Mudanças do uso da terra destinada a sojicultura no Rio Grande do Sul: um estudo diagnóstico


Autores:

Rafaela Begrow Klein1, Vanderlei Rodrigues da Silva2

Publicado em: 02/08/2025

Introdução

A soja vem se destacando cada vez mais no mercado brasileiro, e adquiriu importância para o crescimento e desenvolvimento da economia no país. Segundo estimativas da Conab, a produção da oleaginosa na safra 2022/23 foi de cerca de 154,6 milhões de toneladas, sendo este um novo recorde comparado às safras anteriores. Já no Rio Grande do Sul, a soja se destaca como uma das principais culturas produzidas, estando presente nas regiões norte e sul do estado. Segundo o governo, a área semeada foi de 6,65 milhões de hectares e a produção foi de 12,9 milhões de toneladas. De acordo com o IBGE, em seu ranking da produção agropecuária gaúcha, a soja foi o produto com maior valor de produção no ano de 2022. No ano de 2023 o estado do Rio Grande do Sul sofreu com fortes estiagens, implicando na sua produtividade, no entanto, a produção foi incrementada em relação ao ano de 2022 em 35,8% no estado.


A produção de soja no Rio Grande do Sul remonta há mais de 100 anos, sendo primeiramente produzida em Santa Rosa em 1914, e mais tarde, sendo produzida para fins comerciais na década de 1970 como uma alternativa mais prática de cultivo do que o trigo (BRUM, MELLO, 2020). Cada vez mais, a oleaginosa foi ganhando espaço, até se tornar uma das culturas mais importantes na cadeia produtiva agrícola do estado. Sua comercialização proporcionou às regiões produtoras um expressivo desenvolvimento econômico, bem como também uma expansão e modernização das atividades agrícolas, que consequentemente, levaram a um maior desenvolvimento dos municípios integrados a essa cadeia de produção. Assim, várias cidades no estado do RS cresceram e se desenvolveram graças à alavancagem proporcionada pelo cultivo da soja.  


A expansão do cultivo da soja na região denominada metade sul do RS proporcionou um aumento da área de cultivo da oleaginosa, mudando significativamente o uso do solo e a economia dos municípios nesta região. Diversos municípios se destacam como os principais produtores do grão de soja no estado do Rio Grande do Sul, destinando grandes áreas ao cultivo do mesmo. Através da revisão de literatura do artigo: Diagnóstico da mudança de uso da terra para produção de soja no Rio Grande do Sul (STRECK et al. 2018) o qual coleta dados dos anos de 1995 a 2015, o presente trabalho foi elaborado. 

Materiais e métodos 

O desenvolvimento do trabalho se deu através da utilização de dados disponibilizados pelo Departamento de Economia e Estatística do estado do Rio Grande do Sul, por meio do banco de dados dinâmico - DEE Dados, o qual permite realizar cruzamentos entre unidades geográficas, período de abrangência e indicadores, como é o caso da agricultura, utilizada no desenvolver da pesquisa, sendo fundamentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 


Através do banco de informações, obteve-se análises agriculturáveis dos municípios do estado do Rio Grande do Sul registrados. Foram analisados separadamente os vinte municípios do estado com maior área semeada de soja em hectares, durante um período de trinta anos, com intervalos de dez em dez anos, sendo eles de 1993, 2003, 2013 e 2023. A Tabela 1 estabelece a relação dos vinte municípios com suas respectivas extensões territoriais, comparando os anos obtidos na consulta de dados.


Segundo o IBGE, o município de Capão do Cipó não apresentou resultados no ano de 1993 em função da sua tardia emancipação, sendo apenas em 1996. No entanto, os resultados dos anos posteriores exemplificam o aumento da semeadura de soja no município em questão.
 

Resultados e discussão 

A partir dos resultados obtidos pode-se observar que durante um período de trinta anos houve um aumento de 1.219.821 hectares de cultivo de soja no estado do Rio Grande do Sul (Figuras 1 e 2). 


Municípios com grandes extensões territoriais tendem a apresentar maiores áreas destinadas ao plantio de culturas (Tabela 2), como é o caso de Dom Pedrito. Em questões proporcionais, o plantio de soja no município de Dom Pedrito ocupa 31% do território com a cultura da soja. Dentre os 20 municípios com maiores áreas de produção, enfatiza-se Palmeira das Missões, a qual apresenta 77% de sua área territorial destinada à cultura da soja, assim como Santa Bárbara do Sul, com 76% de ocupação da área com a cultura da soja. Embora não estando entre os 20 maiores produtores de soja, o município de Tapera possui uma taxa de ocupação com soja da área territorial acima de 76 %, ou seja, dos 17.993 ha de área total do município, 13.700ha são cultivados com soja no município de Tapera.


No de 1993 o município de Palmeira das Missões ocupava o 1° lugar com maior área cultivada de soja (Tabela 1), entre os anos de 2003 à 2013, o município em questão sofreu um decréscimo destas áreas, enquanto Tupanciretã cresceu consideravelmente em 82.000 hectares, passando a ocupar a primeira posição, com a maior área cultivada de soja. Já nos anos de 2023, o município de Dom Pedrito assumiu a liderança deste ranking, com 160.000 hectares (Tabela 1). 


O aumento de área plantada foi significativo em grande parte dos municípios, com exceção de Giruá, o qual apresentou um decréscimo de 7.000 hectares, como evidenciado no gráfico da Figura 3. 


 O caso do município de Palmeira das Missões, onde inicialmente obteve um grande aumento do plantio de soja, se deve ao decréscimo significativo da área plantada de erva - mate, a qual, por muitos anos, foi o principal alicerce econômico do município, em meados da década de 70. O crescimento da cultura da soja no município se estendeu até a década de 90, dividindo espaço com um pequeno crescimento na área destinada à produção de milho para atender a demanda das fábricas de ração existentes na região, e também para a rotação de culturas. O aumento da área cultivada com soja nesta época se deve ao decréscimo da produção de feijão, chegando a ser pouco representativo perante a outros índices. Tal situação é resultante dos investimentos, da lavoura empresarial (CASTANHO, BEZZI, 2001). 


A expansão da cultura da soja no município de Giruá foi marcada pelo decréscimo da área plantada de trigo, durante a década de 70 (PETTER, 2023). No entanto, nas últimas safras, apresentou diminuição da área cultivada (Figura 2), a qual pode ser explicada pela presença do fenômeno La Ninã, que já atuava no ano de 2021, provocando períodos longos de estiagem e impactando a produção. Segundo o Relatório da Estiagem, publicado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento do Governo do Estado, as baixas precipitações, que já ocorriam desde julho de 2021, foram a principal causa para a redução na safra de soja e prejuízos na cadeia produtiva. 


Ademais, a área plantada de soja no município de Dom Pedrito passou a ter importância socioeconômica recentemente, o crescimento da cultura foi bastante expressivo a partir do ano de 2008, onde a área plantada era em torno de 25.000 hectares, desde então obteve-se maiores números, substituindo áreas onde anteriormente eram ocupadas por bovinos e ovinos, para destinar ao cultivo da soja (AOZANI, 2014).
Em analogia, a maioria dos municípios que obtiveram um crescente aumento dos anos de 1993 até 2023, se devem em função da substituição de áreas de pecuária extensiva e produção de demais culturas para a implantação de lavouras de soja, em função do maior retorno econômico ofertado pela sojicultura.

Conclusões

Portanto, os resultados obtidos esclarecem uma grande expansão em áreas de cultivo de soja, durante um período de 30 (trinta) anos nos municípios da região centro-sul do estado, substituindo áreas onde anteriormente dedicavam-se à pecuária de corte extensiva e a demais culturas, como o milho, o trigo e a erva-mate, para o plantio de soja. 

1Acadêmica do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria Campus Frederico Westphalen (UFSM-FW) Frederico Westphalen-RS;

2Professor Dr. do Departamento de Ciências Agronômicas e Ambientais, UFSM-FW.

Referências

AOZANI, M. L. Impactos socioeconômicos da cultura da soja no espaço urbano do município de Dom Pedrito. 11 de agosto de 2014. Disponível em: <https://repositorio.unipampa.edu.br/handle/riu/460>. Acesso em: 10 de abril, 2024

CASTANHO, R. B.; BEZZI, M. L. Dinâmica do espaço agrário do município de Palmeira das Missões - RS a partir da década de 70. Boletim Gaúcho de Geografia, 27: 108-117, dez., 2001. Versão online. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/bgg/article/view/38438/24702>. Acesso em: 25 de abril, 2024

Companhia Nacional de Abastecimento. Com novo recorde, produção de grãos na safra 2022/23 chega a 322,8 milhões de toneladas. 06 de setembro de 2023. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/ultimas-noticias/5157-com-novo-recorde-producao-de-graos-na-safra-2022-23-chega-a-322-8-milhoes-de-toneladas> Acesso em: 3 de março, 2024

Departamento de Economia e Estatística. DEEDADOS. Disponível em: <http://deedados.planejamento.rs.gov.br/feedados/#!pesquisa=2> Acesso em: 4 de março, 2024

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agropecuária. 2022. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/rs> Acesso em: 3 de março, 2024

PETTER, M. N. A produção de soja na região noroeste do Rio Grande do Sul no período 1950 - 1980. UFFS, 2023. Disponível em: <https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/6806> Acesso em: 25 de abril, 2024.

Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. Quantidade produzida de soja em grão, média 2020-2022 – RS. Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS. 11 de dezembro de 2023. Disponível em: <https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/midia/imagem/quantidade-produzida-soja-rs-2020-2022> Acesso em: 3 de março, 2024

Secretária da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural. SEAPDR. RELATÓRIO ESTIAGEM Nº 04/2022. Disponível em: https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202204/04103726-relatorio-estiagem-04.pdf. Acesso em 28 de abril, 2024.