Estabilidade produtiva das cultivares com tipo de crescimento indeterminado


Autores: Kelin Pribs Bexaira; Alencar Junior Zanon; Nereu Augusto Streck; Thiago Schmitz Marques da Rocha; Gean Leonardo Richter; Michel Rocha da Silva; Jossana Ceolin Cera; Patric Scolari Weber; Eduardo Lago Tagliapietra; Darlan Scapini Balest; Eduardo Daniel Friedrich; Bruno de Lima Fruet; Giovani Antonello Barcellos ; Vladison Fogliato Pereira
Publicado em: 31/10/2018

1 Introdução

Atualmente no Brasil são semeadas cultivares com tipo de crescimento determinado, semideterminado e indeterminado. A Região Central e Norte do Brasil utilizam cultivares com tipo de crescimento determinado, mas cada vez é mais crescente o uso de cultivares com tipo de crescimento indeterminado, principalmente quando as cultivares tem o grupo de maturidade relativa (GMR) menor do que 8.

Na Região Sul do Brasil, partir dos anos 2000, aumentou significativamente o uso de cultivares com tipo de crescimento indeterminado. Isso ocorre devido à maior plasticidade dessas cultivares adaptarem-se em diversas condições de ambiente, permitindo que o agricultor antecipe ou atrase a semeadura da soja, e a maior capacidade de tolerar períodos curtos de estresse hídrico.

Essas características, das cultivares com tipo de crescimento indeterminado, possibilitou uma maior estabilidade produtiva (Zanon et al., 2015a,b; Zanon et al., 2016a,b). Bernard (1972) definiu tipo de crescimento em soja como o momento que cessa o crescimento da haste principal após o início do florescimento (R1), e esse processo é influenciado pelo genótipo, temperatura, fotoperíodo e manejo geral da lavoura.

As cultivares classificadas com tipo de crescimento determinado são caracterizadas pelo nulo ou pequeno crescimento em estatura após o florescimento (R1).

As cultivares com tipo indeterminado continuam emitindo nós e alongando a haste principal até próximo ao enchimento de grãos (R5). As cultivares com tipo de crescimento semi-determinado possuem características intermediárias aos outros dois tipos de crescimento.

No entanto, para cultivares de soja semeadas antes ou após o período recomendado, a duração do período de sobreposição da fase vegetativa e reprodutiva (período entre R1 até a emissão do último nó na haste principal), muda de acordo com as condições meteorológicas na estação de cultivo, o que pode alterar as características dos tipos de crescimento descritos acima (Zanon et al., 2016b).

Portanto, a Equipe Simularroz realizou este trabalho com o objetivo de analisar o crescimento em estatura e a emissão de nós após o início do florescimento em cultivares de tipo de crescimento determinado e indeterminado, semeadas em diferentes épocas.

2 Resultados e Discussão

A estatura de plantas ideal encontrada por Weber (2017) é de 105 cm, para atingir produtividades de 6,0 t/ha. Este mesmo autor diz que, as cultivares com tipo de crescimento determinado crescem em estatura, em média, 76 cm até R1 e as cultivares com tipo de crescimento indeterminado atingem 46 cm em R1. Sendo assim, para atingir a estatura ideal visando altas produtividades, as cultivares com tipo de crescimento determinado após R1 precisam aumentar a estatura em torno de 27%, já as de tipo indeterminado precisam aumentar a estatura em mais de 50%.

De acordo com a Tabela 1, o crescimento em estatura das cultivares de tipo determinado e indeterminado, muda em função da época de semeadura.

Ainda na tabela 1, em ambos os tipos de crescimento há grande variação no crescimento em estatura após R1, sendo essa variação de 4% a 40% nas cultivares com tipo determinado e de 57% a 481% nas cultivares com tipo indeterminado, esse comportamento no crescimento e desenvolvimento dos diferentes tipos de crescimento está associada a amplitude da faixa de GMR (4.7 até 8.2) e datas de semeadura (setembro a fevereiro) que podem ser utilizados nas lavouras de soja no Brasil.

No Brasil, variedades comerciais normalmente apresentam estatura média de 60 a 120 cm (Sediyama, 2016). Então podemos esperar que as cultivares indeterminadas sempre atingem a altura para altas produtividades, pois o crescimento sempre é maior em todas as épocas, e as cultivares determinadas tem crescimento menor que os 27% em algumas épocas.

O crescimento em estatura está relacionado, com a emissão de nós na haste principal. O número de nós (NN) é usado para caracterizar a fase vegetativa, definida como o período entre a emergência e a emissão do último nó na haste principal. Em cultivares com tipo de crescimento indeterminado, independente da época de semeadura (Figura 1) há emissão de nós até o estágio R5 (enchimento de grãos).

Estes resultados estão de acordo com os estudos de Bastidas et al. (2008) com 13 cultivares em Nebraska, EUA; e Zanon et al.

(2015b; 2016b) com sete cultivares no Sul do Brasil, que também verificaram que a emissão do último nó ocorre por volta do início do enchimento dos grãos (R5).

Nas cultivares com tipo indeterminado, o aumento do NN entre R1 a R5 varia de 79 a 163%; 43 a 170% e 23 a 52%, nas semeaduras antes, durante e após o período recomendado para o Sul do Brasil, respectivamente. Nas cultivares com tipo de crescimento determinado, a ocorrência do número final de nós (NFN) fica mais próxima do estágio de início do florescimento (R1), nas semeaduras do cedo (22/09/2012 e 03/11/2012) e do estágio do início da formação de vagens (R3) nas semeaduras do tarde (02/12/2012 e 06/02/2013) (Figura 2).

Nesse caso, o aumento do NN entre R1 NFN nas semeaduras antes, durante e após o período recomendado, variou de 8 a 26%; 19 a 31% e 17 a 21%, respectivamente. A maior emissão de nós após R1, nas cultivares com tipo de crescimento indeterminado, possibilita maior período vegetativo e maior duração do florescimento (Figura 3), visto que, a estatura de planta em R1 é inferior as cultivares determinadas e continuam seu processo de crescimento vegetativo e desenvolvimento até R5.

O período de floração apresenta variação entre os tipos de crescimento, sendo 40% superior nas cultivares de tipo de crescimento indeterminado (Figura 3) (Marques da Rocha, 2016). O maior período reprodutivo nas cultivares de tipo de crescimento indeterminado, infere em provável aumento do potencial produtivo dessas cultivares (Setiyono et al., 2010), pois esse aumento do período reprodutivo se dá pelo maior período de floração. A maior emissão de flores aumenta o número potencial de legumes e do potencial produtivo dessas cultivares.

Sendo, uma das principais características que garantem aos cultivares de tipo indeterminado a maior capacidade de adaptação às condições adversas de cultivo, como antecipação ou atraso na data de semeadura, curtos períodos de estresse hídrico e proporcionam a estabilidade produtiva.

3 Conclusão

Contudo, visto o comportamento do crescimento e desenvolvimento das cultivares com diferentes tipos de crescimento, podemos observar a importância da cultivar com tipo de crescimento indeterminado, principalmente em ambientes de menor aptidão e em época de semeadura precoces e/ou tardias.

Para semeaduras mais no cedo (setembro) e no tarde (fevereiro), além do tipo de crescimento indeterminado, deve-se optar para cultivares com juvenilidade, pois possibilitam que as plantas cresçam em estatura. Já para semeaduras em outubro, novembro e dezembro deve-se escolher as cultivares com tipo de crescimento indeterminado e com GMR entre 4.8 a 6.8, dependendo do nível tecnológico do produtor rural, pois quanto maior o nível tecnológico de menor GMR pode ser a cultivar.

Ademais, deve-se tomar cuidado, com a alta densidade de plantas sob irrigação e alta fertilidade do solo, consequentemente estatura maiores aumentam a suscetibilidade ao acamamento. Já as cultivares com tipo de crescimento determinado não possuem essas características e possibilitam o cultivo em ambientes de baixo risco de déficit hídrico, sendo utilizadas por produtores de alto nível tecnológico.

Referências

BASTIDAS, A. M. et al. Soybean sowing date: the vegetative, reproductive, and agronomic impacts. Crop Science, v.48, p.727-740, 2008.

BERNARD, R. L. Two genes affecting stem termination in soybeans. Crop Science, v.12, p.235–239, 1972.

MARQUES DA ROCHA, T. S. Desempenho da soja cultivada em solo hidromórfico e não hidromórfico com e sem irrigação suplementar. 78p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2016.

SEDIYAMA, T. Produtividade da Soja. Viçosa: Editora UFV, 2016, 310 p

SETIYONO, T. D. et al. Understanding and modeling the effect of temperature and daylenght on soybean phenology under high-yield conditions. Field Crops Research, v.100, p.257-271, 2007.

SETIYONO, T.D. et al. Simulation of soybean growth and yield in near-optimal growth conditions. Field Crops Research, v.119, p.161-174, 2010.

SETIYONO, T. D., et al. Nodal leaf area distribution in soybean plants grown in high yield environments. Agronomy Journal, v.103, p.1198-1205, 2011.

ZANON, A. J. et al. Contribuição das ramificações e a evolução do índice de área foliar em cultivares modernas de soja. Bragantia, v.74, p.279-290, 2015a.

ZANON, A. J. et al. Desenvolvimento de cultivares de soja em função do grupo de maturação e tipo de crescimento em terras altas e terras baixas. Bragantia, v.74, p.400-411, 2015b.

ZANON, A. J.; STRECK, N. A.; GRASSINI, P. Climate and management factors influence soybean yield potential in a subtropical environment. Agronomy Journal, v.108, p.1447-1454, 2016a.

ZANON, A. J. et al. Efeito do tipo de crescimento no desenvolvimento de cultivares modernas de soja após o início do florescimento no Rio Grande do Sul. Bragantia, v.75, p.445-458, 2016b.