Introdução
O uso de semeadoras com discos horizontais e pneumáticos nas regiões produtora de grãos é constante. No entanto, o principal mecanismo dosador utilizado nas semeadoras no Brasil é o de disco horizontal (Teixeira, et al. 2009). As semeadoras se reguladas adequadamente podem apresentar resultados satisfatórios dos espaçamentos aceitáveis, próximo de 90% (Weirich Neto et al. 2012a).
Sistemas de semeadura que envolvem a presença de palha, como o sistema plantio direto, podem dificultar a deposição da semente e diminuir a qualidade de semeadura, mas com ajuste preciso das máquinas é possível, mesmo em áreas com palha ocorrer espaçamentos aceitáveis próximos de 90% (Weirich Neto et al. 2012b). O uso de novas ferramentas para avaliação de qualidade é importante na agricultura e vêm sendo aplicada em diversas operações, como a colheita (Silva et al. 2007; Silva et al. 2008).
Na semeadura ainda é incipiente o uso das ferramentas de qualidade para avaliação deste processo, sendo importante para identificar possíveis causas de variação não identificadas pelos métodos convencionais estatísticos. O controle estatístico do processo (CEP) identifica se o processo apresenta estabilidade e não possui causas especiais de variação e a capabilidade do processo ou a capacidade do processo, visa identificar se o processo atende as especificações nominais (meta) e a variabilidade (dispersão) (Gonçales & Werner 2009).
A capabilidade do processo é uma ferramenta que trata da análise da estabilidade do processo e a variabilidade do processo, bem como sua posição em relação aos limites estabelecidos, e na comparação de processos com diferentes equipamentos (Bayeux 2001). Objetivou-se avaliar a qualidade de semeadura do milho safrinha, com dosador de disco horizontal e a pneumático, utilizando o controle estatístico.
Material e Métodos
O trabalho foi conduzido no município de Dourados, MS no ano de 2013. O local situa-se em latitude de 22 º 14 ’ S, longitude de 54 º 59 ’ W e altitude de 434 m. O clima é do tipo Am, monçônico, com inverno seco, e precipitação média anual de 1500 mm, e temperatura média de 22ºC (Alvares et al., 2013). O solo da área é um Latossolo Vermelho distroférrico (Embrapa, 2006), 62,2 % de argila, 20,43 % de silte e 17,34 % de areia.
Utilizou-se uma semeadoraadubadora de cinco linhas, com mecanismo dosador tipo disco horizontal, e uma semeadora-adubadora de quatro linhas com mecanismo disco vertical (pneumática), ambas com espaçamento de 0,90 m, e reguladas para depositar cinco sementes de milho por metro da mesma variedade. As semeadoras-adubadoras foram tracionada por tratores 4x2 TDA na velocidade de 4,5 km h-1 e 7,6 km h-1, respectivamente.
Para as avaliações realizou-se a coleta de dados na área semeada, sendo 12 pontos de coleta para cada semeadora, e em cada ponto coletaram-se os dados de todas as linhas de semeadura da máquina, resultando em 60 pontos para a semeadora de disco horizontal e 48 pontos para a semeadora de disco vertical (pneumática). Em cada ponto de coleta e para cada fileira de semeadura da máquina foram medidos dois metros de fileira, em que foi realizada a determinação das variáveis analisadas. O estande de plantas foi determinado em dois metros de fileira definidos previamente. A eficiência de semeadura foi definida como a divisão entre a quantidade de sementes semeada no campo e a que foi proposta na regulagem.
A porcentagem de espaçamentos normais, falhos e duplos foi obtida de acordo com as normas da ABNT (1984) e Kurachi et al. (1989), considerando-se porcentagens de espaçamentos: “duplos” (D): 1,5 o Xref, em que Xref é o valor do espaçamento de referência, que neste caso foi de 0,20 m entre plântulas. Os dados foram analisados pela estatística descritiva sendo calculada a média aritmética, mediana, amplitude, desvio-padrão e os coeficientes de variação, assimetria e curtose.
A averiguação da normalidade dos dados foi realizada pelo teste de Anderson-Darling. Para averiguar a estabilidade do processo (CEP) utilizou-se as cartas de controle a partir dos limites inferior (LCL) e superior de controle (UCL), que correspondem a três vezes o desvio padrão (Trindade et al. 2000).
Resultados e discussão
Considerando a meta de cinco sementes por metro a semeadora de disco horizontal e pneumática, atingiram apenas 74,8% e 86,2% de eficiência, respectivamente (Tabela 1). O teste de normalidade indicou distribuição normal para o espaçamento normal e falho, para a semeadora de disco horizontal e apenas o espaçamento normal para a semeadora pneumática.
Verifica-se que apenas 49,7% dos espaçamentos entre plântulas foram classificados como normais, com coeficiente de variação (CV) de 44,7% (Tabela 1), o que não corresponde ao valor mínimo de espaçamentos normais (60%) e ao máximo admissível para CV (30%) estabelecidos como requisitos para certificação de semeadoras com mecanismo dosador de sementes do tipo disco horizontal (Mialhe, 1996).
Resultados similares foram obtidos para a semeadora pneumática com valores de espaçamentos normais (68,3%), bem abaixo do mínimo exigido, 90%, no entanto o coeficiente de variação ficou no limite de 30% (Mialhe, 1996). Melo et al. (2013) também concluíram que tanto a semeadora pneumática como a mecânica, podem apresentar resultados abaixo do mínimo exigido.
Uma das causas da redução na distribuição de sementes em relação à regulagem é a velocidade, uma vez que ocorre aumento, a distribuição normal é reduzida, e a falha aumentada (Mercante et al. 2005; Cortez et al. 2006). A distribuição de sementes no sulco de semeadura pode ser afetada pela umidade do solo, em que solos muito úmido a distribuição de semente se torna prejudicada pela adesão de solo ao implemento (Portella et al. 1997).
Na carta de controle para a variável estande de plantas para a semeadora de disco horizontal, observa-se que alguns pontos se encontraram fora dos limites propostos, o que revela que há variações no processo devido a causas especiais que devem ser monitoradas a fim de aperfeiçoar o processo de semeadura (Figura 1). Nas cartas de controle para a eficiência de distribuição não se observa pontos fora dos limites de controle.
Na carta de controle de espaçamento normal para a semeadora pneumática (Figura 2) observou-se um ponto fora dos limites de controle que demonstra causa especial de variação, e o mesmo foi observado na carta de controle para espaçamento falho, em que se observou um ponto fora dos limites de controle. Segundo Toledo (2008) os fatores que podem afetar a distribuição de sementes são: regulagem incorreta dos equipamentos, experiência do operador, diferenças nas condições do solo, variações na velocidade de deslocamento, ataque de pragas, entre outros.
Outro fator que pode influenciar o processo de semeadura do milho é a cobertura do solo pelos restos culturais da cultura anterior. No sistema de semeadura direta, em que se acumula maior quantidade destes resíduos sobre a superfície do solo, estes podem favorecer a patinagem desuniforme da roda motriz da semeadora, tornando ainda mais difícil a correta regulagem da máquina e gerando deficiência na distribuição das sementes, que ocasionará redução da correta distribuição longitudinal das plantas.
Conclusões
1. A semeadora pneumática apresentou melhor qualidade do que a semeadora de disco horizontal.
2. O processo de semeadura não estava sob controle e a maioria das variáveis apresentou-se com distribuição assimétrica, exceto espaçamento normal e falho para a semeadora de disco horizontal.
3. Tanto a semeadora pneumática como mecânica não atingiram o mínimo exigido de espaçamentos normais, 90% e 60%, respectivamente.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela concessão de bolsas aos autores. A Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD.
Referências
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