Incidência e severidade da mancha-de-macrospora em híbridos de milho no município de Lages, Santa Catarina, safra 2013/2014


Autores: José de Alencar Lemos Vieira Junior; Ricardo Trezzi Casa; Francine Regianini Nerbass; Lenita Agostinetto; Fernando Sartori
Publicado em: 30/06/2017

Introdução

O nível tecnológico empregado pelos agricultores nas lavouras de milho (Zea mays L.) é variável entre propriedades e consequentemente a utilização de diferentes insumos, escolha do material genético, definição da população de plantas, manejo de plantas invasoras e pragas, podem afetar a ocorrência e a intensidade das doenças (SANGOI et al., 2006; CASA et al., 2012).

No sistema semeadura direta a presença de restos culturais infectados do milho sobre a superfície do solo mantém a sobrevivência de patógenos necrotróficos durante a fase saprofítica garantindo fonte de inóculo para os próximos cultivos do cereal (CASA et al., 2003).

A mancha-de-macrospora, causada pelo fungo Stenocarpella macrospora (Earle) Sutton [Sin. D. macrospora Earle in Bull.], tem ocorrido com frequência nas lavouras de milho conduzidas principalmente em monocultura (CASA et al., 2006). As lesões foliares reduzem a área fotossintética ativa da planta interferindo na produtividade da cultura (LATERREL & ROSSI, 1983; CASA et al., 2011), são elípticas a alongadas, cor parda, com bordos irregulares de cor amarelo a arroxeado, estendendo-se no sentido do comprimento da folha.

Os conídios de Stenocarpella liberados dos picnídios presentes nos restos culturais ou nas lesões foliares são levados pelo vento e respingo até os sítios de infecção (DEL RIO & MELARA, 1991; CASA et al., 2004; 2012), que ao germinarem na presença de água sobre o tecido do hospedeiro, emitem tubo germinativo e penetram diretamente nos tecidos do colmo, folha e espiga (SHURTLEFF et al., 1992; BENSCH, 1995; BAMPI et al., 2011; FINGSTAG et al., 2012).

O uso da resistência genética é uma das principais medidas de controle de doenças na cultura do milho. São escassas informações sobre resistência de híbridos de milho a manchade-macrospora.

A quantificação da doença no campo em diferentes genótipos e condições edafoclimáticas é importante para assistência técnica definir estratégias que envolvam o uso de híbridos resistentes ou tolerantes e decisão de aplicação de fungicidas nos órgãos aéreos em híbridos suscetíveis. O objetivo deste trabalho foi avaliar a intensidade da mancha-demacrospora em 15 híbridos de milho cultivados em monocultura no município de Lages, SC.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no campo experimental do Centro de Ciências Agroveterinárias, CAV/UDESC, na safra agrícola 2013/14 em Lages, Santa Catarina, em área de monocultura de milho e em sucessão ao trigo. O delineamento experimental foi de blocos casualizados com quatro repetições. Foram cultivados cinco híbridos pré-comerciais (PC1, PC2, PC3, PC4 e PC5) e dez comerciais (BG7049 H, DKB390 VTPRO2, Dow2B707, P30S31 H, P30S31 YH, P30F53 YH, P30F53 HX, P3646 H, 30K64 H e SYN 7205).

As unidades experimentais constaram de duas linhas com 5,0 m de comprimento, espaçadas de 0,5 m e entre plantas de 0,3 m. A semeadura foi realizada em diferentes datas para sincronizar o florescimento/espigamento dos híbridos avaliados, com base na informação da soma térmica disponibilizada pela empresa detentora das sementes.

Como prevenção ao ataque de pragas na fase inicial de desenvolvimento das plântulas, as sementes foram tratadas com inseticida imidacloprida (45 g i.a. para 60.000 sementes).

Na adubação de base foram aplicados 250 kg ha-1 de diamônio fosfato (DAP), e 100 Kg ha-1 de KCl, adubação nitrogenada de cobertura em V3 (conforme escala de Ritchie et al., 1993), com 300 kg ha-1 de uréia.

O controle de plantas daninhas foi realizado, no estádio V4, utilizando-se a mistura de atrazina + simazina, dose 1.800 g i.a. ha-1 e 400 g i.a. ha-1, respectivamente. No espigamento, cinco dias após exteriorização dos estigmas, foi quantificada a incidência e a severidade da mancha-de-macrospora na folha da espiga (FE), uma folha acima (FE+1) e uma folha abaixo (FE-1).

Considerou-se incidente a folha que apresentou no mínimo uma lesão característica da doença (Figura 1). A severidade foi obtida pela quantificação do número de lesões por folha em seis plantas ao acaso, por híbrido em cada repetição. Os dados foram submetidos à análise de variância utilizando o programa estatístico R. As médias de cada tratamento foram comparadas pelo teste Tukey, ao nível de significância de 5 %.

Resultados e discussão

Os quinze híbridos foram suscetíveis à infecção natural do fungo S. macrospora, com incidência foliar média de 61 %, apresentando variação de 54 % (PC4) até 72 % (BG7049 H e Dow2B707) não havendo diferença estatística entre os híbridos avaliados (Figura 1). A dispersão dos valores de severidade foliar não permitiu mensurar diferença estatística entre híbridos.

A severidade foliar média foi de 2,04 lesões por folha, com variação entre 1,47 (PC 4) a 3,04 (PC 5), não diferindo estatisticamente entre tratamentos (Figura 2.) Os híbridos de milho testados não foram resistentes à infecção do fungo S. macropsora.

Resultado similar foi obtido com 25 híbridos de milho inoculados em condições controladas, com severidade em folhas de plantas jovens variando entre 3,4 % e 20,9 % (Pilleti et al., 2014). Da mesma forma, Sutoyo (2010), também verificou suscetibilidade de 37 cultivares de milho após inoculação de S. macrospora, com 14,86% de severidade média e variação de 4,79% a 30%.

A mancha-de-macrospora foi detectada com maior incidência média na FE-1 (25%) e FE (21%), ambas diferindo significativamente da FE+1 (14%). De forma semelhante, constatou-se que a severidade foi maior na folha abaixo da espiga com média de 2,74 lesões (Figura 3), não diferindo significativamente da FE que apresentou 2,55 lesões (Figura 3).

A menor severidade foi obtida na acima da espiga (FE+1), com número médio de 1,57 lesões por folha. A captura de conídios isolados e/ou cirro de conídios do fungo liberado dos picnídios na palha infectada reduz à medida que coleta se afasta da palha infectada (CASA et al., 2004), indicando que a doença é detectada nas folhas mais velhas e cresce a medida que ocorre emissão e expansão de novas folhas.

O fato que o inóculo que atingiu principalmente a folha de espiga e originou as lesões pode contribuir para que nestas lesões ocorra a formação de picnídios e cirros de conídios que poderão ser responsáveis pela infecção da base da espiga (podridão branca da base da espiga ou podridão de diplodia) (BAMPI et al., 2011; FINGSTAG et al., 2012).

Conclusão

Os híbridos avaliados são suscetíveis à mancha-de-macrospora, não havendo diferença significativa entre genótipos. Na fase de exteriorização dos estigmas a severidade da manchade-macrospora na folha da espiga e abaixo da espiga é superior que a severidade na folha inserida acima da espiga.

Referências

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