Diagnóstico da mudança de uso da terra para produção de soja no Rio Grande do Sul


Autores: Ijésica Luana Streck, Marcos André Bonini Pires, Vanderlei Rodrigues da Silva, Felipe Bonini da Luz, Gerry Rieth, Nádia Goergen , Felipe Puff Dapper
Publicado em: 31/12/2018

Introdução

A soja destaca-se entre os produtos agrícolas mais produzidos e consumidos no mundo, devido à diversidade de seus usos e expressiva gama de subprodutos. No agronegócio brasileiro, desde a década de 1970, têm se observado expansões expressivas em área cultivada com esta oleaginosa.

Junto com este crescimento novas tecnologias relacionados à cultura da soja vão sendo inseridas no Brasil (SILVA et al., 2012). A soja viabilizou outros setores produtivos agrícolas como a suinocultura e a avicultura no Brasil, aumentando o PIB nacional, devido ao comércio dos mesmos (DALL`` AGNOL, 2000).

O Brasil está em segundo lugar no ranking mundial de maior produtor de soja e no ano de 2016, foram cultivados 33,17 milhões de hectares, alcançando-se uma produção de 95,63 milhões de toneladas (EMBRAPA, 2016). Além disso, estima-se que o crescimento médio anual da área de soja no Brasil atinja valores na casa de 5,0% ao ano (FREITAS e MENDONÇA et al., 2016).

No Rio Grande do Sul, assim como em outras regiões do país, o cenário não é diferente pois motivados pelo retorno econômico (GUSSO et al., 2017), produtores rurais tem expandido as áreas de cultivo de soja. Além do retorno para os produtores, esta expansão traz retornos econômicos para os municípios devido à comercialização dos grãos e insumos necessários para o seu cultivo. Dentre os locais mais impactados pela a expansão da área cultivada com soja estão os municípios localizados na metade sul do estado, sobre o Bioma Pampa, em virtude das terras na região possuírem menor valor em relação as demais regiões do estado.

Assim, o agronegócio traz retornos econômicos para os municípios com o desenvolvimento local (ROCHA et al., 2015). O presente trabalho teve o objetivo de analisar a quantia de área expandida e em qual região do estado está ocorrendo essa expansão, através da relação da área semeada no ano de 2015 pelos 20 municípios com maior área e compará-los com a área que foi semeada em 1995.

Material e Métodos

As informações sobre área semeada de soja foram obtidas no site da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do estado do Rio Grande do Sul e pela ferramenta SOMABRASIL (Sistema de Observação e Monitoramento da Agricultura no Brasil), com base em imagens de satélite (BATISTELLA et al., 2012) no ano de 2017. Nesta plataforma de dados, foram selecionados os 20 municípios com maior área semeada de soja no ano de 2015.

Posteriormente, destes 20 municípios foram realizadas mais duas consultas, para os anos de 2005 e 1995, estabelecendo o histórico da área semeada no período de 10 e 20 anos. A relação dos municípios está disposta na Tabela 1 com a extensão territorial e a área semeada em hectares nos anos de 1995, 2005 e 2015. Para os municípios de Capão do Cipó e Muitos Capões não foram encontrados dados no ano de 1994 devido a emancipação tardia destes municípios, que na época pertenciam a outros municípios adjacentes, segundo dados da biblioteca do IBGE.

Posteriormente, foram buscados dados que demonstrassem a área total cultivada com soja no RS nos anos de 1995 e 2015 a fim de verificar o aumento total da expansão.

Resultados e Discussão

Os resultados indicaram que em 20 anos houve um aumento de 2.255.349 ha (Figura 1) de cultivo da soja no estado, ou seja, um aumento de 75%. Os 20 municípios com maiores áreas de produção estão localizados nas regiões Norte, Centro e Sul do estado (Tabela 1). Dos munícipios produtores com maiores áreas, apenas dois não tiveram aumento na área cultivada entre os anos de 1995 e 2015, sendo eles Ijuí e Giruá (Figura 2), localizados na região noroeste do estado, região pioneira na produção de soja. Nestes municípios inclusive, houve redução de 8% na área produtiva.

Por outro lado, os demais munícipios obtiveram aumento de suas áreas cultivadas com soja. Em 1995, o município de Palmeira das Missões, na região Norte ocupava o 1° lugar com maior área cultivada de soja (Tabela 1) e em 2005, Tupanciretã passou a ocupar a primeira posição em área cultivada com soja até 2015. De 1995 até 2015 a área expandiu em aproximadamente 100% no município de Tupanciretã (Figura 2), sendo que em Palmeira das Missões, a área expandiu apenas 27 % (Figura 3).

Além disso, estes resultados demonstram que em Palmeira das Missões, o maior período de expansão da cultura foi entre 1995 e 2005, sendo que entre 2005 e 2015 praticamente não houve mudança na área plantada, enquanto que em Tupanciretã neste mesmo período houve um acréscimo de 11.000 ha (Tabela 1).

No ano de 1995, Cruz Alta, Palmeira das Missões e Giruá compreendiam os municípios com maiores áreas cultivadas (Tabela 1, Figura 5), notando-se que o cultivo da soja concentrava-se na região Noroeste do estado.

Em 2005, o município de Tupanciretã passa a ocupar a liderança, com 133.800 hectares de área semeada de soja (Tabela 1, Figura 5), porém, percebendose que Cruz Alta e Palmeira das Missões ainda estão entre os maiores municípios com área semeada de soja.

Nos últimos anos, ou seja, a partir de 2005, o cenário passa a ser um pouco diferente, pois a migração do cultivo de soja foi mais intenso na região da campanha e sul do estado do RS. O município de Cachoeira do Sul, tradicional no cultivo de arroz irrigado, aumentou a área cultivada com soja em 500 % (Figura 3b) nestes últimos 20 anos e em 2015 o município passou a possuir a segunda maior área cultivada com soja no estado (Tabela 1, Figura 5).

Neste município houve um aumento expressivo da área cultivada a partir do ano de 2005, onde neste mesmo período houve uma redução da área cultivada com arroz como pode ser visto na Figura 4.

Além de Cachoeira do Sul, demais municípios da região Sul como São Gabriel, São Sepé e Rio Pardo expandiram suas áreas de produção em torno de 600% (Figura 3b), sendo este crescimento mais expressivo nos últimos 5 anos (Figura 4).

Por outro lado, o município de Dom Pedrito vem de uma série histórica de crescimento de 20 anos (Tabela 1, Figura 4), onde a área aumentou cerca de 18 vezes, ou seja, uma expansão de 1800% (Figura 3b). A hipótese para este aumento gira em torno da mudança de uso da terra de pastagens para o cultivo de soja.

O motivo pelo qual o município de Cachoeira do Sul e São Gabriel expandiram sua área de produção de soja deve-se ao maior retorno econômico desta cultura em comparação ao cultivo de arroz e a pecuária, e também, pela necessidade de implementar uma alternativa econômica ao arroz irrigado.

A soja também garante maior estabilidade econômica em relação ao arroz, a qual o preço oscila muito no mercado e proporciona melhorias na qualidade do solo em comparação a pastagens mal manejada, ou até mesmo utilizada como rotação de culturas em lavouras cultivadas com arroz, para controle do arroz vermelho.

Outra possibilidade do aumento da cultura da soja na região centro-sul do estado está relacionada ao desenvolvimento de cultivares adaptadas as condições climáticas dos municípios com maior expansão e ao arrendamento de terras a baixo custo. Conforme a Figura 5 é possível perceber que a expansão da soja está se difundindo rumo a metade sul do estado.

Tupanciretã continua com a maior área, mas em 2015, Cachoeira do Sul e São Gabriel municípios da região da metade sul do Rio Grande do Sul aparece em segundo e em terceiro com maior área.

São 235.000 hectares destinados ao cultivo de soja, terras, onde antes se cultivava arroz e a pecuária extensiva. Esta expansão está ocorrendo basicamente na metade sul do estado, devido ao um aumento de cultivo da soja no Bioma Pampa, considerado a fronteira agrícola do estado.

Um ponto negativo deste processo é a perda da biodiversidade local deste Bioma, porém o agronegócio traz retornos econômicos para os municípios com o desenvolvimento local devido à comercialização dos grãos e insumos necessários para o cultivo da soja.

Os solos da metade sul do estado são oriundos de formação sedimentares, ou seja, possuem textura franca arenosa ou arenosa. Desta maneira com o início da expansão da soja nessas áreas, as intensas atividades agropecuárias podem ser responsáveis por processos de degradação do solo na região levando a intensa arenização ocasionando a perda da capacidade produtiva destes solos.

A introdução da cultura da soja nessa região pode propiciar de modo intenso o processo erosivo, consequentemente provocar assoreamento dos rios. A soja cultivada nestas áreas não apropriadas, de acordo com a classificação do solo que tem como base o sistema de capacidade de uso. Isto é, em áreas com maiores declividades, associadas a solos muito arenosos.

Estes resultados inspiram novas pesquisas, principalmente quanto a avaliação de indicadores da qualidade do solo nestas áreas de expansão, pois devido a fragilidade dos solos nestes locais, o cultivo da soja possa estar degradando o solo, bem como possa estar melhorando sua qualidade.

Por fim, os resultados deste trabalho com base nos 20 municípios com maiores áreas de produção, indicam que em 20 anos houve um considerável aumento da área semeada com soja no estado, sendo que na região Norte a expansão foi menor (28%) seguida da região central (90%) e com maior área expandida na região Sul com municípios atingindo mais de 500% de aumento da área.

Conclusões

Os resultados obtidos a partir desta pesquisa remetem a uma expansão da cultura da soja nos últimos 20 anos nos municípios localizados na região centro-sul do estado, principalmente em áreas anteriormente utilizadas com pastagens e cultivo de arroz.

Referências

BATISTELLA, M. et al - SOMABRASIL: Sistema de Observação e Monitoramento da Agricultura no Brasil, 2012/10/01 SP.

DALL’GNOL, A. The impact of soybeans on the brazilian economy. In: Technicalinformation for agriculture. São Paulo: Máquinas Agrícolas Jacto, 2000.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA 2016. Disponível em: . Acesso em: 07 outubro de 2017.

FREITAS, R.E.; MENDONÇA, M.A.A. Expansão Agrícola no Brasil e a Participação da Soja: 20 anos. Revista de Economia e Sociologia Rural, v.54, n.03, p.497-516, 2016.

GUSSO, A; ARVOR, D.; DUCATI, J.R. 2017. Model for soybean production forecast based on the prevailing physical conditions. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 52, p. 95-103.

ROCHA, J.M.; ZANELLA, F.C. ;CRUZ,R.C. Análise da Distribuição de Terras nos assentamentos rurais da Metade Sul do Rio Grande do Sul: A perspectiva de uma sustentabilidade compatível. Redes Revista do Desenvolvimento Regional. Santa Cruz do Sul-RS. v. 20, nº 2, p. 213-235. 2015.

SILVA, A. C. DA; CARVALHO DE LIMA, E. P.; BATISTA, H. R. A importância da soja para o agronegócio Brasileiro: Uma análise sob o enfoque da produção, emprego e exportação. 2012.