Uma das principais pragas de difícil controle no Centro-Oeste atualmente é o percevejo-castanho-da-raiz (Gênero Scaptocoris, em especial S. castanea e S. carvalhoi, e Atarsocoris brachiarea, em pastagens).
Esse é um inseto de hábito subterrâneo, pertencendo à Hemiptera, Subordem Heteroptera e família Cydnidae. O seu principal alimento é a seiva sugada as raízes das plantas hospedeiras, como alfafa, algodão, amendoim, arroz, batata, cana-de-açúcar, café, ervilha, feijão, fumo, girassol, milheto, milho, mandioca, soja, sorgo, tremoço, diversas pastagens e plantas daninhas.
Quando jovem, é um inseto de coloração branca, e no estágio adulto, tem coloração marrom. Em relação ao ciclo do inseto, as fêmeas do S. castanea têm o hábito de ovopositar no solo, utilizando o sistema radicular das plantas hospedeiras como refúgio, ficando protegido nas cabeleiras contra o ataque de predadores e condições de umidade do solo.
Da postura dos ovos, até a fase adulta, o ciclo da praga varia de 150 a 180 dias. Alguns estudos mostram que a incubação dos ovos dura cerca de 30 dias, e após a eclosão, os jovens permanecem nas raízes, passando por cinco instares, durando de 4 a 5 meses, enquanto que a fase adulta dura de 5 a 7 meses. Os adultos realizam uma revoada em épocas de chuva, com finalidade de dispersão e reprodução.
Normalmente, em períodos de chuva, observam-se ninfas e adultos nas camadas mais superficiais do solo enquanto que nas épocas de seca, o percevejo pode habitar camadas mais profundas. Esses insetos são encontrados normalmente a profundidades de 20 a 40 cm, embora no momento do acasalamento, podem ser encontrados a uma profundidade de cerca de 1,5 a 1,8 m de profundidade, sendo que os ovos são postos na camada de 0 a 20 cm.
Em safras com chuvas mais precoces a tendência é de ter infestações maiores no início do plantio da soja, mas em anos com chuvas mais tardias o problema fica mais grave. Com a presença do inseto, além de perder a capacidade de rebrote, as plantas podem apresentar redução do porte, tornando-se secas e com sintomas de falta de umidade.
Isso ocorre pois, além da sucção da seiva, o percevejo castanho injeta toxinas que impedem o crescimento, causando amarelecimento, e em muitos casos, matando as plantas.
Os sintomas causados por essa praga normalmente ocorrem em reboleiras de tamanhos variados. A população em que essa praga começa a causar danos em soja não é totalmente estabelecido, mas perdas podem começar a aparecer com 25 a 40 insetos/m de linha de soja.
Alguns inimigos naturais e/ou fungos possíveis de serem utilizados como controle biológico desse percevejo são os fungos do gênero Metarhizium, como Metarhizium anisopliae, bem como dos gêneros Beauveria (Beauvria bassiana) e Paecilomyces, embora sem muitos registros de controle realmente eficiente a campo.
A aração ou a gradagem pode reduzir (estima-se em 30 %) a população dos percevejos que se encontram na camada superficial do solo. No período normal de aração (abril a novembro), quando os percevejos se encontram em camadas mais profundas do que às alcançadas pelo arado ou pela grade, o controle será insignificante. O cultivo de plantas com maior volume de raízes, como as gramíneas, ou a adoção de práticas que estimulam o crescimento radicular (sulcador na semeadora, gesso etc.) permitirão à planta tolerar a presença da praga, quando em populações baixas.
Em experimento na cultura do milho de segunda safra (CECCON et. al., 2004), foram testados inseticidas para o controle de determinadas pragas de solo. Nessa ocasião, o inseticida fipronil (via pulverização em jato dirigido na linha de semeadura) destacou-se no controle do percevejo.
Pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, temos hoje a principio apenas 2 produtos registrados, sendo eles o Counter 150 G (terbufós) e o Durivo SC (clorantraniliprole + tiametoxam). Inseticidas com ação de contato pulverizados no sulco de plantio tem baixa eficácia sobre o inseto em função de que adultos e ninfas esperam para sugar raízes que estão fora da área tratada.
O tratamento de sementes com inseticidas é uma alternativa efetiva até duas ou três semanas após a semeadura. A aplicação de inseticidas na parte aérea não garante o controle da praga nem mesmo com inseticidas sistêmicos ou volumes elevados de água. Em experimento realizado em Casa de Vegetação , a incorporação de vinhoto, matéria orgânica (oriunda de capim-elefante) e calcário no solo influenciaram na redução da população do percevejo castanho-das-raízes, sendo que a aplicação de calcário/matéria orgânica tiveram o melhor efeito nessa redução.
Áreas em pousio geralmente tendem a apresentar populações menores do inseto, em função da redução da oferta de alimento, o que poderia representar uma medida de controle, embora não muito recomendada em função de outros problemas que o pousio pode trazer.
Referências
CECCON, G.; RAGA, A.; DUARTE, A. P.; SILOTO, R. C. Efeito de inseticidas na semeadura sobre pragas iniciais e produtividade de milho safrinha em plantio direto. Bragantia, Campinas , v. 63, n. 2, p. 227-237, 2004.
GASSEN, D. N. O percevejo-castanho nos Cerrados. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, n. 56, 2000.
FROHLICH, W. F.; KIMURA, M. T.; AMARAL, J. L. do; MEDEIROS, M. O. Influencia de corretivos incorporados ao solo sobre a população do percevejo castanho-das-raizes Scaptocoris Carvalhoi BECKER, 1967 (HEMIPTERA, CYDNIDAE). Biodiversidade - v.16, n2, 2017.
LIMA, A. R.; COLLE, A. C.; SANTOS, F. A. S. Percevejo castanho Scaptocoris castanea (HEMIPTERA: Cydnidae) como praga potencial em áreas de pastagens. Cultivando o Saber. Cascavel, v. 6, n. 4, p. 1–12, 2013.
OLIVEIRA, L. J.; MALAGUIDO, B.; NUNES JÚNIOR, J.; CORSO, I. C.; de ANGELIS, S.; FARIAS L. C.; HOFFMANN-CAMPO, C. B.; LANTMANN, A. F. Percevejo castanho da raiz em sistemas de produção de soja. Londrina: Empresa Brasileira de Pesquisa de Soja, 2000, 44p.