Anderson Lange1
O milho é um cereal de grande importância no mercado pelo seu alto potencial produtivo, grande valor socioeconômico e versatilidade de usos. Segundo dados da CONAB (2023), a produção nacional a 20 anos atrás era de 47,4 milhões de toneladas, passando para 131,9 milhões de toneladas nos dias atuais. Em termos de produtividade, a 20 anos eram colhidos 3,6 ton/ha, hoje a média nacional é de 5,9 ton/ha. Especificamente para as condições de Mato Grosso, na condição de milho 2ª safra (safrinha), os números impressionam ainda mais. Há 20 anos, na safra 2002/03, a produção no estado era de 2,45 milhões de toneladas passando para 50,7 milhões em 2022/23, com um salto na produtividade de 3,5 ton/ha para 6,9 ton/ha, números que consolidam a importância da cultura para o estado.
Ainda, remetendo ao passado, nas condições de MT, muitos agricultores cultivavam o milho tendo por objetivo, muitas vezes, um pouco de lucro com a venda do grão, mas pensava-se muito na produção de palhada para o plantio direto que esta cultura propicia ao sistema. Nos últimos anos, as condições mudaram muito e para melhor, o melhoramento genético da soja, com o encurtamento do ciclo propicia colheita precoce e semeadura do milho dentro da janela adequada, até o final de fevereiro, garantindo precipitação para a cultura expressar seu potencial produtivo, além disso houve grande valorização do grão, chegando a ser vendido a R$ 65,00-70,00 a saca ou até mais, resultado em lucro real para o produtor. Aliado a isso, o estado é expoente no processamento do grão para produção de etanol e DDG para alimentação animal.
Neste sentido, a necessidade nutricional da cultura, ou seja, a quantidade de nutrientes que a planta extrai durante seu ciclo depende do rendimento obtido e da concentração de nutrientes no grão e na palha. Portanto, é necessário fornecer às plantas a quantidade total de nutrientes que elas extraem, de acordo com a expectativa de produtividade, decorrente da fertilidade solo, da adubação, do material genético, das condições climáticas, entre outros fatores. Com base na quantidade extraída, é possível estimar a quantidade de nutrientes exportados na colheita e os nutrientes devolvidos ao solo pela decomposição dos resíduos da cultura.
Apenas para chamar atenção de alguns números, em um trabalho desenvolvido na safra 2013/14, numa lavoura de alto potencial produtivo na época em Sorriso – MT, a produtividade foi de 8 ton/ha, com palhada residual de 14 ton/ha (relação C/N de 50), deixando ainda para o sistema 162, 113, 53 e 42 kg/ha de K, N, Ca e Mg, respectivamente (Cavalli, 2016). Hoje temos relatos de produtividades do milho 2ª safra no MT acima de 220 sacas por hectare e, nesta situação a extração, a exportação e a ciclagem de nutrientes na palhada residual da cultura devem ser constantemente atualizadas, no sentido de se fornecer os nutrientes necessários, já que os recordes de produtividade têm sido batidos ano a ano.
Realizou-se um trabalho em propriedades rurais na região do médio Norte de MT, com o intuito de mensurar a extração e exportação de nutrientes por alguns híbridos de milho (Tabela 1).
Em cada lavoura comercial de milho safrinha 2023, em fevereiro demarcou-se uma área de 40 x 40 m para realizar as coletas, sendo a 1ª coleta entre 15-30 dias após emergência e as demais em intervalos de 30 dias. Para isso 20 plantas inteiras foram cortadas rente ao solo, pesadas em campo com umidade natural e destas, três foram levadas para estufa a 65 ºC por dois dias para secar, novamente pesadas, para determinar seu peso seco. O estande de cada lavoura foi determinado em campo, e os valores foram convertidos em kg/ha tanto de massa seca das plantas, como extração e exportação de nutrientes. Na última coleta, 10 plantas inteiras foram cortadas rente ao solo e separou-se os grãos da palhada, para determinar a produção por planta e estimar a produtividade, com base no estande de plantas. Todo o material foi moído e analisado para determinar as concentrações de N, P, K, Ca, Mg e S, para cada coleta.
Os resultados mostram que o nitrogênio (N) e o potássio (K) são os nutrientes mais absorvidos, ultrapassando 150 kg/ha em praticamente todos os híbridos, mostrando a grande necessidade destes para a cultura assim como sua importância nos programas de adubação. Seguindo a ordem de demanda, fósforo (P), cálcio (Ca), enxofre (S) e magnésio (Mg) finalizam a lista (Figura 1 e 2).
Comumente os programas de adubação para o milho na região não fornecem as quantidades necessárias, principalmente para NPK. As adubações utilizadas normalmente vão de 60-80 a 120-130 kg/ha de N, entre 70 a 100-110 kg/ha de K2O, o que equivale a 70-90 kg/ha de potássio (K) no máximo. No caso do P, os dados médios obtidos nas análises dos grãos estão próximos aos documentados pela literatura (4,4 g/kg, Tabela 1), com uma taxa de exportação próxima a 70% (Tabela 2). Assim as demandas são 60 a 100 kg/ha de P, o que equivale a 140 a 230 kg/ha de P2O5, dose que o sistema normalmente não recebe via fertilização, pois os produtores que aplicam P no milho, o fazem com dose mínimas. Até algum tempo atrás, os produtores não faziam adubação com P para a cultura do milho, e sim adicionavam “um extra” na soja semeada previamente ao milho safrinha. Hoje muitos produtores já fazem aplicação de P no milho, porém em doses ainda muito menores que a real demanda da cultura, como mostram os dados dos híbridos estudados, em função dos aumentos anuais que se tem conseguido nas produtividades, deixando em déficit o sistema quanto ao uso do P. Apenas para o leitor ter alguns números em mente, a soja exporta entorno de 12-15 kg/ha de P2O5 por tonelada de grão produzido, assim produtividades de 70-80 sc/ha (4200-4800 kg) retiram do sistema 60-70 kg/ha de P2O5. Então dependendo da produtividade da soja, da adubação fosfatada a ela fornecida, pouco P pode “sobrar” para a cultura do milho, lembrando que a soja tem um alta taxa de exportação de P, em relação ao extraído (~70%). Assim este pequeno informe tem como objetivo alertar o produtor para que ele veja as possibilidades de produtividades a serem obtidas e dimensione seu programa de adubação de forma adequada.
1Professor de Solos, ICAA, Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail: [email protected];