Monitorando a aplicação: uso de papel hidrossensível


Autores: Ruy de Araújo Pinto Jr.
Publicado em: 28/02/2019

Tecnologia de aplicação se resume em colocar o Ingrediente Ativo (IA) na cobertura correta, ou seja, depositar gotas por centímetro quadrado em dose letal no alvo biológico ou próximo dele.

O problema é que, entre a ponta (bico) e o alvo pode haver muita cobertura vegetal. Superfícies foliares cerosas ou pouco aderentes com arquitetura de folhas desfavorável como a das gramíneas, por exemplo, possuem o que se chama de seletividade por posição (vide artigos de número 158 e 160 da Revista Plantio Direto).

Para melhorar a cobertura de produtos de contato ou mesmo sistêmicos com muita massa foliar acima do alvo, é necessário reduzirmos o tamanho da gota.

Este processo em que se melhora a cobertura, gera outro problema que é o fato desta mesma gota ficar mais suscetível às condições adversas de temperatura alta e umidade relativa baixa, que além de provocar a sua perda por evaporação, podem reduzir a sua massa (peso) potencializando tremendamente o deslocamento pelo vento (deriva).

Quando o vento provoca deriva de herbicidas não seletivos em lavouras próximas ou de vizinhos, é possível vislumbrarmos o tamanho do problema, infelizmente depois do ocorrido. Já quando evapora, só há uma maneira de dimensionarmos o problema que é por meio do uso do papel hidrossensível ou do não funcionamento correto da aplicação.

O dito papel, além de balizar a eficácia da cobertura no alvo biológico fazendo com que se ajuste a vazão ou pressão para mais ou para menos para atingir o alvo com mais eficiência, nos permite monitorar se está havendo perdas entre o bico e o alvo. Para melhor tirarmos proveito desta ferramenta (papel hidrossensível), falaremos a seguir dos cuidados que envolvem o uso desta ferramenta.

Papel hidrossensível

Uma das formas de avaliar a cobertura proporcionada por uma aplicação, das mais baratas, acessíveis e relativamente confiáveis é pelo uso do cartão de papel hidrossensível, que mostra a quantidade e as características das gotas depositadas sobre o mesmo, podendo ser uma indicação relativamente precisa e simples da qualidade da aplicação.

O papel permite medir a qualidade da pulverização de uma forma muito fácil tanto pelo número de gotas por centímetro quadrado como pela medição do seu DMV (Diâmetro Médio Volumétrico) , pois as regiões atingidas por substâncias aquosas ficam azuis, indicando como o defensivo agrícola foi aplicado, incluindo a densidade e penetração das gotas, oferecendo mais visibilidade da cobertura em relação ao alvo.

Pode-se contar o número de gotas por centímetro quadrado tanto de forma manual como por meio de programas de computador específicos como o Gotas da EMBRAPA que também avalia o DMV contando o seu tamanho em micras, µm (milésima parte de um milímetro) que é distribuído gratuitamente na Internet.

Estes programas permitem ainda classificar os diversos tipos de diâmetros das gotas que podem ser determinantes no ajuste do tipo de bico com a sua respectiva vazão.

Na figura 1, pode-se observar duas situações: uma delas é a sobreposição de algumas gotas que se expandiram aos caírem uma sobre a outra e aparentam ter um tamanho que não é real. Isso é comum com as pontas duplo leque ou cone vazio quando o papel é posicionado no topo da planta e acabam caindo, em alguns pontos do papel, duas gotas que se expandem dando a impressão de terem o dobro de tamanho que realmente têm.

Esse problema poderia ser evitado colocando o papel na parte inferior da folhagem da cultura, isso porque a copa funcionaria como uma barreira que “filtraria” as gotas, sendo que uma parte das gotas fica retida nas primeiras folhas e só as menores tendem a ultrapassar a barreira das demais.

Outro problema da imagem em questão é a perda de gotas que ocorreu em função da redução da umidade relativa de 58,4% para 39,7% e o aumento da temperatura de 29,2 graus para 32,8, ou seja, o produtor estaria tendo uma perda real e não se aperceberia se não estivesse usando desta ferramenta, isso gera a chamada “perda invisível” tão ou mais importante que a perda por deriva que pode ser desastrosa quando se soma temperatura alta, umidade baixa com ventos acima de 10 km/h. No entanto, há algumas limitações no uso do papel hidrossensível.

Alguns estudos destacam que o papel sensível a água apresenta limitações de captura de gotas com diâmetros menores que 30 a 50 µm, em função da quantidade baixa de liquido para demarcar o papel de forma visível.

Outra questão é que o espalhamento da calda sobre esse papel pode ser alterado em função dos componentes da calda. Ou seja, o tamanho das gotas no cartão é influenciado caso a calda de pulverização não tenha apenas água como componente.

O tamanho de gota, a posição da ponta de aplicação com relação ao alvo, a densidade da calda, a velocidade da gota e a direção do fluxo são, segundo pesquisadores, os principais fatores que influenciam na eficiência das aplicações.

O posicionamento do papel hidrossensível em relação ao deslocamento do pulverizador é outro fator que pode gerar muitas interpretações equivocadas, subestimando ou superestimando a mesma aplicação pelo simples fato de que o papel captura mais gotas e marca melhor quando fica na perpendicular em relação ao deslocamento do pulverizador, isso é comum de acontecer quando se grampeia o mesmo na folha sem critérios.

Pode-se observar isso na figura 2. Saber se estamos ou não a pulverizar bem a nossa cultura é uma questão que nem sempre é fácil de responder. Pois, apesar de todos os modelos e ensaios que podem ser utilizados, a princípio para orientar a aplicação, o mais importante é saber se a calda chegou ou não em quantidade suficiente a todas as partes do alvo biológico.

Este pode ser especialmente difícil, quando a cobertura de folhas é grande e atingir o meio e a base da planta torna-se uma atividade desafiadora.

Referências

BAIO, F. H. R.; SCARPIN, I. M.; SILVA, E. E. da. Papel hidrossensível e alternativo fotográfico em ensaios de deposição de gotas. Brazilian Journal of Biosystems Engineering v. 9(4): 339-347, 2015.

BALLAROTTI, A. N.; OLIVEIRA, G.; FONSECA, I.; ABI SAAB, O. J. G.; CANTERI, M. Determinação do tamanho da amostra de papéis hidrossensíveis em experimentos ligados à tecnologia de aplicação. Semina: Ciências Agrárias. 2013. 34. 2687.

BERNI, R. F.; MACHADO, V. DE O. F.; COSTA, G. R.; BARATA, G.; PAULA, R. S. DE. Avaliação da cobertura de gotas provocada por diferentes bicos de pulverização na cultura do milho e do feijão. Pesquisa Agropecuária Tropical, 29(1): 49-52, 1999 – 51

DEVEAU, J. Sprayer Math for Banded Applications. 2016. Disponível em: