o mínimo de intervalo de tempo possível