Encontro Técnico debate as boas práticas a campo no momento de aplicar herbicidas, inseticidas e fungicidas


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 31/08/2017

Aconteceu no dia 20 de julho, no Centro de Eventos da Universidade de Passo Fundo, em Passo Fundo/RS, a primeira edição do “Encontro Técnico: Boas Práticas em Tecnologia de Aplicação”. O evento foi uma promoção conjunta da Plantec A.P. e Revista Plantio Direto & Tecnologia Agrícola, contou com o patrocínio da Syngenta, PDA/Sol Fertilizantes, Pentair, e com o apoio da Monitora e Agrofly Aviação Agrícola.

A proposta do evento foi discutir aspectos referentes a aplicação de defensivos agrícolas em culturas anuais, com foco na qualidade da aplicação e a redução do desperdício e contaminação do ambiente. O Encontro contou com a participação de mais de 300 participantes entre agricultores, profissionais da assistência técnica e estudantes. Iniciando a programação o Engenheiro Agrônomo Fabiano Paganella apresentou os resultados do questionário online, realizado durante as semanas que antecederam o evento.

O questionário que apresentava perguntas relacionadas, de forma geral, às ações durante a pulverização em lavouras, também fez uma consulta específica quanto aos parâmetros de aplicação de cada tipo de defensivo (fungicidas, herbicidas e inseticidas). Os resultados não visavam uma resposta com rigor estatístico, mas sim realizar um levantamento informal do que os agricultores e assistentes técnicos realizam nessa operação a campo. O questionário teve a adesão de 280 participantes, sendo que algumas perguntas possibilitavam múltiplas respostas.

Do total de respondentes, 258 afirmaram realizar pulverização tratorizada, enquanto que 21 afirmaram utilizar pulverização aérea, indicando que alguns participantes utilizam os dois tipos de pulverização em suas áreas. Em relação ao tipo de máquina para realizar a pulverização, a maior parte dos respondentes afirmou utilizar máquina autopropelida.

Em segundo lugar ficou o pulverizador tracionado e, em terceiro lugar, o pulverizador montado ao trator. Mais de 50% dos respondentes realizam a aplicação de fungicida e inseticida em conjunto, e quase 40% afirmaram realizar aplicação de fungicidas, inseticidas e herbicidas em conjunto. Entre os que responderam ao questionário, aproximadamente 65% afirmaram utilizar fertilizantes foliares na aplicação juntamente com outros defensivos. Além disso, 70% afirmaram nunca ter feito análise química da água utilizada na pulverização.

Com base nas principais respostas obtidas no questionário, percebeu-se que o volume de calda mais utilizado, independentemente do tipo de defensivo, é entre 100 e 125 L/ha. No caso dos inseticidas e fungicidas, as respostas mais expressivas trouxeram como resultado o uso de pontas “cone vazio” e gotas finas. Já para os herbicidas foram as pontas “plano simples”, com gotas de tamanho médio.

Ainda de acordo com as respostas, os adjuvantes mais utilizados para inseticidas e herbicidas são os óleos minerais, surfactantes e redutores de pH, enquanto que para os fungicidas os adjuvantes mais populares foram os óleos minerais, os óleos vegetais e os surfactantes. Após a apresentação inicial dos resultados sobre as práticas de tecnologia de aplicação a campo, aconteceu a palestra do Dr. Adriano Arrué Melo, da Universidade Federal de Santa Maria, com o tema: “Boas Práticas em Tecnologia de Aplicação no Controle de Pragas”.

O palestrante abordou inicialmente a questão da cobertura e o tamanho das gotas, e a importância dessa cobertura. Para ele, são vários fatores a se considerar para definir o volume de calda a ser utilizado, entre eles o alvo biológico, a cultura, a maneira de aplicar e o horário. O pesquisador mostrou resultados de pesquisa relacionados com a tecnologia de aplicação no controle de lagartas como Spodoptera e FalsaMedideira, demonstrando as diferenças no controle quando há variação no volume de calda.

O professor comentou também a respeito do Tamanduá da Soja, e como o comportamento do inseto afeta a qualidade da aplicação. Por fim, Adriano Melo tratou da degradação do produto quando o pH não é o ideal, apontando quais os adjuvantes que podem auxiliar no momento da aplicação. Na sequência, boas práticas em tecnologia de aplicação no controle de doenças foi o assunto abordado pelo Engenheiro Agrônomo Fernando Martins, da Cotrijal, de Não-Me-Toque.

O agrônomo falou a respeito das diferenças observadas na tecnologia de aplicação no controle das diversas doenças. Apresentou os fatores que interferem e como a cobertura tem especial importância na aplicação de fungicidas, de forma mais específica no controle de doenças foliares. O palestrante também abordou a dificuldade de se fazer o produto chegar ao terço inferior das plantas após o fechamento das entrelinhas, sendo este um fator de grande preocupação entre agricultores e técnicos.

Finalizando a programação da parte da manhã, o pesquisador da CCGL Tec, Dr. Mário Bianchi, tratou do tema “Boas Práticas em Tecnologia de Aplicação no Controle de Plantas Daninhas”. Bianchi iniciou apresentando a fisiologia da absorção do herbicida nas diferentes espécies e em diferentes estádios. O que, segundo o pesquisador, é um problema para aplicação de herbicidas, pois a eficácia nem sempre é a mesma.

Bianchi também apresentou algumas variáveis que podem interferir na qualidade da aplicação, tais como: volume de calda, tipo de ponta, os adjuvantes e as condições climáticas, essenciais para um bom efeito do herbicida no campo. Encerrando o painel da parte da manhã, os palestrantes responderam perguntas do público.

Nesse momento foi discutido o controle de percevejo, para o qual, segundo o Dr. Adriano deve, no momento de aplicação, levar em conta o comportamento da praga e o seu ciclo, além de fazer as aplicações antes do fechamento da entrelinha, evitando que ocorram estádios diferentes da praga em um mesmo momento e a reinfestação na lavoura.

Em relação ao custo na tecnologia de aplicação, considerando a realidade econômica das culturas hoje, foi comentado que o nível de dano econômico que se tinha como referência para diversas pragas deve ser reavaliado. Além disso, deve-se ter em mente que a economia se dá em uma aplicação feita de forma cuidadosa e seguindo as indicações, evitando a resistência de espécies, problema que resultaria em um custo de controle muito mais alto no futuro.

Sobre a aplicação noturna e sua interferência na absorção pelos estômatos, os pesquisadores ressaltaram que o contexto precisa ser analisado para se chegar a uma decisão correta, e que isso depende, muitas vezes, do próprio produto que pode necessitar de luz ou não para agir.

Ainda, em relação aos estômatos, foi comentado que pesquisas demonstram que uma quantidade insignificante de produto é absorvido via estômato e, portanto, não se deve levar tanto em consideração o horário de abertura e fechamento de estômatos na pulverização. Iniciando as atividades da tarde, o Dr. Ulisses Antuniassi, professor da UNESP, de Botucatu/SP, abordou as boas práticas na aplicação aérea de defensivos. Inicialmente ele comentou sobre os motivos que a sociedade de forma geral estar colocando cada vez mais restrições e até pedindo a proibição do uso de aeronaves para aplicação.

O pesquisador destacou pontos que devem ser levados em considera ção para que não ocorram problemas na aplicação aérea e a consequente perda dessa ferramenta. Antuniassi também tratou da legislação e do programa de certificação de empresas de aviação, que é feito pelas universidades que trabalham com o tema aviação agrícola.

Após, o Engenheiro Agrônomo Laércio Hoffmann e a equipe da Syngenta, fizeram uma apresentação sobre o Projeto Manejo Consciente, que tem como objetivo estimular à adoção de técnicas e atitudes nos diversos segmentos da cadeia agrícola, visando evitar o aparecimento de doenças resistentes aos mecanismos de ação dos fungicidas.

A última palestra do dia foi apresentada pelo Dr. Fabrício Povh, da Fundação ABC, de Castro/PR. Ele abordou o tema aplicação tratorizada de alto rendimento operacional. Uma das questões levantadas pelo pesquisador foi a relação entre a diminuição da vazão na pulverização para aumentar o rendimento da máquina, e as consequências dessa prática.

Povh também comentou sobre resultados de ensaios que compararam diferentes tamanhos de gota. Segundo ele, de forma geral a gota fina não é superior a gota média em resultados de controle. O palestrante também destacou a importância do correto dimensionamento do maquinário de aplicação para evitar custos desnecessários ou redução da capacidade operacional.

Ao final do painel, uma das perguntas foi em relação ao melhor momento para aplicação de paraquat. Segundo os palestrantes, de forma geral o melhor momento é quando há menor presença de luz, em função da velocidade do efeito do produto. A mesa também foi questionada em relação ao volume de calda utilizada em aeronaves.

Segundo o Dr. Ulisses, um volume de 30 L/ha, por exemplo, considerado baixo em aplicações terrestres, é considerado alto em aplicações aéreas, em função da velocidade de aplicação e distância do solo, ou seja, não se deve comparar as duas situações. Quanto a meia vida do produto na calda com pH inadequado, os palestrantes consideraram que geralmente com o pH desfavorável a degradação do produto demora algumas horas para acontecer. Portanto, se a aplicação for feita imediatamente, a degradação tende a ser mínima.