Plantas daninhas em lavouras de milho safrinha, em Mato Grosso do Sul


Autores: Valquíria Krolikowski, Rodolpho Freire Marques, Germani Concenço, Gessi Ceccon
Publicado em: 28/02/2016

Introdução

A presença de plantas daninhas no milho pode acarretar grandes prejuízos durante o ciclo produtivo da cultura e a sua dinâmica populacional varia em função das condições edafoclimáticas da região, consistindo o grande determinador da distribuição de cada espécie ao longo de um gradiente ambiental (Barbour et al., 1998).

O milho safrinha tem sido a melhor opção para cultivo após a colheita da soja. Em grande parte, é semeado no sistema de consórcio com braquiária, o que garante melhor cobertura do solo após a colheita (Ceccon et al., 2010) e atua como barreira à proliferação de plantas daninhas na entressafra.

Como o sistema de produção na região Centro-Oeste do Brasil inclui o cultivo de milho na safrinha, após a soja, objetivou-se neste trabalho avaliar a distribuição de plantas daninhas em regiões de cultivo de milho safrinha no Estado de Mato Grosso do Sul, em função do sistema de cultivo, espaçamento entrelinhas e localização geográfica das lavouras.

Diagnóstico

O trabalho foi realizado no período de junho a julho de 2015 em lavouras de milho cultivado na safrinha, nos sistemas solteiro ou consorciado com braquiária, em diferentes municípios do estado de Mato Grosso do Sul (Figura 1), totalizando 78 lavouras amostradas, durante o estádio de maturação. Em todas as lavouras foram registradas dados da localização (coordenadas geográficas, nome da fazenda e da gleba), do proprietário da área, o sistema de cultivo do milho safrinha (solteiro ou consorciado) e o espaçamento entrelinhas da cultura.

Em cada lavoura três pontos foram aleatoriamente amostrados, sendo que em cada ponto um quadrado com 0,50 m de lado foi lançado aleatoriamente. Foram registradas as espécies das plantas daninhas encontradas na área amostrada, incluindo dentre estas a soja da lavoura cultivada no verão, considerada como planta tiguera. Os dados foram processados por estatística descritiva no ambiente > (R core team, 2015).

Os resultados foram apresentados em mapas, gráficos de barras, nuvens de palavras, agrupamento pelo método UPGMA e agrupamento de distribuição bilateral.

Resultados e Discussão

A Figura 2A mostra que 40% das áreas amostradas estava implantada no sistema de consórcio milho + braquiária, enquanto 60% era composta por cultivo solteiro.

Quando a infestação das áreas é comparada em função do sistema de cultivo, observa-se que as áreas sob consórcio responderam por apenas 26% da infestação global de plantas daninhas, enquanto os 74% restantes estavam atribuídas nas áreas de cultivo solteiro (Figura 2B).

A nuvem de palavras escalona o tamanho do nome das espécies em função de sua importância no sistema de cultivo, sendo obtida para o cultivo consorciado (Figura 3A) e solteiro (Figura 3B).

Somente as espécies mais importantes foram apresentadas. No sistema de consórcio (Figura 3A) foi observada a predominância da macela (Gnaphalium coarctatum), uma planta daninha de fácil controle e portanto desejável, uma vez que sua presença ocupa o espaço físico disponível podendo reduzir a ocorrência de outras espécies daninhas de maior relevância.

No sistema de cultivo solteiro (Figura 3B) diversas espécies de plantas daninhas relevantes como trapoeraba (Commelina benghalensis), capim pé de galinha (Cenchrus echinatus), picão-preto (Bidens pilosa), poaia branca (Richardia brasiliensis) e buva (Conyza sp.) foram constatadas. A buva também foi moderadamente relevante no cultivo consorciado, o que a caracteriza como uma espécie de alta plasticidade, ou seja, adaptável a diversos ambientes.

Quando os sistemas de cultivo são comparados em função das principais famílias de plantas daninhas constatadas (Figura 4), não se constatam diferenças notáveis entre os dois sistemas de cultivo. Isto indica que, quando se considera o cultivo de milho, para espécies de menor plasticidade o microambiente formado pela cultura pode ser mais importante para a ocorrência e o estabelecimento de plantas daninhas que o macroclima (condições edafoclimáticas) regional.

Assim, as principais espécies daninhas que ocorrem em áreas aonde o milho pode ser cultivado são as plantas daninhas companheiras do milho, as quais se adaptam às condições edafoclimáticas idênticas às demandadas pela cultura.

O agrupamento das áreas por semelhanças na composição das plantas daninhas ocorrentes – não considerando o nível de infestação (Figura 5), indicou não haver efeito consistente do espaçamento de plantio sobre a composição das plantas daninhas dentro do intervalo avaliado, que variou de 0,45 m a 0,90 m de entre linhas.

O alto coeficiente de correlação cofenética e a significância do agrupamento suportam essa hipótese.

Quando os municípios com lavouras amostradas foram agrupados com base na semelhança da composição das espécies daninhas, cinco grupos foram formados:

o grupo 1 incluiu a maioria dos municípios do centro-sul do Estado;

o grupo 2 incluiu localidades ao norte do Estado, com exceção de Fátima do Sul, que pode ter sido incluída neste grupo devido a características edafoclimáticas locais;

os grupos 3, 4 e 5 foram representados, respectivamente pelos municípios de Campo Grande, Nioaque e Amambai, que por características edafoclimáticas locais podem ter se diferenciado das demais (Figura 6).

Conclusões

Lavouras de milho safrinha em cultivo solteiro são mais infestadas por plantas daninhas do que aquelas cultivadas em consórcio com braquiária.

As famílias botânicas ocorrentes são mais determinadas pelo microclima do que pelo macroclima da região, mas há diferença entre regiões quanto às espécies daninhas preponderantes.

As plantas daninhas companheiras do milho são as mais importantes podendo ser alteradas entre as regiões.

Referências

BARBOUR, M. G.; BURK, J. H.; PITTS, W. D. Terrestrial plant ecology. Menlo Park: Benjamin/Cummings, 1998. 688 p.

CECCON, G.; LUIZ NETO NETO, A.; PALOMBO, L. Uso de herbicidas no consórcio de milho safrinha com Brachiaria ruziziensis. Planta daninha, v. 28, n. 2, p.359-364, jun 2010.

R-DEVELOMENT CORE TEAM. The R project for statistical computing. Vienna, 2015. Disponível em: < http://www.R-project.org>. Acesso em: 17 jul. 2015.