Guilherme Knop: Sucessão familiar e foco nos pilares do Sistema Plantio Direto


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 28/02/2019

No final de 2018, a Revista Plantio Direto visitou a propriedade da família Knop, localizada no município de Almirante Tamandaré do Sul, no Rio Grande do Sul, afim de conhecer um pouco da história da propriedade e trazer informações sobre o manejo realizado pela família.

Conversamos com o produtor Guilherme Knop, de 35 anos, proprietário da Granja, e com o engenheiro agrônomo da Cotrijal, Carlos Mertins, que dá a assessoria técnica ao jovem agricultor. Knop é natural de Carazinho/RS e assumiu a propriedade a partir de 2018, sucedendo os pais. Inicialmente, a família de origem alemã possuía áreas no município vizinho de Coqueiros do Sul, mas, em meados da década de 70, as terras foram vendidas e os integrantes se mudaram para Almirante Tamandaré do Sul, batizando a propriedade de Granja Knop.

O solo naquela época era cultivado pelo avô, Leopoldo Knop, o pai Rudi Knop (conhecido como Tio Chico), e também pelo tio de Guilherme, Nelson Knop. Após o falecimento do pai, a propriedade passou a ser administrada por sua mãe Zenaide Maria Knop e o irmão dela, Daniel Bennemann, até o ano passado, quando Guilherme passou a conduzir a propriedade. Em homenagem ao pai, ele rebatizou a propriedade como Agropecuária Tio Chico, buscando criar um marco para uma nova fase da Granja, mas sem deixar de seguir os passos do pai.

A propriedade desde sempre foi cultivada com lavouras de grãos e criação de gado de corte para o consumo próprio. O cultivo foi feito em plantio convencional desde 1970, mas no final dos anos 80 começaram a ser feitos alguns testes na propriedade para implantação do Sistema de Plantio Direto, efetivado em toda área no ano de 1992. Atualmente, a propriedade cultiva soja e milho, sendo aproximadamente 12% da área com milho e o restante (88%) soja.

No passado, a família chegou a plantar 50% da área com milho e 50% com soja e aos poucos a proporção baixou para 30%. Hoje, está em torno de 15%, principalmente em função de questões econômicas. Knop e Mertins comentam que o milho entrou com muita força no sistema em função do Tamanduá da Soja ou Raspador da Soja (Sternechus subsignatus). Esta praga, em áreas sem rotação, causou grandes danos à cultura da soja.

Vale destacar ainda, que a produção de palha de milho é favorável à consolidação do Sistema Plantio Direto, adotado na propriedade devido, principalmente, o problema com erosão. No outono/inverno de 2018, após a colheita de soja e milho no verão, foram implantadas culturas de cobertura até o momento da semeadura da próxima safra (2018/2019). A maior parte da área no outono/inverno teve a aveiapreta como cobertura (semente própria comum e a cultivar IAPAR 61), e também um mix de plantas de cobertura.

O mix foi semeado em áreas onde ocorreu pisoteio do gado e que possuía pouca palha, além disso, foi utilizado em um espaço da lavoura que tem como objetivo testar tecnologias na propriedade antes de usá-las em área total. No ano de 2018, foi feito pela primeira vez durante o inverno o emprego da mistura em 40 hectares, como um teste. A semeadura aconteceu em 19 de abril, utilizando semeadora de fluxo contínuo (para grãos miúdos).

Este coquetel de sementes apresenta um ciclo de 90 a 110 dias e tem como componentes dois tipos de aveia, dois tipos de nabo e centeio. Só que há um “porém”, um problema do mix, é cuidado com o manejo adotando na lavoura antes do plantio da cultura principal (no caso, soja e milho). Segundo Guilherme, alguns produtores rolaram a cobertura com rolo-faca, outros passaram uma corrente para deitá-la, ou ainda, passaram o rodado do trator por cima.

Knop comenta também que outros produtores da região, com os quais conversou, utilizaram a mistura de espécies e da mesma forma tiveram problemas no momento de plantio de soja, porque a palha não estava totalmente acamada, atrapalhando a passagem da semeadora.

No caso das áreas em que foi implantado o mix e logo após a soja, utilizou-se colheitadeira para distribuir a palha do mix de forma mais uniforme e melhorar a plantabilidade da cultura principal. No caso dos talhões reservados para o milho, a cobertura foi manejada apenas com uma aplicação de glifosato.

Na aveia preta, que ainda é a principal cobertura para o inverno na propriedade, também é feita dessecação com glifosato, cerca de 40 dias anterior ao plantio da cultura de verão. Em 2018, a aveia preta foi semeada no final de abril até metade de maio, diferente do ano de 2017, que a aveia foi plantada apenas em junho, permitindo que o solo da área ficasse coberto mais tempo durante o ano.

Há cerca de dois anos (2015), a propriedade tinha trigo para produção de grãos em cerca de 15% da área no inverno, contudo, esse cultivo foi interrompido temporariamente por causa da rentabilidade, sem previsão para ser retomado. As produtividades da lavoura dos Knop têm sido acima da média do estado e do país, pois atingiu a marca geral de 81 sacos/ ha de soja em 2016/2017, e 82 sacos/ha em 2017/2018. A cultura do milho nos últimos dois anos teve um período de estiagem na propriedade e, dessa forma, reduziu a produtividade.

Em 2016/2017, a produtividade ficou em 152 sacos/ ha e, em 2017/2018, ficou em 168 sacos/ha (média geral). A previsão é que nesse ano não ocorra problemas com estiagem e a cultura não tenha comprometimento de produção.

O custo de produção na Agropecuária Tio Chico, considerando todos os insumos e mecanização das operações para soja em 2018/2019, está em 1.980 a 2.100 reais/ha. Nos dois últimos anos registraram-se períodos de estiagem no mês de dezembro, mas a falta de chuva não refletiu em perdas de produtividade. No caso dessa safra, 2018/2019, o início do ciclo da soja foi conturbado, com alta mortalidade de plântulas e baixa germinação, resultando em estandes ruins e necessidade de replantio. Em 40 hectares da propriedade a soja teve de ser replantada, pela alta ocorrência de tombamento de plântulas. No entanto, onde havia sido implantado o mix de coberturas, não houve necessidade de replantio.

O solo na propriedade é basicamente argiloso, variando nos talhões de 30% a 55% de argila na análise de solo. Todo ano é feito análise de solo georreferenciada, por meio da coleta de amostras de solo a 20 cm de profundidade com grade amostral de um hectare, possibilitando a elaboração de mapas de fertilidade, correção e adubação para a área feitas em taxa variável.

Atualmente, o teor de alumínio tóxico no solo até a camada de 20 cm está zerado em função do trabalho com correção do solo que é desenvolvido há anos. Nas áreas onde será implantado lavoura de milho, antes da semeadura, é aplicado 3 t/ha de um adubo orgânico com teor de nutrientes similar à cama de aviário.

Após a calagem e adubação orgânica, é aplicado fertilizante NPK no momento da semeadura, conforme análise de solo da área. Tem-se utilizado como referência para a adubação na propriedade uma produtividade de 200 sacos/ ha de milho e 80 sacos/ha de soja. Tanto na cultura da soja quanto na de milho, é aplicado uma dose padrão de 200 kg/ha de cloreto de potássio (KCl) a lanço, cerca de 20 dias anterior à semeadura.

Este ano Guilherme conta que pretende fazer testes com adubação na cultura de cobertura (aveia preta), afim de buscar compensação no momento da semeadura de soja para melhorar o rendimento durante a operação, tudo isso, por meio da redução de adubo utilizado na máquina.

Na propriedade, todo ano eles testam fertilizantes e outros produtos de aplicação foliar em áreas menores para verificar os resultados. Há alguns anos, foi utilizado gesso em algumas áreas com objetivo de redução do alumínio tóxico e aumento do teor de cálcio em profundidade, obtiveram resultados interessantes. Na propriedade, são raríssimas as ocasiões em que é feito algum tipo de movimentação do solo.

Normalmente, é utilizado um escarificador em áreas de cabeceira ou em locais de tráfego de caminhões, apenas quando é necessário, ou seja, quando se verifica que a compactação é muito intensa. Em geral, não se percebe compactação em excesso do solo nas áreas de lavoura. Nessa safra, foram plantadas 3 cultivares principais de soja, BMX Ativa RR, BMX Alvo RR e NS 6209 RR, que foram também usadas na safra 2017/2018.

Em áreas menores na propriedade são testadas cultivares diferentes todo ano, as que demonstram potencial substituem as que são comumente usadas. As cultivares dessa safra são usadas na proporção: 40% Ativa, 40% Alvo e 20% 6209. Em milho, são usados os híbridos Status Viptera3; P2530 e DKB 240 PRO3. Na bordadura do milho é utilizado o híbrido AG 3110 RR2.

Na safra de 2017/2018, a ferrugem asiática não foi um problema na propriedade. Na soja plantada “cedo”, foram feitas 4 aplicações, e na soja “do tarde” foram feitas 5 aplicações de fungicida, sendo 3 com utilização de multissítio. O mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), que foi na região norte do estado do RS um novo problema, na Granja Knop não ocorreu. Para esta safra, a colheita da soja deve acontecer a partir da segunda metade de março. Até o momento, até o momento não foram registrados problemas com doenças, e a ferrugem da soja está sob controle.

A estimativa de Guilherme Knop é colher 82 sacos/ha esse ano. Após nos contar sobre o manejo geral das áreas, Knop e Mertins reforçaram a importância de aumentar a produtividade ao invés de expandir a área cultivada, pois para eles, a utilização de novas tecnologias e de uma visão da lavoura como um sistema de soluções integradas, são fatores essenciais para buscar, todo ano, a melhor safra