Qual a demanda de micronutrientes em lavouras de soja de alta produtividade?


Autores:

Israel Dalmazzo Saldanha¹*, Guilherme Guerin Munareto², Eduardo Lago Tagliapietra³, Leonardo Silva Paula4, Cristian Savegnago4, Fabricio Vendruscolo Pinto Filho4, Kaleb Emanoel Ferreira do Amaral4, Solon de Lemos Rosa4, Nereu Augusto Streck5, César Eugênio Quintero6, Ramón Eduardo Espinal Genao7, Alencar Junior Zanon5
 

Publicado em: 10/06/2022

Introdução

A soja é a principal fonte de proteínas e óleos vegetais do mundo. Entre 1961 e 2021, a produção no Brasil aumentou de 271 mil para 121 milhões de toneladas, com um aumento de produtividade média de 1,1 para 3,2 toneladas por ha (FAO, 2021).
Os agricultores que conseguem promover a melhor interação entre genótipo x ambiente x manejo (GxAxM) já estão alcançando produtividades de 4,5 a 6,0 t/ha sem irrigação (Tagliapietra et al., 2021). As cultivares modernas apresentam um potencial de acúmulo de nutrientes cerca de duas a três vezes superiores em relação às utilizadas na década de 80 e 90 (Bender, 2015). Esse trabalho foi desenvolvido com o intuito de identificar a exigência de micronutrientes, bem como a remobilização destes nas partições da soja. Assim, buscamos entender a dinâmica  nutricional na soja e relacionar os estágios fenológicos com a exigência de micronutrientes, primeiramente definindo o estágio da taxa máxima de acúmulo, e descrevendo e quantificando a remobilização dos nutrientes nas partições da planta de soja.

 Materiais e Métodos

O presente estudo foi realizado na Fazenda Santa Terezinha, nas Sementes Aurora no município de Cruz Alta – RS, Brasil na safra agrícola de  2019/2020. A classificação do solo é Latossolo Vermelho Distroférrico Típico. O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso com quatro repetições. As sementes foram inoculadas, a adubação foi aplicada de acordo com análises de solo para atingir produtividades potenciais. As plantas daninhas, doenças e pragas foram controladas para manter a cultura livre de estresses bióticos. A população final de plantas ficou em 31 plantas/m², com o espaçamento utilizado de 0,45 metros entre linhas. O experimento foi conduzido em área irrigada. A fenologia foi monitorada com frequência semanal seguindo a escala fenológica proposta por Fehr e Caviness (1977). A biomassa foi determinada por meio de coleta de plantas quando mais que 50% das plantas estavam nos estágios VE; V4; R1; R5; R7 e R8. As telas para captação de material senescido foram colocadas a partir do estágio R3.
As plantas foram separadas em caules (caules e pecíolos), folha (folhas individuais), reprodutiva (flores e vagens) e grãos. As amostras foram moídas e levadas para análise laboratorial a fim de determinar a concentração total de cada micronutriente.
A produtividade foi medida colhendo uma área de 4 m² em cada repetição. A cultivar avaliada foi a Brasmax Zeus IPRO que apresenta um GMR 5.5 sendo recomendada para plantio no Sul do Brasil, apresentando 123 dias de ciclo.

Resultados e Discussões

A cultivar do estudo produziu 110 sacas/ha, ou seja, 6.6 toneladas/ha com umidade em 13%, apresentando uma produtividade bem superior à média nacional e estadual.  
Os valores de demanda na Tabela 1 indicam a necessidade nutricional para produção de uma tonelada de grãos de soja. O índice de colheita explica a quantidade de nutrientes que além de participar das reações fisiológicas e compor a biomassa da planta como um todo, são exportados via grão após a colheita da soja (os produtores e consultores devem estar atentos a esses valores). As taxas máximas de acúmulo nos mostram os períodos e quantidades exigidas no momento de maior demanda da planta pela capacidade de fornecimento de nutrientes do solo, também nos possibilitando entender pela fenologia de que maneira a planta de soja se comporta e a partir disso planejar manejos e programar o suprimento necessário para atingir altas produtividades.
Na figura 1 observamos as quantidades de cada nutriente nas partições da soja em cada estágio de desenvolvimento. Além disso, a remobilização destes, local de maior acúmulo, relações de fonte e dreno durante o ciclo. Por exemplo, a partir de R5 é possível ver a remobilização dos nutrientes das hastes e principalmente das folhas para os grãos.
Os micronutrientes boro, cobre e ferro possuem seus picos explicados pela sua demanda na floração, e no segundo momento pelo principal local de acúmulo destes nutrientes ser os grãos. Os elementos Mn e Zn apresentam altas taxas de absorção na formação dos legumes (R3), já o  molibdênio apresentou após o início do enchimento de grãos (R5.1).  
Na tabela 2 podemos observar que as quantidades necessárias para produção de uma tonelada de grãos ao passar do tempo tendem a ser semelhantes. Porém como o potencial de produtividade está próximo de 7 ton/ha no Sul do Brasil, os produtores e consultores precisam fazer um manejo nutricional para atender esse novo patamar de produtividade. Dito isso é notório a importância de práticas de análise de solo e foliar, pois a atenção com micronutrientes essenciais deve ser ponto chave para proteger o potencial produtivo, possibilitando condições para a planta de soja adquirir estes durante todo o ciclo e principalmente em períodos de maior demanda.

Conclusão

Devemos planejar o manejo de micronutrientes das lavouras de soja de acordo com a expectativa de produtividade da lavoura, quantidade de nutrientes no solo e exportados pelos grãos. Os valores de acúmulo destes nutrientes bem como os os períodos que estão descritos neste trabalho servem como referência para novas recomendações que estejam de acordo com os patamares atuais de produtividade, assim assegurando não só o rendimento como a lucratividade e sustentabilidade da produção agrícola.

1Aluno de graduação em Agronomia, UFSM, Santa Maria/RS
*Autor para correspondência:  [email protected]
2Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia  Agrícola, UFSM, Santa Maria/RS
3Aluno de doutorado em Agronomia, UFSM, Santa Maria/RS
4Aluno de graduação em Agronomia, UFSM, Santa Maria/RS.
5Engenheiro Agrônomo, Santa Maria/RS
7Professor na UFSM, Santa Maria/RS
6Professor na Universidad Nacional de Entre Ríos, Paraná/ARG
7Engenheiro Agrônomo, República Dominicana

Referências

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BARTH, G. et. al. Nutrient Uptake Illustrated for Modern, High-Yielding Soybean. 2018. Disponível em:  www.ipni.net/publication/bettercrops.nsf/0/7C13BC5FD5498C058525823400665061/.

BENDER, R. R.; HAEGELE, J. W.; BELOW, F. E.  Nutrient Uptake, Partitioning and Remobilization in Modern Soybean Varieties. Agronomy Journal, 2015. vol. 107, p. 563–573. Disponível em: acsess.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.

FAO, 2021. Coleções de banco de dados FAOSTAT. Roma, 2021. Disponível em: http://faostat.fao.org.

FEHR, W. R.; CAVINESS, C. E. Estágios do desenvolvimento da soja. 1977. Disponível em: https://lib.dr.iast ate.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1076&context=specialreports.

GASPAR, A. P. et al. Absorção, partição e remoção de micronutrientes e secundários em uma ampla gama de níveis de rendimento de sementes de soja. Agronomy Journal, v. 110, n. 4, pág. 1328-1338, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.2134/agronj2017.12.0699.

HEARD, J. Absorção e partição de nutrientes pela soja em Manitoba. 2006. Disponível em: https://www.umanitoba.ca/faculties/afs/MAC_proceedings/proceedings/2006/heard_nutrient_uptake_and%20partitioning.pdf.

TAGLIAPIETRA, Eduardo Lago et al. Biophysical and management factors causing yield gap in soybean in the subtropics of Brazil. Agronomy Journal, v. 113, n. 2, p. 1882-1894, 2021.