A soja desenvolveu o ciclo econômico mais importante da história do Brasil a partir da década de 1970. Nesse período, a geração de informações e novas tecnologias foram crescentes, mas as ameaças de pragas, definidas como insetos, ácaros, nematoides, patógenos e plantas consideradas daninhas, desafiam a ciência e a evolução para manejá-las.
Sabe-se que as espécies e populações de pragas desenvolvem-se a partir da disponibilidade de alimentos no ambiente. Considerando que a soja na América do Sul é cultivada em mais de 60 milhões de hectares, na mesma época do ano, com a mesma base genética e de forma contínua, desde a Argentina até a Amazônia, a seleção de pragas é consequência da simplificação desse ambiente com monocultivos em áreas extensivas.
Se a supressão biológica natural inicia com diversidade vegetal no sistema de produção, a qualidade de lavouras pode ser medida pelo número de dias com cobertura vegetal cultivada na lavoura, durante o ano. A atividade biológica no solo que vai determinar a dinâmica das populações e o controle de nematoides e patógenos na camada de 20 cm ou 40 cm no perfil do solo.
Não há, portanto, possibilidade de se usar a “quimioterapia”, como única alternativa de manejo. Ela deve ser usada como aliada e complementar das estratégias de supressão biológica natural.
Da mesma forma, é necessário e imprescindível organizar programas de conscientização coletiva para manejo de plantas daninhas, pragas e doenças de plantas ao longo do ano, buscando a supressão das populações que ameaçam a agricultura, como a ferrugem-da-soja, buva, amargoso, caruru-gigante, percevejos, lagartas, entre outras. No entanto, as maiores dificuldades estão na falta de conhecimentos básicos como a identificação de insetos, plantas daninhas, micro-organismos e outros agentes.
No país não há museus de referência para identificação segura e comparações com espécimes do passado, por exemplo. Também há falta de conhecimento sobre a dinâmica populacional, que envolve as estratégias de sobrevivência e de supressão natural. A adoção de organismos geneticamente modificados, visando facilitar o controle de plantas daninhas, devem ser usadas, mas mantendo um plano de alternância com métodos convencionais, para evitar a seleção de populações resistentes.
A tecnologia Bt, incorporada em milho e soja, para controle de lagartas, exige refúgio como princípio básico de preservação dos benefícios da tecnologia, mas nem sempre ele é considerado. Então, se novas tecnologias facilitam o manejo de pragas, devem ser adotadas com responsabilidade pelo agricultor, obedecendo princípios de rotação ou alternância no manejo de plantas daninhas e refúgio no manejo de lagartas.
As empresas de síntese química para a produção de produtos fitossanitários investem grandes somas e já anunciaram dificuldades no desenvolvimento de novas moléculas. Ainda há de se considerar a proibição e restrição do uso de produtos químicos do passado.
Cresce, a partir disso, as dificuldades para o controle de pragas. Esse cenário resulta no aumento da demanda por informações sobre biologia, controle biológico, estratégias de supressão natural e sobre adoção acertada de cultivares geneticamente modificadas.
Mas é importante considerar que esse manejo deve ser realizado de forma coletiva, nas lavouras, nas margens de rodovias, em áreas públicas e de forma consciente em todos os segmentos da cadeia de produção de alimentos. É necessário repensar as formas de manejo e retomar estratégias básicas de boas práticas, planejando a supressão das pragas no sistema de produção, durante o ano todo. E esse, deve ser um compromisso coletivo.