Ricardo Braga da Rosa1, Zanandra Boff de Oliveira2
Introdução
A época de semeadura, a escolha da cultivar e a densidade de semeadura estão entre as práticas de manejo que tem influência direta na produtividade da cultura da soja (MUAD et al., 2010; TAGLIAPIETRA et al., 2021). Segundo Argenta et al. (2001), o número de sementes na linha e o espaçamento entrelinhas determinam o arranjo de plantas e interferem na competição inter e intraespeífica por recursos como água, luz e nutrientes, além de promover alterações morfológicas das plantas. Em populações menores, a planta pode emitir maior quantidade de ramos e produzir hastes mais robustas, aumentando o número de vagens por planta, buscando compensar a menor quantidade de indivíduos na área (BALBINOT JUNIOR et al., 2015). Por outro lado, o aumento da densidade pode causar o acamamento das plantas (SILVA et al.,2014), ou ainda, redução do número de ramificações por planta (MACHADO et al.,2018), que também pode comprometer o rendimento de grãos.
Oliveira; Knies e Wolffenbüttel (2022) em Cachoeira do Sul - RS, verificaram para uma mesma densidade (300.000 sementes/ha) com a variação do espaçamento entrelinhas/arranjo espacial (0,25, 0,50 e 0,75 m e de 0,50 x 0,25 m - pareado), que a máxima produtividade foi obtida no espaçamento de 0,50 m, para a cultivar Brasmax Zeus IPRO. Machado et al. (2023) em estudo na mesma região, avaliando o efeito da densidade de semeadura (311.100 sementes/ha e 444.400 sementes/ ha), ou seja, plantas por metro linear, mantendo o mesmo espaçamento entrelinhas (0,45 m), observaram incrementos positivos na produtividade da soja irrigada com o aumento da densidade de semeadura, porém esta resposta não aconteceu para a área de sequeiro.
Além disso, algumas características devem ser consideradas na escolha da cultivar visando altas produtividades, tais como: produtividade e estabilidade, resistência a doenças, grupo de maturação, composição do grão e altura e acamamento (EMBRAPA, 2010). Pigatto et al. (2023), avaliando a produtividade de vinte e duas cultivares de soja em Cachoeira do Sul, na safra 2022-23, verificaram diferenças de mais de 1.000 kg/ha entre cultivares na produção de sequeiro e de quase 2.000 kg/ha entre cultivares sob irrigação.
Os resultados das pesquisas apresentadas mostram a importância de avaliar a inter-relação das praticas de manejo com a disponibilidade hídrica de cada ano agrícola. No RS a variabilidade das chuvas está bastante relacionada ao ENOS, que na fase quente (El Niño), apresenta chuvas acima da média climatológica para a região sul do Brasil, enquanto a fase fria (La Niña), apresenta chuvas abaixo da normal (FONTANA; BERLATO, 1995). A Lã Niña esteve presente em três safras consecutivas (2020-21, 2021-22 e 2022-23) e o El Niño na última safra de primavera-verão (2023-24). Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é avaliar a produtividade de sete cultivares de soja em duas densidades de semeadura, para o ano agrícola 2022-23 (La Niña), em área de coxilha na região Central do RS.
Metodologia
O estudo foi realizado na área experimental da UFSM – Cachoeira do Sul. O clima, segundo a classificação de Köppen, é subtropical (Cfa) com clima úmido e verão quente. O solo é classificado como Argissolo vermelho (EMBRAPA, 2013). A área de estudo está localizada a 30°01’13” de latitude Sul e 52°56’18” de longitude Oeste.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso no esquema fatorial (7x2), em quatro repetições, os tratamentos constituíram-se da combinação de sete cultivares com diferentes grupos de maturidade relativa (Tabela 1) que foram doadas (kit de experimentação) em duas densidades de semeadura: (D1) com 355.55 sementes/ha (16 sementes/m linear) e (D2) com 488.88 sementes/ha (22 sementes/m linear), no mesmo espaçamento entrelinhas de 0,45 m, assim, totalizou-se 56 parcelas experimentais de 9,45 m2 cada. No ato da semeadura, realizou-se a contagem da quantidade de sementes distribuídas por metro em 3 m lineares de 3 linhas de cada parcela experimental, aferindo assim as duas densidades de semeadura.
A semeadura foi realizada em sistema de plantio direto sob a cobertura de aveia preta no dia 05 de dezembro de 2022, utilizando um conjunto trator (Massey Ferguson MF4275) – semeadora (Massey Ferguson MF 407, de 7 linhas). As sementes de soja foram inoculadas com bactérias do gênero Bradyrhizobium spp e a adubação de base foi de 350 kg/ha da fórmula comercial 5-20-20 (N-P-K), seguindo a análise de solo.
O monitoramento de variáveis meteorológicas ao longo do ciclo (Figura 1) foi realizado a partir da estação meteorológica da UFSM (grupo Metos) instalada bem próximo ao local do experimento. Considerou-se para o cálculo da soma térmica a temperatura basal de 13ºC.
Antes da colheita determinou-se a população final de plantas fazendo a contagem do número de plantas por metro linear em 3 linhas por parcela experimental, após fez-se a média por cultivar, denominou-se de população 1 (P1) a da D1 e de população 2 (P2) a da D2. A colheita das plantas foi realizada no dia 10/04/2023 de forma manual na região central de cada parcela experimental (2 m2), posteriormente foi realizada a trilha, limpeza, determinação de umidade dos grãos e pesagem, também se realizou a contagem de vagens por planta e de grãos por vagem. O peso obtido foi corrigido para uma umidade de 13% e extrapolado para um hectare (kg/ha) e desta mesma amostra obteve-se o peso de mil grãos (PMG). Esses dados foram submetidos à análise da variância pelo teste F e análise complementar do teste “Tukey” em nível de 5% de probabilidade de erro.
Resultados e Discussão
A baixa disponibilidade hídrica (Figura 1) na fase de estabelecimento inicial da cultura, pode ter influenciado para uma baixa população de plantas (Figura 2), em relação a densidade de semeadura realizada. Para a D1 (16 sementes/m), o estabelecimento foi de 9 a 13 plantas/m e para a D2 (22 sementes/ m), o estabelecimento foi de 12 a 14 plantas/m. Dessa forma, a população de plantas foi em média 42% e 68% inferior a densidade de semeadura D1 e D2, respectivamente (Figura 2). Com isso, houve falha de plantas na área, demonstrando que o estande de plantas não ficou adequado (Figura 3). A ocorrência de falhas pode reduzir o aproveitamento de recursos e, consequentemente, a produtividade de grãos (BALBINOT JUNIOR et al., 2015).
Para a maioria das cultivares houve um incremento de produtividade com a maior população de plantas (Figura 4), com exceção as cultivares BMX Zeus e BMX Torque, nas quais a P1 e P2 foi igual ou similar. A cultivar BMX Garra, mesmo com uma diferença pequena entre as populações de plantas (P1 e P2), teve um incremento de 25% de produtividade, na maior população. Nas cultivares BMX Coliseu e BMX Nexus, a produtividade foi incrementada em mais de 40% na P2 e relação a P1.
As cultivares BMX Garra e BMX Coliseu foram as únicas que tiveram maior produtividade por planta (g) na maior população de plantas (Figura 5), indicando que tem elevado potencial de incremento de produtividade em populações maiores. As demais cultivares apresentaram maior produtividade por planta na P1, o que era esperado, pois em baixa densidade, as plantas de soja tendem a emitir maior quantidade de ramos e formar hastes mais robustas, aumentando o número de vagens por planta. Com isso, pode haver compensação da menor quantidade de indivíduos por área pela maior produção por planta (BALBINOT JUNIOR et al., 2015).
As cultivares BMX Zeus (13 pl/m), BMX Nexus (13 pl/m) e BMX Garra (12 pl/m), apresentaram produtividades superiores a 50 sacas/ha (Figura 6), que pode ser considerada satisfatória para um ano com elevada restrição hídrica. Pois, o total de chuvas acumulado no ciclo foi de apenas 259 mm, o que é bem inferior a necessidade hídrica da soja, que varia entre 450 a 850 mm (DOORENBOS; KASSAN, 1994). Segundo Zanon et al. (2018), para altas produtividades (>5.000 kg/ha) são necessários aproximadamente 800 mm de água ao longo do ciclo da cultura.
Além do déficit hídrico, a temperatura do ar teve elevada amplitude (Figura 1), com extremos de 9,7 a 39,5 ºC, que pode ter prejudicado a produtividade da cultura. Segundo Farias et al. (2007), a soja se adapta melhor as regiões onde as temperaturas oscilam entre 20°C e 30°C, sendo que a temperatura ideal para seu desenvolvimento está em torno de 30°C.
Considerações finais
A população de plantas foi em média 42% e 68% inferior a densidade de semeadura D1 (16 pl/m) e D2 (22 pl/m), respectivamente, associada a baixa disponibilidade hídrica, na fase de estabelecimento inicial da soja. As cultivares BMX Zeus (13 pl/m), BMX Nexus (13 pl/m) e BMX Garra (12 pl/m), apresentaram as maiores produtividades (> 50 sacas/ha), considerada satisfatória para um ano com elevada restrição hídrica (259 mm de chuva no ciclo).
1Estudante do curso de Engenharia Agrícola, UFSM Cachoeira do Sul – RS.
2Professora do curso Engenharia Agrícola da UFSM Cachoeira do Sul – RS e do mestrado profissional em Agricultura de Precisão do Colégio Politécnico da UFSM, Santa Maria – RS.
Referências
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