Resumo
As semeadoras em fluxo contínuo, ou seja, as que semeiam os cereais de inverno, o arroz, várias plantas de cobertura e pastagens, por trabalhar com espaçamentos estreitos, não possuem todos os componentes para a realização de todas as funções no solo, como ocorre nas semeadoras de precisão (plantadeiras).
Assim, um disco duplo desencontrado ou defasado executa o corte da palha, abre o sulco para a deposição de fertilizante e sementes conjuntamente. Os componentes de aterramento e compactação são conjugados, mesmo porque não há muito espaço entre eles. Esse estudo (projeto Agrisus PA 2303/17) conduzido pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) teve o objetivo de avaliar a qualidade de semeadura das culturas de outono e inverno em sistema de plantio direto (SPD) no campo, junto a produtores nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul.
Foram avaliadas, em 22 municípios, 38 semeadoras de fluxo contínuo de 10 diferentes fabricantes nacionais, determinando-se parâmetros que possam identificar qualidade da semeadura.
Dos 38 produtores analisados, pôde-se constatar que 15,8% erram na regulagem de sementes mais do que 20% da dosagem esperada e 29% erram entre 10% a 20%. Para aqueles que aplicam fertilizante, isso se agrava mais, sendo que 37% erram mais do que 20% e 33,3% deles erram entre 10% a 20% na regulagem da dosagem esperada de fertilizante.
Nesse estudo, também, foi possível identificar que os produtores que semearam no solo seco e aguardaram de uma a duas semanas por uma chuva e, os produtores que semearam com solo friável, obtiveram praticamente a mesma média de plantas emergidas (78% e 77% respectivamente). Identificou-se que a qualidade de sementes de trigo e triticale usadas pelos produtores nesse estudo, podem ser consideradas boas, com porcentagem de germinação e vigor médio de 94,7% e 90,8% respectivamente.
O que não foi observado com a aveia e cevada, com 79,6% e 69,8% respectivamente de porcentagem de geminação. Quanto ao tratamento de sementes, constatou-se que 76,9% das sementes de trigo eram tratadas, 100% das de cevada e só 25% da aveia.
Apesar do pequeno número de máquinas estudadas, foi identificado que quanto maior a profundidade do sulco e a profundidade das sementes e, quanto menor a variação das profundidades de sementes, maior a porcentagem de emergência das plantas. Destaca-se que a profundidade média das sementes foi de 3,5 cm e a do sulco 5,2 cm. Os produtores estão se esmerando na implantação das sementes no solo, sendo que 87% apresentaram sulcos bem aterrados, somente 0,5% em média de sementes expostas, 17% de redução da palhada original na superfície do solo.
Mas uma quantidade considerável de produtores fogem dessa média, exigindo capacitação e cuidados visando a qualidade do serviço. A velocidade de trabalho é elevada, principalmente nos produtores muito experientes no sistema de plantio direto (25,6 anos), prejudicando a implantação da cultura, apesar de serem os que melhor regulam as máquinas.
Os produtores menos experientes no sistema de plantio direto (14,6 anos) foram os que mais apresentaram erros na regulagem das semeadoras, quase que de forma generalizada. Assim, conclui-se, que embora o grande avanço das máquinas e dos produtores na implantação das culturas de inverno, há espaço para melhorar, e se houver maior preocupação com os cuidados na regulagem a produtividade melhorará.
1. Introdução
As sementes das plantas cultivadas ao serem colocadas no solo, devem encontrar neste um meio que reúna todas as características desejáveis para sua germinação, formação do sistema radicular e desenvolvimento da cultura (MIALHE, 2012).
As semeadoras em fluxo contínuo por trabalhar com espaçamentos estreitos, não possuem todos os componentes para a realização de todas as funções no solo, como ocorre nas semeadoras de precisão. Assim, um disco duplo desencontrado ou defasado executa o corte da palha, abre o sulco para a deposição de fertilizante e sementes conjuntamente.
Os componentes de aterramento e compactação são conjugados, mesmo porque não há muito espaço entre eles. A dosagem de sementes pode variar entre 10 e 200 sementes por metro linear, dependendo da espécie e recomendação agronômica e o fertilizante cai no sulco praticamente junto às sementes (CASÃO JUNIOR, 2016). As sementes das espécies de plantas alimentícias e plantas de cobertura de inverno variam quanto ao formato, uniformidade, rugosidade e dimensão.
São encontradas mais frequentemente o trigo e a aveia, mas também ocorre nessas regiões o centeio, triticale, cevada, nabo entre outras. Essas máquinas também são apropriadas para semear a cultura de arroz e algumas plantas de cobertura típicas de verão como a moha, milheto e quando acopladas com distribuidores específicos, semeiam também brachiarias, as quais estão em expansão nas regiões sul e mais ao norte do Brasil, na integração lavoura/pecuária ou simplesmente como planta de cobertura.
Em 2007, foi realizado estudo sobre o perfil empresarial, engenharia de produto e engenharia de produção nas indústrias de máquinas voltada ao sistema plantio direto no Sul do Brasil, por Casão Junior, Araújo e Fuentes Lanillo (2008 e 2012), assim como, foram entrevistados produtores e outros agentes vinculados ao sistema de produção agrícola. Portanto, esse estudo (CASÃO JR et al, 2018), procura atualizar e aprofundar informações, com objetivo de caracterizar os sistemas, componentes e dispositivos existentes nos equipamentos, visando à difusão de tecnologia, seja por seminários, palestras, reuniões técnicas, publicações e livros sobre o assunto.
Assim, foi diagnosticado as características de 36 modelos de máquinas em sete indústrias, mas somente será apresentado neste artigo, o resultado da avaliação de 38 modelos de semeadoras em propriedades agrícolas, correspondendo a modelos de 10 fabricantes diferentes, estudando as variáreis de qualidade da semeadura a campo.
Para realização desse trabalho, contou-se, além do patrocínio da AGRISUS e do IAPAR, também, com a contribuição das indústrias PLANTICENTER, KULZER & KLIEMANN, IMASA, VENCE TUDO, GIHAL, KUHN e STARA. Realizou-se uma parceria com a EMATER-PR, contando com apoio dos técnicos dos escritórios regionais e locais, assim como do apoio da Cooperativa AGRARIA em Guarapuava-PR, distrito de Entre Rios, visando identificar produtores/máquinas para a realização das visitas e levantamento dos dados de campo relacionados a qualidade de semeadura.
2. Materiais e métodos
Para o levantamento da qualidade de semeadura de outono inverno em SPD, foram avaliadas 38 semeadoras de fluxo contínuo em propriedades rurais nos municípios de Marialva, Aquidabam, Farol, Cambé, Rio Branco do Ivaí, Sabaudia, Sarandí, Corbélia, Cascavel, Vera Cruz do Oeste, Céu Azul, Toledo, Guarapuava, Entre Rios, Pinhão para o estado do Paraná e, para o Rio Grande do Sul, os municípios de Tupanciretã, Jóia, Ibirubá, Cruz Alta, Jacutinga e Não Me Toque.
No campo, as semeadoras em fluxo contínuo foram estudadas com 43 variáveis que possam caracterizar seu desempenho na implantação das culturas, assim como, suas características construtivas e as de manejo da propriedade. As porcentagens de cobertura com palha sobre o solo antes e após a semeadura, foram obtidas com auxílio de uma corda de 15 m marcada com 100 pontos distanciados de 0,15 m um do outro.
Posiciona-se a mesma sobre o terreno na diagonal das linhas de semeadura, registrando-se a quantidade de pontos que coincidiram com palha, determinando-se a porcentagem de cobertura antes e após a passagem da máquina. A porcentagem de cobertura com palha sobre o sulco ou a porcentagem de sulcos bem aterrados, foram obtidas, também, com auxílio da mesma corda, posicionando-a sobre a linha de semeadura e registrando-se a quantidade de pontos que coincidiram com a presença de palha sobre o sulco ou sulco adequadamente aterrado.
Os dados do levantamento à campo foram analisados estatisticamente de duas formas, as quais são baseadas em métodos quantitativos e qualitativos. A primeira, visa uma análise exploratória quantitativa no conjunto de dados como um todo, permitindo uma interpretação mais genérica e unificada das informações.
A segunda visa estimar, através de métodos qualitativos multivariados, a formação de grupos por similaridade entre as amostras (semeadoras), tendo como intuito agrupa-los em conjuntos que apresentem a mesma tendência de variabilidade intrínseca e, a partir desta, estudar o comportamento dos grupos, realizando estudos quantitativos dentro de cada um.
3. Análise da qualidade de semeadura
3.1. Características das semeadoras adubadoras, das propriedades e das sementes.
Das 38 semeadoras adubadoras avaliadas, 13 são da marca Semeato, 5 da Marchesan, 5 da Stara, 3 da Planti Center, 3 da Vence Tudo, 2 da Kuhn, 2 da Kulzer & Klieman, 2 da Baldan, 2 da Imasa e 1 da New Holand, conforme a tabela 1.
A escolha das propriedades foram na sua maioria efetuadas pelos técnicos da extensão rural, com exceção das selecionadas pelos fabricantes Planti Center, Kulzer & Kliemann, Imasa, Vence Tudo, Kuhn e Stara. Das semeadoras de fluxo contínuo estudadas, a média do número de linhas foi de 23,9, sendo que a maior possuía 65 linhas e a menor 13. O espaçamento variou bastante, apresentando média de 17,6 cm e coeficiente de variação (CV%) de 15,3%. O menor espaçamento usado foi de 15,5 cm e o maior de 30 cm.
Este em função de que o produtor semeava aveia sobre densa cobertura vegetal de milheto, optando retirar as linhas intermediárias da máquina. O trigo esteve presente em 27 casos, o triticale em 3, a cevada em 4 e a aveia preta ou branca em 4 casos. O tempo médio de uso do sistema plantio direto dos produtores entrevistados foi de 21 anos com CV% de 43,2%, sendo que o mais antigo usa o SPD a 31 anos e o mais recente com 2,5 anos. Dos 38 produtores, 30 somente usam o SPD, mas mobilizam o solo nas áreas de manobra e onde há compactação pelo trafego de pulverizadores.
Os 8 demais preparam o solo periodicamente em média de 4,2 anos, predominantemente com escarificadores. Quanto ao manejo da vegetação, 33 produtores não efetuam essa prática, ou seja, a própria colhedora efetua essa operação, 3 usam a roçadora no milho e 2 usam rolo faca. Das máquinas estudadas 18 podem ser consideradas com menos de 10 anos de uso, 13 com idade média entre 10 a 20 anos e 7 constituindo-se de maquinas velhas com mais de 20 anos. Quanto a topografia do terreno em que as máquinas trabalharam, constatou-se que 12 áreas eram planas, 17 suavemente onduladas e 9 áreas eram onduladas.
No momento da semeadura 13 máquinas trabalharam sobre o solo seco, pois os meses de abril e parte de maio não choveu no Paraná. Três produtores semearam no início de maio e aguardaram duas semanas pelas primeiras chuvas, oito aguardaram uma semana e dois semearam um dia antes da chuva. As máquinas que semearam a partir do dia 16 de maio, o fizeram com o solo na consistência friável.
Destaca-se que no Paraná, o mês de abril foi seco, chovendo apenas em algumas regiões no início do mês, proporcionando atrasos na semeadura de trigo e obrigando muitos produtores semearem com o solo seco. Quanto ao tratamento de sementes, 26 produtores semearam com sementes tratadas e 12 com sementes sem tratamento. Três das quatro semeaduras de aveia não trataram suas sementes.
A porcentagem média de germinação das sementes foi de 91,2% com CV% de 10,1% considerando que foi constatado um caso com somente 53% de germinação. No caso do vigor das sementes, a média foi de 85% com CV% de 18,4%, considerando que o mesmo caso citado, apresentou 28% de vigor. Essa amostra foi descartada para efeito de análise da emergência das plântulas. O peso médio de 1000 sementes de trigo foi de 33,9 g com CV% de 10,8%, a cevada, com somente quatro amostras foi de 43,2 g com CV% de 9,0% e, a aveia com três amostras foi de 19,3 g com CV% de 11,9%.
3.2 Análise dos erros de regulagem de sementes e fertilizante.
Foi perguntado aos produtores qual a regulagem efetuada em suas semeadoras quanto a dosagem usada para sementes e fertilizante. Esse parâmetro foi conferido com a amostragem efetuada em três linhas num percurso de 25 m.
Pode-se constatar que a dosagem de sementes e fertilizante nem sempre se aproximava do desejado. A dosagem média desejada de sementes para as 38 máquinas foi de 77,5 sem/m linear. A população média determinada de sementes (sementes/m) para 38 máquinas foram bem próximas desse valor (76,0 sem/m).
No entanto, a diferença entre a população desejada com a determinada de cada máquina variou de 0,73% a 30,9%, com uma média de 10,7% e CV% de 71,6%. Podese constatar com isso que dos 38 produtores, 11 estão errando de 10% a 20% na regulagem de sementes e 6 erraram mais do que 20%. Foram 21 produtores que erraram menos que 10% na regulagem. A figura 1 mostra como varia a quantidade de sementes por metro desejada pelos produtores, assim como a variação entre a desejada e determinada, caracterizando-se como um erro de regulagem.
O mesmo foi observado para a regulagem de fertilizante, no qual a dosagem de fertilizante média desejada para 27 máquinas que usaram esse insumo, foi de 255,8 kg/ha. A dosagem média de fertilizante determinada para as 27 máquinas também foi bem próximo desse valor (246,6 kg/ha).
No entanto, a diferença entre a dosagem desejada com a determinada de cada máquina variou de 0,31% a 52,3%, com uma média de 18,2% e CV% de 75,2%.
Pode-se constatar com isso que dos 27 produtores, 9 estão errando de 10 a 20% na regulagem de sementes e 10 erraram mais do que 20%. Foram 8 produtores que erraram menos que 10% na regulagem. A figura 2 mostra que varia muito a dosagem de fertilizante desejada pelos produtores, assim como a variação entre a desejada e determinada na avaliação.
3.3Análise das variáveis que influem na emergência do trigo e triticale e desempenho da máquina.
A dosagem de sementes esperada pelos 26 produtores analisados foi em média 155,5 kg/ha que resultaria em uma população de 82,4 sementes/m (CV%=20,9%). A quantidade média de sementes determinada chegou próximo a isso, com 80,1 sementes/m (CV%=22,9%). No entanto, quando se analisou isoladamente cada semeadora obteve-se um erro médio nas 26 máquinas de 10,7%, com CV% de 63,5%.
Esse fato já havia sido constatado quando da análise de todas as máquinas. Mostrando que os produtores devem melhorar na regulagem de suas máquinas.
O estande inicial médio obtido foi de 62,3 plântulas/m (CV=62,3%), o que resultou em 77,8% de emergência, com CV% de 20,5%. Destaca-se que 11 máquinas semearam com o solo seco e as sementes ficaram no sulco de uma a duas semanas aguardando chuva e 15 máquinas semearam com solo friável, ou choveu logo em seguida. No entanto, não há nenhuma evidência de melhor emergência entre os dois grupos.
Quem semeou no seco obteve em média 77,7% de emergência e quem semeou com o solo friável obteve 76,8% de emergência. Paralelo à avaliação das semeadoras de fluxo contínuo, observou-se o estande de plantas nas lavoras das regiões visitadas. Constatou-se que, de em 23 lavouras, a média do estande foi de 50,8 plântulas/m com CV% de 32,7%, a qual, foi inferior ao obtido com as semeadoras avaliadas de 62,3 plântulas/m, como já citado.
Validando-se a representatividade do estudo realizado. Considera-se que 76,9% das sementes eram tratadas, o peso médio de 1000 sementes foi de 33,6 g com CV% de 10,2%, mostrando que havia certa diferença na qualidade de sementes utilizada. A porcentagem média de germinação das sementes foi de 94,7% com CV% de 3,1% e o vigor de 90,8% (CV%=4,4%).
Podendo-se considerar boa a qualidade das sementes de trigo e triticale, pois a pior amostra obteve 87% de germinação e 82% de vigor. A porcentagem de cobertura do solo com palha foi determinada antes da passagem da semeadora e após. Havia em média 88,0% de cobertura antes e 74,8% depois. Analisando-se isoladamente a porcentagem de redução de palha de cada máquina, observa-se que na média geral a redução foi de 15,2%. Constatou-se que duas das semeadoras não possuíam componentes para aterramento e compactação do solo sobre as sementes. Tratavam-se de modelos bem antigos e, em uma terceira máquina também antiga, foi incrementado uma corrente e viga de madeira para aterramento.
Observou-se que 84,4% das semeadoras apresentaram sulcos bem aterrados. Destaca-se que as duas semeadoras que não possuíam componentes aterradores/compactadores, apresentaram somente 8,3% e 30% de sulcos bem aterrados e a máquina que adicionou uma viga atrás (Fig. 3), obteve 78,3% de sulcos bem aterrados, mostrando que ajudou na cobertura do sulco. Das 26 semeadoras estudadas 53,8% apresentaram sementes expostas, mas em pequena quantidade, ou seja, a média foi de 0,55% de sementes expostas.
As semeadoras que não possuíam aterradores/compactadores, não apresentaram sementes expostas, e a que tinha uma viga atrás apresentou 1,2% de sementes expostas. Destaca-se que a semeadora que apresentou maior porcentagem de sementes expostas obteve valor de somente 2,3%. A velocidade média de trabalho das 26 máquinas foi de 8,94 km/h com CV% de 17,7%. A média da temperatura do solo foi de 22,70°C e a do ambiente de 24,0°C. A profundidade média das sementes foi de 3,67 cm com CV% de 21,3%. Como essa profundidade foi determinada com 8 repetições, calculou-se em cada caso o CV% dessa profundidade. Assim, o CV% médio das profundidades de sementes foi de 15,7%.
Esse valor é importante, pois mostra como as sementes variaram sua profundidade dentro do sulco de semeadura. Destaca-se que o maior CV% foi de 33,7%. Considerando que a profundidade média dessa máquina foi rasa, de 2,44 cm, e sabe-se que 95% das sementes permaneceram numa profundidade que variou de 1,62 cm a 3,26. Assim, muitas sementes ficaram muito rasas. Mesmo assim, não foi constatado sementes expostas e sulcos mal aterrados. O erro, nesse caso, parece ter sido de regulagem pelo produtor. O mesmo foi feito para a profundidade do sulco, que apresentou média de 5,06 cm (CV% = 10,1%) e CV% médio das profundidades dos sulcos de 15,1%.
Destaca-se que o maior CV% foi de 48,2% (na mesma máquina anteriormente citada). Considerando que a profundidade média do sulco dessa máquina foi rasa, de 4,2 cm, e sabe-se que 95% permaneceram numa profundidade que variou de 2,34 cm a 6,21. Nas variáveis que apresentaram distribuição normal, aplicou-se a análise de correlação de Pearson e nas não paramétricas o método de correlação de Spearman.
Assim, constatou-se que a porcentagem de emergência das plantas correlacionou-se significativamente a 95% de probabilidade, com algumas variáveis que identificam a qualidade de semeadura, como a profundidade de sementes (R=0,44), profundidade do sulco (R=0,46) e a variação (CV%) da profundidade de sementes (R=-0,48). As figuras 4A e 4B mostram a variação dos dados sobre emergências das plântulas de trigo e triticale em função da profundidade de sementes e do sulco.
Observa-se, apesar da dispersão dos dados, quanto maior a profundidade melhor foi a emergência. Na figura 5 apresenta a tendência de quanto maior a variação da profundidade de sementes no solo, menor a emergência das plântulas. Esse fato, vem de encontro ao conceito de que as sementes devem ser posicionadas na profundidade adequada uniformemente.
Na matriz de correlação pelo método de Pearson, também se obteve correlação interessante, que foi a emergência das plantas com os erros de regulagem de sementes das máquinas (% da diferença de sementes desejadas em relação as determinadas). O R= -0,59 mostra uma tendência curiosa, pois os produtores que mais erraram na regulagem de sementes, foram os que menor porcentagem de emergência obtiveram.
Sugere-se como alerta, verificar quais outros erros esses produtores estão provocando para que isso aconteça. Na análise dos dados não paramétricos, ou seja, não normalizados, a matriz de correlação de Spearman indicou além das correlações obtidas por Pearson, também, correlação da porcentagem de emergência com três outras variáveis: número de linhas das semeadoras (R= -0,43); porcentagem de sementes expostas (R= 0,43) e porcentagem de germinação das sementes (R= 0,47).
A figura 6 mostra que a melhor qualidade das sementes proporcionou melhores emergência as plântulas. Foi possível identificar que a medida que houve aumento da velocidade de trabalho, ocorreu tendência de redução da profundidade do sulco (R= -0,49). Fato bem conhecido na literatura e da experiência prática. A figura 7 mostra a dispersão dos dados, que justifica, principalmente pelo fato de que cada produtor regulou sua semeadora de forma personalizada.
Houve correlação positiva entre a profundidade média de sementes e a profundidade média dos sulcos (R= 0,59), o que era esperado. Também se observou correlação negativa entre a porcentagem de palha antes da passagem da semeadora e a porcentagem de redução de palha após sua passagem (R= -0,54), ou seja, quanto mais palha havia no terreno, menor foi a % de redução da mesma. Incentivando os produtores a formação da palhada sobre o solo
3.4 Análise das variáveis que influem na emergência da cevada e aveia e desempenho da máquina.
Das 4 semeadoras que trabalharam com a cultura de cevada, somente aproveitou-se 3 para o estudo de análise da emergência das plântulas. O mesmo ocorreu com a aveia. Ambas por não ser possível contar o estande.
Dessa forma, a análise estatística foi prejudicada, não impedindo de apresentar os dados médios obtidos. As semeadoras que trabalharam com cevada tinham 22,8 linhas em média e as que trabalharam com aveia 17. O espaçamento médio das que trabalharam com cevada era 16,4 cm e com aveia 17,5 cm. A dosagem de sementes média nas de cevada eram de 154 kg/ha e na aveia 89,9 kg/ha. O número de sementes por metro médio desejado pelos produtores na cevada foi de 58,3 (CV%=16,4%) e na aveia foi de 77,2 (CV%=32,1%).
Por sua vez, o número de sementes por metro médio determinado na cevada foi de 58,4 (CV%=6,3%) e na aveia foi de 74,1 (CV%=36,7%). Desta forma, o erro de regulagem de sementes na cevada foi de 9,4% e na aveia de 6,1%. O estande de plantas e a porcentagem de emergência nas duas culturas foram determinadas em três máquinas cada. Assim, o estande médio da cevada foi de 41,4 plântulas por metro e na aveia 62,2 plântulas por metro. A porcentagem de emergência na cevada foi de 69,8% (CV%=9,6%) e na aveia 79,6% (CV%=22,2%).
A dosagem de fertilizante média desejada nas de cevada eram de 270 kg/ha (CV%=58,1%) e na aveia somente uma máquina usou adubo com 320 kg/ha. A dosagem de fertilizante médio determinada na cevada foi de 234 kg/ha (CV%=65,1%) e na aveia foi de 385,8 kg/ha. Desta forma, o erro de regulagem de fertilizante na cevada foi de 19,7% e na aveia de 20,6%.
Observa-se que permanece o erro na regulagem das semeadoras adubadoras de fluxo contínuo, sugerindo-se melhorar para se obter melhor performance. A porcentagem de cobertura do solo com palha antes da passagem da semeadora na cevada foi de 85,3% e na aveia 89,9%. Havia em média 72,1% de cobertura depois da passagem da máquina na cevada e 66,7% na aveia. Analisando-se isoladamente a porcentagem de redução de palha de cada máquina, observa-se que na média geral a redução foi de 16,3% na cevada e 27,1% na aveia.
Na cevada 92,1% dos sulcos apresentaram bom aterramento e na aveia foi de 91,3%. Na cevada observou-se 1,23% de sementes expostas e na aveia 0,14%. As semeadoras trabalharam em média de 8,4 km/h (CV%=10,6%) na cevada e na aveia foi mais rápido, com 10,1 km/h (CV%=4,7%). A temperatura média do solo foi de 17, 10 0C na cevada e 21, 40 0C na aveia.
A profundidade média das sementes na cevada foi de 3,58 cm (CV=17,4%) e na aveia 3,64 cm (CV%=36,6%). Quando é analisado isoladamente cada máquina, o Coeficiente de Variação da profundidade de sementes na cevada é de 17,5% e na aveia 13,5%. No caso da profundidade média do sulco na cevada foi de 5,2 cm (CV%=5%) e na aveia 5,7 cm (CV%=48,7%). As máquinas que semearam cevada e aveia trabalharam em solo com consistência friável, todas sementes de cevada receberam tratamento e somente uma de aveia recebeu.
O peso de 1000 sementes na cevada foi de 43,2 g (CV%=9,0%) e na aveia 23 g (CV%=33%). A porcentagem de germinação e vigor na cevada foi de 89,3% e 82,8% respectivamente e na aveia 80,5% e 65% respectivamente. De uma forma geral, podese concluir que na semeadura de cevada há um cuidado maior dos produtores na implantação da cultura, principalmente pelo fato de ser cultura de renda e a aveia mais usada como cobertura ou pastagem. Isso é constatado pelo menor uso de fertilizante na aveia, sementes sem tratamento e menor % de germinação e vigor.
Trabalho mais rápido com a semeadora as vezes prejudicando alguns fatores que interferem na implantação da cultura. Mas, mesmo assim, houve quase o mesmo cuidado de quem semeou as duas culturas na regularidade da profundidade de sementes e do sulco, assim como, o mesmo esmero da cobertura do sulco e redução das sementes expostas.
3.5 Análise das variáveis para formação de grupos de semeadoras homogêneas.
Conseguiu-se separar o conjunto de dados em 4 grupos de produtores tendo estes 64% de similaridade entre si. As variáveis que podem explicar a maior parte da variabilidade intrínseca do conjunto de dados para a separação dos grupos são o preparo do solo dado em anos, isto é, a cada quantos anos o grupo de produtores prepara o solo, a aplicação de fertilizante, o erro da regulagem de fertilizante da máquina, e a presença de sementes expostas.
A partir da identificação destas variáveis, é possível relaciona-las a cada grupo e, avaliar, de forma quantitativa através de analise descritiva, o efeito das demais variáveis dentro de cada grupo. Seria importante, para melhor diferencia-las, usar quantidade maior de amostras (semeadoras), visando abranger melhor a variabilidade do fenômeno estudado e, talvez, sugerir melhores metodologias de medição destas variáveis, pois as demais variáveis ficaram agrupadas, não auxiliando na separação de novos grupos.
Destaca-se que a intensão é continuar nos próximos anos o trabalho, ampliar essas amostras e analisalas em conjunto. No primeiro grupo, são os que não efetuam o preparo periódico do solo, é também o grupo com a segundo maior tempo de uso do sistema plantio direto (SPD), com média de 23,4 anos (Tabela 2). É o que aplica mais fertilizante e obteve o melhor resultado de % aterramento do sulco (91,3%).
As sementes são as mais pesadas com peso de 1000 sementes médio de 37,2 g, mas a qualidade das sementes não é das melhores, com 87,9% de vigor e 93% de germinação (soma das % plantas normais com as % anormais). Apresenta considerável erro na regulagem de sementes (11,6%). Sua porcentagem de emergência é das melhores, apesar do estande de plantas ser o menor. Analisando os dados com a matriz de correlação de Spearman não houve muitas variáveis que auxiliaram a explicar a emergência das plantas.
Correlacionou-se com o estande de plantas (R= 0,75) que são variáveis associadas e correlacionou-se com a temperatura do solo (R= 0,74) que pode ter sido coincidência.
O estande de plantas correlacionou-se com a porcentagem de germinação das sementes (R= 0,68), mostrando que a qualidade das sementes pode ter afetado o estande de plantas (Figura 8A). Como variável de desempenho da semeadura observou-se que quanto mais variou a profundidade do sulco através de seu CV%, houve maior ocorrência de sementes expostas com R = 0,84 (Figura 8B).
O segundo grupo, caracteriza-se também por não efetuar o preparo periódico do solo, mas com um tempo intermediário com o SPD, ou seja, estão com 18,4 anos em média.
Nesse grupo não há ocorrência de sementes expostas durante a semeadura. Segundo os dados da tabela 2, assemelha-se bastante com o grupo 1 nas demais variáveis (Tabela 2). Com a análise na matriz correlação de Spearman, observouse que a emergência das plantas correlacionou com a porcentagem de germinação das sementes (R= 0,88), mostrando que a qualidade das sementes pode ter afetado diretamente sua emergência (Figura 9).
Não havendo outra contribuição que auxilie a explicar que uma melhor qualidade de semeadura contribua na boa implantação das culturas. O terceiro grupo, foi o grupo que mobiliza o solo periodicamente, com argumento de corrigir a compactação.
Observa-se na tabela 2 que realizam esse preparo em média a cada 4,2 anos. São os mais recentes em média no SPD com 14,7 anos de experiência. Dos que aplicam fertilizante são os que menos usam, e são os que mais erram na regulagem de dosagem de sementes e fertilizante com 14,2% e 19,9% de erros respectivamente em cada insumo (Tabela 2).
Mesmo assim, usam boas sementes não trabalham a velocidade elevada, além de outros parâmetros considerados regulares. Com a análise na matriz de correlação de Spearman, observou-se que quanto mais erram na regulagem de sementes, menor foi a porcentagem de emergência das plântulas (R= -0,89), observado na figura 10B.
É lógico que uma coisa não leva necessariamente a outra, mas pode ser um indicador de que, se não está atento na regulagem das sementes, pode também não estar atento a outras coisas também. A correlação da porcentagem de emergência com a profundidade de sementes (R= 0,89) também fortalece essa discussão, pois quando as sementes ficam na profundidade mais adequada, a emergência melhora (Figura 10A). Destaca-se que o grupo 3 foi o que teve a menor profundidade do sulco e a segunda menor profundidade de sementes.
Houve correlação positiva entre a profundidade de sementes e profundidade do sulco (R= 0,83). Houve também correlação entre a variação da profundidade de sementes com a porcentagem de sulcos bem aterrados (R= 0,94). Considerando-se que o que se deseja é que haja pouca variação na profundidade de sementes e que os sulcos estejam completamente aterrados. Também foi constatado que quanto maior foi a redução da cobertura de palha, maior foi a ocorrência de sementes expostas (R= 0,94). O quarto grupo, foi o que não utiliza fertilizante.
É o grupo mais antigo no SPD com média de 25,6 anos de experiência. Usam muito plantas de cobertura e rotação de culturas. Quem sabe seja por isso que não usam fertilizante nas culturas de inverno. Dos 10 produtores desse grupo, 3 estavam semeando aveia sem adubo. São dos que menos erram na regulagem de sementes, mas trabalham com velocidades maiores (10,2 km/h), as sementes são as que ficam mais rasas entre as demais (3,3 cm) e a cobertura de palha após a semeadura é a menor de todos.
Quem sabe pela alta velocidade que trabalham. Não tem muito sementes expostas, mas a qualidade das sementes é inferior aos demais grupos (Tabela 2). Observou-se que quanto maior variação da profundidade do sulco (CV) maior foi a emergência das plantas (R= 0,78). O que não é lógico, o inverso seria racional, desconsiderando-se esta observação.
Mas o estande de plantas correlacionou-se com a profundidade média de sementes (R= 0,76), observado na figura 11A. Verificou-se também (Figura 11B) que com o aumento da velocidade de trabalho, menor ficou a profundidade de sementes (R= -0,71). Assim, acredita-se que a maior velocidade prejudicou a profundidade de sementes e essa pode ter afetado a melhor implantação das culturas.
O peso de 1000 sementes foi diretamente proporcional a qualidade de sementes, tanto a % de germinação como do vigor, com R= 0,78 e R=0,71 respectivamente. Destaca-se que era o grupo com as piores sementes. Isso poderia ter afetado a qualidade de semeadura, mas não foi encontrado nesse grupo correlação com a emergência e estande de plantas.
Referências
CASÃO JUNIOR, R.; SIQUEIRA, R. Máquinas para manejo de vegetações e semeadura em plantio direto. In: CASÃO JUNIOR, R.; SIQUEIRA, R.; MEHTA, Y. R. Sistema plantio direto com qualidade. Londrina: IAPAR/ITAIPU, 2006. p 85-126.
CASÃO JUNIOR, R.; ARAÚJO, A. G.; FUENTES LLANILLO, R. Sistema plantio direto no Sul do Brasil: fatores que promoveram a evolução do sistema e desenvolvimento de máquinas agrícolas. Londrina: IAPAR, 2008. 100 p. (Relatório final projeto convênio IAPAR/FAO/FAPEAGRO).
CASÃO JUNIOR, R.; ARAÚJO, A. G.; FUENTES LLANILLO, R. Plantio direto no Sul do Brasil: fatores que facilitaram a evolução do sistema e desenvolvimento da mecanização conservacionista. Londrina: FAO/IAPAR, 2012. 77 p. (ISBN 978-85- 88184-40-4).
CASÃO JUNIOR, R. Semeadoras adubadoras para o sistema plantio direto. Londrina: Publicação avulsa, 2016. 194 p. (apostila), http://blog.agropro.com.br/semeadoras-para-plantio-direto-2/
CASÃO JUNIOR, R.; JOHANN, A. L.; DELALIBERA, H. C.; SILVA, A. L.; LADEIRA, A. S. Estado da arte da semeadura e semeadoras de plantio direto no inverno no sul do Brasil. Londrina: IAPAR/AGRISUS, 2018. 67 p. (Relatório final projeto Agrisus PA 2303/17) MIALHE, L. G. Máquinas agrícolas para o plantio. Campinas: Millennium, 623 p. 2012.