Introdução
O Brasil possui uma grande importância no cenário mundial, sendo o segundo maior produtor de soja com 95,63 milhões de toneladas na safra 2015/2016 e com uma produtividade média de 2.882 kg ha-1, sabendo-se que o potencial da cultura situa-se em mais que o dobro dessa média (Embrapa, 2016).
A estimativa do décimo segundo levantamento da safra brasileira de grãos é que a área plantada alcance 58,3 milhões de hectares, a cultura da soja é responsável por 57,02% da área cultivada com grãos no país e permanece como principal responsável pelo aumento absoluto de área (CONAB, 2016). Na cultura da soja, a uniformidade do espaçamento longitudinal entre as plantas é um fator desejável e importante na composição do rendimento de grãos, especialmente quando se trabalha com populações de plantas reduzidas.
Alguns fatores, segundo Balastreire (1987), Kurachi et al., (1989), Mahl et al., (2004) e Correia (2016), podem afetar a distribuição longitudinal de sementes. Dentre eles, destacam-se o aumento da velocidade de deslocamento da semeadora, velocidade periférica do disco dosador e uniformidade dimensional entre as sementes e o disco dosador.
Segundo Casão Júnior (2016), uma característica importante é a velocidade tangencial dos orifícios dos discos dosadores mecânicos, pois se a mesma for superior a 15 cm.s-1 as sementes não conseguirão se alojar nos alvéolos do disco. Segundo Tourino et al. (2002) sementes redondas apresentam menos problemas para a distribuição em dosadores mecânicos de discos alveolados, mas sementes com formato irregular ou rugosas necessitam de um cuidado maior. As alternativas que existem são, aumentar o número de orifícios nos discos, aumentar o diâmetro do disco e diminuir a velocidade da semeadora.
Ainda, segundo essa autora, as semeadoras com dosadores pneumáticos permitem velocidades operacionais maiores, mantendo a distribuição das sementes dentro de limites aceitáveis de qualidade, entretanto, também apresentam limitações. Os mecanismos dosadores são responsáveis por dosar as sementes que serão distribuídas longitudinalmente na linha de semeadura, o que permite a obtenção da densidade de sementes desejada (SILVA, 2000).
Embora comumente sejam indicadas velocidades de semeadura de soja em torno de 6,0 km h-1, autores como Klein et al. (2002), TROGELLO et al. (2013) e CASTELA et al. (2014) não observaram influências significativas da variação da velocidade de semeadura sobre o percentual de espaçamentos duplos e falhos e o número de plantas de soja emergidas.
Esses autores destacam ainda, que o aumento da velocidade, dentro de limites razoáveis, pode ser uma alternativa para obter aumentos na capacidade operacional das semeadoras de soja. O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos de três modelos de semeadoras (sendo uma protótipo) e de três velocidades de semeadura, sobre a qualidade da distribuição longitudinal de sementes e o rendimento de grãos de soja.
Material e Métodos
Foram realizados dois experimentos no campo experimental da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV) da Universidade de Passo Fundo, RS, localizado geograficamente pelas coordenadas 28°13’S e 52°23’O, com altitude média de 702 metros, o solo da área é classificado como Latossolo Vermelho distrófico húmico (STRECK, 2008).
A região apresenta clima subtropical úmido, com chuvas em todos os meses do ano, sendo a precipitação anual média acumulada de 1.788 mm. A média de temperatura nos meses mais frios é de 12 ºC, enquanto que nos meses mais quentes, é de 22 ºC (EMBRAPA TRIGO, 2014). A área utilizada foi de 0,6 ha sob cobertura de palha em decomposição de aveia-preta que foi dessecada com glifosato (2,0 L/ha).
A semeadura foi realizada no dia 05/12/2014, utilizando-se sementes de soja cultivar Monsoy® M6410IPRO recomendada para a região, com germinação mínima de 85%, semeadas à profundidade de 0,05m, no espaçamento de 0,45m entre as linhas.
Foram utilizadas três semeadoras:
Semeadora 1) nove linhas, equipada com dosador pneumático a vácuo, com acionamento por correntes);
Semeadora 2) Eixo Plant Geométrica® (protótipo, com sete linhas e mecanismo dosador de discos alveolados acionado por meio de um eixo flexível) e
Semeadora 3) sete linhas, equipada com dosador mecânico por discos alveolados e acionamento por eixo rígido articulado na extremidade anterior, com sistema coroa/pinhão), que doravante passa a ser identificada como máquina padrão de discos.
Todas as semeadoras estavam equipadas com mecanismos abridores de sulcos para a deposição de fertilizantes do tipo disco de corte liso seguido por haste sulcadora. Para a abertura dos sulcos destinados à deposição das sementes, as três semeadoras estavam equipadas com discos duplos defasados acompanhados por rodas calibradoras de profundidade laterais.
Nas semeadoras 1 e 2 foram utilizadas rodas para fechamento de sulco e compactação do solo sobre as sementes, em formato de “V”. Na semeadora 3 o fechamento dos sulcos e a compactação do solo sobre as sementes foi através de rodas de borracha flexível com superfície convexa. No experimento 1, cada modelo de semeadora foi conduzido ao longo de uma faixa de 100m de comprimento, na velocidade de 6,0 km h-1.
Para as semeadoras com dosador de discos alveolados horizontais, isso equivale a velocidade tangencial dos discos de 11,10 cm.s-1. Já, no experimento 2, conduzido somente com a semeadora 2 (protótipo), foi semeada uma faixa com cada velocidade (4,0; 5,5 e 7,0 km h-1). Essas velocidades de deslocamento implicam em velocidade do disco dosador, respectivamente de 7,40, 10,17 e 12,95 cm.s-1.
Em ambos os experimentos, cada faixa foi sub-dividida em cinco parcelas (repetições das amostras), excluindose 20 metros iniciais e finais (bordadura), ao longo do comprimento, onde foram coletados os dados de qualidade da semeadura e ao final do ciclo foram colhidas as plantas para estimativa do rendimento de grãos. A população inicial de plantas foi estimada pela contagem de plantas após o final da emergência na área de 1m2.
A distribuição longitudinal das sementes, após o término da emergência foi determinada medindo-se 100 distâncias entre plantas de soja utilizando régua graduada em milímetros, em cinco linhas de cada parcela. Posteriormente foram calculadas a média, o desvio padrão, o coeficiente de variação, bem como os espaçamentos falhos (espaçamentos maiores que 1,5 vezes o EN), duplos (espaçamentos menores que 0,5 vezes o EN) e aceitáveis (espaçamentos entre 0,5 a 1,5 vezes o EN), conforme ABNT (1994), onde EN significa espaçamento nominal (médio esperado) entre as plantas.
Para a estimativa do rendimento de grãos foi realizada a colheita das três linhas centrais de cada parcela. As amostras de grãos foram submetidas à limpeza, determinação de umidade e pesagem, sendo após realizado o cálculo do rendimento de grãos (kg/ha) com teor de umidade corrigido para 13%. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) ao nível de 5% de probabilidade de erro.
No experimento 1, as médias das variáveis entre as semeadoras foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. No experimento 2 a ANOVA das variáveis avaliadas não apresentou diferenças significativas entre as velocidades e por esse motivo não foi utilizada análise de regressão.
Resultados e Discussão
Os resultados das comparações entre as semeadoras passam a ser apresentados nas Tabelas 1 e 2. Observa-se que houve diferenças significativas entre as semeadoras em todas as variáveis analisadas, exceto nos espaçamentos duplos entre plantas e no rendimento de grãos de soja. Na Tabela 1 encontram-se as médias do coeficiente de variação entre os espaçamentos, da percentagem de espaçamentos falhos e dos espaçamentos duplos entre plantas, obtidos com cada semeadora-adubadora.
Observa-se que a semeadura com dosador pneumático proporcionou maior uniformidade nos espaçamentos entre plantas (menor coeficiente de variação dos espaçamentos entre as plantas e menor percentagem de espaçamentos falhos) do que a semeadora padrão com dosador de discos alveolados horizontais acionados por eixo rígido, enquanto que a semeadora protótipo (Geométrica) proporcionou valores intermediários, não se diferenciando significativamente de ambas.
Quanto às plantas duplas (espaçamento entre plantas menor que a metade do espaçamento esperado), não houve diferenças significativas entre as semeadoras, embora numericamente a semeadora pneumática tenha apresentado os menores valores. Esses resultados concordam parcialmente com os relatos de Oliveira (2009) e de Weihrich Neto et al. (2012), que observaram não haver diferenças significativas entre a qualidade de semeadura de milho com diferentes modelos de semeadoras, equipadas com dosadores pneumáticos e de discos alveolados horizontais.
Na Tabela 2 encontram-se as médias da população de plantas de soja por m², da percentagem de espaçamentos aceitáveis e do rendimento de grãos de soja. Observa-se que não houve diferenças significativas entre as semeadoras, para população de plantas e rendimento de grãos. A variável espaçamentos aceitáveis mostrou que a semeadora pneumática foi superior a semeadora 3 (padrão, com dosador de discos alveolados), enquanto que ambas não se diferenciaram da semeadora 2 (Geométrica).
Nesse sentido, Coelho (1996) destaca que as semeadorasadubadoras devem atender a uma percentagem mínima de espaçamentos aceitáveis de 60% para que essas sejam consideradas implementos agronomicamente eficientes e não apenas máquinas. De acordo com esse critério, as semeadoras com dosador pneumático e a semeadora protótipo (Geométrica) atendem ao requisito mínimo para ser consideradas agronomicamente eficientes. Nas Tabelas 3 e 4 encontram-se os resultados do experimento 2 (velocidades da semeadora Geométrica - protótipo). Observa-se que nenhuma das variáveis avaliadas respondeu às variações da velocidade de deslocamento dessa semeadora.
Na Tabela 3 encontram-se as médias do coeficiente de variação entre os espaçamentos, da percentagem de espaçamentos falhos entre plantas e das plantas duplas, obtidos em cada velocidade da semeadora-adubadora. Na Tabela 4 encontram-se as médias da população de plantas por m², percentagem de espaçamentos aceitáveis e do rendimento de grãos de soja.
Observa-se que não houve diferenças significativas entre as velocidades de operação da semeadora. Essas observações concordam com os relatos de CASTELA et al. (2014), que também não encontraram diferenças significativas em relação a distribuição longitudinal de plantas, na população de plantas e no rendimento de grãos de soja, quando variou a velocidade de semeadura entre 5,6 e 9,0 km.h-1.
Resultados semelhantes também já foram obtidos por KLEIN et al. (2002), quando avaliaram a qualidade de semeadura e o rendimento de grãos de soja com uma semeadora equipada com dosador de discos alveolados horizontais e variaram a velocidade de semeadura entre 3,6 e 10,7 km h-1.
Da mesma forma, TROGELLO et al. (2013), verificaram que variando a velocidade de semeadura entre 4,5 e 7,0 km h-1 não houve alteração dos espaçamentos aceitáveis entre as plantas.
Uma das possíveis justificativas para não haver diferenças na qualidade de semeadura em função da variação da velocidade pode ser o fato de que em nenhuma das velocidades testadas no presente trabalho, foi ultrapassada a velocidade tangencial dos discos dosadores de 15 cm.s-1, relatada por Casão Júnior (2016), como limite para um adequado preenchimento dos alvéolos dos discos dosadores de sementes.
Conclusões
1. A semeadora protótipo (Geométrica) proporciona qualidade de semeadura da cultura da soja semelhante à semeadora equipada com mecanismo dosador pneumático.
2. O rendimento de grãos da cultura da soja não apresenta diferenças significativas entre os modelos de semeadoras comparados.
3. A variação de velocidade na semeadora protótipo (Geométrica), entre 4,0 e 7,0 km.h-1 não interfere na qualidade de semeadura e no rendimento de grãos de soja.
Referências
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