Darlan Scapini Balest1, Eduardo Lago Tagliapietra1, Michel Rocha da Silva5, Alexandre Ferigolo Alves1, Marcos Dalla Nora3, Leonardo Silva Paula3, Felipe de Andrade Tardetti3, Victória Brittes Inklman3, Renan Augusto Schneider3, Guilhermi Penteado Simões3, Cristian Savegnago3, Ramón Eduardo Espinal Genao4, Nereu Augusto Streck2, Alencar Junior Zanon2*
A região subtropical da América do Sul (Argentina, Paraguai e Brasil) possui a maior área de cultivo e produz mais de 50% da produção mundial de soja [1]. O Brasil é o maior produtor de soja, representando 34% da produção mundial, com área média de 35 milhões de hectares (ha) e produtividade de 3,0 ton/ha nos últimos 5 anos (2018-2022) [1;2]. A região Sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) caracteriza-se como um ambiente subtropical, onde se produz cerca de 30% da produção nacional.
A densidade de plantas é um dos principais fatores que provocam a lacuna de produtividade nas lavouras de soja em ambiente subtropical [5]. A adoção de uma densidade de plantas incorreta, sendo por alta ou baixa densidade, reduz o potencial de produtividade [7]. Portanto, em virtude dos ganhos genéticos (GMR, tipo de crescimento indeterminado, capacidade de ramificação, porte controlado e potencial de produtividade) e manejo (época de semeadura, ambientes de produção) das lavouras de soja, verifica-se a necessidade da realização de estudos para determinar a densidade de plantas correta para que se busque altas produtividades.
A densidade de plantas agronomicamente ótima (DPAO) é definida como o número de plantas por área que minimiza a competição intraespecífica e maximiza a eficiência no uso de recursos ambientais (radiação solar, temperatura e água) e nutrientes. Sendo assim, a DPAO permite determinar a densidade de plantas emergidas e sadias para diferentes épocas de semeadura, grupo de maturidade relativa e ambiente de produção, com objetivo de maximizar a produtividade. Ademais, a DPAO identifica a densidade de plantas que não acrescenta em ganhos de produtividade e, portanto, tem o maior retorno econômico para os produtores pela redução do custo de sementes [3; 6].
Neste caso, foram acompanhadas mais de 1000 lavouras de soja no Rio Grande do Sul, Brasil, com distintas características edafoclimáticas, entre as safras de 2015 até 2021. Foram coletadas informações de data de semeadura, cultivar (grupo de maturidade relativa), densidade de plantas e produtividade, por meio de questionários aplicados por integrantes da Equipe FieldCrops, extensionistas da EMATER/RS-ASCAR e consultores agrícolas.
Relação entre a densidade de plantas e a duração do ciclo de desenvolvimento
O conjunto de dados foi classificado de acordo com o regime hídrico, sendo irrigado e sequeiro, além de ser classificado de acordo com a duração do ciclo de desenvolvimento, em dias (semeadura até umidade de colheita), sendo menor que 133 e maior que 133 dias (Figura 1). A DPAO definida para obter máxima produtividade foi de 29 plantas por m², ou seja, esse valor representa o número final de plantas por m² que maximizou a interação genótipo (cultivar) x ambiente (época de semeadura) x manejo (nutrição) (Figura 1).
Além da DPAO, existe uma faixa de densidade de plantas que permite atingir altas produtividades de acordo com a duração do ciclo de desenvolvimento. A partir dessa faixa, a perda de produtividade pela redução de uma planta por m² é de 78 kg/ha para duração do ciclo de até 133 dias (Figura 1 A) e de 56 kg/ha para duração do ciclo maior que 133 dias (Figura 1B). Em densidades de plantas abaixo da DPAO e menor duração do ciclo de desenvolvimento, a compensação pela contribuição de ramificações e pela plasticidade é insuficiente para compensar a perda de plantas, o que explica as maiores perdas de produtividade e a necessidade de boa distribuição das plantas [7;8].
A perda de produtividade pela adição de uma planta por m² é de 110 kg/ha para duração do ciclo de até 133 dias (Figura 1 A) e 71 kg/ha para duração do ciclo maior que 133 dias (Figura 1B). Em altas densidades, as plantas de soja apresentam maior estatura, sendo uma estratégia para interceptar radiação solar em maior quantidade e qualidade, o que também resulta em um menor número de ramificações, perda precoce das folhas do terço inferior pela insuficiência de luz, menor número de legumes por planta, maior risco de acamamento e perdas de produtividade.
Após determinado a DPAO por grupos de GMRs, os produtores devem ter muita atenção no processo de semeadura para ter uma distribuição equidistante de plantas, principalmente, em ambientes de sequeiro onde a compensação das ramificações é menor. Um menor número de sementes, associado a problemas na semeadura e no estabelecimento inicial, podem provocar uma grande redução no número de plantas e consequentemente, proporcionam perdas irreversíveis no potencial de produtividade da lavoura [4]. A fim de reduzir o risco, os produtores devem ajustar a densidade de sementes na semeadura de acordo com as porcentagens de germinação e vigor dos lotes de semente. Esses resultados representam a média de 1000 lavouras nos últimos seis anos no RS. Cada produtor deve determinar a DPAO para sua lavoura considerando a interação entre cultivar, ambiente e manejo para obter máximas produtividades.
1Aluno de Doutorado em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS
2Professor na Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS
3Aluno de Graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS
4Engenheiro Agrônomo, República Dominicana
5Pós Doc da Equipe FieldCrops, Santa Maria/RS. *Autor para correspondência: [email protected]
Referências
[1] CONAB - Série histórica de safras e produção por unidades da federação. Disponível em: http://ww.conab.gov.br. 2022. Acesso em: 28 Abril, 2022.
[2] FAO - Database-agricultural production (FAO). Disponível em: http://faostat.fao.org. 2022. Acesso em: 28 Abril, 2022.
[3] Ferreira, A.S., et al. Minimun optimal seeding rate for indeterminate soybean cultivars grows in the tropics. Agronomy Journal. v.112, p.2092–2102, 2020.
[4] Santachiara, G., et al. Physiological Processes Leading to Similar Yield in Contrasting Soybean Maturity Groups. Agronomy Journal. v.109, p.158-167, 2017.
[5] Tagliapietra, E.L., et al. Biophisical and management factors causing gap in soybean in the Subtropics of Brasil. Agronomy Journal, v.113, p.1882-1894, 2021.
[6]Thompson, N.M., et al. Mid-South soybean yield and net return as affected by plant population and row spacing. Agronomy Journal, v.107, p.979–989,2015.
[7] Walker, E.R., et al. Plant population and row-spacing effects on maturity group III soybean. Agronomy Journal. v.102, p.821–826, 2010.
[8] Zanon, A.J., et al. Branches contribution and leaf area index evolution in modern cultivars of soybean. Bragantia, v.74, p.279–290, 2015.