Introdução
Os pulverizadores de barras com assistência de ar e a carga eletrostática das gotas estão disponíveis há décadas no cenário mundial da tecnologia de aplicação, sendo periodicamente trazidos ao público agrícola como opção frente à constante necessidade de se buscar ferramentas que possibilitem mais desempenho e segurança nas aplicações.
Raetano e Cunha (2019) descrevem com precisão em sua revisão bibliográfica sobre esses temas a cronologia do desenvolvimento científico e do lançamento comercial destas técnicas. Os pulverizadores de barras com assistência de ar surgiram na década de 1980, mas ganharam impulso e destaque no mercado em meados da década de 1990, a partir de seu lançamento comercial na Europa. No Brasil, os primeiros estudos e protótipos de pulverizadores de barras dotados de assistência datam da mesma época.
Em geral, os argumentos técnicos e de marketing sempre destacaram a possibilidade de que a assistência de ar nas barras poderia melhorar a qualidade e a segurança das aplicações, com potencial para reduzir a deriva.
Segundo os autores, o processo de pulverização eletrostática consiste em prover uma carga elétrica às gotas com a finalidade de melhorar sua deposição sobre os alvos, possibilitando a redução da taxa de aplicação e reduzindo o risco de deriva. O desempenho do processo depende de diversos fatores ligados à calda pulverizada (condutividade elétrica, constante dielétrica, densidade e tensão superficial), às plantas (morfologia e estresse hídrico), assim como a umidade relativa do ar e o tamanho das gotas.
Um dos principais entraves ao uso da tecnologia eletrostática nos pulverizadores de barras, considerando o tratamento fitossanitário das culturas anuais, é a dificuldade de prover adequada penetração das gotas no dossel, visto que tais gotas carregadas eletricamente quando lançadas de cima para baixo apresentam tendência de se depositar na parte superior do dossel, reduzindo o potencial de cobertura da parte inferior das plantas.
Uma das possíveis soluções para resolver esse problema é a associação dos conceitos de pulverização eletrostática com a assistência de ar. Os primeiros trabalhos que avaliaram a possibilidade de junção destas duas tecnologias foram desenvolvidos na década de 1990 (Summer et al., 2000), com diversos relatos de resultados promissores no que se refere à melhora na capacidade de depositar a calda em diferentes partes do dossel de plantas de algodão.
No Brasil, o primeiro protótipo de um pulverizador de barras autopropelido com assistência de ar e transferência de carga elétrica foi desenvolvido pela Jacto em meados da década de 2000. Segundo Oliveira et al. (2011), que publicaram resultados dos primeiros ensaios do sistema a campo realizados em 2008, houve melhorias significativas na deposição de fungicidas e no controle da ferrugem asiática na soja.
Segundo os autores, o uso concomitante destas tecnologias propiciou também a redução no índice de deriva nas aplicações. Este sistema desenvolvido pela Jacto passou por sucessivas etapas de desenvolvimento, englobando uma série de pesquisas científicas, a exemplo da tese de doutorado de Serra (2011), assim como um extenso programa de avaliações de protótipos a campo, culminando com o lançamento em 2019 da tecnologia comercialmente denominada EletroVortex.
O nível de velocidade do vento do sistema EletroVortex foi o de número 5, o máximo dentre as opções disponibilizadas, resultando em uma velocidade de saída do ar de 110 km/h. A voltagem utilizada foi de 5 kV, conforme recomendação do fabricante. A ponta de pulverização utilizada foi a ATR 80-2,0 (Jacto) na pressão de 5,7 bar, produzindo gotas da classe Muito Fina (MF).
O ensaio foi realizado com 5 repetições, com aplicações em parcelas de 1,5 ha (120 m de comprimento por 128 m de largura), equivalente a 4 passadas do pulverizador que possuía 32 m de largura de barra.
As plantas de algodão possuíam no momento das aplicações 23 nós (ramos vegetativos) em média, e altura de 1,27 m, sendo que a pesquisa foi feita quando as plantas possuíam 99 DAE (Dias Após a Emergência). A cultivar utilizada foi a Fiber Max FM 906GLT Precoce.
Decorridos 10 minutos após a aplicação do fungicida em cada parcela, as coletas foram feitas separando-se as três posições em cada planta (terços superior, médio e inferior). Foram coletadas amostras compostas de 10 folhas provenientes de 6 plantas distintas em cada uma das 5 repetições (parcelas), totalizando 30 amostras por tratamento. As folhas foram armazenadas em saco plástico, e depois de 4 h foram lavadas com água deionizada.
As soluções provenientes da lavagem foram submetidas à cromatografia líquida de alta eficiência associado à espectrometria de massas (LC-MS) para determinação do ingrediente ativo prothioconazol. Este ingrediente ativo contido na formulação do Fox Xpro foi o escolhido como marcador do fungicida na análise de recuperação.
Visando a avaliação da área foliar por estrato (superior, médio e inferior), foram coletadas 15 plantas de maneira aleatória no talhão onde o experimento foi instalado.
Dessa forma, a maior dose de ingrediente ativo por área de folha é um indicativo de que o tratamento fitossanitário pode ser mais eficiente com o sistema EletroVortex, possivelmente gerando maior eficácia agronômica, já que o fungicida estará presente em maior quantidade.
É importante observar que a maior recuperação unitária nas folhas (maior quantidade de ativo por centímetro quadrado nas folhas) ocorre em todas as partes da planta (terços superior, médio e inferior), mas um destaque deve dado ao desempenho no terço médio, onde o ganho de recuperação foi de 116,1%, comparado a 18,7% no terço superior e 22,2 % no terço inferior (Figura 5).
A recuperação do fungicida por unidade de área na lavoura foi calculada baseando-se na quantidade de prothioconazol encontrada nas folhas e a área foliar estratificada de plantas de algodão, considerando o estádio fenológico no momento da aplicação. O tratamento com o sistema EletroVortex ligado gerou maior recuperação de prothioconazol (31,11 g de i.a./ha) em comparação à aplicação com o sistema EletroVortex desligado (24,57 g de i.a./ha), gerando um ganho total na recuperação do fungicida de 26,6%.
Conclusões
O sistema de pulverização EletroVortex, que combina a assistência de ar com a transferência de carga elétrica às gotas, gerou maior recuperação unitária do fungicida nas folhas de plantas de algodão, com destaque ao terço médio, onde o ganho de recuperação foi de 116,1%. Considerando a recuperação total do fungicida por unidade de área na lavoura, o ganho relativo com a adoção da tecnologia EletroVortex foi de 26,6%.
Referências
OLIVEIRA, M. A. P.; ANTUNIASSI, U. R.; VELINI, E. D.; SIQUERI, F. V.; OLIVEIRA, R.B.; PONTELLI, C. O.; BELTRAMELLO, L. G. F.; ZAIDAN, S. E. Desempenho de um sistema eletrostático com assistência de ar na deposição de calda e no controle da deriva em aplicações de fungicidas. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO, 5., 2011, Cuiabá. Anais... Botucatu: FEPAF, 2011. p. 1-4.
RAETANO, C. G.; CUNHA, J. P. A. R. Assistência de ar e transferência de carga elétrica às gotas em pulverização: interferência e potencial de uso das tecnologias em sistemas de produção. In: Antuniassi, U. R.; Boller, W. Tecnologia de aplicação para culturas anuais. 2 ed, 373 p, Passo Fundo: Aldeia Norte, Botucatu: FEPAF, 2019.
SERRA, M.E. Pulverização eletrostática e assistência de ar no tratamento fitossanitário na cultura do algodoeiro. 2011. 102f. Tese (Doutorado em Agronomia / Proteção de Plantas) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.
SUMNER, H. R., HERZOG, G. A., SUMNER, P. E., BADER, M., MULLINIX, B. G. Chemical Application Equipment for Improved Deposition in Cotton. Journal of Cotton Science, Baton Rouge, v.4, n.1, p.19-27, 2000.