Para conhecer um pouco de sua trajetória e trabalho, no mês de janeiro a Revista Plantio Direto visitou o produtor rural do município de Colorado/RS, Vicente Barzotto. Vicente, hoje com 55 anos, é filho de Victório e Belmira Barzotto e sempre trabalhou com agricultura, desde criança acompanhava as atividades junto dos pais. Em 1985, com 25 anos, casou-se com Elaine Putrich, filha dos agricultores Gentil e Inês Maria Putrich, de Redentora, RS.
Aos 27 anos passou a trabalhar com o sogro, onde permanece até hoje em sistema de parceria. Tendo como uma característica bastante evidente, Vicente Barzotto realiza todas as suas atividades, seja em casa ou na lavoura, com o máximo de capricho, segundo ele, para evitar que o serviço tenha que ser refeito.
O pai de Vicente fazia trabalhos de carpintaria, e hoje ele hoje realiza a atividade de marcenaria como um passatempo, no qual coloca muito empenho, produzindo móveis, cuias, molduras entre outros itens. Além disso, a organização da propriedade como um todo caracteriza o produtor: no galpão, possui uma prateleira e uma mesa (que ele mesmo fez) onde ordena pregos, parafusos, arruelas, ferramentas e outros itens de forma que fiquem fáceis de localizar. O chão é mantido o mais limpo possível, as paredes são decoradas com antiguidades da propriedade.
Vicente conduz a lavoura em sociedade com o sogro. A família planta em sistema de parceria no qual cada um tem uma porção da área, porém todo o manejo e a compra de insumos é feito em conjunto, dividindo de forma proporcional os rendimentos após a colheita. A propriedade é organizada como uma só, e apenas a despesa e a receita são divididas de forma proporcional.
A área plantada é toda cultivada com lavouras anuais e o produtor faz a maior parte do serviço de plantio, tratamentos e colheita, com auxílio do filho, Daniel, e do sogro Gentil, que ajuda na regulagem e na operação das máquinas. A família cultiva a área há cerca de 30 anos, que hoje está totalmente sob Plantio Direto. Vicente não recorda exatamente o ano em que começou a plantar sem revolver o solo, mas conta que em 1992, quando foi fechado uma divisa entre propriedades, já havia uma parte da área em que não era feito aração e gradagem.
Já em 1997, segundo ele, o revolvimento do solo não era mais feito na lavoura. A principal renda da propriedade vem do cultivo da soja no verão, embora por muitos anos foi plantado milho também. Desde 2005 a cultura não é mais inserida no sistema em função do risco climático, custo de produção e preço. Durante o inverno, sempre foram inseridos o trigo e a cevada, além de áreas com aveia-preta como cobertura. Segundo o agricultor, por volta de 2015, as culturas de inverno foram retiradas por não oferecer rentabilidade, mantendose apenas a cobertura de aveia.
Em 2017, Barzotto voltou a plantar trigo e cevada no inverno. Ele conta que durante vinte anos o solo nunca ficou descoberto durante o inverno, principalmente após o aparecimento da buva. “Há alguns anos era possível deixar o solo sem plantar cobertura, porque as plantas espontâneas de aveia, azevém e outras surgiam, cobrindo o solo, hoje já não é mais assim”, reforça. De acordo com o agricultor no inverno, antes do plantio da soja, parte da aveia de cobertura é colhida para utilização como semente no ano seguinte e também para venda.
O restante é dessecada com uso de glifosato. Durante o outono, Vicente já utilizou a cultura do milheto, como experiência, logo após a colheita da soja para cobertura. No entanto, a germinação não foi boa, resultando em baixo estande de plantas e, além disso, a temperatura caiu mais cedo que o normal naquele ano, levando o produtor a abandonar essa opção de cultura.
Mas, após a colheita da soja de 2017/2018, ele pretende testar uma nova ideia: comprando milho colhido pelo vizinho e ervilhaca produzida pelo cunhado, Barzotto fará uma mistura própria de sementes para cobertura, com milho, ervilhaca e aveia-preta. Em 2018 também, após a colheita da soja, nas áreas onde pretende plantar trigo, o produtor irá plantar nabo forrageiro como cobertura.
Em relação a rentabilidade da propriedade, em 2017 Vicente Barzotto foi um dos poucos da região que conseguiu pagar o financiamento e despesas para as culturas de inverno (trigo e cevada). Ele imagina que parte do resultado positivo em relação à outras propriedades, foi, além do manejo, o fato de a área ter ficado sem trigo ou cevada por alguns anos. Ele afirma também que teve sorte na escolha da variedade de cevada.
“Quando fomos comprar semente de cevada, já tinha encerrado a venda. Conseguimos um pouco da variedade Cauê, e no fim, a única variedade que foi melhor na região foi essa”, comenta o produtor. Nessa safra em específico, o agricultor utilizou a variedade de trigo TBIO Sossego e a variedade de cevada BRS Cauê. Na safra de 2016/2017 ele colheu a média de 79 sacos de soja/ha.
Segundo ele, houve um problema fitossanitário nas raízes das plantas em parte da área, que resultou na perda de 3 a 4 sacos na média geral. A organização que Barzotto implementa no galpão se repete no registro dos dados da produção, que desde 1999/2000 estão disponíveis para acesso através do telefone celular. Com esse controle, o gerenciamento da propriedade fica mais preciso e mais fácil.
Entre os dados que Vicente mantém registro, estão os custos de produção: ele conta que na safra de 2016/2017, o custo com insumos foi próximo a 24 sc/ha, chegando a 30 sc/ha se incluídas as despesas gerais. Já na safra de 2017/2018, o custo de insumos subiu para 30 sc/ha, o que é uma preocupação para os próximos anos.
Para o produtor, os últimos três anos foram muito bons em relação à produtividade e também, pela ausência de problemas na lavoura. Ele afirma ter atingido uma produtividade superior a 70 sc/ha em todos os anos, e que foram poucos os problemas, como falhas no posicionamento de variedades na época de plantio, por exemplo.
Ele comenta que questões políticas e climáticas são fatores que não dependem do agricultor e, por essa razão, não dá muita importância a isso. Ele realiza o manejo da melhor forma para minimizar problemas externos como esses. O clima da região de Colorado é classificado como subtropical úmido (Cfa na classificação de Köppen-Geiger), com altitude média de 417 m, temperatura média anual de 19 oC e precipitação média anual de 1655 mm, sendo que a maior precipitação ocorre historicamente nos meses de setembro e outubro, com cerca de 160 mm/mês.
O tipo de solo é muito argiloso, acima de 70% de argila. Em função disso, existe problemas de compactação na área, em especial nas áreas de cabeceira. Barzotto comenta que um vizinho fez há alguns anos um teste com um subsolador para tentar reduzir a compactação. O teste foi realizado nas áreas com maior problema de compactação e os resultados foram, segundo ele, interessantes, com melhor enraizamento da soja.
O produtor ainda comenta sobre a importância da escarificação ser feita em nível. A propriedade vizinha que realizou os testes de escarificação teve alguns problemas com erosão em função da operação ter sido realizada no sentido do declive.
Em sua opinião, do ponto de vista de controle de riscos, é uma operação que deve ser feito em faixas. Outro ponto levantado pelo agricultor é o fato que implementos para esse tipo de operação necessitam de tratores com muita potência, e que não são todos os produtores que dispõe desse tipo de máquina.
O agricultor faz agricultura de precisão com o uso de mapas de fertilidade para aplicação de fertilizantes e corretivos em taxa variável, por meio do Projeto Ciclus da Cooperativa Cotrijal, da qual é associado. A última correção de acidez foi feita com cerca de 4 a 5 toneladas de calcário/hectare, há 2 anos, e hoje o pH em água da propriedade está praticamente todo acima de 5.5 na profundidade de 0-20 cm, o que faz com que a saturação de alumínio seja 0%.
Ele comenta que em uma das áreas da safra 2016/2017, foi adicionado cerca de uma tonelada/ha de fertilizante, entre cloreto de potássio, fósforo e adubação de base. Como a adubação em taxa variável foi feita no inverno, em uma época de chuvas mais intensas, parte do fertilizante foi perdido. Na cultura do trigo, na última safra, Barzotto conta que foram utilizados 100 kg/ha de cloreto de potássio (KCl), e mais 150 kg/ha de mono-amôniofosfato (MAP).
Em relação ao uso de micronutrientes, o produtor tem feito diversos testes, mas ele considera que de forma geral não se registra diferença na produtividade. Barzotto utiliza apenas manganês, juntamente com o glifosato na dessecação da cobertura para evitar problemas de amarelecimento na soja e não faz a inoculação da cultura todo ano.
De acordo com o agricultor, o processo já foi feito algumas vezes, mas há muita dificuldade operacional na utilização do produto no momento de plantar para que seja feito todo ano. No ano passado ele utilizou gesso, mas ressalta que é um insumo difícil de aplicar: “se ele está muito úmido, não desce da melhor forma, e se estiver muito seco pode ser levado pelo vento”.
O agricultor ainda instalou recentemente um tanque para elaboração de um composto biológico para descompactação do solo sem a utilização de implementos. Ele aponta que é cedo para dizer se houve resultados ou não, mas está apostando que o processo biológico ajude nesse problema. Em relação aos tratamentos fitossanitários da última safra, foram 4 aplicações, sendo: 1) Fox + Cercobin; 2) Elatus + Unizeb Gold; 3) Elatus + Unizeb Gold; 4) Approach Prima + Cypress. Em função da cobertura de palha e vegetação uniforme, não houve problema com plantas daninhas nos últimos anos.
Os problemas com pragas não são frequentes, em especial com lagartas, em função do uso da tecnologia Bt em soja em proporção de aproximadamente 40% da área. Para implantação da cultura o produtor não utiliza semente salva e troca uma das variedades plantadas a cada 3 ou 4 anos, de forma a manter sempre cultivares mais modernas e com alto desempenho.
As cultivares plantadas no ano passado (2016/2017) e as respectivas densidades foram: DM 5958 (13-14 sementes/m), BMX Ativa (16 sementes/m), BMX Lança (14 sementes/m), NS 6006 (14 sementes/m) e BS 2606 (12 sementes/m). Barzotto conclui afirmando: “fazer o serviço bem feito, com capricho e com organização, são fatores tão importantes quanto a escolha do produto, variedade ou maquinário. O agricultor aposta nessa fórmula para continuar, a cada safra, aumentando a rentabilidade da propriedade de forma sustentável.