O sucesso do Sistema: cobertura permanente, fertilidade preservada e vida no solo, a receita do produtor Rogério Pacheco


Autores: Equipe Editorial Revista Plantio Direto
Publicado em: 30/06/2017

Cobertura permanente, fertilidade preservada e vida no solo, a receita do produtor Rogério Pacheco.

Rogério Ferreira Pacheco é agricultor em Carazinho-RS. Um entre quatro filhos de agricultores, Rogério mudou-se em 1975 para Porto Alegre-RS, onde cursou o segundo grau, realizou o serviço militar e cursou Engenharia Elétrica. Depois de 10 anos na capital gaúcha, ele resolveu voltar para trabalhar nas áreas da família e passou a auxiliar na administração da propriedade.

Na época, segundo ele, não se utilizava muita tecnologia e a produção era baseada na lavoura, em especial de trigo, e na pecuária de corte. Com o passar do tempo, o produtor passou a se envolver cada vez mais na gestão da propriedade e buscou implementar diferentes tecnologias no negócio, incluindo o Sistema de Plantio Direto no início da década de 1990.

Pacheco lembra que insistiu no plantio do milho, muitas vezes formando parcerias com empresas e instituições para buscar inovações. Para ele, esse foi um fator muito importante para o desenvolvimento da propriedade e para seu próprio aprendizado, que segundo ele, agora deve ser compartilhado e não mantido para si próprio.

Rogério Pacheco é proprietário de parte das terras que planta, sendo que a maior parte da área plantada é arrendada de famílias próximas dos municípios de Carazinho, Santo Antônio do Planalto e Coqueiros do Sul.

Devido a essa proximidade, o agricultor afirma que se sente responsável por essas famílias e que tem compromisso com elas. Apaixonado pelo negócio, Rogério diz que os resultados positivos que obtém na fazenda Estância Nova ao longo dos anos são influenciados pelo gosto pela atividade e pela vontade de fazer bem feito. Carazinho é um município localizado no noroeste rio-grandense, mais precisamente na latitude 28° 17’ e longitude 52° 47, com altitude média de 603 m.

O solo é pertencente à unidade de mapeamento de Passo Fundo-RS, sendo considerado Latossolo Vermelho, e na classificação climática de Köppen-Geiger é classificado como tipo “Cfa”, subtropical úmido.

O solo da propriedade de Rogério é um Latossolo Vermelho argiloso comum da região, mas com algumas manchas com teor maior de areia. Além de lavoura, a propriedade conta com produção de gado de corte, embora não seja feita em larga escala. Segundo Pacheco, a pecuária é mantida por uma questão de satisfação pessoal pela atividade.

Normalmente ele não integra as duas atividades, embora tenha convicção de que, se feito de forma bem manejada, o gado não necessariamente prejudica o sistema, e pode auxiliar na construção da fertilidade. O produtor não abre mão do milho, cultura que ocupa 25% das lavouras de verão. Pacheco já não planta trigo no inverno e considera que o abandono da cultura do milho prejudicaria o plantio direto, limitando as áreas ao monocultivo da soja.

Na cultura do milho, a produtividade média foi acima de 200 sacos/ ha e a produtividade de soja vem aumentando a cada ano. Na safra passada (2015/2016), Pacheco obteve a média geral em suas áreas de 77 sacos/ha de soja, enquanto que esse ano conseguiu média geral de 80 sacos/ha. Os custos de produção da área de soja incluem o arrendamento, o que encarece a produção.

Ele cita que entre os maiores custos para soja e milho estão a adubação para manter as produtividades elevadas, ao mesmo tempo mantendo o solo com níveis altos de nutrientes.

Para o milho, o custo aproximado de produção da propriedade fica em torno de 100 sacos/ha. Já em soja, o custo fica em torno de 35 sacos/ha em áreas não arrendadas. Para o agricultor, um dos fatores que encarecem a produção de soja são os preços dos defensivos, em especial dos fungicidas, cujo uso tem aumentado nas últimas safras.

Variedades e o manejo de doenças, plantas daninhas e pragas

Rogério possui na propriedade ensaios conduzidos por empresas de milho e soja que são positivos para o seu planejamento de lavoura, já que a partir desses testes ele tem noção de como as diferentes variedades se comportam na área, fazendo escolhas de forma mais acertada. De 55 a 60% da soja plantada por Rogério Pacheco possui tecnologia Intacta, sendo refúgio feito em talhões.

As variedades Intacta plantadas esse ano foram M 5892, NS 6909 e DM 5958, enquanto que as variedades sem a tecnologia foram BMX Ativa e Alvo. No milho, o híbrido foi AG9025 PRO3. Para Rogério, uma das questões mais importantes no manejo da lavoura gira em torno da escolha da variedade, população, momento do plantio e local. A variedade correta no local e no tempo certos, e com a população adequada são fundamentais para alcançar o potencial produtivo.

A partir disso, deve-se focar em proteger esse potencial realizando um manejo bem feito de pragas, doenças e plantas daninhas. Em relação ao manejo de doenças em soja, Pacheco tem feito 5 aplicações calendarizadas, com intervalo de 15 dias em média, começando antes do fechamento da entrelinha. Segundo ele, um problema registrado foi o erro nas populações de soja.

Diante da previsão de seca a tendência é a utilização de mais sementes do que o normal. Isso pode causar um desajuste na população e favorecer o aparecimento de doenças do terço inferior, além de promover competição indesejada entre as próprias plantas.

Pacheco comenta que, em função da alta população, também houve incidência de mofo branco nas áreas, que é uma doença pouco comum na região de Carazinho. Manter as áreas sempre com boa cobertura é uma estratégia de manejo adotada pelo agricultor.

Em função da quantidade de palha e da rotação de culturas na propriedade, Pacheco afirma que não tem problemas com aparecimento de plantas daninhas nas áreas. Também não houve registro da ocorrência de pragas na última safra.

Rogério comenta que, em parceria com a Monsanto, possui armadilhas com feromônio instaladas na propriedade para lagartas Falsa-medideira, Helicoverpa e Spodoptera, com intuito de estudar essas espécies. Pela coleta nas armadilhas a população de mariposas foi baixa quando comparada as safras anteriores.

Implantação das culturas

De acordo com Rogério Pacheco a velocidade do plantio das áreas se mantém em torno de 4,5 km/h. Um dos problemas citados pelo agricultor é que a quantidade de palha que dificulta o processo de plantio. Isso segundo ele, reforça a necessidade da utilização de semeadoras mais avançadas e com tecnologia suficiente para realizar a semeadura direta com qualidade.

As áreas plantadas na propriedade são todas mapeadas e separadas por zona, com a utilização de mapas de fertilidade, mapas da colheita do milho, além da utilização de um medidor de NDVI embarcado para mapeamento. Baseado nas diferentes zonas na propriedade, é feita a aplicação em taxa variável de ureia, potássio e a correção com calcário. Os demais insumos são aplicados de forma fixa. A aplicação de potássio é feita a lanço (150 kg de KCl) antes do plantio, e a aplicação de fósforo é na linha. Em milho, a última adubação realizada foi 375 kg/ha na base da formulação 12-24-12 (com micronutrientes), e mais 400 kg/ha de ureia e 150 kg/ha cloreto de potássio. Já em soja, antes do plantio, é feita adubação a lanço em taxa variável com 130 kg de KCl, além da adubação de base na linha, com 250 kg da formulação 04-28-08.

A correção do solo é realizada todo ano nas áreas onde entra a cultura do milho, ou seja, 25% da área é corrigida com fertilizante orgânico e calcário a taxa variável a cada ano. Como a correção é feita em 1/4 da área todo ano, com a rotação milhosoja nas áreas, a cada quatro anos 100% da área é corrigida em taxa variável. Essa correção é realizada com base nas análises e fica em torno de 2,5 a 3,5 t/ha de calcário.

Também realizada a aplicação de oito toneladas de cama de aviário nas zonas de baixa produtividade, o que corresponde 10% da área aproximadamente, mas o objetivo de Pacheco é fazer aplicação na área total, ao longo do tempo. A adubação de base das culturas possui micronutriente e, em função disso, não é feita adubação foliar, com exceção do boro, que tem sido utilizado na pulverização.

O sucesso do Sistema

Para Rogério Pacheco, entre os principais fatores para o sucesso do sistema que ele utiliza estão a cobertura do solo e a lavoura de milho, além de buscar realizar cada processo com qualidade.

Em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), foi desenvolvido um trabalho de mapeamento das áreas focando no levantamento da presença de minhocas e, segundo o agricultor, o resultado foi muito interessante. Hoje, um dos grandes orgulhos de Rogério é a confirmação da presença de minhocas em 70% da área plantada, sendo que especialistas no assunto frequentemente visitam a propriedade para conhecer os resultados.

Segundo ele, isso se deve ao bom trabalho feito durante o outono e o inverno com culturas de cobertura, um dos princípios do Plantio Direto. Pacheco conta que, de acordo com os especialistas que já visitaram sua propriedade, a população de minhocas é nativa. Rogério afirma que o trabalho de conservação e melhoria da fertilidade do solo está em níveis ótimos, de forma que na lavoura as minhocas conseguem encontrar um ambiente tão bom quanto na mata natural.

O agricultor sempre utilizou várias espécies de plantas de cobertura, mas em 2017 está utilizando um “coquetel” de espécies diferentes para cobertura durante o inverno. É uma nova estratégia que ele vê com muito entusiasmo para qualidade do sistema.

O coquetel utilizado por Rogério esse ano foi feito da seguinte forma: 40 kg/ha de uma mistura pronta de sementes de centeio, ervilha forrageira e tremoço-branco, vendida por uma empresa especializada; com adição de 25 kg/ha de ervilhaca e 35 kg/ha de aveia-preta de suas próprias sementes, totalizando 100 kg/ha de sementes para cobertura, com adição de 150 kg/ha de Super-Fosfato Simples. Esse coquetel de cinco espécies está sendo utilizado nas áreas que terão o milho no verão.

Dessa forma, o custo da cobertura do solo nessas áreas é incluído aos custos de produção da área de milho. No restante da área é utilizada aveia, em parte a aveia “solteira”, e em outras um consórcio de dois ou três tipos de aveia (aveiabranca, aveia-preta e aveia amarela) Segundo Pacheco, em função da intensidade de chuvas que ocorreram no final de maio e início de junho, o tremoço-branco foi a espécie que mais sofreu com umidade e doenças.

Ele conta que em algumas áreas de cabeceira onde há muito tráfego de máquinas e de caminhões, foi utilizado um escarificador para tentar diminuir a compactação do solo. Essa operação é realizada tendo como prérequisito a cultura de cobertura já estar implantada, pois sem o auxílio da abundante cobertura vegetal, a operação de escarificação não mantém o efeito esperado ao longo do tempo Pacheco ressalta que com uma operação agressiva ao solo, parte da matéria orgânica é perdida. Em função disso, ele procura que a escarificação seja o mais “cirúrgica” possível.

Sua intenção é de aumentar o espaçamento entre cada haste do escarificador para 60 cm. Para ele sem a utilização da cultura de cobertura após o uso do escarificador, não ocorre agregação do solo e a fertilidade diminui, gerando mais perdas do que ganhos. O produtor conta que nos últimos anos vem percebendo um “furo” no sistema. Após a colheita de soja a quantidade de palha é reduzida, e até a implantação da cultura de cobertura o solo fica vulnerável. A ideia de Pacheco é fazer uma tentativa com a chamada sobressemeadura para “blindar” o solo nesse período. Ele pretende realizar o plantio de alguma espécie de cobertura no momento em que a soja estiver lourando, de forma que, quando a soja for colhida, a cultura de cobertura já esteja protegendo o solo com boa quantidade de massa verde.

O agricultor já estava percebendo o problema, no entanto a intensidade de chuvas no período fez com que ele pensasse mais a respeito. Para ele, não se pode pensar em agricultura de precisão se continuamos tendo problemas com erosão do solo. “Nos próximos anos teremos que trabalhar com diferentes espécies com ciclos diferentes para conseguir encaixar as coberturas ao longo do tempo”, ressalta.

Pacheco afirma que é necessário conhecer a empresa de onde se compra as sementes para cobertura, pois muitas vezes a qualidade oferecida não é adequada para as necessidades do produtor. Ele conta que, como é difícil encontrar sementes de plantas para cobertura de qualidade, boa parte da semente utilizada é produzida na própria propriedade. No manejo da cultura de cobertura, Rogério realiza dessecação e dentro de cinco dias, utiliza rolo-faca com 9 m de comprimento para rolar a massa verde e manter a cobertura de forma homogenia.

Ele ressalta que é importante sempre rolar no sentido do plantio e não perpendicular às linhas. Além da cobertura nas áreas de lavoura, Rogério tem intenção de plantar grama nos locais da lavoura onde o escorrimento da água é maior, para buscar reduzir a perda de solo na propriedade. Em um futuro próximo o plano é adquirir máquinas mais precisas e possivelmente um sistema para irrigação. A principal preocupação é com a conservação e a melhoria da fertilidade do solo: “Temos que preservar esse patrimônio”, afirma Pacheco.