Planta daninha é qualquer ser vegetal que cresce onde não é desejado. As plantas daninhas, quando crescem juntamente com as culturas agrícolas, interferem no seu desenvolvimento reduzindo-lhes a produção - competem pela extração dos elementos vitais (água, luz, C02 e nutrientes) e exercem inibição química sobre o seu desenvolvimento, fenômeno esse conhecido como “alelopatia”.
Estima-se que as perdas ocasionadas às culturas agrícolas pela interferência das plantas daninhas no Brasil sejam em torno de 20-30 %. Além da redução quantitativa da produção, esta pode ser qualitativamente depreciada pela contaminação com sementes e restos de plantas daninhas. Em cereais, adicionalmente, aumentam o teor de umidade dos grãos, diminuindo-lhes o valor comercial.
As plantas daninhas podem ainda comprometer indiretamente certas culturas agrícolas por hospedarem pragas e doenças antes destas infestarem as próprias culturas. A sua ocorrência em uma lavoura, por outro lado, exige a adoção de práticas de controle e diminui o rendimento da operação de colheita, aumentando o custo de produção e, por conseguinte, diminuindo a eficiência agrícola.
O controle de plantas daninhas consiste na adoção de certas práticas que resultam na redução da infestação, mas não, necessariamente, na sua completa eliminação; esta é a erradicação, o controle ideal, porém, dificilmente obtido na grande agricultura. O nível de controle de plantas daninhas obtido em uma lavoura depende da espécie infestante, da cultura e dos métodos empregados.
Muitas vezes faz-se necessário a associação de dois ou mais métodos para se atingir o nível desejado, tal fato constituindo-se no “controle integrado”. O uso de produtos químicos para o controle de plantas daninhas teve seu início pouco antes do início do século XX. Entretanto, somente depois de 1944, com a descoberta das propriedades fitotóxicas do 2,4-D é que essa técnica atingiu desenvolvimento segundo linhas mais científicas.
O controle químico obedece ao princípio de que certos produtos químicos são capazes de matar plantas e, mais importante, que muitos deles podem matar apenas alguns tipos de plantas, sem injuriar as outras. Quando usados corretamente, os herbicidas desempenham com segurança e eficiência seu papel, transformandose em ferramentas indispensáveis na agricultura.
A resistência de plantas daninhas a herbicidas é um processo evolutivo, uma adaptação ao meio, e se deve em grande parte à seleção com herbicidas - uso geralmente repetitivo de um mesmo herbicida, ou de produtos com o mesmo mecanismo de ação.
Um equívoco comum que pode ocorrer na interpretação das causas da resistência é acreditar que os herbicidas “causam” a resistência, no entanto, resistência a herbicidas geralmente se deve a mutações naturais na estrutura genética da planta. Em nível populacional, organismos ocasionalmente têm mutações leves em sua genética, alguns deles são letais para o indivíduo (ou seja, uma planta que não produz clorofila), alguns são benéficos (ou seja, tolerância à seca) e alguns são neutros (sem efeito observável sobre a função bioquímica).
Ocasionalmente, uma dessas mutações aleatórias afeta o sítio-alvo de um herbicida de tal forma que o herbicida não afeta o novo biótipo (Christoffoleti et.al., 2014). A resistência é uma consequência de processos evolutivos básicos. Alguns indivíduos de uma população da praga podem ser capazes de sobreviver às aplicações iniciais de um produto químico concebido para matá-los, e esta sobrevivência pode ser devido a características genéticas.
A população reprodutora que sobrevive às aplicações do pesticida será constituída por uma proporção crescente de indivíduos que são capazes de resistir ao composto químico e passar essa característica para seus descendentes. Geralmente, os usuários de defensivos agrícolas acreditam que os sobreviventes não receberam uma dose letal.
Sendo assim, eles reagem aumentando a dose e a frequência de aplicação do defensivo ou substituem o produto por outro, geralmente mais tóxico ou mais caro, o que resulta em maior perda de indivíduos suscetíveis e um aumento na proporção de indivíduos resistentes (GEORGHIOU, 1983). O uso frequente ou mau uso dos defensivos agrícolas é o fator chave para a evolução da resistência.
A resistência a pesticidas e suas consequências comprometem diretamente os princípios de Manejo Integrado de Pragas (MIP), devido à maior contaminação do meio ambiente, a eliminação de inimigos naturais e a elevação dos custos para o controle de pragas (CROFT, 1990; GEORGHIOU, 1983).
A resistência de plantas daninhas a herbicidas não deve ser confundida com a tolerância aos herbicidas, que, segundo também a WSSA (WSSA, 2015), é definida como “a capacidade inerente de uma espécie de sobreviver e reproduzir-se após tratamento com herbicida. Isto implica que não houve nenhuma seleção ou manipulação genética para tornar a planta tolerante, ou seja, ela é naturalmente tolerante”.
Além de outros aspectos negativos, a prática de monocultura permite que se utilizem os mesmos herbicidas ou herbicidas com mesmo mecanismo de ação durante muitos anos, favorecendo o desenvolvimento de resistência. A utilização de herbicidas, principalmente no sistema de semeadura direta ou de preparo mínimo do solo, tornou-se método predominante no controle de plantas daninhas.
A dependência de um único método de controle de plantas daninhas limitam as possibilidades de controle de todas as espécies presentes na cultura e favorecem o desenvolvimento e proliferação dos biótipos que escaparem ao controle (Vidal, 1977). Os três maiores problemas que os produtores enfrentam hoje com relação à resistência de plantas daninhas a herbicidas são:
• O rápido crescimento da incidência de resistência múltipla nas plantas daninhas, deixando o produtor com poucas opções de herbicidas.
• A dependência de culturas resistentes ao glyphosate nos sistemas de cultivo, resultando no rápido crescimento do número de plantas daninhas resistentes.
• A falta de novos herbicidas com novos mecanismos de ação no mercado.
Populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas são encontradas em quase todas as áreas de cultivo de grandes culturas do Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, sendo que o número de espécies de plantas daninhas resistentes e regiões afetadas pela resistência continuam aumentando.
Dentre as características dos herbicidas que contribuem para a rápida seleção de biótipos resistentes destacam-se:
• Um único local de ação.
• Controle de amplo espectro.
• Atividade residual longa do solo. Práticas culturais podem também aumentar a pressão seletiva para a seleção de biótipos resistentes a herbicidas. Em geral, a dependência completa de herbicidas para controle de plantas daninhas pode aumentar consideravelmente a ocorrência de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Outros fatores incluem:
• Ausência de rotações de culturas e uso do monocultivo.
• Ausência de diversidade nos métodos de controle, assim como não realizar levantamento de infestação para controle dos “escapes” de infestação tardia.
• Uso contínuo ou repetido de um herbicida único ou vários herbicidas que tenham o mesmo modo de ação. • Taxa elevada de utilização de herbicidas em relação à quantidade necessária para o controle de plantas daninhas.
• Pomar e sistemas de vinhedos.
• Estradas.
Nas últimas décadas, os herbicidas tornaram-se a base de controle de plantas daninhas. No entanto, seu uso repetitivo e o número limitado de mecanismos de ação disponíveis têm levado ao desenvolvimento de plantas daninhas resistentes. Diversos processos têm evoluído em plantas para sobreviverem após tratamentos herbicidas.
Entre elas, as mutações de genes, conferindo uma mudança de aminoácido em um alvo enzima, e desintoxicação do herbicida são os principais mecanismos. Estratégias de manejo de plantas daninhas com herbicidas dependem de diagnósticos precisos que permitam a otimização ou tratamento de soluções líderes para a longevidade do herbicida.
De acordo com os relatos científicos da WSSA (2015) e HRAC (2015), atualmente estão comprovados 459 casos únicos (espécie x local de ação) de plantas daninhas resistentes a herbicidas globalmente, com 246 espécies (143 dicotiledôneas e 103 monocotiledôneas). As plantas daninhas desenvolveram resistência a 22 do 25 locais de herbicidas conhecidos de ação e de 157 diferentes herbicidas.
Plantas daninhas resistentes a herbicidas têm sido relatadas em 86 culturas, em 66 países (HRAC,2015). É praticamente inviável erradicar um biótipo de plantas resistentes depois que ele domine determinado ambiente. O descobrimento de novos herbicidas ou de novos mecanismos de ação de herbicidas é extremamente difícil, oneroso e demorado.
Assim, é importante entender quais fatores favorecem a seleção de biótipos resistentes para desenvolverem-se estratégias para minimizar sua ocorrência e para adotaremse medidas preventivas à ocorrência de resistência.
Se a resistência de plantas daninhas a herbicidas é confirmada ou altamente provável de ocorrer em uma área, diversas abordagens para o manejo da resistência precisam ser incorporadas de imediato para a espécie em questão (BECKIE, 2006). Algumas delas estão citadas a seguir:
1. Racionalizar o uso do herbicida em questão e de outros herbicidas com o mesmo mecanismo de ação. No entanto, em muitos casos, o herbicida continua a ser usado para o controle de um grande número de plantas daninhas que ainda não foram selecionadas para resistência.
Assim, se a decisão é feita no sentido de continuar usando o mesmo herbicida, há necessidade de:
a. Utilizar uma estratégia de controle de plantas daninhas chamada de pró-ativa, com associações de herbicidas que controlem o mesmo espectro de ação de plantas daninhas, porém com herbicidas de mecanismos de ação diferentes. Neste caso, o uso de herbicidas em préplantio ou pré-emergência é uma alternativa interessante.
b. Usar herbicidas pós-emergência em associação ou formulado com pelo menos dois mecanismos de ação. Qualquer uma dessas opções fornece pelo menos um mecanismo de ação adicional que vai ajudar a evitar maior propagação da planta daninha resistente.
Além disso, outras ferramentas de controle de plantas daninhas devem ser utilizadas para complementar o mecanismo de ação que ainda está ativo nas plantas daninhas resistentes.
2. Se a planta daninha resistente está confinada em pequenas áreas, tomar medidas para evitar a produção de sementes. Se a planta daninha ainda está em fases iniciais de desenvolvimento, portanto, suscetível à ação de outros herbicidas, tratar as reboleiras infestadas diretamente.
Alternativamente. a planta daninha pode ser retirada manualmente da área. ou a cultura pode ser sacrificada nesses locais através de herbicidas não seletivos. Evitar a todo custo que as plantas daninhas resistentes produzam sementes.
3. Evitar a disseminação de sementes ou propágulos vegetativos para outros campos e propriedades Fazer constantemente a limpeza de máquinas e equipamentos. Sempre que houver trânsito de máquinas.
Se todos os campos têm uma história de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Use equipamentos agrícolas nesses últimos campos.
4. Procurar sempre uma assessoria especializada para auxiliar no planejamento de longo prazo do controle de plantas daninhas em culturas subsequentes. Os mimetizadores de auxina foram os primeiros herbicidas seletivos descobertos pelo homem. Por mais de 70 anos, herbicidas possuindo atividade auxínica têm sido largamente usados na agricultura, no exterior, principalmente na cultura do trigo.
No Brasil, tem seu uso nas áreas de pastagens, Plantio Direto, nas culturas de inverno e na cana-de-açúcar; Apesar do longo tempo de comercialização destes herbicidas, em nível mundial existem vinte e dois casos de espécies de plantas daninhas resistentes aos mimetizadores de auxina, sendo apenas dois no Brasil;
Quando se considera a eficiência no controle de plantas dicotiledôneas e sua relação custo-benefício, o herbicida 2,4-D mostra-se imprescindível para a agricultura brasileira, tanto pela sua efetividade isoladamente, bem como na rotação de modos de ação diferentes, na sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola.
As figuras apresentadas ao longo do texto são auto ilustrativas e apresentam o aumento de plantas daninhas resistentes ao glyphosate em nível mundial (figura 1), número de espécies resistentes a um sitio de ação – os 15 principais ativos envolvidos (figura 2), as espécies de plantas daninhas resistentes a múltiplos sítios de ação-espécies e números de sítios de ação (figura 3).