Bruna San Martin Rolim Ribeiro, Alencar Junior Zanon, Alexandre Ferigolo Alves, Nereu Augusto Streck, Fábio R. Marin, Luis Alberto Silva Antolin, Eduardo Daniel Friedrich, Isabela Bulegon Pilecco, Simone Puntel, Luiz Felipe Vieira Sarmento, Ijésica Luana Streck, Victória Brittes Inklman, Zanandra Zanini Tamiosso
1. Introdução
O milho apresenta enorme relevância na economia do Brasil, e está entre as culturas mais importantes do mundo. Há projeções de que o Brasil possa ter o maior aumento na produção agrícola nas próximas quatro décadas, tornando-se o maior exportador mundial de alimentos. O aumento da produção agrícola pode ocorrer de forma horizontal, através da expansão da área cultivada, ou de forma vertical, pelo aumento da produtividade das culturas, o que é mais indicado sob o ponto de vista socioambiental (CASSMAN et al., 2003; FOLEY et al., 2011).
O Global Yield Gap Atlas - GYGA (para mais detalhes consultar: www.yieldgap.org) é um projeto que visa fornecer estimativas robustas da quantidade de alimentos que é possível produzir em cada hectare agricultável ao redor do mundo de forma vertical.
Assim, é possível avaliar os padrões futuros de segurança e soberania alimentar, bem como definir políticas agrícolas que visam melhorias na competitividade e na eficiência do setor agropecuário. Através desses estudos, também é possível identificar as regiões do globo que devem receber maior investimento e transferência de tecnologia para aumentar a produção agrícola, através da intensificação sustentável da agricultura.
Quando falamos em potencial de produtividade (PP) de uma cultura, primeiramente precisamos entender e conhecer quais fatores definem e quais limitam o alcance do potencial. O PP é definido pelo ambiente e genética da planta, portanto, a quantidade de radiação solar incidente, quantidade de água disponível, concentração de CO2 atmosférico, temperatura do ar e características genéticas de uma cultivar determinam o máximo que a cultura pode produzir.
Já fatores como incidência de pragas, doenças, fornecimento insuficiente de água e nutrientes são limitantes de produtividade (EVANS, 1993). Em ambientes não irrigados, a água passa a limitar o potencial produtivo das culturas, sendo considerado, então, o potencial de produtividade limitado por água (VAN ITTERSUM et al., 2013).
Para alcançar o potencial produtivo, devemos garantir as condições de crescimento ideais para que a planta se desenvolva. No entanto, mesmo em parcelas experimentais controladas, alcançar esta condição é muito difícil, devido à quantidade de fatores que influenciam o crescimento e desenvolvimento das plantas. Sendo assim, a melhor forma de identificar o potencial de uma lavoura ou região é pela utilização de modelos matemáticos baseados em processos de culturas, que simulam o crescimento e o desenvolvimento da planta (LOBELL; CASSMAN; FIELD, et al., 2009).
Levando em consideração os fatores que definem o potencial produtivo do milho e a grande variabilidade climática existente no Brasil, teremos diferentes potenciais dentro das regiões produtoras. A lacuna de produtividade (yield gap) é a diferença entre o potencial de produtividade (limitado pela água para cultivos de sequeiro) e a produtividade média obtida pelos agricultores de uma determinada lavoura (LOBELL; CASSMAN; FIELD, 2009).
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, essa lacuna é maior do que em países desenvolvidos. Isso ocorre devido ao alto custo dos insumos de produção e/ou pela menor capacidade de investimento dos agricultores. Assim, é preciso compreender os fatores ambientais e de manejo que estão interferindo nesta lacuna, sendo possível direcionar pesquisas a fim de melhorar as práticas de manejo e maximizar a eficiência do uso de recursos, visando sua redução e tornando a produção de milho mais eficiente e sustentável (VAN ITTERSUM; RABBINGE, 1997; VAN ITTERSUM et al., 2013).
Nesse sentido, através do projeto GYGA a Equipe FieldCrops e parceiros de todo o Brasil, iniciaram estudos com o modelo Hybrid Maize, versão 2019, com o objetivo de identificar o potencial de produtividade, calcular a lacuna de produtividade, o potencial produtivo com a maior eficiência econômica ao produtor e o possível incremento na produção de milho no Brasil para primeira e segunda safra.
2 Materiais e Métodos
O potencial de produtividade (Pp) e o potencial de produtividade limitado por água (Ppa) foram estimados através da metodologia GYGA. Para isso, foram realizadas simulações, com o modelo Hybrid Maize, versão 2019, para os principais estados produtores de milho no Brasil. Na primeira safra, as simulações foram realizadas para o Rio Grande do Sul (RS), Santa Cataria (SC), Paraná (PR), São Paulo (SP), Minas Gerais (MG) e Goiás (GO) que são os estados com maior área colhida de milho. E para a segunda safra, Paraná (PR), Mato Grosso do Sul (MS), Minas Gerais (MG), Goiás (GO), Bahia (BA) e Mato Grosso (MT).
A lacuna de produtividade foi calculada através da diferença entre o potencial de produtividade (limitado pela água para cultivos de sequeiro) e a produtividade média dos últimos três anos de todos os estados brasileiros (Pma). A produtividade com a maior eficiência econômica ao produtor foi encontrada considerando 75% do potencial produtivo ou do potencial de produtividade limitado por água.
O possível incremento na produção de milho no Brasil para primeira e segunda safra foi calculado considerando que todas as lavouras atinjam 75% do potencial produtivo ou do potencial de produtividade limitado por água.
Para isso, foi multiplicada a atual área agricultável de milho na primeira safra (4 milhões de hectares) pela produtividade que representa 75% do potencial produtivo ou do potencial de produtividade limitado por água estimado, e o mesmo foi feito para a segunda safra (13 millhões de hectares). O incremento da produção brasileira de milho é a média dos valores de potencial de aumento, em condições irrigadas e de sequeiro na primeira e segunda safra.
3. Resultados e Discussão
A média do potencial de produtividade, do potencial de produtividade limitado pela água e a produtividade média atual de milho no Brasil para a primeira safra são de 15,3; 12,1 e 6,9 ton/ha. Com o suprimento do principal fator limitante, a água, o aumento são de 53 sacos/ha, já com boas práticas de manejo, em ambientes de sequeiro, é possível aumentar 86 sacos/ha na produtividade média da cultura na primeira safra (Figura 1A).
Para a segunda safra de milho no Brasil, a média do potencial de produtividade, do potencial de produtividade limitado pela água e a produtividade média atual de milho no Brasil são de 13,4; 9,3 e 4,8 ton/ha. Com o suprimento de água, o aumento é de 68 sacos/ha e com boas práticas de manejo é possível aumentar 76 sacos/ha (Figura 1B).
Contudo, sabe-se que atingir o potencial de produtividade não é viável economicamente para o agricultor, em virtude da maior eficiência no uso de recursos, a maior eficiência econômica ocorre quando o produtor atinge cerca de 70 a 85% do potencial produtivo da sua lavoura (VAN ITTERSUM; RABBINGE, 1997).
Considerando que existe água suficiente para irrigar toda a área atual agricultável, o potencial de aumento de produção de milho no Brasil é de 16,4 e 45,8 milhões de toneladas na primeira e segunda safra, respectivamente, (Figura 2A e B). Considerando um sistema de produção não irrigado, o potencial de aumento na área atual agricultável é de 12,8 e 31,9 milhões de toneladas na primeira e segunda safra, respectivamente (Figura 2C e D).
4. Conclusão
O potencial de produtividade, e o potencial de produtividade limitado pela água e a produtividade média atual de milho no Brasil para a primeira safra são de 15,3; 12,1 e 6,9 ton/ha. Para a segunda safra de milho no Brasil, o potencial de produtividade, o potencial de produtividade limitado pela água e a produtividade média atual de milho no Brasil são de 13,4; 9,3 e 4,8 ton/ha.
Na primeira safra a lacuna de produtividade foi de 3,2 ton/ha em relação ao Ppa e 8,4 ton/ha em relação ao Pma. E na segunda safra a lacuna de produtividade foi de 4,1 ton/ha em relação ao Ppa e 8,6 ton/ha em relação ao Pma.
A maior eficiência econômica ao produtor é atingir produtividade de 11,5 ton/ha na primeira safra e 10 ton/ha na segunda safra em ambientes irrigados. Em ambientes de sequeiro, a maior eficiência econômica ao produtor é atingida em produtividade de 9,1 ton/ha na primeira safra e 7 ton/ha na segunda safra. Com boas práticas de manejo, em média o Brasil tem potencial para produzir mais 26,7 milhões de toneladas na atual área agricultável.
Referências
CASSMAN, K. G. et al. Meting cereal demand while protecting natural resources and improving environmental quality. Annual Review of Environment and Resources, v. 28, n. 1, p. 315–358, 2003.
EVANS, L. T. Crop evolution adaptation and yield. Cambridge University Press, v. 8, n. 12, 1993. 461 p.
FOLEY, J. A. et al. Solutions for a cultivated planet. Nature, v. 478, p. 337–342, 2011.
VAN ITTERSUM, M. K. et al. Yield gap analysis with local to global relevance: a review. Field Crops Research, v. 143, n. 1, p. 4-17, 2013.
VAN ITTERSUM, M. K.; RABBINGE, R. Concepts in production ecology for analysis and quantification of agricultural input-output combinations. Field Crops Research, v. 52, n. 3, p. 197-208, 1997.
LOBELL, D. B.; CASSMAN, K. G.; FIELD, C. B. Crop Yield Gaps: Their Importance, Magnitudes, and Causes. Annual Review of Environment and Resources, v. 34, n. 1, p. 179-204, 2009.
GLOBAL YIELD GAP ATLAS, 2016. Global Yield Gap and Water Productivity Atlas. Disponível em: http://www.yieldgap.org/. Acesso:19 de janeiro de 2018.