No final do mês de abril a safra de soja já estava praticamente colhida no Brasil e as estimativas da CONAB apontavam uma produção de 113,02 milhões de toneladas. Para saber como transcorreu a safra de verão, esse ano, novamente, conversamos com alguns técnicos e agricultores que são referência em suas regiões.
Foram consultados técnicos e agricultores do Rio Grande do Sul e do sul de Santa Catarina. Os participantes da análise de safra foram: Décio Fernando Neuls (Vértice Agrícola, Carazinho/RS); Fabiano Paganella (Plantec A.P., Vacaria/RS); Felipe Molinari Martins (Agritec Consultoria, Fortaleza dos Valos/RS); Francisco Souilljee (Engenheiro Agrônomo e Produtor, Ronda Alta/RS); José de Alencar Lemos Vieira Jr. (Rota Agrícola, Lagoa Vermelha/RS); Marcelo Capelari (Copercampos, Campos Novos/SC); Sérgio Schneider (Coopermil, Santa Rosa/RS); Tiago Lamb (Grupo AGROS, Erechim/RS) e Vanderlei Neu (Engenheiro Agrônomo e Produtor Rural, Quinze de Novembro/RS).
Comparação
Na safra, 2016/2017, o país teve uma área plantada de 33,9 milhões de ha, e produção de 114 milhões de toneladas, com produtividade nacional média de 3.364 kg/ha. Nesta safra, 2017/2018, o Brasil teve uma área plantada total de 35,04 milhões de ha de soja e uma produção de 113,02 milhões de toneladas. Com isso, a produtividade média nacional estimada é de 3.224 kg/ha.
Percebe-se que a área plantada no país aumentou, mas a produção não acompanhou esse crescimento. Em Santa Catarina, por exemplo, a comparação da área plantada entre essa e a última safra foi de 640 mil ha em 2017 contra 672 mil ha em 2018. Ou seja, um crescimento de aproximadamente 5%. A produtividade média estimada pela CONAB do estado foi de 3.239 kg/ha, contra 3.582 kg/ha do ano passado. Já no Rio Grande do Sul, a comparação da área plantada entre essa e a última safra foi de 5,57 milhões de ha contra 5,69 milhões de ha.
A produtividade média estimada pela CONAB no Estado foi de 3.082 kg/ha, contra 3.359 kg/ha do ano passado. Lembrando que as estimativas da CONAB e da Emater podem apresentar diferenças tanto para área plantada, quanto para produção e produtividade.
Aspectos gerais da safra
As produtividades da região Norte do Estado foram, em geral, superiores as do Sul, em função basicamente de problemas climáticos. É possível observar no Quadro 1 às produtividades médias dos cinco municípios que mais produziram na região norte do estado. Por hora, a produtividade média do Estado ficou em 2.998 kg/ha, ou quase 50 sacos/ha.
Em relação ao manejo das áreas antes do plantio da soja na região de Carazinho, por exemplo, a maior parte das áreas tinham coberturas e pastagens de aveia, azevém e menos de 15% com culturas de inverno. Na região de Cruz Alta, pousio, pastagens e pouco trigo foram as utilizações da área no inverno. Já na região de Santa Rosa, grande parte das áreas (cerca de 70%) foi cultivado trigo, e no restante o cultivo principal foi a aveia. Seguindo em direção ao nordeste do estado, a maioria das áreas tiveram cobertura de aveia-preta.
No entorno de Vacaria, assim como Campos Novos, havia certa quantidade de áreas com aveia, cevada e trigo e também pastagens. Pelos relatos, após a colheita de verão, está sendo feito muito pousio em praticamente todas as regiões. Dependendo da região, também é inserido pastagem após a colheita da soja. Mostra-se, portanto, uma tendência da redução da área de trigo, e aumento de áreas de cobertura em algumas regiões. Há poucas áreas onde ainda é feita dessecação pós-colheita seguida de cobertura.
Clima
O clima no Norte do Estado de forma geral colaborou, mas foi irregular. A precipitação de chuvas na maioria das áreas foi adequada, e em alguns pontos localizados ocorreu falta de chuvas prejudicando o potencial da lavoura.
O mês de dezembro foi mais seco, e algumas regiões apresentaram veranico em janeiro e outras em março, com períodos de até 17 dias sem chuva, enquanto outras regiões como Ronda Alta tiveram grande volume de chuvas em janeiro. Na Região Nordeste, nos municípios de Lagoa Vermelha e Vacaria, para soja a estiagem não foi fator considerável, pois o período de maior estresse hídrico ocorreu na fase vegetativa.
Cultivares
De forma geral, a época preferencial para o plantio da soja no norte do Rio Grande do Sul foi 15 de outubro até 15 de novembro, com alguns locais que iniciaram mais cedo ou mais tarde o plantio que se estendeu até, no máximo a primeira semana de dezembro. As cultivares mais citadas no relato dos técnicos e agricultores foram BMX Ativa RR, BMX Alvo RR, NA 5909 RG, DM 5958 RSF IPRO e NS 6909 IPRO.
Isso indica que no Norte do Rio Grande do Sul, há preferênciapelas cultivares de hábito indeterminado, considerando que a cultivar Ativa é a única desse grupo que possui hábito determinado. O grupo de maturação relativa das cinco cultivares mais citadas vai de 5.6 até 6.3, sendo a mais precoce a Ativa, e a mais tardia a 6909.
Pragas
De forma geral, foi uma safra com baixa incidência de pragas. Nem percevejos e nem lagartas causaram preocupação. Em algumas regiões houveram problemas pontuais com ácaros, trips e também tamanduáda-soja e outras pragas de solo que causaram baixo dano econômico. Os principais casos de lagartas em algumas lavouras foram com Spodoptera, e também da Lagarta Falsa-medideira, que teve surtos no final do ciclo da cultura na região centro-norte e nordeste do Estado, com certa dificuldade de controle.
Aparentemente, a utilização de cultivares com tecnologia Intacta é maior nas regiões do noroeste do Estado, a partir de Cruz Alta, sendo que na região nordeste do estado, há menos de 30% de utilização na maior parte dos relatos. Alguns participantes da análise de safra relatam que a adoção de Intacta nessa safra pelos agricultores foi reduzida em função do alto custo da sementes, pois para muitos agricultores não há compensação econômica do uso.
Doenças
A ferrugem asiática esteve sob controle nessa safra, na maior parte das lavouras do Norte do Estado, seguindo o programa de aplicações com intervalos definidos e reforço com multissítios. Algumas doenças que atacam raízes e hastes como Rizoctonia, Macrophomina, Fusarium e Phomopsis marcaram presença na safra em várias regiões também. Foi citado o aparecimento de oídio, manchas foliares com menos casos.
O mofo branco foi, com certeza, a doença que mais causou danos na Região Nordeste do Estado, desde o município de Passo Fundo até a região de Vacaria. Em lavouras com histórico da doença, o controle preventivo foi feito, incluindo uso do fungo Trichoderma, e o dano não foi tão intenso. Em locais em que a doença ainda não havia aparecido, principalmente em regiões mais baixas, houve dano severo pelo fungo. Os melhores resultados de controle segundo relatos foram obtidos com fluazinam, boscalida + dimoxistrobina e procimidona.
Plantas Daninhas
Desde a Região de Cruz Alta indo em direção à região nordeste, a buva foi um problema mais relatado, ainda na dessecação, e em especial nos locais onde não foi cultivado cereais de inverno.
Há relatos de que a aplicação isolada de diversos produtos, como 2,4-D, Diclosulam, Paraquat, Clorimurom, Saflufenacil e Glufosinato de Amônio sem sucesso. O controle eficiente só foi alcançado com combinações de princiípios ativos e aplicações sequenciais. Foi citada com melhor resultado a combinação de 2,4-D + Saflufenacil + Glifosato ou 2,4-D + glifosato e uma aplicação de Paraquat após 15 dias. Outra combinação que parece apresentar controle adequado foi a combinação de Glifosato + Saflufenacil + Sulfentrazona.
Em regiões como Santa Rosa, não foi relatado problema de controle de daninhas, sendo a dessecação pré-semeadura feita com Glifosato e Diclosulam na maior parte das áreas. Além da buva, foi citado problemas com azevém na região de Campos Novos e Vacaria, sendo controlado com a utilização de graminicida Cletodim juntamente com Glifosato antes do plantio. Outras plantas daninhas citadas como problemas pontuais foram: cordade-viola, poaia, capim-amargoso e a leiteira.
Conclusão
De forma geral, a safra nas regiões consultadas teve bons resultados, com obstáculos pontuais para o alcance de altas produtividades, tais como a presença do mofo-branco e períodos de estiagem.
Da mesma forma que a safra anterior, o manejo fitossanitário de doenças tem obtido ótimos resultados no controle da ferrugem, doença considerada uma das mais agressivas e com alto potencial de dano. Por outro lado, o mofobranco tem causado preocupação por estar cada pelo crescente registro em áreas que antes não apresentam o problema. A buva, repetindo a passada, continua sendo o maior problema das plantas daninhas, situação que pode ser ocasionada pela falha nos produtos, mas também por falha no manejo.
Houve o registro de talhões sem tecnologia Intacta que tiveram problemas com a lagarta falsa-medideira. Percebe-se também, que em função dos problemas fitossanitários, de estresse hídrico em algumas regiões e o crescimento exagerado de plantas em outras, a safra teve produtividades abaixo da safra anterior.