Caruru-Palmeri ou Caruru-Gigante (Amaranthus palmeri)


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 31/08/2018

Em 2015, foi identificada em lavouras de algodão, soja e milho na região Centro-Norte do Mato Grosso a principal planta daninha do algodão nos Estados Unidos, que aqui ficou conhecida como Caruru-Palmeri ou Caruru-Gigante. Além de ser uma planta extremamente agressiva em termos de competição, no Brasil foram identificados biótipos resistentes a alguns herbicidas.

Na ocasião da identificação, o INDEA-MT baixou uma Instrução Normativa estabelecendo medidas fitossanitárias para contenção e erradicação do Caruru. Três anos depois, pelo esforço dos agricultores e entidades preocupadas com esse problema, a espécie está controlada no Centro-Oeste, mas não totalmente erradicada, existindo a possibilidade de novos surtos e da dispersão da planta para outros estados.

O caruru-palmeri (Amaranthus palmeri S. Watson) é uma planta perene da ordem Caryophyllales e da família Amaranthaceae, originária de regiões áridas do Centro Sul dos Estados Unidos (EUA) e Norte do México, que com o tempo se alastrou para vários países. Essa espécie possui uma haste central de cor verde-avermelhada, com vários ramos laterais.

As flores masculinas e femininas ocorrem em plantas distintas, e a inflorescência tem formato cilíndrico ou de pico, ficando sobre a haste central, e as sementes são arredondadas, de tom roxo escuro, medindo menos de 2 mm. Essa espécie pode produzir sementes mesmo sem haver polinização entre as plantas. Esse caruru pode ser confundido com outras espécies da família Amaranthaceae no país como o caruru de espinho (Amaranthus spinosus).

Existem algumas características específicas que podem ser usadas na identificação: O pecíolo das folhas desse caruru normalmente é maior que a lâmina da folha; essa espécie tem inflorescências femininas e masculinas em plantas diferentes; e a inflorescência da planta feminina tem folhas rudimentares que dão a sensação de picadas quanto tocadas. Além disso, uma mancha em formato de V pode ser encontrada nas folhas desse caruru (bem como de outras espécies).

Produção de semente padrão: 200 a 600 mil sementes/planta

Polinização: Pelo vento. Produz grande quantidade de pólen.

Temperatura de germinação: ≈ 30-38 ºC

Longevidade das sementes: Entre 18 meses e até mais de 5 anos.

Profundidade de germinação: Germinam no raso (emergência de 40% quando a semente está até 2 cm de profundidade). A germinação dura de 1 a 2 dias.

Taxa de crescimento: Pode crescer de 1,5 cm até 4 cm por dia, dependendo das condições. Pode atingir até mais de 2 metros de altura.

Resiste a condições de altas temperaturas e baixa pluviosidade, mas não tem tolerância a temperaturas muito baixas, embora seja de fácil adaptação. É uma planta com metabolismo C4, com uma taxa fotossintética mais elevada do que outras plantas C4 padrão, e com temperatura ótima para fotossíntese entre 35 ºC e 46ºC, capacidade de continuar a fotossíntese mesmo sob forte estresse hídrico, alta eficiência no uso da água, e movimentação da folha ao longo do dia, mantendo a folha na melhor posição para fixação de carbono.

Existem também relatos de efeitos alelopáticos sobre outras espécies. Além disso, Amaranthus palmeri pode cruzar com outras espécies do gênero, inclusive transferindo genes de resistência a herbicidas.

Nas amostras coletadas no Mato Grosso no ano da infestação inicial, foram identificadas plantas resistentes a glifosato, clorimurom e piritiobaque. Nos Estados Unidos, já foram relatados casos de caruru resistente ao glifosato, inibidores de ALS, inibidores do Fotossistema II, inibidores de HPPD, e inibidores de tubulina. Também nos EUA, foi estimado que um estande de plantas natural teria uma capacidade de produzir até 5,5 toneladas de massa seca por hectare em 4 semanas.

O caruru palmeri afeta o desenvolvimento e o rendimento das culturas suprimido por alelopatia ou competição. Dependendo da intensidade e da cultura afetada, perdas na produtividade podem chegar a 80%. Nos EUA, uma densidade de 1 a 10 plantas por m² de A. palmeri pode reduzir a produtividade em algodão de 11 a 59%, e em soja, a maior perda estimada, de uma densidade de 8 plantas por m² durante todo o ciclo, foi de 79%.

Em outro estudo nos EUA, uma planta de caruru por 3 m de linha reduziu a produtividade de soja em 17%, e uma planta a cada 30 cm de linha diminui a produtividade em 64% quando a lavoura e a planta daninha emergem juntas.

Produtividades de milho foram reduzidas em 20% com uma planta de caruru palmeri a cada 2 metros de linha, e 40 a 80% com uma planta a cada 30 cm de linha. A colheita pode ser dificultada por altas densidades dessa planta, e máquinas e implementos podem até ser danificados.

Em relação ao momento de competição, com a emergência da planta daninha várias semanas após o milho, ela teve menor impacto na produtividade, e a produção de sementes foi reduzida de 80 a 98%. Em um estudo no Kansas, o caruru plantado juntamente com a soja teve redução de 28% na produtividade, enquanto que a o caruru plantado 15-20 dias após a soja não teve efeito na produtividade.

Por ser uma planta com todas as características citadas, todo caso identificado dessa espécie deve ser comunicado à assistência técnica e autoridades sanitárias, para que ações sejam tomadas o mais breve possível. O manejo dessa planta pode ser feito com o uso de herbicidas registrados, embora segundo consulta ao Agrofit, apenas dois produtos possuem registro para essa espécie no Brasil, que são Enlistduo Colex-D (Glifosato na forma de Sal de Dimetilamina + 2,4-D na forma de sal de Colina) e Expectrum OD (diurom + trifluralina). Métodos alternativos, como capina manual e arranque das plantas, também podem ser usados. Roçar não é altamente recomendado pois o caruru pode rebrotar facilmente.

O manejo integrado de Amaranthus palmeri (e outras plantas daninhas similares) pode ser realizado da seguinte forma:

1) Eliminar todas as plantas existentes antes da semeadura, cm aplicação de herbicidas e práticas complementares se necessário.

2) Implantar a cultura com sementes de qualidade e quantidades suficientes de fertilizante para crescimento rápido e vigoroso, para competir com as plântulas de Caruru-Palmeri. Se possível, ajustar o plantio para evitar períodos muito quentes e secos na fase inicial da cultura, pois o Caruru terá vantagem nessas condições.

3) Após o plantio, monitorar a área a cada 2 ou 3 dias para verificar emergência de plântulas de caruru. Não se deve esperar para identificar se será Amaranthus palmeri ou não.

4) Usar herbicidas na pré- -emergência da cultura, se possível, com mecanismos de ação diferente de inibidores de EPSPs (glifosato) e inibidores de ALS (clorimurom), e com ação residual. Também deve-se realizar aplicações de herbicidas na pós-emergência da cultura, nos estádios iniciais do Caruru (2 a 4 folhas).

5) Monitorar frequentemente, queimando as plantas existentes após sua retirada da área.

6) Controlar as plantas que se desenvolverem em carreadores, bordaduras e áreas não cultivadas do local, assim como em estradas próximas.

7) Limpar todo o maquinário após trabalhar em áreas infestadas. As áreas infestadas devem, se possível, ser semeadas por último.

8) Rotação de culturas e de biotecnologias, para evitar aplicação de apenas um mecanismo de ação na mesma área de forma contínua.

9) Em caso de amostras de solo infestado serem enviadas para análise, informar o laboratório para esterilizar o material antes de descartar.

Controle químico

No controle químico do Amaranthus palmeri, diversos estudos foram e são realizados para descobrir as alternativas de melhor efeito. No Brasil há uma dificuldade na realização de ensaios pois Amaranthus palmeri é uma espécie quarentenária no país, sendo necessário autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para serem conduzidos.

Para espécies similares (do mesmo gênero), foi publicado estudo em 2011 para avaliar efeito de herbicidas residuais, ferramenta muito importante na estratégia de controle. Nesse estudo, o S-metolachlor foi eficiente no controle residual de outras espécies do mesmo gênero pelo período de até 30 após aplicação¹. Ao mesmo tempo, Trifluralin proporcionou controle de 80% até pelo menos 28 dias após aplicação para espécies de Amaranthus em um solo de textura franco argilo-arenosa².

Um dos programas nos Estados Unidos para o controle do Amaranthus resistente é baseado na aplicação em pré-emergência de S-metolachlor + flumioxazin, ou flumioxazin + pyroxasulfone, seguido de fomesafen com plantas de caruru menores do que 8 cm.3

Da mesma forma, foram encontrados efeitos de 50 a 70% de controle com flumioxazin, sulfentrazone, S-metolachlor, fomesafen + S-metolachlor, e clorimuron + metribuzin4.

A aplicação de herbicidas inibidores de HPPD em mistura com atrazina fornece também resultados razoáveis de controle5.

A atrazina em mistura com isoxaflutole e tombotriona demonstraram melhor efeito no caruru em estudo, bem como a atrazina misturada ao isoxaflutole + thiencarbazone-metil, que teve mais de 90% de controle 8 semanas após aplicação em pré- -emergência, em comparação com a mistura sem adição de atrazina6.

Herbicidas como fomesafen e lactofen devem ser aplicados antes de o Amaranthus chegar a 8 cm de altura para serem efetivos7.

Em plantas mais desenvolvidas, pode ser necessário aplicação sequencial de herbicidas com intervalo de, aproximadamente, 5 dias entre as aplicações. Em algodão, realizando tratamentos com duas aplicações, uma em pré-emergência (s-metolachlor trifluralin e pendimentalin) e outra em pós-emergência com glufosinato de amônio, foi possível atingir 95% de controle dessa espécie de caruru8.

Segundo Gazziero e Silva (2017), a utilização de herbicida pré-emergente da classe dos inibidores de ácidos graxos de cadeia longa é uma alternativa. Na pós-emergência, pode-se optar por inibidores do Fotossistema II, associado a inibidores de HPPD. Em milho e soja com tolerância ao glufosinato de amônio, pode-se realizar aplicação desse herbicida na pós-emergência, associado ou não a atrazina9.

Referências

AGROFIT. Sistemas de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: . Acesso em 31 de julho de 2018.

ANDRADE JUNIOR, E. R. de; CAVENAGHI, A. L.; GUIMARÃES, S. C.; CARVALHO, S. J. P. de. Primeiro relato de Amaranthus palmeri no Brasil em áreas agrícolas no estado de Mato Grosso. Circular técnica IMAmt. N. 19. 2015

5BARARPOUR, M. T.; OLIVER, L. R.; BELL, C. G. Comparisons of HPPD inhibitors for weed control programs in corn. Pg. 16 Proceedings of the Southern Weed Science Society. 2011. Las Cruces, NM: Southern Weed Science Society.

³ DILLON, T. W.; SCOTT, R. C.; DICKSON, J. W.; PEARROW, N. D. Glyphosate resistant pigweed control in soybean. Pg. 232. Proceedings of the Southern Weed Science Society. 2011. Las Cruces, NM: Southern Weed Science Society

EHLERINGER, J. Ecophysiology of Amaranthus palmeri, a sonoran desert summer annual. Oecologia (1983) 57: 107

EUROPEAN AND MEDITERRANEAN PLANT PROTECTION ORGANIZATION. EPPO Alert List – Amaranthus palmeri (Amaranthaceae). 2014. Disponível em: Acesso em 02 de agosto de 2018.

GAZZIERO, D. L. P.; ADEGAS, F. S. Amaranthus palmeri no Paraná: alerta. Londrina: Embrapa Soja, 2016.

9GAZZIERO, D. L. P; SILVA, A. F. da. Caracterização e manejo de Amaranthus palmeri. Londrina: Embrapa Soja, 2017. 39p.

8IKEDA, F. S.; CAVALIERI, S. D.; LIMA JUNIOR, F. de M.; METZ, L. H.; FONSECA, B. T. da. Controle químico de Amaranthus Palmeri com Resistência Múltipla aos Herbicida Inibidores da EPSPs e ALS na cultura do Algodão. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE PLANTAS DANINHAS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO TROPICAL, 2.; SIMPÓSIO INTERNACIONAL AMAZÔNICO SOBRE PLANTAS DANINHAS, 5., 2017, Alta Floresta. Resumos... Alta Floresta: SBCPD, 2017.. 2017

4JORDAN, D. L.; YORK, A. C.; HINTON, J.; SEAGROVES, R.; EURE, P. M.; HOFFNER, A. Pigweed management in soybean with preemergence and postemergence herbicide programs. Pg. 246 Proceedings of the Southern Weed Science Society. 2011. Las Cruces, NM: Southern Weed Science Society.

7PROSTKO, E. P. Developing a herbicide resistant weed management plan. Pg. 1538 IN Proceedings of the 2011 Beltwide Cotton Conference. 2011. Cordova, TN: National Cotton Council of America.

¹ RAIMONDI, M. A.; RIOS, F. A.; CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JÚNIOR, R. S. de; BIFFE, D. F.; FRANCHINI, L. H. M.; GEMELLI, A.; SANTOS, G.; GHENO, E. A. Comparação da atividade residual de Alachlor e S-Metolachlor para o controle de quatro espécies de Amaranthus. CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 8.; COTTON EXPO, 1., 2011, São Paulo. Evolução da cadeia para construção de um setor forte: Anais. Campina Grande, PB: Embrapa Algodão, 2011. p.721-728

² RAIMONDI, M. A.; CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JUNIOR, R. S. de; BIFFE, D. F.; GEMELLI, A.; FRANCHINI, L. H. M.; SANTOS, G.; GHENO, E. A. Atividade residual de Trifluralin para o controle de quatro espécies de Amaranthus. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 8.; COTTON EXPO, 1., 2011, São Paulo. Evolução da cadeia para construção de um setor forte: Anais. Campina Grande, PB: Embrapa Algodão, 2011. p.658-663 SCHONBECK, M. Palmer Amaranth (Amaranthus palmeri). eOrganic eXtension Foundation. 2014. Disponível em:

STECKEL, L. E. 2012. The double-edged sword of pre emergence herbicides. Pg. 1519 IN Proceedings of the 2012 Beltwide Cotton Conference. 2012. Cordova, TN:National Cotton Council of America.

6STEPHENSON, D. O.; BOND, J. A. Evaluation of thiencarbazone-methyl and soxaflutole-based herbicide programs in corn. Weed Technol. 2012. 26:37–42.

WARD, S. M.; WEBSTER, T. M.; STECKEL, L. E. Palmer Amaranth (Amaranthus palmeri): A Review. Weed Technology 27:12–27. 2013