Cultura da soja e danos de percevejos
Vários fatores são limitantes à produção de soja, entre eles, a ocorrência de insetos-praga, destacandose os percevejos da soja. Para se alimentar, os percevejos injetam saliva na planta que disponibiliza nutrientes, extraindo o alimento para sua sobrevivência. Na fase vegetativa a soja é tolerante aos ataques dos percevejos, entretanto, na fase reprodutiva, os grãos se tornam parte da alimentação desses insetos-praga acarretando perdas quali-quantitativas na produção e prejuízos ao produtor.
O dano causado por esses insetos-praga varia dependendo do estágio em que se encontra o grão atacado. O dano pode variar desde a inviabilização total do mesmo e redução do seu peso até a perda do vigor e potencial germinativo. Comportamento e idade dos percevejos O conhecimento sobre o comportamento do inseto-praga é uma das chaves para que tenhamos uma aplicação eficiente. As principais espécies-praga que ocorrem no Rio Grande do Sul são: Euschistus heros (percevejo-marrom), Dichelops furcatus (barriga-verde), Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno) e Nezara viridula (percevejo-verde-grande).
No decorrer do dia, ocorrem alterações no comportamento dos percevejos. Waite (1980), concluiu que o percevejo-verde-grande fica exposto no terço superior da planta durante o período da manhã (cerca de 9h).
Condições ambientais
As condições climáticas influenciam diretamente a qualidade da aplicação, portanto, deve-se tomar cuidado com aspectos como a temperatura e a umidade relativa do ar. Durante o verão a temperatura sobe e a umidade relativa do ar diminui rapidamente com a chegada do meio-dia e isto dificulta a deposição da gota no alvo, deixando-a em suspensão, induzindo à evaporação. Por isso, deve-se buscar fazer as aplicações de inseticidas para o controle de percevejos, dentro dos horários mais adequados, o que nem sempre é possível. Dessa maneira, a definição do volume de calda e do espectro de gotas deve levar em consideração o horário e as condições ambientais no momento da aplicação.
Volume de calda
A discussão sobre o volume de calda ideal para o controle de insetospraga existe há bastante tempo, sem que haja uma definição sobre o tema. Sabe-se que este é um fator fundamental para o sucesso da aplicação e várias são as variáveis que interferem para o ajuste e a busca por um valor que possibilite uma maior eficiência de controle.
No caso específico do controle de percevejos, quando as aplicações ocorrem no estágio reprodutivo da soja (quando a planta já se encontra com uma área foliar quase plena), a definição do volume de calda deve considerar que é necessária uma quantidade suficiente, para que se tenha uma cobertura adequada, em uma planta com índice de área foliar entre 4 e 6 m2. Atualmente existe uma tendência de reduzir o volume de aplicação, com o objetivo de aumentar a capacidade operacional, porém, essa redução deve ser feita com base em critérios técnicos, para que esse menor volume de calda não venha a causar prejuízos a eficiência agronômica do inseticida aplicado.
Em trabalho realizado por Maziero et al., (2009) com o inseticida Tiametoxam + Lambda-cialotrina em diferentes volumes de calda, a aplicação do inseticida com um volume de calda maior resultou em maior eficiência no controle do percevejoverde-pequeno (Figura 1). O efeito de choque do inseticida foi mais pronunciado com os volumes de calda de 100 e 150 litros/hectare, entretanto, o efeito residual do inseticida foi superior quando se foram aplicados 150 L/ha, esses resultados mostram claramente as vantagens dos volumes mais elevados para a eficiência de controle por mais tempo.
Espectro de gotas e cobertura
Talvez mais importante do que o volume de calda, a escolha correta do espectro de gotas e da consequente cobertura, são os fatores fundamentais no momento do controle de percevejos em soja. O espectro de gotas de uma pulverização, pode ser classificado de acordo com o seu Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV), variando de gotas muito finas, até gotas extremamente grossas, conforme ilustrado na tabela 1.
Essa classificação do tamanho de gota é importante, pois está diretamente relacionada com a cobertura do alvo. Fato este que fica evidenciado quando analisamos a Figura 2, que mostra que as gotas finas têm uma capacidade de cobertura maior que as gotas grossas, entretanto, as gotas menores têm um maior potencial de deriva e perda de volume e de ingrediente ativo, sendo gotas menores que 100 µm mais susceptíveis a essas perdas. Tendo esses dados como parâmetro, é possível tomar decisões importantes no momento da aplicação. Entre eles, qual o espectro de gotas que se pretende trabalhar (que será definido de acordo com a ponta de pulverização e a pressão utilizada) e qual o volume de calda (L/ha) a ser utilizado.
Analisando a densidade teórica de gotas podemos entender como o volume de calda e o espectro de gotas (Diâmetro das gotas em µm) interferem na cobertura de gotas. Por exemplo, se trabalharmos com um volume de calda de 50 L/ha com gotas de 200 µm, o máximo de gotas produzidas é de 119 gotas por cm2, considerando que não tivemos nenhuma perda durante a aplicação, o que na prática não ocorre. Portanto, a redução do volume de calda deve ser recomendada somente se trabalharmos com um tamanho de gota adequado e para aplicações realizadas em condições ambientais favoráveis.
Além disso, a utilização de adjuvantes que protejam a gota durante a aplicação é fundamental para que não ocorram perdas na eficiência de controle.
Considerações finais
A aplicação de inseticidas no controle de percevejos deve levar em consideração o comportamento da espécie, a idade, as condições ambientais, o horário de aplicação, o volume de calda e o espectro de gotas. As aplicações devem sempre ser realizadas com o objetivo de se ter uma cobertura de gotas adequadas para o alvo biológico, dependendo da fase de desenvolvimento da praga e da cultura. Não existe uma recomendação fixa sobre volume de calda e espectro de gotas para a aplicação de inseticidas, entretanto, o conhecimento sobre comportamento da gota é fundamental.
Além disso, quando se busca trabalhar com um volume de calda reduzido é de suma importância que se escolham gotas finas, mas é imperativo a proteção dessa gota, por meio da utilização de adjuvantes. O sucesso no controle de percevejos na cultura da soja depende de diversos fatores, desde a entrada no momento correto até a escolha de um produto adequado. Entretanto, o real funcionamento do produto na lavoura, depende fundamentalmente de uma tecnologia de aplicação correta no momento da sua recomendação, sendo esse o caminho para o controle eficiente dessa importante praga da soja.
Referências
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