Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a área aproximada de produção do milho de primeira safra no Brasil, no ano agrícola de 76/77, foi de quase 11,8 milhões de hectares. Para a safra 2016/2017, a estimativa é de pouco menos de 5,6 milhões de hectares, o que demonstra a grande redução de área plantada com o cereal em algumas décadas.
Em compensação, na safra de 76/77 a produção nacional de milho de primeira safra era de aproximadamente 19,2 milhões de toneladas, enquanto que a produção nacional estimada para 2016/2017 na primeira safra é de 28,4 milhões de toneladas. Ou seja, em 40 anos, mesmo que a área plantada tenha sido reduzida pela metade, a produção aumentou em quase 10 milhões de toneladas.
Essa mudança no cenário se deve, entre outros fatores, ao aumento da produtividade para a cultura do milho. A média de produtividade nacional na primeira safra de 76/77 era de 1632 kg/ha, porém, nesta safra a estimativa nacional para a produtividade média é de 5110 kg/ha, sendo que a CONAB prevê o Estado do Mato Grosso do Sul como campeão, com uma média estimada de 8725 kg/ha.
Nesse sentido, os híbridos mais modernos de milho contam com um potencial genético para produzir em torno de 15 000 kg/ha. Considerando as condições de campo e o fato de que o milho é uma cultura sensível em relação a água em determinados estádios, a produtividade de 15 t/ha é um objetivo difícil de ser atingido.
Contudo, é estabelecendo metas altas como essa e direcionando ações para atingi-la que, ano a ano, a produtividade pode ter um acréscimo que, no longo prazo, pode ser significativo. Essa definição da produtividade de milho é resultado do número de grãos/m² e do peso de grãos. Logo, é necessário entender o processo que leva a um maior número de grãos e a um incremento de peso de grãos.
A semente de milho, durante o processo de germinação, absorve aproximadamente 30% de seu peso em água, sendo que isso ocorre independente da temperatura. Ao germinar, a semente emite a radícula e geralmente 4 ou 5 raízes seminais (ou temporárias). Essas estruturas, assim como a emergência da plântula, têm seu desenvolvimento determinado principalmente pelo vigor, que é reduzido caso haja falta de proteínas e amido na semente. Portanto, devese priorizar a utilização de sementes com vigor elevado para favorecer o estabelecimento da lavoura.
Após o processo de germinação, a semente de milho começa o alongamento da radícula (raiz primordial) e do mesocótilo (estrutura que cresce em direção a superfície), sendo que esse crescimento é determinado pela profundidade de semeadura: quanto mais profunda a semente estiver no solo, maior terá de ser o crescimento dessa estrutura.
Em função disso, é importante que se busque uma profundidade de semeadura adequada, não se deve “sepultar” a semente, pois se isso ocorre, a plântula de milho gastará muita energia para conseguir chegar até a superfície. Contudo, também é importante evitar que a semente fique muito rasa, considerando que o ponto de crescimento da planta, que inicialmente está sob a superfície, não conseguirá se desenvolver de forma adequada. A qualidade da semeadura, portanto, define o potencial ou o número de grãos/espiga.
No estádio denominado VE, o mesocótilo cresce e empurra o coleóptilo, que é uma estrutura semelhante a uma bainha para a primeira folha da planta, até a superfície onde, na presença da luz, o crescimento é interrompido, determinando assim a formação do primeiro nó da planta de milho, com aproximadamente dois centímetros de profundidade, entre o mesocótilo e o coleóptilo (Figura 2).
Desse primeiro nó se desenvolverá o sistema radicular fasciculado da coroa da planta que formará o triângulo da base do colmo, por onde passarão todos os nutrientes transportados pelo fluxo de água dos processos de transpiração e fotossíntese. Essa emergência da planta e o desenvolvimento das raízes seminais e o epicótilo, em condições ideais de temperatura e umidade, leva em torno de 4 a 6 dias, podendo demorar mais em condições adversas.
A temperatura mínima para a germinação e emergência comumente citada na bibliografia é de 10oC, e a temperatura ideal fica em torno dos 23oC, sendo que temperaturas elevadas (acima de 40oC) na superfície do solo podem ser letais às sementes. Em duas semanas após a semeadura, a planta de milho possui três folhas desenvolvidas, sendo que o ponto de crescimento está ainda abaixo da superfície e, portanto, o caule está pouco aparente.
Nesse momento, no interior da planta estão sendo formadas as folhas e espigas que futuramente serão emitidas. Em função disso, é de extrema importância que se dê condições para que a planta consiga expressar seu potencial genético de formação das estruturas.
Nessa fase, como o ponto de crescimento está ainda abaixo da superfície, a ocorrência de granizo e vento não interferem de forma significativa na produtividade final, porém é essencial que haja água disponível (a falta de água diminui o potencial de produção, enquanto que o excesso pode acabar matando a planta), assim como deve haver o controle de plantas competidoras e fertilidade do solo apropriada. O 5º nó, que forma a folha V5, é o primeiro que aparece acima da superfície do solo.
Quando a planta possui 4-6 folhas desenvolvidas, as folhas e espigas no interior da planta estão praticamente formadas, e o pendão vai estar iniciando seu desenvolvimento. O ponto de crescimento nesse momento é sensível em relação as suas condições. Caso a temperatura não seja ideal, o ciclo da planta pode se alongar nesse estádio, podendo levar ao aumento do número de folhas que vão ser emitidas e o pendão demorará mais para se desenvolver.
Quando a planta possui em torno de 8 folhas, define-se o número de grãos por fileira na espiga, e com 12 folhas (V12), a planta está definindo o tamanho da espiga, sendo estes, portanto, momentos em que a planta tem elevada demanda de nutrientes e água. É possível calcular uma estimativa da produção que a área de milho terá por meio de amostragem das espigas (Figura 3).
É importante que as espigas escolhidas realmente representem a área em que se encontram. As três variáveis utilizadas para o cálculo são: o número de fileiras na espiga; o número de grãos em cada fileira; e o peso de cada grão. De forma geral, o número de fileiras na espiga varia entre 10 e 24, sendo que cada fileira pode possuir entre 20 até 50 grãos, e o Peso de Mil Grãos (PMG) geralmente varia entre 200 e 500g (sendo assim, o peso individual do grão varia entre 0,2 até 0,5g).
Dessa forma, podemos comparar áreas hipotéticas quanto a produção. Uma área cujas espigas possuem em média 16 fileiras, cada fileira possuindo 38 grãos, cada grão pesando 0,2 g e existindo 6 espigas/m², apresentaria um rendimento estimado de 7296 kg/ha. Por outro lado, se houvessem 24 fileiras com 40 grãos, e cada grão pesando 0,4g, o rendimento estimado seria de 23040 kg/ha (um resultado extremamente difícil em condições de campo, hoje). Esses rendimentos hipotéticos demonstram a grande variação que pode haver na produção do cereal.
A diferença entre uma espiga com 14 para 18 fileiras de grãos corresponde a 28% no aumento do número de grãos. Uma espiga com 18 fileiras de 40 grãos terá 720 grãos. Portanto, 5 espigas/m2 produzirão 3600 grãos/m2 e com base em 300 g de Peso de mil Grãos (PMG), teremos 1080 g/m2 ou 10.800 kg/ha.
Considerando então, que a definição da produção de milho está relacionada com a população de plantas e também com o número de grãos por espiga, e que estes fatores sofrem influência da qualidade de semeadura (escolha da semente, profundidade do plantio, condições do solo e estabelecimento ideal das plântulas) ressalta-se que é necessário a observação com atenção dos processos de estabelecimento da lavoura, o conhecimento da lógica de produção da planta e a adoção de práticas de manejo para ajudar as plantas de milho a expressarem o máximo de seus componentes de rendimento.
Referências
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