Herbert Bartz: Parte o pioneiro. Fica o legado


Autores:

Equipe Editorial Revista Plantio Direto

Publicado em: 28/02/2021

No início de 2021 a agricultura brasileira se despediu daquele que inspirou diretamente pelo menos duas gerações de agricultores à prática de uma agricultura efetivamente conservacionista com o uso do plantio direto na palha. Jovens agricultores talvez não conheçam a história do pioneiro do plantio direto na palha, assim como, por sua causa, não conheceram o plantio convencional. Por isso, nessa edição, publicamos um pouco dos registros que fizemos sobre a vida de Herbert Bartz, sua história, suas “loucuras” e sua trajetória de persistência e resiliência. Que seu legado tenha força para impulsionar esses jovens, que estão chegando à atividade, a seguir melhorando e ampliando a adoção do Sistema Plantio Direto no Brasil.

Em 1997, Gilberto Borges, editor da Revista Plantio Direto, abriu essa matéria com a seguinte afirmação: “toda mudança comportamental demanda dedicação e energia. Por isso da resistência do ser humano às mudanças”. Para ele, a resistência às mudanças seria um dos motivos para as dificuldades que foram observadas no desenvolvimento, em termos de área, do plantio direto no Brasil.

Isso porque a adoção da técnica dependia, basicamente, da necessidade de mudar a cultura estabelecida através de gerações de agricultores onde o arado, a grade e o fogo foram elementos poderosos, verdadeiros pilares conceituais estabelecidos no consciente e no inconsciente desse coletivo.

Talvez por isso a história do plantio direto em nosso país possua vários heróis, produtores e técnicos que dedicaram seu tempo e sua energia para conhecer melhor o sistema e também para repartir o conhecimento adquirido com colegas e, principalmente, com pessoas com as quais nunca haviam se encontrado, mas que, imediatamente formavam um elo a mais numa cadeia de fraternidade.

Dentre as diversas pessoas que foram atores neste cenário, a partir do começo da década de 1970, o agricultor Herbert Bartz, de Rolândia/PR, possui um espaço especial porque, mesmo tendo iniciado as primeiras tentativas de plantio direto junto com outros produtores, ele foi o único que perseverou e conseguiu vencer as dificuldades iniciais de um sistema desconhecido.

Herbert Bartz foi o pioneiro do Sistema Plantio Direto no Brasil e na América Latina e faleceu no dia 29 de janeiro de 2021, às vésperas de completar 84 anos. Nesta edição relembramos um pouco da história de vida desse agricultor ímpar, que inspirou tantos outros na condução de uma agricultura sustentável, tornando-se referência no Brasil e no mundo.

As origens

Em 1997 quando entrevistado pela Revista Plantio Direto, por ocasião dos 25 anos de Plantio Direto, Herbert Bartz iniciou seu relato falando da noite do dia 13 de fevereiro de 1945, quando completava 8 anos, e estava na residência da avó, na cidade de Dresden, na Alemanha. Segundo Bartz, o terror desceu do céu, na forma de toneladas de bombas despejadas por aviões ingleses e americanos.

Dresden foi arrasada e mais de 350 mil pessoas morreram. A casa onde o menino Herbert estava junto com a avó foi queimada, mas eles sobreviveram no porão, graças a um tonel de água, com a qual se refrescavam do inferno. No dia seguinte, quando se dirigia a casa da mãe, localizada num arrabalde de Dresden, no meio da multidão desatinada, vieram os aviões novamente e metralharam o povo indefeso. Ele lembra o som das balas atingindo o corpo das pessoas.

Segundo Herbert Bartz o pós-guerra, com a falta de comida e de aquecimento, foram os piores momentos. Foi nesse rigor incomparável que se formou a personalidade forte, mas ao mesmo tempo amena de Herbert Bartz, foi essa perseverança que o levou a acreditar na tecnologia da semeadura direta e o manejo da palha, fazendo se estabelecer sobre um quadro antes degenerativo, a agricultura que tem base no conhecimento e no respeito à natureza.

“O tempo do pós-guerra me deu uma lição de vida que eu não tinha como esquecer e acordou em mim, com toda a vontade o desejo de um dia poder ter comida à vontade”. O sonho de Bartz sempre foi o de produzir alimentos em abundancia e por isso ele dava muita importância a produção agrícola.

As afirmações iniciais de Herbert Bartz, na entrevista em 1997, refletiram a síntese da formação de um indivíduo que sofreu, juntamente com a família e toda uma comunidade, as adversidades do período pós-guerra na Alemanha destruída. Para ele, produzir alimentos, e a atividade agrícola como um todo, era um dos trabalhos mais nobres que existiam. “Para mim, o desempenho físico e mental que a lavoura me proporciona é um verdadeiro hobby!”

Na verdade, segundo registros históricos, a família Bartz foi formada por habitantes da região da Renânia, na Alemanha, e esteve ligada a agricultura e a produção de alimentos desde meados do Século XVI. Os pais de Herbert, Arnold e Johanna Bartz, vieram para o Brasil em 1927 e se estabeleceram em Rio do Sul, Santa Catarina, onde prosperaram em outro ramo, com uma pedreira e uma firma de construção.

Herbert Bartz nasceu 10 anos depois, um ano antes do retorno provisório da família para a Alemanha, na busca de tratamento para Dona Johanna. Porém, em função do momento social em que o país estava envolvido, com a perspectiva da guerra estabelecida, a família Bartz acabou permanecendo na Alemanha até 1960, dois anos após o falecimento da mãe.

Em duas décadas a família enfrentou todos os rigores provocados pela guerra, com frio e falta de alimentos, sem a presença do pai de acordo com o relato de Bartz sua mãe ficou com quatro filhos, vivendo na casa dos avós e a comida era totalmente racionada, tudo era em gramas, 10 gramas, 20 gramas de cada coisa. “Quem não passou fome em clima frio, não pode imaginar do que se trata”, lembrava o pioneiro do plantio direto.

Volta ao Brasil

Em 1960, dois anos após o falecimento da esposa, Arnold Bartz, retornou de uma viagem ao Brasil e propôs a Herbert a venda da casa na Alemanha e a mudança para o Brasil. Por ser o único cidadão brasileiro da família, Herbert abandonou provisoriamente a Faculdade de Engenharia Hidráulica da Universidade de Aachen. Isso foi importante para facilitar a vinda da família, em termos das exigências burocráticas na emigração para o Brasil. A suspensão da matrícula na Faculdade foi por um ano, mas quando terminou esse período Bartz pediu mais um ano de suspensão e acabou retornando a Alemanha somente anos mais tarde, apenas como visitante.

“Na viagem anterior de meu pai ao Brasil, ele havia comprado o Sitio Renânia, perto de Rolândia, no Paraná, onde iniciamos a agricultura e criação de animais, e eu acabei por me tomar agricultor”, relatava Bartz. “No início, era uma questão de sobrevivência, para ter uma renda, pois a agricultura nos anos de 1960 era muito difícil”.

Herbert Bartz lembrava os detalhes dessa época, em que os produtos colhidos valiam pouco e as tecnologias disponíveis eram insuficientes. Ocorriam secas e em outras circunstâncias, quando o solo estava arado e preparado para o plantio, o excesso de chuva castigava com severas erosões.

Apesar dessas adversidades, que acabaram por afastar o pai, Arnold Bartz, da agricultura em meados da década de 60, Herbert desenvolveu plenamente suas aptidões agrícolas e mecânicas, adaptando máquinas e equipamentos, alguns que haviam sido trazidos da Alemanha. Segundo ele mesmo contava, perto do que é possível realizar hoje, eram adaptações primitivas, mas foi o momento do exercício das capacidades de engenheiro mecânico que Herbert Bartz possuía.

“O sistema plantio direto exige como matéria prima a capacidade intelectual do agricultor para entender a natureza e saber como usar os artifícios químicos e mecânicos disponíveis. Quanto menos ele interfere e menos agride a natureza, quanto maior a sua sensibilidade e consciência ecológica, maiores serão suas chances de vencer a batalha no longo prazo.”
(Herbert Bartz)


De qualquer maneira, a situação da agricultura não era boa, sem o conhecimento e assistência adequada, muitas inovações que Herbert e seu irmão Ulrich tentaram, como irrigação por aspersão que provocaram doenças nas culturas de arroz e trigo, resultaram em problemas no desempenho da fazenda. Eles foram apanhando e aprendendo, conforme suas próprias palavras. Por um lado Bartz tentava melhorar os retornos econômicos da propriedade tentando inovar e por outro, enfrentava os problemas da erosão do solo, que se agravavam ano a ano.

Entre 1969 e 1970, chuvas de 200 milímetros lavaram as lavouras preparadas, o que direcionou para a dispensa do arado e a tentativa do uso de subsolador e grade Rome. Porém, com as sucessivas passadas de máquinas para semear, adubar e aplicar defensivos, o solo novamente compactava e se percebeu que mesmo com curva de nível, não havia condições de segurar a erosão.

No final da década de 1960, Bartz tinha toda a inquietação pratica e teórica para a busca de um sistema de plantio que solucionasse a grave questão da erosão, que inviabilizava técnica e economicamente as lavouras.

Antes do Plantio Direto

No mês de novembro de 1971, um temporal se abateu sobre a Região Norte do Paraná, onde as culturas de verão tinham sido plantadas há pouco tempo. Na Fazenda Renânia, perto de Rolândia, uma estranha figura caminhava durante a noite, sob o intenso aguaceiro, focalizando a lavoura de soja com uma lanterna.

Protegido por uma capa, a estranha figura com a luz faiscante era Herbert Bartz, que saíra enfrentando a tempestade porque não conseguia dormir, imaginando o que poderia estar acontecendo com a lavoura de soja recém-plantada. O que ele viu confirmou suas piores previsões: a enxurrada havia destruído a plantação e carregado o solo, com as sementes e fertilizantes, para as baixadas.

No dia seguinte, Bartz procurou o engenheiro agrônomo Rolf Derpsch, nascido no Chile e formado na Alemanha, que trabalhava no IPEAME (Instituto de Pesquisas Meridional), através de um convênio com a DED (mais tarde GTZ), um órgão do governo alemão. Bartz já conhecia Rolf e sabia de suas opiniões sobre conservação de solo e de suas experiências com preparo mínimo e plantio direto na cultura do trigo, realizadas pela primeira vez no Brasil, naquele mesmo ano, na Estação Experimental de Maravilha.

Os experimentos com plantio direto deram resultado positivo e Derpsch falou com entusiasmo também sobre o desenvolvimento desse sistema nos Estados Unidos e na Inglaterra, mostrando folhetos sobre o assunto.

“Nós tentamos fazer um preparo mínimo naquele ano, usando uma semeadora adaptada sobre uma enxada rotativa, mas não tivemos sucesso, relatou Bartz. Os novos sistemas entusiasmavam, mas não tínhamos equipamentos adequados e a erosão continuava sendo um problema.”

Naquela época a ICI iniciou seus trabalhos visando o desenvolvimento do plantio direto no Brasil e o contato com o engenheiro agrônomo Terry Wiles foi importante para o convencimento de Herbert Bartz a respeito das vantagens do sistema. “Mas uma coisa é você falar sobre um assunto, fazer é outra história”. Bartz resolveu investir em conhecimentos mais objetivos e, no começo de 1972, programou uma viagem à Europa e Estados Unidos com a finalidade de ver o que havia de novidades em termos de lavoura para plantio direto.

“Comprei uma passagem para pagar em 10 vezes”, contou ele. “Eu era arrendatário e vivia carregado de dívidas, mas cheguei à conclusão de que precisava encontrar uma tecnologia praticável ou desistir de ser agricultor. Não queria assistir passivamente aos desastres impostos pela natureza e, na ocasião, o fato de falar inglês de forma razoável ajudou na definição da viagem”.

Bartz embarcou em 20 de maio, deixando plantada a lavoura de trigo onde foi feita uma área demonstrativa com plantio direto, coordenada por Rolf Derpsch. Segundo o pesquisador, que teve papel importante no desenvolvimento de pesquisas sobre plantio direto no Brasil e na América Latina, o uso de uma semeadora importada da Alemanha, que possuía discos de corte eficientes e uma pressão de mola dada por uma alavanca, permitiu plantio direto de trigo numa área comparativa, dentro da lavoura maior de Herbert Bartz.

O ano foi seco e a cultura de trigo sofreu, mas as parcelas de plantio direto se destacaram visualmente, com um melhor desenvolvimento e a cor verde mais acentuada. Bartz, que já estava com a viagem programada, seguiu mais entusiasmado com as perspectivas do sistema.

Na metade de julho, entretanto, quando já estava de volta ao Brasil e a lavoura de trigo recuperada da seca prometia uma produtividade de 3000 kg/ha, uma forte geada, com temperatura de -30 pegou a cultura numa fase crítica e o rendimento final não passou de 300 kg/ha. Foi um momento dramático na vida do agricultor Herbert Bartz.

“Naquele tempo não havia Proagro e eu fiquei com uma dívida de 60 mil dólares do custeio da lavoura de trigo. Como já estava com a dívida das importações das semeadoras de plantio direto que havia comprado nos Estados Unidos e Inglaterra fui obrigado a vender uma colheitadeira Claas, um trator CBT, um trator Fiat e um Ford Major, além de arados e grades. O produtor que me comprou achou que fez um excelente negócio, mas eu também fiquei satisfeito porque estava me livrando de uma dívida e de máquinas e equipamentos que não me satisfaziam.”

A busca pelo conhecimento

A viagem de Herbert Bartz em maio de 1972 começou pela Alemanha onde visitou a Feira de Equipamentos Agrícolas, em Hannover. Na Feira, ele viu máquinas de várias partes do mundo e estabeleceu novos contatos para uma visita aos Estados Unidos. Na Inglaterra, Bartz permaneceu uma semana visitando a Estação Experimental da ICI em Femhust, onde conheceu protótipos de semeadoras de vários países, além das experiências de 8 anos com o herbicida Paraquat em plantio direto e comprou o chassi de uma semeadora Rotacaster, com o objetivo de completá-la com acessórios nacionais, para torná-la mais acessível em termos econômicos. Depois de visitar produtores ingleses que já tinham experiência com “direct-drilling” ele conseguiu definir a viagem aos Estados Unidos graças aos contatos estabelecidos pelo pessoal da lCl com a Chevron Americana, que na época faziam parte da mesma holding.

Graças a esses contatos Bartz pode conhecer as estações experimentais que mediam a erosão dos solos, as famosas “Sediments Stations”, e, principalmente, a fazenda de Harry Young, um produtor que já fazia plantio direto há 10 anos. Essa visita foi conseguida pelo pesquisador Shirley Phillips, da Universidade de Kentucky, que também tinha muita experiência com “no-till” e teve a grandeza de perceber o entusiasmo e expectativas de Bartz com a técnica do plantio direto.

Segundo seu relato, Bartz ficou maravilhado ao visitar a fazenda de Harry Young Jr., no condado de Cristian, no Estado de Kentucky. Young foi o pioneiro do sistema plantio direto nos Estados Unidos, tendo iniciado a semear sem preparar o solo em 1962. Já em 1972 ele cultivava cerca de 500 ha de cereais, usando apenas o seu próprio trabalho e de um filho. Herbert Bartz ficou impressionado com o fato do produtor americano que o recepcionava ser engenheiro agrônomo com doutorado, conselheiro de um Banco Regional e Professor da Universidade de Kentucky.

Na ocasião da visita de Bartz, Young estava plantando milho com uma semeadora de seis linhas, tracionada por um trator de 80 HPs “e com a mão cheia de graxa”, contava Bartz. O entusiasmo do visitante brasileiro contagiou Harry Young que, das duas horas programadas para a visita, acabou reservando o dia inteiro e parte da noite para um jantar, juntamente com Shirley Phillips.

O solo na Fazenda de Harry Young apresentava pendentes acentuadas e Bartz viu o plantio e a pulverização nessa situação, o que o deixou com a certeza de que poderia usar o sistema em Rolândia, de tal forma que perguntou onde poderia comprar uma semeadora. Harry Young se prontificou a escrever uma carta de recomendação ao pessoal da Allis Chalmers e Shirley Phillips recomendou que Bartz fosse diretamente a matriz da Empresa, no Estado de Wisconsin. Com o endosso desses dois pioneiros americanos, Bartz conseguiu fazer a compra da semeadora.

No entanto, segundo Bartz, essa máquina não foi muito bem em terras roxas, mas teve o valor de ser a primeira. Juntamente com a máquina de Herbert Bartz chegou outra Allis Chalmers adquirida pelo produtor Carlos João Schlieper, da região de Londrina, que também dava seus primeiros passos em direção ao plantio direto. O custo total da semeadora, pela qual Bartz pagou 8.800 dólares nos Estados Unidos, no Brasil acabou ficando em cerca de 17.000 dólares porque além de frete e seguro, ele teve que pagar 80% de impostos sob a alegação de que havia similares nacionais.

As primeiras lavouras de plantio direto

No início do segundo semestre de 1972 já havia maior movimentação na direção do plantio direto. Carlos Schlieper e Herbert Bartz promoveram uma visita a Londrina e região do pesquisador Glover B. Triplett Jr., do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Universidade de Ohio, Estados Unidos, aproveitando sua vinda ao Brasil, através de convênio com a ESALQ/USP. Triplett Jr. Já tinha informações técnicas importantes sobre as diferenças entre plantio direto e o preparo convencional e, com a tradução de Rolf Derpsch, visitou diversos produtores na faixa entre Cornélio Procópio e Sertaneja, divulgando o sistema plantio direto.

Os itens básicos apresentados pelo professor americano falavam da eliminação da vegetação existente com um herbicida dessecante e a colocação da semente no solo com o mínimo de revolvimento possível, sendo que a principal vantagem era a proteção contra a erosão graças a absorção das gotas da chuva pela camada de resíduos vegetais na superfície. Os produtores e técnicos questionaram o visitante sobre as diferenças de declividade entre lavouras brasileiras e americanas e sobre a não existência de semeadoras especificas para plantio direto no Brasil.

A primeira lavoura de Herbert Bartz

“Já de início fiquei impressionado com a eficiência e a regularidade de plantio, além do rendimento das máquinas. Havia acompanhado anteriormente inúmeros ensaios de “plantio direto”. Seja com maquinário experimental da Missão Alemã junto ao IPEAME, seja com semeadoras adaptadas. Contudo, em nenhum dos casos havia ficado inteiramente convencido da possibilidade de aplicação do método em grandes áreas.

"Essas afirmações são de um relatório técnico do engenheiro agrônomo Rubens Stresser, do Banco do Brasil, que acabou acompanhando o desenvolvimento das primeiras lavouras sob plantio direto de Herbert Bartz e de Carlos Schlieper, que não prosseguiria com o sistema em anos seguintes.

Stresser foi como uma espécie de anjo da guarda, defendendo a nova tecnologia e seus avanços junto à instituição oficial de crédito, no seu primeiro relatório sobre o assunto. No dia 11 de dezembro de 1972 ele afirmava: “O método de “plantio direto” resulta numa economia mínima de 40% em relação ao custo do plantio no método tradicional.

Além disso, as sucessivas arações e gradeações feitas com máquinas pesadas implicam numa progressiva compactação do terreno, que fica exposto a erosão. Aliás, uma grande vantagem que advém do “plantio direto” é justamente a conservação do solo. Há um progressivo aumento da fertilidade do mesmo, pela continua incorporação dos resíduos de outras plantas, com desenvolvimento da flora microbiana e de minhocas. Teoricamente, tudo indica que o método tem largas possibilidades em nosso país.”

Herbert Bartz plantou cerca de 220 ha com a Allis Chalmers, já que a Rotacaster comprada na Inglaterra somente chegou a Rolândia no início de 1973. Segundo Rolf Derpsch, que acompanhou o início da primeira experiência em larga escala do plantio direto na Fazenda Renânia, os problemas com plantas daninhas foram significativos, fazendo com que os agricultores e técnicos curiosos que foram ver a nova técnica sendo implantada na fazenda de Bartz, dissessem que não daria certo por causa das plantas daninhas e da compactação.

Mas Herbert Bartz ficou satisfeito. “Admito que nessa lavoura houve uma quebra de mais ou menos 20%, com aquela soja, em relação ao método convencional”, contava ele. Segundo Bartz isso aconteceu devido a falta de experiência com o novo método, ao desconhecimento da suscetibilidade de certas plantas daninhas aos herbicidas usados (Gramoxone e 2,4 D), além de deficiência no manejo dos fatores biológicos, químico e climático, que influenciaram no desempenho dos produtos.

Mas, como o custo operacional era mais baixo o sistema ainda dava melhores resultados econômicos. As produtividades na lavoura de soja de Herbert Bartz permaneceram baixas até 1976, quando surgiu uma nova geração de herbicidas pré e pós-emergentes, além das primeiras informações da pesquisa sobre rotação de culturas conduzidas pelo IAPAR, em convênio com a ICI. Com uma tecnologia constantemente em evolução, paralelo é melhoria na fertilidade do solo, as produtividades em soja e nas demais culturas foram alcançando patamares maiores e o sistema se estabilizou.

O “Alemão Louco” de Rolândia venceu

O pioneiro do plantio direto no Brasil, aquele que iniciou e não esmoreceu com as dificuldades e se manteve dentro dos parâmetros básicos do sistema desde 1972 até o final da vida, foi chamado por muitos de “o alemão louco de Rolândia”, por causa da sua obstinação e das inúmeras experiências que fez. “Mas, com o desenvolvimento do plantio direto, em vista do aumento nas produtividades e na redução de custos com herbicidas, combustíveis outros insumos, acho que a racionalidade que deveria ter sido questionada é a dos críticos e não a minha”, dizia Herbert Bartz quando lembrava do fato.

A partir de 1976 novas tecnologias começaram a dar suporte para as “loucuras” de Bartz. O início efetivo do plantio direto na região dos Campos Gerais do Paraná, principalmente com os agricultores Manoel Henrique Pereira (Nonô) e Franke Dijkstra, que percorreram um caminho análogo ao de Bartz, indo a Rolândia e aos Estados Unidos onde também estiveram com Shirley Phillips, às pesquisas sobre rotação de culturas no IAPAR, que contava com a experiência de Rolf Derpsch, e a chegada de novos herbicidas, foram fatos importantes na história de Herbert Bartz e na evolução do plantio direto no Brasil.

“A técnica do plantio direto na lavoura representa, de certo modo, uma reforma moral na maneira de trabalhar. Não podemos fugir ao fato de que retiramos nosso sustento da terra, mas nós somente chegaremos a uma agricultura sustentável se tivermos um trato honesto com a natureza”
(Herbert Bartz)


Para ajudar a difundir o sistema Herbert foi muitas vezes requisitado para palestras em várias regiões do Brasil e do exterior, além das incontáveis visitas de agricultores e técnicos que recebeu em sua fazenda. Bartz também assessorou empresas fabricantes de máquinas e implementos e em 1976 foi nomeado membro do Conselho Assessor da Embrapa, no Centro Nacional de Pesquisas de Trigo, em Passo Fundo, na época com a direção do pesquisador Otoni Rosa.

Participando como palestrante ou apenas como assistente Bartz também esteve presente nos principais eventos que marcaram a história do plantio direto em todo o Brasil. Participou da fundação da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, na qual permaneceu ativo até final da vida.

Despedimos-nos do pioneiro com a certeza de que seu legado permanecerá inspirando aqueles que fazem da agricultura brasileira uma referência para o mundo. Somos todos gratos a Herbert Arnold Bartz.