Perfil do produtor: Diversificação e gestão das atividades na propriedade


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 31/08/2018

Em maio de 2018, a Revista Plantio Direto visitou o casal Clairton e Jaqueline Cecconello, da localidade de Capela São Pedro, no município de Sertão/RS, para conhecer um pouco da história da família, da propriedade e do manejo das áreas. O casal é natural de Sertão/RS e tem dois filhos, Luan, de 21 e Breno, de 13 anos. A propriedade dos Cecconello é uma sociedade da família e foi iniciada com o pai de Clairton, Elísio Cecconello (já falecido), sendo que outros dois irmãos moram nas mesmas terras. Segundo o agricultor, para a produção nas lavouras, é feita a divisão entre os irmãos, sendo que cada um tem sua área de plantio e seus animais, já a utilização de máquinas e equipamentos é feita em conjunto. A principal atividade da família hoje é a produção de grãos, possuindo também vacas para produção leiteira.

De acordo com Clairton, sempre ajudando em casa com a produção de leite e nas lavouras, o filho mais velho Luan, está finalizando o curso superior em Agronegócio e trabalha na unidade da Cotrijal em Sertão. O filho mais novo, Breno, cursa o ensino fundamental, e tem planos de cursar o Técnico em Agropecuária durante o Ensino Médio. Clairton e Jaqueline têm certa preocupação de que os filhos, ao saírem de casa para finalizar os estudos e trabalhar fora da propriedade, não voltem para continuar a atividade, de acordo com o casal esta é uma preocupação de boa parte dos produtores rurais hoje.

A propriedade dos Cecconello é conduzida como uma empresa rural considerando que seus gestores - a família - buscam manter um controle de todos os processos, em especial no que se refere aos custos, investimentos e receita.

“Colocando tudo “na ponta do lápis”, percebemos como a margem de lucro das atividades é pequena, e que nesse sentido não se pode trabalhar com falhas nos processos, seja nas lavouras de grãos ou na produção de leite”, afirma Clairton. Ainda de acordo com o casal de agricultores, são mais de cinco anos em que tudo é contabilizado, os custos de depreciação e também outros custos fixos e variáveis que frequentemente o produtor não considera.

Na opinião de Clairton, é importante que não se misture a contabilidade dos custos e receitas das diferentes atividades, seja ela produção de grãos, leite ou carne, quando for o caso. “Se misturar tudo, você não vai saber onde está sendo o prejuízo”, ressalta. Essa forma de conduzir a atividade, com controle de custos, gerenciamento e planejamento, foi muito bem acolhida por agricultores que, segundo Clairton, são de uma geração que acompanhou quase todas as grandes mudanças na agricultura brasileira, desde a incorporação do maquinário nas propriedades, passando pelo Plantio Direto, o uso da biotecnologia, até chegar na fase da informatização da agricultura. Por isso a produção de grãos nas áreas dos Cecconello é feita 100% em Sistema Plantio Direto, desde 1993 e foi implantado em área total desde o início, pois a erosão assolava a propriedade. Clairton lembra que família dele (o pai, ele e os irmãos) estava entre os pioneiros do Plantio Direto na Região, e como tantos outros que adotaram o sistema no início foram, por vezes, chamados de loucos. No inverno, as áreas de lavoura são divididas em área para cobertura (com aveia-preta), plantio de trigo para grãos e silagem de inverno, sendo que anteriormente se utilizava aveia, neste ano o trigo será para silagem. No verão, a área de lavouras é dividida em 70% com a cultura da soja e 30% milho, sendo 15% para produção de grãos e os outros 15% para produção de silagem.

O esquema simplificado da rotação está demonstrado na Figura 1. O solo da propriedade é em partes mais argiloso, com alguns locais com afloração de rocha (pedregulho).

Anualmente é realizada a análise de solo para adubação e correção (Figura 2). De acordo com Clairton, as áreas de produção de lavoura ficaram por 15 anos sem utilização de calcário, sendo que no último ano foi aplicado três toneladas por hectare. A compactação não é um problema nas áreas de produção agrícola, possivelmente em função da rotação de culturas contínua e utilização de sulcador no momento de semear a cultura da soja. A adubação em soja no último ano foi feita com 350 kg/ha de fertilizante NPK, na formulação 4-32- 10, e com adição de 200 kg/ha de cloreto de potássio (KCl), cerca de 15 dias antes do plantio.

Todo ano é feita a inoculação da soja com Bradyrhi-zobium. Já no milho, foi aplicado 450 kg/ha de adubo NPK (9-27-14) na linha, com adição de 200 kg/ha de potássio e 500 kg/ha de ureia. No inverno, para o trigo, é feita adubação com 350 kg/ha de NPK formulação 8-25-20, e mais aplicação de potássio e ureia em cobertura. As cultivares de soja plantadas para a safra 2017/2018 foram BMX Ativa RR (grupo de maturação 5.6 e hábito de crescimento determinado) e BMX Lança IPRO (grupo de maturação 5.8 e hábito de crescimento indeterminado). Os híbridos de milho foram AG 9025 (ciclo superprecoce) e Maximus Viptera 3 (ciclo precoce).

As variedades de trigo utilizadas na propriedade foram TBIO Sinuelo (ciclo médio-tardio) para grãos e TBIO Energia (de ciclo médio) para silagem. A produtividade média de soja nas áreas da Família Cecconello na safra 2017/2018 foi de 83 sacos/ha, superando a safra passada que registrou média de 81 sacos/ha. Para Clairton e Jaqueline, uma das chaves para obter altas produtividades de forma estável é a quantidade de palha sobre o solo, pois ela traz benefícios na fertilidade, na conservação do solo e também no controle de plantas daninhas entre outros problemas. Além da produção de grãos, a família produz leite, que é hoje sua principal renda.

São cerca de 20 mil litros de leite/mês.

Clairton e Jaqueline já pensaram em expandir a atividade de produção de leite, mas essa decisão torna a condução da propriedade mais complexa, pois envolve aumento de área e produção de alimento para os animais, além da necessidade de se empregar pessoas de fora da família. Assim como se pensou em expandir, também houveram momentos em que a família pensou em abandonar a produção de leite, a mais recente lembrada pelos Cecconello foi a tempestade atingiu a localidade e destruiu boa parte das instalações. “Foi um momento de desânimo, mas resolvemos continuar com foco em manter a estabilidade nos próximos anos”, contam.

Todo o rebanho da propriedade é composto por vacas da raça Holandesa em semi-confinamento. A alimentação das novilhas e das vacas secas é feita basicamente com feno de azevém, enquanto que o restante da base da alimentação é feita com silagem de milho e silagem de inverno (anteriormente aveia, esse ano trigo) pré-secada. São cerca de 40 kg de silagem e 7 kg ração por vaca ao dia. Todas as vacas têm sido inseminadas artificialmente, sendo a primeira inseminação com 15 meses.

O primeiro parto das novilhas acontece com aproximadamente 24 meses, tendo um intervalo entre os partos de 12 meses. A média da produção de leite na propriedade está entre 28 a 30 L/ vaca/dia, e o custo do litro de leite na propriedade, contabilizando o custo de alimentação das novilhas, a depreciação e mais salários, chega próximo a 90 centavos por litro. A Revista Plantio Direto agradece a hospitalidade dos Cecconello e o compartilhamento das informações e experiências sobre a diversificação e gestão das atividades na propriedade, que com certeza servem de exemplo e trazem ideias aos demais produtores e técnicos leitores.