1. Introdução
Nos últimos anos, o índice de produtividade agropecuária no Brasil cresceu muito devido ao avanço tecnológico no desenvolvimento genético de grãos, aliado às pesquisas de melhoramento da fertilidade dos solos e do emprego de maquinário de última geração nas lavouras (IBGE, 2017).
Apesar dessa grande produtividade, existe um fator preocupante: a pequena capacidade de armazenamento existente no país. Por isso, faz-se importante avaliar economicamente a instalação de unidades armazenadoras de grãos para pequenas e médias empresas.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) a capacidade de armazenamento de um país deve ser 1,2 vezes sua produção anual. Por outro lado, a Conab estima que a capacidade estática de armazenamento do país é de aproximadamente 166 milhões de toneladas de grãos, isto é, o país tem um déficit perto de 80 milhões de toneladas (TERRA MAGNA, 2020).
Para tanto, a presente pesquisa tem como objetivo realizar um estudo econômico-financeiro para determinar a viabilidade de instalação de unidades armazenadoras de grãos.
2. Referencial teórico
Um estudo de viabilidade de um projeto de investimento abrange as seguintes etapas: estudo de mercado, estudo de localização, estudo de engenharia, estudo de tamanho e estudo econômico-financeiro. 2.1. Análise de mercado
O objetivo da pesquisa de mercado é identificar e estudar os fornecedores das unidades de armazenagem, a estrutura de funcionamento, a tendência de crescimento, as estacionalidades das ofertas, a segmentação do mercado e a identificação das fases do ciclo de vida comercial das variedades de grãos comercializados (ver Quadro 1).
Assim, devem ser determinadas as especificações do produto segundo as exigências do produtor. Os níveis de demanda e oferta do produto que influenciam sua forma de comercialização e sinalizam o tamanho da unidade produtora. Estes níveis são obtidos através de dados de vendas, consumo, exportações e importações. A demanda é determinada pela necessidade de armazenagem por parte do produtor.
2.2. Recursos necessários
A partir da definição do sistema produtivo é possível estimar o investimento fixo: construções civis, máquinas e equipamentos de produção, instalações industriais, infraestrutura administrativa, fatores de engenharia, gerenciamento da implantação do projeto e capacidade tecnológica.
2.3. Demonstrações contábeis
As demonstrações contábeis são representações estruturadas sobre a situação patrimonial e financeira de uma entidade, bem como sobre o seu fluxo de caixa.
A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é um relatório contábil que evidencia a composição do resultado dentro de um intervalo de tempo, mediante o confronto entre receitas e os devidos custos e despesas (RIBEIRO, 2013). Ela disponibiliza o resultado econômico do projeto, sendo que esse resultado pode ser lucro ou prejuízo (FREZATTI, 2008).
A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC), por sua vez, é um resumo das entradas e saídas efetivas de dinheiro ao longo do tempo. Ele permite determinar a rentabilidade e a viabilidade econômica de um projeto de investimento, planejar as operações ou estabelecer a capacidade de pagamento de uma dívida (SAMANEZ, 2009).
2.4. Análises de investimentos
A viabilidade de um projeto de investimento começa pela determinação dos gastos necessários para operacionalizar os processos envolvidos no negócio e finaliza em uma análise econômica.
Na análise, se o valor presente for “positivo” o projeto é viável, porque a redução do custo ou o retorno é “maior do que o valor do investimento”. Na comparação de vários investimentos por este método, a melhor opção será aquela alternativa que apresentar o maior resultado positivo (CASAROTTO FILHO, 2014).
A Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa que “zera” o fluxo de caixa num determinado período, isto é, prefixando-se um fluxo de investimentos, um fluxo de receitas e custos em um período “n”, a TIR é encontrada quando o VPL é igual a zero. O valor encontrado da TIR é comparado com a TMA e, se ela for maior, significa que o investimento é rentável.
Também podemos avaliar um investimento através do método do Payback descontado. Neste método se determina o número de períodos que o investimento leva para repor o capital investido. Ele é definido como o produto do número de anos do projeto e a razão do valor presente dos investimentos e valor presente dos lucros.
Outro método que também pode ser utilizado na avaliação é o método do Benefício/Custo (IBC) ou índice de lucratividade (IL). Ele reflete a maior ou menor conveniência de um projeto – é o resultado da divisão do valor atualizado dos benefícios pelo valor atualizado dos custos do projeto, incluindo o investimento inicial (SAMANEZ, 2009).
Os critérios de decisão são: (1) Se IL > 1, o projeto deverá ser aceito (VPL > 0); (2) Se IL < 1, o projeto deverá ser rejeitado (VPL < 0) e (3) Se IL = 1, é considerado como atraente, pois remunera o investidor em sua taxa desejada de atratividade.
3. Procedimentos Metodológicos
O trabalho foi estruturado seguindo as fases: análise de mercado, capacidade e volume, orçamento e projeções e análise de viabilidade (ver Quadro 2).Para realizar a análise de viabilidade econômico-financeira do projeto utilizou-se a metodologia do Fluxo de Caixa Descontado (FCD). O método se fundamenta na capacidade do projeto de gerar riqueza no futuro.
Assim, as receitas, custos, despesas, investimentos e outras necessidades de capital de giro relacionadas são estimadas, além de todos os componentes que afetam a variação de caixa do empreendimento.
O horizonte de avaliação do estudo foi de 5 anos. Os saldos líquidos apurados de ano em ano, são trazidos a valor presente por uma taxa de desconto que reflita os interesses econômicos dos investidores (TMA) e os riscos inerentes do negócio. A TMA geralmente é uma função dos títulos do governo que incorpora o risco específico da atividade e é calculada com base no modelo de avaliação de ativos (CAPM).
4. Resultados e Discussões
No estudo de mercado, a análise do produto foi baseada em informações dos fornecedores, em pesquisas bibliográficas e visitas técnicas aos armazéns regionais. Assim, determinou-se exatamente como funciona uma unidade armazenadora de grãos e quais os equipamentos necessários. Elas são projetadas para atender as etapas de recepção, limpeza, secagem, armazenagem e expedição.
A pesquisa de mercado foi realizada no produtor rural, tendo como objetivo principal a necessidade de espaço para armazenagem e a capacidade necessária para desenvolver o processamento de grãos. Os dados obtidos foram a base da escolha nos catálogos dos revendedores de montadores de silos metálicos.
Assim, o projeto da unidade armazenadora deverá ser capaz de armazenar toda a produção anual. Também, deve ser considerado que a capacidade de processamento da unidade deve ser próxima da produção colhida.
O processo de produção foi mapeado após visitas aos armazéns já existentes na região. Tem início com a colheita de grãos e seu transporte até o armazém. Posteriormente, os grãos são processados no setor de limpeza, secagem e, logo, são armazenados.
O processo de secagem tem por finalidade reduzir o conteúdo de água dos grãos para desfavorecer a sua deterioração, seja por fungos, insetos ou pelo processo de respiração dos grãos, permitindo que estes sejam colhidos mais cedo e armazenados por longos períodos. Para o milho, por exemplo, a umidade deve estar entre 13% e 14% para posteriormente ser armazenado.
O processo de pré e pós limpeza visa retirar matérias estranhas, restos culturais e grãos trincados, quebrados ou apodrecidos, a um nível aceitável para a armazenagem e comercialização.
Atualmente, os silos metálicos são a forma mais comum de armazenagem, já que são seguros e permitem um melhor controle da qualidade. Além disso, os silos metálicos são recomendados para produções de grande escala e também para aqueles que desejam armazenar sua produção por conta própria (EMBRAPA, 2011).
Por se tratar de um projeto de alto investimento, o ideal é que se estabeleça uma política de armazenamento constante com o objetivo de obter uma melhor utilização do espaço, diluir os custos fixos, diminuir o custo de construção e de aquisição de maquinário. O espaço disponível pode ser revezado para dois silos, um para armazenar milho e o outro para soja.
Como o produtor rural produz anualmente 9 mil toneladas de milho e 4,8 mil toneladas de soja, é imprescindível que toda a produção seja armazenada, porém não necessariamente ao mesmo tempo. Uma forma de conseguir um melhor aproveitamento da infraestrutura seria armazenando soja em um silo e vendida ao longo do tempo em que o milho se desenvolve, período que acontece entre março e junho. Depois que os silos são esvaziados de soja, eles podem ser ocupados de milho.
O orçamento do projeto foi desenhado a partir das solicitações realizadas aos fornecedores e as escolhas foram baseadas pelos serviços oferecidos. Os seguintes itens foram utilizados na análise de investimento: investimento fixo, custo de produtos vendidos, despesas, depreciação, amortização e juros pelo financiamento, estimativa da receita e valor do financiamento.
No presente estudo foram consideradas as seguintes premissas: (1) Usar os indicadores: VPL, TIR, IBC e o Payback para determinar a viabilidade do projeto; (2) o horizonte de avaliação do projeto é de 5 anos, incluindo-se o período das obras; (3) A determinação dos benefícios e custos a valor presente; (4) Os Custos e benefícios são avaliados a preços de mercado ou nominais; (5) A Taxa de Desconto utilizada é de 35%, considerando uma taxa de risco do setor de 30%; (6) Na avaliação final, a Taxa Interna de Retorno deve ser maior que 35% para que o projeto seja considerado viável, ou a relação benefício custo superior à unidade.
De forma simplificada e resumida, as contas que consideramos na avaliação econômica são: (1) o custo do investimento fixo na construção do silo atinge o valor de R$6.558.563,58. Esse custo considera os custos de estudos, projetos, aquisição de equipamentos, custo de execução de obras, frete, implantação, montagem, seguro, instalações elétricas, etc.
Assim, foi sugerido ao produtor rural investir em dois silos de tamanhos iguais com um volume total de armazenagem de 150 mil sacos. Essa capacidade armazenaria toda a produção de milho e de soja, considerando que o armazenamento de ambos os grãos não ocorre ao mesmo tempo – é necessário se desfazer do estoque de um silo de milho antes de cada safra de soja, por exemplo.
O melhor orçamento que atendia as necessidades do produtor rural foi fornecido pela empresa CASP S/A e, ele seria totalmente financiado pelo BNDES.
Antes de tomar a decisão de investimento deve-se pensar nos riscos que podem afetar o negócio, como por exemplo, as flutuações dos preços dos produtos agrícolas, as flutuações no valor do real em relação ao dólar, as variações climáticas, a inflação, a ameaça da economia chinesa e sobre a dependência econômica entre Estados Unidos e China, etc.
Referências
BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – BNDES (Brasil). Programa para construção e ampliação de armazéns – PCA. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Programas_e_Fundos/pca.html. Acesso em 05 set. 2015.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB (BRASIL). Acompanhamento da safra brasileira de grãos. Disponível em: http://www.conab.gov.br/. Acesso em 05 set. 2019.
CASAROTTO FILHO, N. Análise estratégica, estudo de viabilidade e plano de negócio. 5 Reimpr. São Paulo: Atlas, 2014.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Cultivo do milho. Sistema de Produção, Versão Eletrônica – 7ed. 2011. Disponível em: http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_7_ed/colsecagem.htm. Acesso em 05 set. 2019. FREZATTI, F. Gestão da viabilidade econômico-financeira dos projetos de investimento. São Paulo: Atlas, 2008. IBGE. Produção Agrícola Municipal – PAM. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2017. TERRA MAGNA, Disponível em: https://terramagna.com.br/o-deficit-de-armazenagem-do-brasil/>. Acesso em: 17 fev. 2020. WEBER, E. A. Excelência em beneficiamento e armazenagem de grãos. Rio Grande do Sul: Salles, 2005. 586 p. RIBEIRO, O. M. Contabilidade geral fácil. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013. SAMANEZ, C. P. Engenharia econômica. São Paulo: Pearson, 2009. 211 p.