As primeira lavouras comerciais sob semeadura direta ocorreram em 1966 nos EUA, e no início da década de 70, produtores brasileiros obtiveram as primeiras informações sobre o sistema e fizeram as adaptações necessárias para as condições climáticas tropicais. Assim, o estado pioneiro na adoção desta técnica foi o Paraná, tornando-se referência de desenvolvimento e difusão da tecnologia no país. O termo “Plantio Direto” tem origem no conceito “No till”, que em inglês significa realizar o cultivo diretamente na terra, sem a necessidade de revolver o solo.
Ou seja, neste sistema deve-se realizar a semeadura sobre os resíduos de cobertura vegetal (palha), e com isso, se tem a mínima interferência de máquinas sobre o solo. Diante da premissa do SPD, devemos conhecer quais são os três princípios fundamentais para adoção do sistema, fique atento:
1. Não revolvimento do solo;
2. Cobertura vegetal permanente no solo;
3. Rotação de culturas.
Os principais benefícios observados com a adoção do SPD, principalmente por manter cobertura vegetal no solo são:
• Controle de erosão;
• Aporte de matéria orgânica - a qual ajuda ao longo dos anos aumentar a CTC Potencial do solo, com isso reduz o processo de lixiviação de nutrientes;
• Melhor agregação e estruturação do solo;
• Redução de perdas de solo e nutrientes;
• Melhor aproveitamento de umidade do solo – a cobertura vegetal representa uma barreira física, com isso perde-se menos umidade, aumenta a infiltração da mesma no solo e confere maior resiliência às plantas frente a um período de veranico;
• Ciclagem de nutrientes;
• Redução do uso de máquinas na área, gerando redução de custos.
Após conhecer os principais benefícios da adoção do sistema de semeadura direta, o próximo passo é conhecer os aspectos para implantação do mesmo. É importante lembrar que, independentemente do sistema de cultivo adotado na lavoura, alguns cuidados devem ser tomados.
No caso do SSD estes cuidados devem ser redobrados, uma vez que após implantação não é desejável revolver o solo para não perder os benefícios adquiridos. Fique atento aos aspectos básicos para implantação do sistema:
• Levantamento do histórico da área – reunir todos os tipos de informações dos cultivos anteriores (culturas implantadas, adubações realizadas, bem como as quantidades e tipos dos corretivos e fertilizantes utilizados, incidência de pragas, doenças e plantas daninhas e produtos com efeito residual);
• Conhecimento sobre o clima da região, principalmente sobre fotoperíodo, dados históricos de precipitações pluviométricas, bem como de temperatura diurna e noturna e ocorrência de geadas;
• Avaliação das condições do terreno – presença de sulcos de erosão, valetas, imperfeiçoes, neste caso deve-se nivelar o terreno. Em solos com maiores declividades, deverá ser avaliado a possibilidade de se fazer terraceamento, o qual irá reduzir efeitos da chuva no processo erosivo.
• Em áreas de abertura deve-se avaliar presença de compactação, principalmente os chamados pés de grade ou de arado. Para isso, recomenda-se o monitoramento da área;
• Escolha da espécie de planta de cobertura a ser utilizada para iniciar o sistema. Como o SSD visa aumentar o teor de matéria orgânica no solo, a fim de melhor as condições físicas, químicas e biológicas do mesmo, deve-se utilizar plantas com alta produção de matéria seca por unidade de área, principalmente gramíneas;
• Características desejáveis das plantas de cobertura: Rápido desenvolvimento inicial, a fim de cobrir mais rapidamente o solo e protege-lo; alta capacidade de desenvolvimento radicular, para promover descompactação biológica do solo; ter boa sanidade, não sendo hospedeira de pragas; possuir efeito alelopático sobre plantas daninhas; facilidade de produção de sementes; permitir fácil implantação da cultura posterior, sem precisar adquirir novos implementos; agregar algum valor econômico ao produtor.
• Exemplo de rotação de culturas: Soja verão -> Trigo inverno ->Milho verão -> Feijão outono -> Aveia inverno. Isso após a implantação com uma gramínea com alta produção de massa verde.
• Para solos que apresentam lençol freático elevado, deverá ser feito a drenagem de umidade, evitando o excesso da mesma em épocas de alta pluviosidade, isso deve ser feito porque a palhada que vai permanecer no solo tem a capacidade de reter umidade, portanto, solos com lençol freático elevado podem acumular excesso de água em épocas chuvosas;
• Antes da implantação, deve-se fazer análise de solo e corrigir os níveis de acidez do mesmo. Para isso, deve ser utilizado doses adequadas de calcário, com teores suficientes de cálcio e magnésio (de acordo com a análise de solo), este deverá ser aplicado o mais profundo possível, através da incorporação com implementos pesados. Vale lembrar que após adoção do sistema, não há incorporação de calcário, portanto, esta etapa deve ser feita com bastante atenção e critério.
• Após a aplicação de calcário na área, deverá ser avaliado a necessidade de aplicação de gesso agrícola. Este irá contribuir principalmente, para aumentar o teor de cálcio em profundidade e trará benefícios para o crescimento do sistema radicular das plantas, e assim, maior resiliência às mesmas em condições adversas de verânicos.
• A correção dos teores de fósforo e potássio antes da implantação do SPD também representa um passo muito importante, isso garante maior produtividade das culturas, bem como elevar os níveis destes nutrientes a teores adequados no solo, para que posteriormente, o produtor faça apenas adubação de manutenção, visando a exportação dos mesmos pelas plantas.
A Figura 1 mostra os passos relacionados à fertilidade do solo, que devem ser adotados a fim de se estabelecer o sistema de semeadura direta. É possível notar que, após as práticas serem realizadas de forma criteriosa, o produtor conseguirá alcançar boas produtividades, bem como, um solo de fertilidade construída, ou seja, solo que apresenta teores de médio a alto em relação aos principais nutrientes, o que é fundamental na agricultura, permitindo que em anos em que o dólar está muito alto, o produtor possa optar pela não adubação.
Referências
CRUZ, J. C.; ALVARENGA, R. C.; VIANA, J. H. M.; PEREIRA FILHO, I. A.; ALBUQUERQUE FILHO, M. R. de; SANTANA, D. P. Sistema de Plantio Direto de milho. AGEITEC – Agência Embrapa de Informação Tecnológica. Disponível em:
MOTTER, P.; ALMEIDA, H. G de. Plantio Direto: A tecnologia que revolucionou a agricultura brasileira. Parque Itaipu: Foz do Iguaçu, 2015. Disponível em:
LIVRO_PLANTIO_DIRETO_WEB.pdf>RESENDE, A. V. de; FONTOURA, S. M. V.; BORGHI, E.; SANTOS, F. C. dos; KAPPES, C; MOREIRA, S. G.; OLIVEIRA JUNIOR, A. de; BORIN, A. L. D. C. Solos de fertilidade construída: características, funcionamento e manejo. Informações Agronômicas, Piracicaba, n. 156, p. 1-19, dez. 2016.