Erlei Melo Reis, Andrea Camargo Reis, Mateus Zanatta
Introdução
A área cultivada com soja [Glycine max (L.) Merr.], no Brasil, na safra 2022/23 foi de 77,5 milhões de hectares e a produção de 313,9 milhões de toneladas (Conab, 2023).
O problema
Tem sido observada desde a safra 2006/07, a evolução da redução da eficácia de fungicidas sítio-específicos no controle da ferrugem da soja (Silva et al., 2008). O controle obtido pelo uso das misturas de fungicidas triazóis + estrobilurinas atingiu até 90% e vem sendo reduzido safra após safra. Devido a esse fato, os produtores têm reclamado da menor eficácia do controle químico da ferrugem. Estavam acostumados a controlar (>80%) a doença eficientemente. A redução atual da eficiência do controel está reduzindo o lucro dos produtores de soja.
A ferrugem asiática da soja, tendo como agente causal o fungo basidiomiceto Phakopsora pachyrhizi Sydow & Sydow, causa danos médios de 61% (Reis et al. 2023). A medida de controle efetiva capaz de reduzir os danos quantitativos é a aplicação de fungicidas. Com a predominância de uso de fungicidas monossítios (IDMs, IQes e ISDHs) surgiu e agrava-se a redução da sensibilidade do fungo agente causal a esses fungicidas. Essa realidade tem se refletido na redução do rendimento pelo aumento do dano.
Hipótese
O uso generalizado de fungicidas monossítios e o baixo uso de multissítio como estratégia antirresistência, reduz a eficácia do controle da ferrugem.
Objetivo
Apresentar dados de quanto o produtor de soja deixa de colher (kg/ha) em face da eficácia do controle do fungicida usado.
Material e método
No cálculo foram tabulados os dados do ensaio nacional cooperativo conduzido na safra 2022/23. Fungicidas registrados, doses, método de pulverização, momento primeira aplicação, intervalo de quatro aplicações, avaliação da severidade da ferrugem estão disponíveis na internet (Godoy et al., 2023).
Com os dados da Tabela 1 (Godoy et al., 2023), foi determinada a relação do rendimento de grãos (kg/ha) com a severidade (%) da ferrugem e do rendimento (kg/ha) com o controle (%) da doença.
Resultados
A relação negativa do efeito da severidade da ferrugem sobre o rendimento de grãos foi expressa pela equação y = -25,569x + 3.970,1 (R² = 0,9441). Para um rendimento potencial de 3.970,1 kg/ha, cada 1% de severidade foliolar reduziu 25,569 kg de grãos (Figura 1). Por exemplo, na mesma proporção, normalizada para um rendimento de 1000 kg/ha, R = 1000 – 6,44x (onde ‘x = 1% de severidade).
É mais fácil compreender o objetivo deste texto, analisando o efeito do controle sobre o rendimento de grãos. A relação positiva do controle com o rendimento de grãos foi expressa pela equação y = 21,542x + 1.898,2 kg/ha (R² = 0,8953). O rendimento sem controle (testemunha) da ferrugem foi de 1.898,2 kg/ha e cada ponto percentual de controle (‘x’), aumentou o rendimento de grãos em 21,569 kg. (Figura 2). Normalizada, R = 1000 kg/ha + 11,35kg/ha.
O maior controle obtido no trabalho foi de 69% e mesmo com o uso de multissítios não foi atingido 80%. Quanto maior o controle, mais reduz o dano e mais aumenta o rendimento (Figura 1) porém, o maior lucro depende da eficácia do controle (Figura 2) e do custo do fungicida.
Para cálculo, a equação da Figura 2 foi normalizada para um rendimento de 1000 kg/ha. Portanto, R = 1000 + 11,35x, onde R é o rendimento em que cada 1,0 % de controle ‘x’ aumenta o rendimento em 11,35 kg/ha. Substituindo ‘x’ pelo controle (%) obtém-se o rendimento esperado para cada valor (%) do controle. Ex. R = 1000 + (11,35 x 80% de controle) = 907,9 kg/ha e assim por diante com os demais valores do controle (Tabela 1). Logicamente que o rendimento é função do controle, que reduz a severidade e o dano. Para melhor entender o efeito do controle na produção de grãos acrescentou-se uma coluna (Tabela 1) simulando o rendimento de uma lavoura com potencial de produção de 4500 kg/ha.
Com esses dados da quantidade de grãos colhido, em função do controle (%) resultante do fungicida utilizada, calcule com os dados reais obtidos na lavoura de soja do leitor, o impacto no lucro esperado em função do rendimento obtido na última safra.
A desejada sustentabilidade econômica da agricultura baseia-se na adoção de técnicas cada vez mais aperfeiçoadas e o uso de fungicidas para o controle das doenças que atacam a a soja é uma delas. Para que essa medida seja realmente rentável, no momento da tomada de decisão, os assessores técnicos devem munir-se do maior volume possível de informações técnicas. A definição do momento adequado para iniciar um tratamento é ponto chave para o sucesso de um programa de tratamento fitossanitário de uma cultura. As questões relacionadas a eficácia dos tratamentos químicos (Figuras 1 e 2) passa a ser preocupante, ao passo que a margem econômica tende a estreitar-se.
Os consultores devem estar conscientes da realidade atual quanto a redução da eficiência do controle químico da ferrugem da soja devido a resistência do fungo aos fungicidas monossítios.
*Instituto Agris - Passo Fundo, RS, (54) 99939-0485, E-mail: [email protected]
Referências
Godoy et al. Eficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2022/2023: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Circular técnica 195. Londrina, PR Junho, 2023. 28p.
Reis, E.M; Reis, A.C.; Zanatta, M. Reflexo econômico e desenvolvimento da resistência de Phakopsora pachyrhizi a fungicidas em função do número de aplicações. Summa Phytopathologica, v.44, n.3, p.289-292, 2018.
Reis, E. M.; Carmona, M.ZA.; Casa, R. T.; Zambolim, L; Menten, J.O.; Jualiatti, F.V.; Tolotti, C.G.; Guerra, W.D. Sobre os danos causados pela ferrugem asiática da soja. Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 48, n. 2 p. 53-54, 2022.
Reis, E.M.; Zanatta, M.; Reis, A.C. Eficiência do controle de doenças para igualar ao custo da aplicação 2 terrestre de fungicida 3 – um exemplo de cálculo com a ferrugem da soja. Summa Phytopathologica (no prelo). 2023.
Silva, L. H. C. P.; Campos, H. D.; Silva, J. R. C.; Ribeiro, G. C.; Rocha, R. R.; Moraes, D. G. Eficácia reduzida de triazóis no controle da ferrugem asiática. Fitopatologia Brasileira, Lavras, MG., v. 33, p.228. 2008 (Suplemento).