Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Nessa edição, a equipe editorial da Revista Plantio Direto conversou com o Dr. Marquel Holzschuh, coordenador de solos, pesquisa e planejamento agrícola da SLC Agrícola com o intuito de trazer algumas informações sobre como é conduzido o planejamento e manejo de cultivos nas fazendas do Grupo. Fizemos algumas perguntas ao Dr. Holzschuh sobre a localização, principais cultivos, planejamento e condução das lavouras, entre outros tópicos.
1. Em quais tipos de clima e solo estão as Fazendas da SLC?
A SLC Agrícola possui 16 unidades produtivas em seis estados brasileiros: GO, MS, MT, BA, PI e MA. Essa distribuição caracteriza uma diversidade de condições de cultivo, como precipitação, temperatura, altitude e latitude, relevo e tipo de solos, que são os principais fatores que influenciam no desenvolvimento das plantas, determinando os fatores de sucesso e/ou de risco para a produção agrícola.
2. Quais culturas são produzidas e com qual finalidade? Quais as principais épocas em que são cultivadas?
A SLC Agrícola produz soja (1º safra), milho e algodão (1º e 2º safra) em uma área de cultivo de 464 mil hectares na safra 2020/21. O período de produção compreende o momento de chuvas da região do Cerrado, nos respectivos estados de atuação, que normalmente iniciam em outubro e finalizam em abril, com poucas ocorrências em maio.
Nesse período, é possível produzir dois ciclos de culturas (safra + 2º safra) em algumas fazendas e em outras somente uma safra por ano, como na Bahia e Piauí. Deste total, 98% da área cultivada em condições de sequeiro e depende da precipitação natural.
Da produção de grãos, atualmente 80-85% da soja e do milho é exportado e comercializado via trading e o restante vendido para consumo interno no Brasil. Para o algodão, o cenário é diferente, pois atualmente 100% da pluma produzida é exportada com comercialização via tradings e venda direta ao cliente.
3. Sobre o planejamento e execução dos cultivos:
a) Com quanta antecedência é feito o planejamento da safra?
Para a empresa, o ano agrícola começa em setembro, pois é a partir desse mês que começam as implantações das culturas nas fazendas que permitem o plantio. Nesse caso, para que tudo esteja organizado para o início da safra, o planejamento agrícola deve ser realizado alguns meses antes. Normalmente iniciamos esse processo em outubro do ano anterior, portanto, com 12 meses de antecedência.
Nesse período, a equipe técnica realiza, cada um na sua área de atuação/especialização, um acompanhamento das ações e decisões tomadas para última safra e as respostas sobre o desenvolvimento e produção das culturas. Também são realizados novos estudos e análises de informações de pesquisa interna e externa, entre outras informações relevantes, que fornecem a base para a elaboração do próximo planejamento.
A cada ano, o planejamento agrícola é consolidado nos meses de janeiro a março, em parceria com a equipe técnicas das fazendas. A partir daí, os volumes de insumos gerados passam para o processo de aquisição e entrega nas fazendas a partir de abril/maio, de acordo com a demanda específica em cada etapa da construção, implantação e condução da nova safra.
b) Como é o processo de escolha de variedades?
Nas últimas décadas, os avanços na agricultura brasileira demandaram necessidades técnicas que, em alguns casos, careciam de informações precisas em regiões específicas e promoveram manejos muitas vezes inadequados que geraram problemas que antes não eram relevantes na agricultura, tal como correções de solo, proliferação de nematóides, plantas e pragas resistentes a defensivos, entre outros.
Nesse contexto, houve avanços em genética e melhoramento vegetal no sentido de mitigar ou resolver esses problemas, gerando cada vez mais complexidade no manejo das culturas. Nesse sentido, atualmente a escolha de variedades e híbridos passa por uma análise criteriosa, buscando informações sobre quais genótipos se enquadram melhor para cada situação de lavoura, pois, devem ser considerados, além do potencial produtivo, a resistência ou tolerância a pragas, nematóides e herbicidas, pois hoje esses fatores se não administrados adequadamente, podem inviabilizar o cultivo.
Para entender melhor tais fatores e contornar essas dificuldades, a SLC Agrícola detém áreas de pesquisa e experimentação agrícola em 14 das 16 unidades produtivas, algumas com mais de 30 anos de condução, que visam gerar dados de resposta específica daquela região onde a fazenda está localizada. Isso tem dado subsídio importante para a tomada de decisão de quais genótipos apresentam maior resposta em cada situação de lavoura, permitindo reduzir a margem de erro e buscar o maior potencial produtivo para cada situação.
c) Como é definido a quantidade e tipos de fertilizantes a serem utilizados?
Na área da nutrição do solo e das culturas, felizmente temos muita informação gerada ao longo dos anos pela pesquisa agrícola, que auxilia nos direcionamentos e nas tomadas de decisão. Entretanto, com todo esse volume de dados, existem informações de qualidade e outras geradas com certo empirismo e/ou menor rigor científico que, quando divulgadas de forma convincente, induzem a manejos inadequados e podem causar problemas ao agricultor.
Por isso, é fundamental conhecer com detalhe a condição de fertilidade de cada lavoura para fazer uma recomendação de correção de solo e de adubação mais assertiva.
Para isso, monitoramos continuamente a fertilidade das lavouras para avaliar a resposta das intervenções com fertilizantes, visando adequar os níveis de nutrientes no solo para teores que nos permitam maior segurança e estabilidade produtiva, sempre considerando o uso de fertilizantes de forma racional, do ponto de vista técnico, financeiro e ambiental.
Na SLC Agrícola são consideradas diferentes fontes de informações para realizar uma análise e a recomendação, tanto de correção de solo como a adubação anual de manutenção.
De acordo com análises dos atributos químicos, físicos e, mais recentemente, biológicos, deve-se elaborar uma estratégia de aplicação, considerando a capacidade operacional da fazenda e selecionar as melhores fontes para cada nutriente e situação. Nesse caso, a utilização de fontes simples de nutrientes permite uma maior flexibilidade para estabelecer doses de cada nutriente, visto que, em fazendas com maior extensão de áreas, normalmente se tem talhões com condições de fertilidade muito distintas.
d) Como é feito o dimensionamento e organização do maquinário para as operações no campo?
Com a definição do planejamento agrícola, nas diferentes áreas, como manejos de solo, aplicações de calcário e gesso, plantio, aplicações de defensivos, fertilizantes e colheita, são definidas as demandas de operações para cada atividade pela equipe do setor de mecanização agrícola.
Cada fazenda tem um contexto distinto, em função das características das lavouras, como área, relevo, incidência de doenças, pragas, plantas daninhas, necessidade de fertilizantes, entre outros, que exigem avaliações criteriosas quanto a necessidade de máquinas e implementos para que tudo ocorra no momento correto e não prejudique o desenvolvimento das culturas.
Com base na organização dessas informações, é possível elaborar um cronograma de atividades para, a partir daí, realizar o dimensionamento de máquinas necessárias para atender todo o ciclo produtivo.
Como em cada fazenda existe uma frota com algumas diferenças, o dimensionamento deve considerar o rendimento de cada modelo de máquina por dia/turno trabalhado e uma equipe de apoio para eventuais manutenções.
e) Como é feito o monitoramento e manejo de pragas, doenças e plantas daninhas?
O manejo integrado de insetos, doenças e plantas daninhas na SLC Agrícola leva em consideração uma série de informações técnicas, como resultados internos e externos de pesquisa com defensivos e formas de controle, monitoramento e geração de níveis de infestação de pragas, doenças e plantas daninhas em tempo real, acompanhamento agronômico qualificado em cada unidade, aplicações racionalizadas, entre outras.
Com essa base de dados, é possível realizar um controle integrado, planejado e eficiente, levando em consideração a eficiência agronômica e o custo/benefício de cada etapa do processo, com menor uso de defensivos químicos, e respeito ao meio ambiente. Algumas práticas para obtenção de informações e manejo são obtidas da seguinte forma:
1) Pesquisa: a empresa possui áreas de experimentações em 14 fazendas, totalizando 1,4 mil hectares destinados à realização de ensaios para geração de informação local e interna. Os resultados são consolidados e utilizados no nosso planejamento agrícola, gerando informações técnicas para avaliação das tecnologias fitossanitárias para cada praga, doença ou planta daninha nos diferentes locais de cultivo da SLC Agrícola;
2) Monitoramento georreferenciado de culturas: periodicamente são realizadas inspeções e amostragens em todas as lavouras por técnicos de campo, que são lançadas em uma plataforma de monitoramento georreferenciado.
Com base nessas informações, são gerados mapas com os níveis de infestação de pragas e doenças. As informações são analisadas pelos agrônomos responsáveis e transmitidas diretamente para o pulverizador que realiza a aplicação apenas onde as infestações podem causar prejuízos econômicos, resultando em uma economia significativa no uso de defensivos;
3) Aplicação direcionada: A tecnologia envolve o uso de sensores embarcados em máquinas agrícolas, voltados à aplicação localizada de defensivos. Em alguns casos, como no controle de ervas daninhas na pós-colheita das culturas, há uma redução de até 95% na utilização dos insumos;
4) Monitoramento de ervas daninhas: Sistema de monitoramento por drones que localiza e informa a quantidade de plantas daninhas nas lavouras. O monitoramento aéreo permite a construção de um mapa para aplicação localizada de herbicidas, gerando reduções médias de 55% na utilização de herbicidas nestas áreas;
5) Biodefensivos: O manejo biológico, embora não seja uma prática recente no mercado, nos últimos anos vem ganhando maior relevância no controle fitossanitário, com mais estudos e tecnologia. Os resultados observados com a utilização de produtos biológicos têm mostrado resultados positivos, do ponto de vista técnico e econômico, com um forte apelo ambiental e sustentável.
Os produtos custam, em média, 7,5 vezes menos do que as soluções químicas e são eficientes contra as pragas, com mais de 80% na maioria dos casos. Além disso, sua atuação preserva a microfauna e outros insetos desejáveis, como os inimigos naturais e até as abelhas.
A consolidação destes diversos processos se dá conjuntamente com as bases do manejo integrado de pragas, onde as fazendas também adotam as práticas de controle cultural, com rotação de culturas e vazio sanitário; controle comportamental, por meio de utilização de armadilhas, feromônios e desalojantes; Controle varietal ou genético, através da utilização de diferentes biotecnologias que conferem resistência à pragas, doenças e/ou herbicidas; Controle biológico, produzindo internamente e utilizando uma variedade de microrganismos benéficos; Controle químico, através da rotação de ingredientes ativos e mecanismos de ação como forma de auxiliar no manejo da resistência.
f) Como é o sistema de rotação de culturas e plantas de cobertura?
Ao realizar o planejamento das fazendas, a definição da rotação de culturas é o ponto de partida para avançar nas demais áreas que compõem o planejamento.
Nesse sentido, é realizada uma análise do melhor modelo para cada fazenda ou região, sempre visando a rotação entre soja, milho e algodão como culturas principais, e a inclusão de culturas de cobertura como braquiária, que é conduzida no sistema Santa Fé, junto com o milho ou mesmo com a implantação de milheto e crotalária nos períodos de entressafra.
Nas fazendas dos estados da Bahia, Piauí e Goiás (exceto pivôs) é considerada somente uma safra por ciclo, sendo soja, milho ou algodão de primeira safra com a implantação de milheto na entressafra. Já nos estados do Maranhão, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, é possível realizar duas safras por ano, sendo adotados os modelos de soja ou algodão safra, soja+algodão ou soja+milho, de forma intercalada ao longo dos anos. Ao avaliar os planos de rotação, sempre são consideradas as possibilidades de produção de resíduos para cobertura do solo.
Dessa forma, os benefícios da manutenção de palha como cobertura devem ser considerados dentro do sistema produtivo, pois é fundamental para auxiliar no manejo da fertilidade do solo, biologia e microbiologia, doenças, plantas daninhas, variações de temperatura e retenção de água, entre outros benefícios para o desenvolvimento das culturas agrícolas.
g) Como a SLC realiza o manejo conservacionista do solo e água?
O solo é o principal recurso de uma propriedade e deve ser tratado com muita atenção e cuidado. No campo, são adotadas as principais práticas agrícolas conservacionistas, como o uso de plantas de cobertura, terraceamento e adoção da semeadura direta. N
ossa filosofia de trabalho prevê o mínimo de situações que exijam alguma intervenção mecânica no solo, pois as áreas devem ser manejadas adequadamente ao longo dos anos, evitando com isso, o empobrecimento do solo, tanto físico, químico ou biológico.
Atualmente 80% da área é cultivada sob semeadura direta e 20% dividido em manejo de escarificação ou subsolagem e com intervenção de grades. Aqui, é importante frisar que, o uso de escarificação e gradagens somente são utilizadas em casos específicos, como descompactação de solo e incorporação de calcário quando extremamente necessário em áreas que necessitam de ajustes nos manejos para que as lavouras não apresentem redução de potencial produtivo.
O uso de plantas que permitem a produção de palhada para manter a cobertura do solo, principalmente gramíneas, como o milheto, a braquiária e mesmo o milho, são fundamentais na rotação de culturas, pois além da palha que cobre e protege o solo, o sistema radicular é importante para manter ou melhorar a agregação do solo e as características físicas como aeração, infiltração e retenção de água.
Na safra atual, 16% da área recebeu milheto como cobertura e 100 % do milho é cultivado no sistema santa fé, em consórcio com braquiária.
Essa área com produção de palha corresponde a 42% da área total cultivada, sendo o restante das áreas cultivadas com o algodoeiro na rotação.
É importante considerar que a utilização adequada das práticas de rotação e produção de resíduos como cobertura permite reduzir ou evitar problemas relacionados a erosão do solo, aumentar a infiltração da água, reduzir a perda de nutrientes, matéria orgânica do solo e outros componentes que são importantes para manter o potencial produtivo das lavouras.