Perguntas & Respostas: Manejo e controle de plantas daninhas


Autores:

Leandro Albrecht, Alfredo Albrecht, Leandro Vargas , Anderson Luis Nunes, Mário Bianchi

Publicado em: 31/08/2021

A Revista Plantio Direto recebe perguntas dos leitores com as mais diversas dúvidas técnicas e busca, na medida do possível, responder aos questionamentos de produtores rurais e assistentes técnicos com a colaboração de especialistas. Nesta edição selecionamos dúvidas relacionadas ao manejo e o controle de plantas daninhas, em especial sobre o uso de pré-emergentes e dessecação pré-semeadura, contando com a importante colaboração na formação desse conteúdo dos pesquisadores Dr. Alfredo Albrecht, Dr. Leandro Albrecht, Dr. Mário Bianchi, Dr. Leandro Vargas e Dr. Anderson Luis Nunes.

1. Quais combinações de herbicidas devo usar na hora de dessecar pré-plantio da soja? E pré-plantio de milho?

As combinações vão depender das plantas daninhas presentes na área. Normalmente, quando se trata de planta daninha de folha larga é utilizado uma mistura de glyphosate mais auxinicos, por exemplo, 2,4-D com sequencial de produto de contato, por exemplo, saflufenacil, diquat ou glufosinato.

Já quando se trata de uma planta daninha de folha estreita, é utilizado uma mistura de glyphosate mais um graminicida, por exemplo, clethodim ou haloxyfop, com sequencial de produto de contato, por exemplo, diquat ou glufosinato. É importante evitar o uso repetido dos mesmos herbicidas e contar com uma assessoria técnica de qualidade.

Pergunta respondida pelo Dr. Anderson Luis Nunes – Professor pesquisador do Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus Sertão.

2. Quanto é possível reduzir o tempo entre a dessecação e o plantio da cultura? Qual seria o tempo mínimo e máximo após a dessecação para realizar o plantio? Onde entra a aplicação sequencial nessa questão?

No caso da dessecação não é possível aplicar e imediatamente realizar o plantio, pois é necessário aguardar um determinado período para verificar se de fato houve controle. Por exemplo, se o agricultor faz a aplicação hoje com um produto de contato de ação rápida, é possível plantar três ou quatro dias depois, o importante é que as plantas daninhas estejam mortas.

O agricultor só deve plantar depois que constatar essa situação na lavoura. No caso do azevém com a aplicação de ACCase por exemplo, pode levar de 20 a 25 dias para que ocorra a morte da planta daninha. Faz-se a aplicação, deixa o produto agir, após constatar a morte das plantas, é possível fazer o plantio. Então, reforçando, não é possível aplicar hoje e plantar amanhã.

No caso da aplicação sequencial de produtos a ideia é tentar abreviar essa situação. Por exemplo, em uma área com azevém, faz-se a dessecação com glifosato + ACCase, 10-15 dias depois se o meristema (ponto de crescimento da planta) puder facilmente ser arrancado, significa que a planta foi controlada, mas ainda não morreu.

Ela vai ficar verde durante 25-30 dias. Nesses casos 10-15 dias depois do ACCase normalmente se aplicava o paraquat, fazendo com que a planta ficasse seca mais rápido, e em torno de 20 dias, é possível fazer o plantio.

De forma geral a aplicação sequencial não deve ser considerada obrigatória, pois a sua função é, normalmente, consertar erros da dessecação principal. O agricultor não deve planejar fazer a sequencial antes de verificar a necessidade real. É importante considerar que se trata de uma operação a mais, que tem custos do produto, da operação em si, de mão de obra, etc. Caso ocorra qualquer problema de clima ou erro na aplicação principal, aí sim justifica o uso do sequencial.

No entanto o sequencial também pode ser necessário quando a área apresenta espécies de difícil controle como a Poaia e Trapoeraba, pois os herbicidas disponíveis não controlam eficientemente essas plantas. Então o agricultor pode fazer uma aplicação de glifosato + 2,4-D + metsulfuron por exemplo, complementando com um produto de contato para finalizar o controle.

O sequencial se faz somente onde precisar. Quanto aos tipos de produtos a serem usados: Espécies de difícil controle deve-se trabalhar com produtos sistêmicos, de forma mais objetiva - produtos que entram na planta - porque produtos de contato só vão “queimar”, mas não vão controlar.

Na verdade, existem muitas situações e o controle vai depender do tipo de planta presente na lavoura, quais as espécies, se gramíneas, se folhas largas ou as duas. Após uma análise é possível decidir qual produto usar. Mas se o agricultor já souber que as espécies são de difícil controle, faz-se uma primeira dessecação com herbicidas sistêmicos e depois se usa um de contato, pois o sistêmico se distribui na planta e o de contato conclui o trabalho.

O mínimo, como já dito, é aquele período em que o agricultor consegue constatar que de fato as plantas daninhas que estão na área foram controladas. Não se deve plantar soja sem ter certeza que as plantas daninhas foram controladas. É fundamental plantar no limpo. Faz-se a dessecação, se houver falhas se realiza o sequencial para garantir o plantio da soja na área sem a presença de plantas daninhas.

Não existe intervalo máximo, a questão é que vai ocorrer a reinfestação. Se tomarmos como exemplo o azevém, o agricultor vai dessecar e uma semana depois já tem outro fluxo de crescimento. Em situações assim o agricultor vai dessecar, esperar as plantas morrerem (10-15 dias) e, se for necessário, fará a aplicação sequencial com um produto de contato.

Ele pode fazer essa aplicação no dia anterior ao plantio e talvez seja necessária outra aplicação para “zerar a área”. Alguns agricultores fazem o plantio e imediatamente após aplicam um produto de contato, que não tem residual, para fazer a limpeza total. Então, o intervalo mínimo é o tempo necessário para que se constate o controle das plantas daninhas a partir da dessecação principal e o máximo, é o período necessário a manter a área limpa, sem infestação.

Perguntas respondidas pelo Dr. Leandro Vargas – Pesquisador Embrapa Trigo – Passo Fundo/RS.

3. Sobre a aplicação de herbicidas na dessecação pré-plantio, qual tipo de pontas, tamanho de gotas e volume de calda sugerido?

Esse é um tema bastante amplo com vários desdobramentos e polêmico em algumas regiões. Mas de forma objetiva, normalmente recomendamos pontas de jato plano para aplicações visando à dessecação pré-plantio. Já com relação ao tamanho de gotas e volume de calda, é muito variável. Alguns herbicidas que apresentam efeito de contato ou de curta translocação necessitam de maior cobertura da superfície foliar, ou seja, mais gotas.

Já produtos altamente sistêmicos, necessitam de menor cobertura foliar, podendo ser utilizados com menor volume de calda por área. Mas chamamos a atenção para o fato de que quando temos gotas muito finas haverá maior risco de deriva (produto que não atinge o alvo).

Também é importante lembrar que a tecnologia de aplicação deve levar em conta as questões ambientais, tais como velocidade do vento, temperatura e umidade relativa. Pois não adianta usar a ponta certa, com bom volume e ótimo espectro de gotas, se as condições ambientais forem desfavoráveis. Muitas vezes as plantas daninhas estão estressadas e fora do ponto de controle e, com isso, o herbicida não funciona mesmo, pois cabe sempre destacar que para “o herbicida funcionar bem, a planta deve estar funcionando bem” e quanto menor o estádio da planta daninha melhor será o controle.

É importante levar em conta os pontos acima, pois muitas vezes é confundida na lavoura a aplicação inadequada com problemas de resistência de plantas daninhas a herbicidas. Outro problema é que as aplicações mal realizadas aceleram o processo de pressão de seleção de novos biótipos de plantas daninhas resistentes.

4. Em áreas com grande quantidade de palha, qual a sugestão para aplicação de pré-emergentes, no que se refere à tecnologia de aplicação e doses de produto?

Primeiramente evidenciamos a importância da palha no manejo integrado de plantas daninhas, no entanto, a camada de palha pode afetar a eficiência de alguns herbicidas pré-emergentes, que devido a suas características não conseguem atravessar com facilidade a palha. Nestas situações deve-se buscar herbicidas que tenham maior capacidade de penetração na camada de palha.

Existem ótimos produtos no mercado, além do fato de termos atualmente disponíveis herbicidas pré-emergentes micro encapsulados, que na situação descrita são muito benéficos. É importante lembrar também, que o alvo do herbicida pré-emergente é o solo, enquanto o alvo do pós-emergente é a planta. Desta forma, se o produto não chegar de maneira adequada ao solo ele não poderá atuar como esperado, ou seja, cumprir sua função de inibir o desenvolvimento das plantas daninhas que estão no espectro de controle do produto utilizado.

Porém, mesmo que em alguns cenários possa parecer complexo posicionar herbicidas pré-emergentes, temos que enfatizar que seu uso é extremamente importante, para manejar a resistência das plantas daninhas, diminuir o banco de sementes e aumentar o PAI (período anterior à interferência das culturas).

Perguntas respondidas pelos pesquisadores Dr. Alfredo Albrecht e Dr. Leandro Albrecht – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Campus Palotina.

5. O que é recomendado em relação a aplicação de herbicidas pré-emergentes: aplicar antes ou depois de plantar?

No caso a aplicação de herbicidas pré-emergentes o melhor é que ocorra uma cobertura total do solo. Então, para aquelas situações de semeadura em que se tem uma mobilização maior na linha de semeadura, o melhor para o controle de plantas daninhas é a aplicação após a semeadura, para que ocorra essa proteção na linha em que o solo é mobilizado durante a operação.

Para a semeadura em que o plantio fica praticamente invisível, onde não se percebe a linha da semeadora, aí é indiferente, pode ser antes ou depois porque, vai ter uma cobertura total da área aplicada. Ou seja, o uso de herbicida pré-emergente precisa ter a visualização por parte do aplicador de cobertura total do solo na área que está sendo aplicado o herbicida, porque é dessa cobertura perfeita que se começa a ter um bom controle.

O herbicida pré-emergente precisa, além da cobertura, de boas condições de umidade do solo e, principalmente quando tem palha, de chuva após a aplicação para que o produto passe por essa palha e chegue ao solo, pois a partir disso é que ele começa a agir no controle das plantas daninhas que possam estar germinando.

6. Para herbicidas pré-emergentes, qual a umidade ideal do solo para aplicação? Em que tipo de solo esses produtos têm melhor desempenho?

O herbicida pré-emergente é como um nutriente/fertilizante, para funcionar ele precisa estar na solução do solo, na parte úmida do solo. Dessa forma, a semente, no início do processo de germinação, quando ela vai absorver a solução do solo, ou logo após a germinação, no processo de emergência, as estruturas iniciais vão começar a absorver água e nutrientes, e também o herbicida.

Então ele precisa estar na solução do solo, essa é a condição básica. Para isso o solo precisa estar úmido, daí a necessidade de chuva antes ou depois da aplicação. E no caso de área com volume de palha é importante que a chuva ocorra depois da aplicação para que o produto seja levado para o solo por entre a palhada. Do contrário ele vai ficar preso na cobertura de palha e não chegará ao solo.

O funcionamento do herbicida depende de ele conseguir atingir o alvo. Uma chuva de 20 mm já é suficiente para que o solo fique com boa umidade para funcionamento do herbicida e também para passagem entre a palha. Isso varia de produto para produto, mas podemos considerar que uma chuva de 30-40 mm após a aplicação do herbicida sobre uma palhada de 2 a 3 toneladas por hectare é suficiente para que pelo menos parte do produto chegue ao solo e funcione.

Com relação ao tipo de solo, é importante considerar que ele influencia na retenção do herbicida, um solo argiloso ou mais arenoso, com mais ou menos matéria orgânica, faz com que o produto fique mais ou menos disponível na solução do solo, e daí a umidade, como já foi falado, é que desempenha a função de transportar o herbicida até as sementes ou as pequena estruturas das plantas que estão germinando.

O solo arenoso, é um solo com baixa matéria orgânica, baixa CTC e baixa capacidade de retenção do herbicida, então o herbicida fica mais disponível. E no solo argiloso, com mais matéria orgânica, há uma capacidade de retenção maior, liberando mais lentamente o produto que fica mais preso nos coloides do solo. Isso não quer dizer que não vai ter produto para agir, só que com liberação mais lenta no solo argiloso quando comparado com o solo arenoso, que tem a liberação bem mais rápida. Isso tem a ver com o tempo de residual também, ou seja, o solo argiloso poderá oferecer mais tempo de residual, desde que ocorra a chuva depois da aplicação.

E o contrário acontece no solo arenoso, pois o produto pode ser perdido por lixiviação da camada onde ele precisa estar ativo. Alguns herbicidas têm doses diferentes em função do tipo de solo, para um solo argiloso uma dose maior e para o solo arenoso, menor. Ou seja, se a dose for ajustada para o tipo de solo, o residual poderá ser o mesmo, e não ajustando a dose em função da textura e matéria orgânica pode-se ter mais ou menos residual no solo.

Em resumo, o tipo de solo influencia sim na disponibilidade do herbicida. Solos com maior CTC, maior teor de argila e matéria orgânica, tendem a oferecer um período de residual maior. Reforçando, o funcionamento geral dos herbicidas pré-emergentes sofre influência de uma série de fatores na eficácia do produto.

Então, a combinação de volume de palha, mobilização de solo na linha de semeadura, dose do herbicida, umidade do solo, ocorrência de chuva antes ou após a aplicação e o tipo de solo, influenciam no residual e eficácia do produto. A combinação desses fatores é que informa o quando de controle se pode esperar do produto pré-emergente em determinada situação.

É importante considerar ao analisar o funcionamento dos produtos que, muitas vezes, logo após a aplicação, pode não ocorrer chuvas e se o solo não tem boa umidade e se há boa quantidade de palha na superfície, o produto não ficará disponível no solo em si. Ele é aplicado, e uma parte fica na palha, outra parte chegará ao solo, e sem umidade ele não vai funcionar na sua plenitude. Ou seja, até ocorrer a chuva pode ocorrer a germinação e a emergência de plantas daninhas. Quando chove, o produto chega no solo, é “ativado” e começa a funcionar.

Então, esse período em que não há umidade suficiente para o produto funcionar, pode levar a uma interpretação equivocada quanto a eficácia do produto pré-emergente, como por exemplo, falhas de controle ou a presença de plantas daninhas resistentes. É importante que o agricultor esteja atento, pois é frequente de acontecer, por exemplo, no mês de novembro no RS, que é um mês de chuvas irregulares.

Pode-se aplicar o herbicida pré-emergente, não chover por um período de 10 dias e nesse intervalo germinam plantas daninhas na área, parecendo que o herbicida não funcionou, falhou ou não é adequado ao controle daquela planta daninha, ou ainda que ela seja resistente ao produto. Nesse sentido é sempre bom considerar a possibilidade de que o produto não chegou no solo na quantidade suficiente para fazer o controle.

Perguntas respondidas pelo Dr. Mário Bianchi – Pesquisador da CCGL Tec – Cruz Alta/RS.