O potencial de rendimento das culturas agrícolas é impactado pela presença de pragas e patógenos. O clima tropical brasileiro favorece a ocorrência desses agentes e, por isso, são utilizadas grandes quantidades de agroquímicos para garantir a produção de alimentos.
Entretanto, a aplicação desses agroquímicos, muitas vezes sem considerar critérios técnicos, tem selecionado populações de pragas resistentes a inúmeras moléculas.
Na busca por alternativas mais sustentáveis, o controle biológico se torna viável, uma vez que é eficiente e pode ser utilizado em qualquer cultura tanto em cultivos orgânicos quanto convencionais.
Os produtos biológicos baseiam-se em ingredientes ativos naturais, como microrganismos ou extratos de plantas, por isso apresentam baixo ou nenhum impacto sobre à saúde humana e o meio ambiente, o que diminui a dependência de aplicações constantes de outros produtos e contribui para o manejo integrado.
Em face aos benefícios supracitados, observa-se um expressivo aumento na utilização de agentes biológicos e, esse aspecto pode ser notado, pelo considerável aumento de produtos biológicos registrados no Brasil de 2015 para cá.
Em 2020, houve o registro de 59 produtos, representando um aumento de 27% em relação a 2019. Com este crescente número de produtos biológicos disponibilizados no mercado, surge a necessidade de uma inspeção mais rigorosa em relação à qualidade destes, a fim de garantir que o(s) agente(s) biológico(s) de fato estão presentes e na concentração indicada para a aplicação dos produtos biológicos.
O controle de qualidade é importante tanto para as empresas que produzem os produtos biológicos quanto para os produtores que fazem uso dos produtos.
A produção “on farm” de biológicos passou a ser permitida com a regulamentação da Lei de Orgânicos, que impede o uso de produtos químicos no solo e permite que os agentes da natureza se encarreguem do equilíbrio e saúde da lavoura.
Esta nova lei vem sendo usada como subsídio para que os produtores façam a produção convencional dos agentes biológicos. No entanto, como tudo que é feito sem o devido controle, a produção “on farm” é um desafio que os produtores tentam superar, principalmente, pela necessidade de mão de obra qualificada e infraestrutura adequada, que permita a obtenção de uma produção com o máximo de qualidade e controle em todas as etapas do processo.
No Brasil, muitos produtores já produzem seus próprios agentes biológicos. Entretanto, por não utilizarem um sistema adequado de produção, muitos produtos podem apresentar baixa qualidade, tornando-se ineficientes ou até mesmo inseguros para a aplicação no campo.
Seja “on farm” ou na indústria, a elaboração de agentes biológicos sem os devidos cuidados e critérios de avaliação faz com que os produtos possam chegar ao produtor com falhas no processo, que podem ser desde a falta dos agentes biológicos especificados, presença de contaminantes ou baixa concentração de agentes.
Em muitas situações os contaminantes podem resultar em prejuízos para a lavoura, para a saúde humana, animal e para o meio ambiente.
De acordo com dados apresentados por representantes do setor de produtos biológicos, o mercado ilegal envolvendo biológicos é estimado em 27% do mercado total, incluindo os produtos "on farm" e os produtos comerciais sem registro.
A produção “on farm” corresponde a 22% do mercado total e os produtos comerciais sem registro refletem 5% do mercado total desses defensivos.
O primeiro fator relacionado à qualidade dos produtos biológicos é o uso do agente biológico correto (identidade). Isso é importante para um efetivo resultado no controle de pragas e doenças.
Dessa forma, a caracterização do agente biológico à nível de espécie é o que assegura a ação esperada do produto. Já a análise de contaminantes na amostra (pureza) é fundamental para que não se tenham outros organismos que podem ser nocivos ao agente biológico ativo, ao meio ambiente e a saúde humana.
Além disso, o conhecimento da concentração formulada do produto biológico é imprescindível para que o produtor aplique a dose necessária para o controle do alvo.
Dessa forma, as análises de identidade, pureza e concentração dos microrganismos são de suma importância para avaliar o processo de produção de biológicos de ponta a ponta e, assim, obter resultados a campo desejáveis, sem prejuízos para o produtor e o meio ambiente.
No ano de 2021 o Laboratório Agronômica recebeu 154 amostras de produtos biológicos para análises dos parâmetros de qualidade (identidade concentração e pureza), incluindo produtos formulados e “on farm”.
Destes, 58% foram de produtos contendo Bradyrhizobium, 18,2% contendo Azospirillum (incluindo misturas com outros agentes) e 11% Bacillus sp. Produtos à base de Beauveria, Trichoderma e Rhizobium variam entre 3,2 e 4,5% das amostras recebidas (Figura 1).
Do total de amostras recebidas, 27,9% apresentaram problemas na concentração, 17,5% problemas de identidade e 11% problemas de pureza (Figura 2). No caso da identidade, em algumas situações o agente ou estirpe/SEMIA descrita não estava presente ou havia espécies distintas das indicadas.
Dentre os diversos agentes, os produtos contendo Bradyrhizobium foram os que apresentaram menor porcentagem de problemas. Para produtos à base de Azospirillum e misturas com outros agentes, 42,9% das amostras apresentaram problemas de concentração, 39,3% de identidade e 17,9% de pureza.
Dos produtos à base de Rhizobium, 85,7% apresentaram concentrações inferiores às indicadas nos rótulos. Para produtos com Bacillus, 58,8% das amostras analisadas estiveram abaixo das concentrações indicadas.
Dentre todas as amostras analisadas, as que continham Beauveria foram as que apresentaram as maiores divergências, 80% resultaram em problemas de concentração e identidade e 100% apresentaram problemas de pureza (Figura 3).
Os resultados deixam clara a importância do controle de qualidade dos produtos biológicos.
Devido ao crescimento do mercado de biológicos no Brasil e da variedade de microrganismos com potencial de utilização no controle biológico é importante que o produtor tenha o cuidado de enviar os produtos que serão utilizados na lavoura, tanto formulados quanto “on farm” para análise em laboratórios qualificados.
Esta análise deve ser prévia à utilização a fim de evitar gastos desnecessários com produtos de baixa qualidade e garantir os resultados esperados no campo.