As plantas daninhas causam danos em lavouras tanto no período vegetativo quanto no período reprodutivo das culturas. Na época vegetativa elas diminuem o rendimento pela competição. Já na fase reprodutiva, provocam perdas na qualidade dos grãos, dificultam a colheita, reinfestam a área, além de hospedarem pragas e doenças. As falhas no controle das plantas daninhas podem ocorrer devido à época incorreta de controle (estádio da cultura), doses de produto inadequadas, estádio tardio da planta daninha, eficácia do herbicida e falhas na aplicação.
O agricultor muitas vezes não percebe a importância do dano causado pela planta daninha, pois no caso de doenças e pragas há o aspecto visual, ou seja, percebe-se mais facilmente o dano na perda da área foliar. No caso da planta daninha isso não acontece, por isso se dá menor importância quando comparada a presença de pragas e doenças na lavoura. Portanto, há uma crescente necessidade de conscientização de que o potencial de produção que foi planejado no início começa a ser perdido quando há a presença de plantas indesejadas.
Esse tema foi abordado pelo professor e pesquisador da Universidade de Passo Fundo, Dr. Mauro Rizzardi, durante o Checklist Milho: meta de 15 toneladas/hectare, evento que aconteceu no mês de julho, em Passo Fundo, numa promoção da Revista Plantio Direto com o patrocínio Bayer CropScience e apoio da Agro+, Analys, Cotrijal, Dupont/ Pioneer e Suprema Agrícola. O evento recebeu cerca de 400 agricultores e assistentes técnicos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Segundo Rizzardi, hoje há dificuldades de controle das espécies “novas”, que na verdade são espécies que sempre estiveram presentes nas lavouras, mas que, no entanto, não eram problema e agora passa ram a ser. “Se uma planta daninha se estabelece na lavoura e deixa sementes, ela pode vir a ser problema para a cultura subsequente. Em função disso, é necessário pensar no controle de plantas daninhas não apenas em determinada cultura, mas sim no sistema”, explica o pesquisador. No Rio Grande do Sul, com algumas exceções, a área cultivada com soja no verão é maior que a de milho, já no inverno, percebem-se as pastagens, algumas áreas com plantas de cobertura ou trigo, mas muitas áreas permanecem em pousio.
De acordo com o Mauro Rizzardi, para se pensar no manejo em sistema é necessário trabalhar com rotação de culturas e manter às sempre cobertas. Segundo o pesquisador, muitas vezes o agricultor considera esse tipo de planejamento de lavoura mais trabalhoso. No entanto, para ele, há vantagens de intercalar culturas de verão como milho e soja, isso porque o plantio de culturas diferentes, com certas especificidades de manejo faz com que o agricultor use estratégias de controle distintas, seja em termos de época de controle da planta daninha ou uso de herbicidas com mecanismo de ação diferentes. Nesse sentido, também é importante pensar nas culturas antecessoras.
No momento em que se tem uma cultura antecessora ou se estabelece uma cobertura protegendo o solo, há a diminuição da incidência de plantas daninhas, e com isso ocorrerá um melhor ambiente para estabelecer a cultura na sequência no caso do milho ou mesmo na cultura da soja. Para Rizzardi o que não se deve fazer é deixar a área “parada”. Contudo, para o pesquisador, esse sistema deve ser bem planejado, com base na diversidade. A simplificação do sistema com a ausência de rotação de culturas, a utilização da mesma biotecnologia e também o uso do mesmo herbicida, traz problemas. Rizzardi recordou que em 1996, nos Estados Unidos, foi lançada a tecnologia RR.
Naquele momento existia apenas uma espécie com gene de resistência ao glifosato. A partir disso, o sistema foi conduzido com a utilização de milho, soja e algodão, todos com a tecnologia RR. Com isso, em 2016, após 20 anos, existem 24 espécies de plantas daninhas resistentes ao herbicida glifosato. Isso ocorreu pelo mau uso da tecnologia e simplificação do sistema. Portanto, o problema não é a tecnologia em si, mas o mau uso que ocasionou os problemas que também são vivenciados no Brasil. Mauro Rizzardi, explicou aos participantes que na Região Sul do país, juntamente com o Mato Grosso do Sul, há ocorrência de plantas daninhas tanto tolerantes como resistentes a herbicidas, mas predominam as espécies resistentes.
Na região sudeste e centro-oeste, há menor ocorrência de resistência de plantas daninhas quando comparado ao sul, mas ainda é maior do que nas demais regiões do país. Essas espécies são um problema hoje. São as plantas que escaparam do controle com a tecnologia utilizada, seja em soja, milho ou algodão. De 1992 até 2016 houve um crescimento muito grande de casos e continuam crescendo nos mecanismos de ação mais utilizados pelos agricultores. Entre os casos mais discutidos estão a buva e o azevém resistentes ao glifosato e a outros herbicidas.
Para Rizzardi, uma alternativa para o manejo das áreas com problemas de buva e azevém no Rio Grande do Sul está justamente no estabelecimento do sistema de rotação com milho. De acordo com o pesquisador o aumento da buva e do azevém ocorreu, entre outros fatores, pela retirada do milho do sistema de produção. “Está ocorrendo a simplificação do sistema no Estado utilizando-se a mesma estratégia de controle repetidamente. Dessa forma acontece a seleção das plantas resistentes.
A rotação de culturas com rotação de mecanismos de ação permite realizar um manejo proativo, ou seja, adotar estratégias antes que o problema tome grandes proporções”explicou Rizzardi. A buva, por exemplo, começou a aparecer nos anos 80, no plantio direto. Naquele momento, o problema foi aparentemente solucionado com aumento da palhada, uso de herbicidas residuais e dessecação feita corretamente. Quando esses princípios foram deixados de lado, o problema voltou. Segundo o palestrante, o primeiro relato de resistência de buva foi em Cruz Alta, em 2005.
Pouco tempo depois, a espécie se espalhou em toda região produtora de soja no Brasil. Esperava-se que a buva só ocorresse em regiões frias, mas a espécie está presente em diferentes regiões do país, em intensidades menores, mas crescendo. “Boa parte da disseminação para regiões mais distantes da buva ocorre por falta de cuidados básicos. Estima-se que cerca de 30% das colhedoras do Paraná saem do Estado e realizam a colheita em outras regiões. Como não há o cuidado necessário na limpeza da máquina, após a colheita em uma região com elevada presença da espécie, as sementes que são pequenas ficam retidas na máquina, e em seguida são dispersas em outras regiões. A primeira estratégia de controle para dessa planta daninha é justamente evitar que as sementes se dispersem”.
Quando se usa como única estratégia de manejo a aplicação de herbicidas a população de plantas daninhas pode ser reduzida momentaneamente. No entanto, se o controle for realizado quando o banco de sementes do solo já foi alimentado, a população pode voltar a crescer, de forma que o sistema de produção vai estar sempre dependente do uso do controle químico. Para que se consiga uma facilidade maior de controle em longo prazo, deve-se estudar as estratégias de controle para que haja máxima eficiência na redução da população, sem que o banco de sementes continue crescendo.
Conhecendo a longevidade da semente da espécie daninha, ou seja, sabendo por quanto tempo ela permanece viável no solo, é possível impedir que novas plantas produzam sementes, manejando até que a população zere ou chegue próximo à zero. De acordo com Rizzardi, a rotação de cultura é de grande valia nesse sentido, pois permite alternar a estratégia de controle, alternando mecanismos de ação e épocas de aplicação. A prática do pousio vai resultar no aumento da quantidade de sementes de plantas daninhas na área, e o plantio de uma mesma cultura comercial ano após ano impede as medidas de controle necessárias.
Por exemplo, o azevém no momento da dessecação para o plantio da soja normalmente já produziu sementes, então o banco de sementes estará sendo alimentado. No caso do milho, devido a época do plantio, a dessecação atinge o azevém no momento em que ainda não há sementes produzidas, diminuindo a entrada de sementes no banco. Quando é feito um sistema onde em algum momento se interfere na população da planta daninha, gradativamente se diminui a quantidade de plantas e, por consequência, de sementes na área. Com isso, ao longo do tempo o banco de sementes vai reduzir.
Importante também destacar que aumentando a quantidade de palha sobre o solo, haverá dificuldade na germinação das diferentes espécies de planta daninha, auxiliando a cultura a se estabelecer antes que as espécies indesejadas se estabeleçam. Realizando dois ou três anos de um sistema assim, a presença de plantas daninhas tende a diminuir consideravelmente. Rizzardi explicou que existem, a princípio, duas formas para se rotacionar mecanismos de ação. Uma delas é rotacionando culturas (alguns mecanismos de ação não podem ser utilizados em determinadas culturas), e a outra maneira é aproveitar o espaço de tempo que existe entre a colheita de uma cultura e o plantio da outra.
Para melhor aproveitamento dos mecanismos de ação dos herbicidas, deve-se tentar usar ao máximo nesses intervalos, herbicidas que não possam ser usados dentro da cultura. As estratégias de manejo de plantas daninhas devem evitar dois tipos de competição: aquela que ocorre antes da semeadura mediante a dessecação bem feita e aquela infestação onde a planta é competição após a semeadura e a emergência da cultura comercial. De acordo com o pesquisador deve-se buscar sempre semear “no limpo”, para na sequência realizar a estratégia de controle visando a infestação que ocorre após a semeadura.
Ainda segundo Rizzardi, o azevém ocorre em duas situações diferentes: azevém pequeno e azevém em fase final, início da fase reprodutiva. Essa primeira situação é encontrada antecedendo a cultura do trigo. O outro azevém, mais desenvolvido, ocorre antes do florescimento, antecedendo a semeadura do milho ou em fase de produção de sementes, dentro da cultura da soja. A fase mais fácil para o controle é quando as plantas estão pequenas, onde há uma diversidade maior de herbicidas para controlar e às vezes não é preciso fazer aplicações sequenciais. Na fase onde a planta está mais desenvolvida, deve-se usar uma estratégia de aplicação sequencial, para que possa estabelecer a cultura “no limpo”.
O azevém tem elevada capacidade de germinação e por isso é necessário controla-lo antes de produzir sementes. Em função da resistência do azevém ao glifosato, é possível que em uma dessecação seja necessário a combinação de glifosato com graminicida e na pré-semeadura complementar a dessecação. Dessa forma é possível reduzir à população a praticamente zero, tanto em pousio quanto na área onde há cobertura. No caso do azevém que sobra da dessecação e se estabelece na cultura do milho, utiliza-se herbicidas para pós-semeadura. No entanto, independente do herbicida a ser usado, dificilmente ocorrerá um controle de 100%.
O pesquisador complementa afirmando que essa estratégia de dessecação sequencial também pode ser usada para a buva e outras espécies que não sejam gramíneas. “A dessecação sequencial é importante porque na segunda aplicação é possível corrigir falhas da aplicação. Na cultura da soja o princípio da dessecação também é válido, com diferentes combinações para que a cultura se estabeleça sem a presença de plantas daninhas e consiga ter uma vantagem competitiva no sistema.
A partir disso é mais fácil realizar o controle”. No caso do milho, o início da competição normalmente ocorre quando a planta tem de 2 a 3 folhas, não importando o tamanho da planta daninha, sendo que a definição da produtividade da cultura ocorre entre 2 e 10 folhas desenvolvidas. Dependendo do material utilizado, há diferença na redução do rendimento em função dos dias de convivência, ou seja, alguns genótipos podem ter um período de convivência maior que outros. Se a planta daninha está na área é necessário o controle, pois estará afetando os componentes do rendimento. O controle deve abranger o início da competição até a 5ª para a 6ª folha.
Se o banco de sementes é grande, mesmo aplicando herbicida no estádio V3, pode acontecer reinfestação, sendo possível a necessidade de duas aplicações para manter a área limpa. O herbicida utilizado deve controlar a planta já estabelecida e promover um efeito residual. No entanto, se a aplicação for feita muito cedo, o residual tende a não ser suficiente. Então, nesse caso, deve-se atrasar a emergência da planta daninha ou realizar duas aplicações em pós-emergência, uma em V3 e outra em V5, para manter a área limpa até o final do ciclo da cultura. De acordo com Rizzardi, não se deve esperar o maior fluxo de emergência com o objetivo de realizar o controle com uma única aplicação, pois dessa forma o potencial produtivo do milho já terá sido comprometido.
Há também a possibilidade do uso de herbicidas pré-emergentes no milho, que possivelmente tenham seu uso ampliado no futuro nas áreas de safrinha. Normalmente se utilizam estratégias com pós-emergentes iniciais ou normais. Se não ocorrer uma boa dessecação e a cultura se estabelecer com a presença de plantas daninhas e, além disso, o controle for feito tarde, a perda de produtividade será acentuada. Dependendo da densidade de plantas daninhas na área com a cultura já estabelecida, algumas espécies de plantas daninhas podem gerar efeito alelopático. Essa é outra razão pela qual se deve priorizar um bom controle já na dessecação, evitando a presença de plantas daninhas no momento do estabelecimento da cultura.
Para finalizar, Mauro Rizzzardi comentou a respeito da introdução das novas tecnologias de organismos geneticamente modificados no sistema. Segundo ele, elas exigirão maior cuidado para se trabalhar. “Saber em que momento deve-se usar uma tecnologia ou outra, e também, qual o herbicida mais indicado para uso dentro do sistema é bastante importante. Se não for utilizando adequadamente surge o risco de resistência, ou ainda, plantas da cultura podem vir a se tornar plantas daninhas em outras culturas.
Segundo pesquisador há a possibilidade de rotacionar diferentes eventos genéticos e por isso não se deve utilizar o milho e a soja com o mesmo evento genético para evitar a ocorrência de plantas voluntárias sem possibilidade de controle. Para Rizzardi o desafio é evitar as perdas por matocompetição aperfeiçoando o manejo das culturas, integrando sistemas de rotação de culturas/eventos, controlando plantas daninhas no estádio adequado, além de buscar preservar/proteger os herbicidas conhecendo os mecanismos de ação.