Tecnologia de aplicação para percevejos em soja


Autores: Adriano Arrué Melo; Jerson Vanderlei Carús Guedes; Eric Fernandes Luchese; Lucas Hahn; Mailson Licht de Almeida; Matheus Collaço Machado
Publicado em: 31/12/2017

Cultura da soja e danos de percevejos

Vários fatores são limitantes à produção de soja, entre eles, a ocorrência de insetos-praga, destacandose os percevejos da soja. Para se alimentar, os percevejos injetam saliva na planta que disponibiliza nutrientes, extraindo o alimento para sua sobrevivência. Na fase vegetativa a soja é tolerante aos ataques dos percevejos, entretanto, na fase reprodutiva, os grãos se tornam parte da alimentação desses insetos-praga acarretando perdas quali-quantitativas na produção e prejuízos ao produtor.

O dano causado por esses insetos-praga varia dependendo do estágio em que se encontra o grão atacado. O dano pode variar desde a inviabilização total do mesmo e redução do seu peso até a perda do vigor e potencial germinativo. Comportamento e idade dos percevejos O conhecimento sobre o comportamento do inseto-praga é uma das chaves para que tenhamos uma aplicação eficiente. As principais espécies-praga que ocorrem no Rio Grande do Sul são: Euschistus heros (percevejo-marrom), Dichelops furcatus (barriga-verde), Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno) e Nezara viridula (percevejo-verde-grande).

No decorrer do dia, ocorrem alterações no comportamento dos percevejos. Waite (1980), concluiu que o percevejo-verde-grande fica exposto no terço superior da planta durante o período da manhã (cerca de 9h).

Entretanto, Roggia (2009), encontrou que o percevejo-verde-pequeno permanece no terço médio das plantas, não tendo comportamento definido de acordo com horários ao longo do dia, por isto não indicou horários ideais para aplicação. Outro fator que deve ser considerado é a idade dos percevejos, pois quando os percevejos estão no primeiro e segundo instar, estes não se alimentam e não andam pela planta. Portanto, a tecnologia de aplicação do inseticida nesses estágios deve considerar essa dificuldade de contaminação do alvo.

Condições ambientais

As condições climáticas influenciam diretamente a qualidade da aplicação, portanto, deve-se tomar cuidado com aspectos como a temperatura e a umidade relativa do ar. Durante o verão a temperatura sobe e a umidade relativa do ar diminui rapidamente com a chegada do meio-dia e isto dificulta a deposição da gota no alvo, deixando-a em suspensão, induzindo à evaporação. Por isso, deve-se buscar fazer as aplicações de inseticidas para o controle de percevejos, dentro dos horários mais adequados, o que nem sempre é possível. Dessa maneira, a definição do volume de calda e do espectro de gotas deve levar em consideração o horário e as condições ambientais no momento da aplicação.

Volume de calda

A discussão sobre o volume de calda ideal para o controle de insetospraga existe há bastante tempo, sem que haja uma definição sobre o tema. Sabe-se que este é um fator fundamental para o sucesso da aplicação e várias são as variáveis que interferem para o ajuste e a busca por um valor que possibilite uma maior eficiência de controle.

Na prática, o que acontece é que não há um volume fixo, pré-estabelecido, para o controle de pragas, visto que, depende de diversos fatores, tais como: o alvo biológico, a arquitetura da planta, as condições climáticas no momento da aplicação, o tipo de ponta utilizada e as características do produto a ser aplicado.

No caso específico do controle de percevejos, quando as aplicações ocorrem no estágio reprodutivo da soja (quando a planta já se encontra com uma área foliar quase plena), a definição do volume de calda deve considerar que é necessária uma quantidade suficiente, para que se tenha uma cobertura adequada, em uma planta com índice de área foliar entre 4 e 6 m2. Atualmente existe uma tendência de reduzir o volume de aplicação, com o objetivo de aumentar a capacidade operacional, porém, essa redução deve ser feita com base em critérios técnicos, para que esse menor volume de calda não venha a causar prejuízos a eficiência agronômica do inseticida aplicado.

Em trabalho realizado por Maziero et al., (2009) com o inseticida Tiametoxam + Lambda-cialotrina em diferentes volumes de calda, a aplicação do inseticida com um volume de calda maior resultou em maior eficiência no controle do percevejoverde-pequeno (Figura 1). O efeito de choque do inseticida foi mais pronunciado com os volumes de calda de 100 e 150 litros/hectare, entretanto, o efeito residual do inseticida foi superior quando se foram aplicados 150 L/ha, esses resultados mostram claramente as vantagens dos volumes mais elevados para a eficiência de controle por mais tempo.

Espectro de gotas e cobertura

Talvez mais importante do que o volume de calda, a escolha correta do espectro de gotas e da consequente cobertura, são os fatores fundamentais no momento do controle de percevejos em soja. O espectro de gotas de uma pulverização, pode ser classificado de acordo com o seu Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV), variando de gotas muito finas, até gotas extremamente grossas, conforme ilustrado na tabela 1.

Essa classificação do tamanho de gota é importante, pois está diretamente relacionada com a cobertura do alvo. Fato este que fica evidenciado quando analisamos a Figura 2, que mostra que as gotas finas têm uma capacidade de cobertura maior que as gotas grossas, entretanto, as gotas menores têm um maior potencial de deriva e perda de volume e de ingrediente ativo, sendo gotas menores que 100 µm mais susceptíveis a essas perdas. Tendo esses dados como parâmetro, é possível tomar decisões importantes no momento da aplicação. Entre eles, qual o espectro de gotas que se pretende trabalhar (que será definido de acordo com a ponta de pulverização e a pressão utilizada) e qual o volume de calda (L/ha) a ser utilizado.

Analisando a densidade teórica de gotas podemos entender como o volume de calda e o espectro de gotas (Diâmetro das gotas em µm) interferem na cobertura de gotas. Por exemplo, se trabalharmos com um volume de calda de 50 L/ha com gotas de 200 µm, o máximo de gotas produzidas é de 119 gotas por cm2, considerando que não tivemos nenhuma perda durante a aplicação, o que na prática não ocorre. Portanto, a redução do volume de calda deve ser recomendada somente se trabalharmos com um tamanho de gota adequado e para aplicações realizadas em condições ambientais favoráveis.

Além disso, a utilização de adjuvantes que protejam a gota durante a aplicação é fundamental para que não ocorram perdas na eficiência de controle.

A tecnologia de aplicação para percevejos da soja deve considerar diversos aspectos para que tenhamos um controle eficiente dos inseticidas. Por isso, novas pesquisas precisam ser realizadas para que se conhecem mais sobre os fatores que interferem na aplicação de inseticidas. Nesse contexto, o grupo de pesquisa em Manejo Inteligente em Tecnologia de Aplicação da Universidade Federal de Santa Maria, vem desenvolvendo pesquisas sobre a aplicação de inseticidas em soja e buscando novas respostas aos problemas dos sojicultores gaúchos.

Considerações finais

A aplicação de inseticidas no controle de percevejos deve levar em consideração o comportamento da espécie, a idade, as condições ambientais, o horário de aplicação, o volume de calda e o espectro de gotas. As aplicações devem sempre ser realizadas com o objetivo de se ter uma cobertura de gotas adequadas para o alvo biológico, dependendo da fase de desenvolvimento da praga e da cultura. Não existe uma recomendação fixa sobre volume de calda e espectro de gotas para a aplicação de inseticidas, entretanto, o conhecimento sobre comportamento da gota é fundamental.

Além disso, quando se busca trabalhar com um volume de calda reduzido é de suma importância que se escolham gotas finas, mas é imperativo a proteção dessa gota, por meio da utilização de adjuvantes. O sucesso no controle de percevejos na cultura da soja depende de diversos fatores, desde a entrada no momento correto até a escolha de um produto adequado. Entretanto, o real funcionamento do produto na lavoura, depende fundamentalmente de uma tecnologia de aplicação correta no momento da sua recomendação, sendo esse o caminho para o controle eficiente dessa importante praga da soja.

Referências

HARDI. Spray Technique. Catálogo GB-89/2, 28p. 1997.

MATUO, T. Técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. Jaboticabal: FUNEP, 1990. 139 p.

MAZIERO, H. Volume de calda e inseticidas no controle de Piezodorus guildinii (Westwood) na cultura da soja. Dissertação. UFSM. 2006. 46 pg.

MAZIERO, H., GUEDES, J. V. C., FARIAS, J. R., et al. Volume de calda e inseticidas no controle de Piezodorus guildinii (Westwood) na cultura da soja. Cienc. Rural [online]. 2009, vol.39, n.5, pp.1307-1312. ISSN 1678-4596.

RAETANO, C. G. Introdução ao estudo da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. (Org.) Tecnologia de aplicação para culturas anuais. Passo Fundo: Aldeia Norte; Botucatu: FEPAF, 2011, p. 15 - 26.

ROGGIA, R. C. R. K. Distribuição espacial e temporal de percevejos da soja e comportamento de Piezodorus guildinii (Westwood, 1837) (Hemiptera: Pentatomidae) na soja (Glycine max (L.) Merrill) ao longo do dia. Santa maria: UFSM. Tese de doutorado. 128 p. 2009 WAITE, G.K. The basking behavior of nezara viridula (L.) (Pentatomidae:Hemiptera) on soybeans and its implication in control. Journal of Australian Entomological Society, v. 19, p. 157- 159.1980.